NOVOS VIZINHOS
Harry deitou-se novamente, passando a mão na testa e sentindo com a ponta dos dedos o desenho da cicatriz de raio. Estranhamente, nenhuma dor ou formigamento assolava a cicatriz. Tentava se lembrar do pesadelo, mas acordou de seu transe logo que escutou uma batida em sua porta e o rosto de uma ruiva surgiu por uma fresta na porta:
- Vamos, Harry, querido – falou a senhora de cabelos crespos avermelhados, entrando no quarto – Você tem visita!
- Hum - Harry suspirou enquanto esfregava os olhos. Seu pijama azul estava desarrumado no corpo – Quem é, Senhora?
- Ah, melhor descer e ver pessoalmente, Harry! Vamos, se arrume e desça o quanto antes.
A senhora saiu pela porta enquanto Harry, cansado, tateava na mesa de cabeceira a procura de seus óculos, e depois vestindo seu manto azul com dois "Ms" bordados e as botas negras saiu pela porta e desceu as escadarias. Ia relutante descendo a escada, mas distraia-se com os quadros dos antigos moradores da mansão. Ao chegar na sala de espera deparou-se com o astuto Arthur Weasley, que insistia em usar seu chapéu de gnomo. Estava conversando com um homem de aparência esquelética, que tinha cabelos prateados e pele clara. Parecia conhecê-lo de algum lugar.
- Harry, bom dia – Exclamou Senhor Weasley, virando a cabeça para o jovem bruxo- Quero que conheça Édouard Atwode, meu amigo de tempos atrás e sua encantadora filha! Eles vieram nos visitar.
- Harry Potter! Quanta honra – Édouard sorriu e, dando um passo a frente, permitiu a Harry olhar sua encantadora filha – Peço perdão por ter tirado seus preciosos minutos de sono.
- É um prazer, Sr. Atwode.
- Édouard e sua filha são nossos novos vizinhos, Harry, e vieram nos dar boas vindas – disse Arthur - Muito gentis, os Atwode.
- É isso mesmo – falou Édouard – Sinto não ter aparecido aqui antes. Problemas com a família, sabe como é. Consegui algum tempo hoje e aproveito essa visita para parabenizá-lo pelo cargo no ministério meus atrasados e sinceros votos de felicidades, soube que ficou mais velho ontem.
Harry agradeceu com um aceno de cabeça vago. Seus olhos corriam pelo rosto da jovem garota que o fitava de vez em quando. Harry estava extasiado com o esplendor da jovem. Edouard pareceu perceber e logo apresentou sua filha.
- Esta é Letícia Atwode, Harry – Letícia caminhava suavemente com seu vestido rodado. Seus olhos de esmeralda brilharam com a luz do sol que entrava pela janela; tinha lábios e nariz finos muito bem desenhados, e seus cachos caíam como uma cascata sob os ombros. Seu corpo esguio chamava muito a atenção de Harry, que parecia nervoso.
- É um prazer, Senhor Potter – A senhorita Atwode apertou a mão já estendida de Potter e, o encarou maliciosamente. Um pequeno sorriso esboçou-se no rosto da linda garota.
- Os deixaremos a sós, Harry – Édouard correu os olhos para os da filha, e ambos pareciam ter combinado algo. Um namoro, talvez.
- Certamente – disse Arthur hesitante, lembrando de sua filha, Gina – Vamos até uma sala mais silenciosa, Édouard.
Os dois saíram caminhando, e Letícia logo aproximou mais seu corpo ao de Harry. O sol era forte, suas pupilas estavam bastante fechadas, e com isso sua íris esmeralda ofuscava os olhos de Harry, que entrava em transe novamente.
- Sr. Potter...
- Ah... não, não! Me chame de Harry, por favor – Potter estava nervoso, e buscava no fundo de seu cérebro inspiração para puxar alguma conversa – Mora há quanto tempo aqui? Na vila, eu quero dizer.
- Nasci aqui – ao falar e logo sorrir, Harry pôde usufruir da bela visão que era o sorriso de Letícia. “Ah, não... Essa garota é, simplesmente, perfeita!” pensou o garoto – Já faz 17 verões.
- Hum. Deve conhecer bem a região, não? – o bruxo quase socou seu próprio rosto, pensando no quão idiota estavam sendo suas perguntas.
- Ah, certamente. Contarei mais dela quando tivermos tempo para sairmos juntos de novo – Harry quase desmaiara quando a garota dissera aquilo.
Potter logo indicou o sofá despeço ao canto direito da sala. Sentou em uma das pontas, mas não esperava que Letícia, ao invés de ocupar algum assento mais longe, descansasse seu esbelto corpo ao seu lado, encostando uma das pernas na perna esquerda de Harry.
O bruxo era dotado de muita coragem, mas não no que dizia respeito à relacionamentos. Harry tinha que continuar a conversa, hesitante ou não. Desde que olhara a garota de olhos verdes, seu coração batia de um modo acelerado, sua mente estava entorpecida. Ele deveria fazer algo, e algo bom.
- Algo para beber? Ah...Suco, café, cerveja? – Harry quase se afundou nas almofadas. “Nada melhor pra falar, Harry?”, pensou o bruxo.
- Cerveja amanteigada! – Letícia esboçou um sorriso, percebendo a timidez de Potter.
Harry juntou o dedo médio com o polegar e os estalou. Num piscar de olhos, sem ser antecedido por nenhum sinal, apareceu Dobby, o elfo doméstico, trajando sua peculiar vestimenta, que nesse dia era composta por uma meia com as cores do arco-íris, outra preta e branca, um calção verde limão, camisa laranja com bolas rosas e uma boina de couro negro. Letícia assustou-se, soltou um pequeno grito e agarrou com as unhas os braços de Harry. O bruxo apressou-se em enlaçá-la com os braços magros.
- Calma! É apenas o Dobby, o elfo doméstico! Ele é um pouco diferente... ah, mas é um elfo.
- Ah! Perdão, perdão, Harry – Letícia soltou lentamente suas mãos do braço de Harry, e endireitou-se no sofá. Harry não percebeu, mas mantinha a garota em seu abraço. Sua mente entrava e saía de um transe maravilhoso – Ah, Harry, pode me soltar... me soltar, Harry.
Potter pediu desculpas e, dessa vez, bateu com a mão espalmada no meio da testa. Letícia abafou um riso. Harry afundou-se ainda mais no sofá, e seu rosto ficou roxo como uma amora.
- Senhor! O senhor chamou Dobby? – Harry não estava prestando a atenção, até que Dobby aumentou seu tom de voz – Harry, senhor...!
- Sim, Dobby, sim. Perdoe-me. Traga duas cervejas amanteigadas, por favor.
- Certamente, senhor. Em um minuto, senhor – E Dobby desapareceu.
- Tremura não é assim tão educada – falou Letícia, colocando uma de suas mãos no joelho trêmulo de Harry.
- Tremura? – franziu o cenho.
- A elfa doméstica da minha mãe que... Argh!
Dobby apareceu novamente, causando um novo grito de Letícia. Dessa vez, quem parecia apreensivo e assustado era o elfo:
- Dobby não quis! Dobby não queria deixar, senhor! – o elfo mordia a boca e abria e fechava seus dedos – Eles forçaram Dobby a fazer! Disseram que me colocariam num baú se não o fizesse!
- Eles quem? Fizesse o que, Dobby?
- A senhorita Granger e o senhor Ronald! Eles me forçar... – Uma mão pálida segurou um dos braços finos de Dobby, e a outra tapou a boca do elfo, que debatia-se e tentava se desvencilhar.
- Ah, não se preocupe, Harry – Rony, aparentemente nervoso, levou a pequena criatura arrastada cozinha a dentro, ao passo que Harry se levantou e falou a Letícia:
- Srta. Atwode, se importaria se eu for ver o que está acontecendo?
- Claro que não, Harry – piscou docemente.
Harry encaminhou-se até a porta. Estava confuso... quantas coisas estranhas acontecendo numa só manhã. Virou-se antes de abrir a porta e abriu um sorriso para a bela garota, que retribuiu com um caloroso aceno de mão.
- Expliquem-se! O que está havendo? - Harry caminhava impaciente pela cozinha. A mesa estava sendo posta por Dorothy, a namorada de Dobby, que agora olhava desconfiada para Rony e Hermione, que pressionavam o elfo num canto perto da janela. Molly ainda limpava e recolhia as migalhas da festa de aniversario do dia anterior. – Rony, por que entrou na sala daquela maneira?
- Ahm, desculpe – Rony olhava para todos os lados, menos para o de Potter – nós só queríamos...ah...saber...
- Harry, o Rony é meio bobo às vezes. Você sabe desses ataques psicopatas dele... – A garota de cabelos crespos castanhos acabara de soltar o pescoço do elfo.
- Mas, Mione, foi você mesmo quem disse para...
- Bom, de qualquer modo, Harry, Rony já se desculpou – Hermione tapara a boca de Dobby ao ver que ela ia falar.
- Contem a verdade, façam o favor! – Harry falou, ao passo que Hermione tentou gesticular, e Dobby, livre, conseguiu escapar e se escondeu atrás das pernas do bruxo.
- Dobby, por favor... – Hermione tremia.
- Dobby foi buscar sua bebida, senhor...
- Continue, Dobby – Harry corria os olhos de Rony para Hermione.
- Dobby pegou sua bebida, senhor, e quando fui levá-la esses dois tomaram a cerveja da mão de Dobby – Dobby choramingava – Eles me fizeram falar da garota, Senhor, da menina que está acompanhando o Senhor lá fora, Dobby viu os dois olhando pela fechadura da porta, eles estão espionando o Senhor, Dobby viu, Senhor, Dobby viu!
- Harry, não acredite nele! – Rony deu um olhar mortal para Dobby.
- É verdade, Harry, porque iríamos te espiar? Nem sabíamos que estava acompanhado! – Hermione suava.
Harry olhou para ambos, e depois olhou para as suas pernas, onde Dobby assoava o nariz.
- Dobby, esqueça as cervejas. Vá descansar – o bruxo saiu da cozinha sem falar mais nada.
Harry voltou à sala e viu que Letícia enrolava com uma das mãos seus cachos. Sentou-se do lado da jovem, e riu falsamente, tentando explicar que Rony não se dava bem com os elfos.
- Não se preocupe, Harry. Imagino que seja bastante difícil tomar conta de um castelo como esse! – Letícia mirava cada detalhe do castelo, todas as obras valiosas que nele havia. Depois virou-se para uma das portas, da qual saíam Sr. Atwode e Sr. Weasley.
- Lembra do Leoncini? Aquele homem era hilário! Suas piadas eram impagáveis! – disse Sr. Weasley.
- Ótimos tempos que não voltam mais, caro Arthur! – Sr. Atwode girava sua bengala dourada com uma das mãos, num movimento firme e rápido – Creio que poderemos nos ver mais, ao menos para relembrar das felicidades do passado, já que o presente e o futuro parecem estar comprometidos. Harry e Letícia aparentam estar se dando bem, não?
- Ah, certamente – disse Sr. Weasley fitando com um sorriso um tanto forçado para Harry e Letícia, que se afastaram bruscamente ao ver os senhores chegando.
- Harry é como um filho para você, não é, Arthur?
- Sim, Harry é. Gosto muito dele. Molly também gosta.
- Letícia! – Édouard virou-se para a filha – Sua mãe deve estar puxando os cabelos nesse exato instante, vamos? E, Harry, foi um prazer conhecê-lo.
A família Atwode dirigiu-se para a porta, Sr. Weasley acompanhando, mas Letícia atrasou sua ida por alguns segundos, suficientes para acariciar o rosto encantado de Harry que atingia, pela milésima vez naquele dia, um transe maravilhoso.
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