Sozinha...



Chegando lá, viu que o saguão estava cheio, avistou Catherine, uma amiga do curso de teatro. Conversaram e subiram para o camarim Violeta Silveira. O lugar que a confortava desde pequena. Sorriu ao lembrar dos momentos que se passaram naquele camarim. Vic chegou logo em seguida, iria se apresentar também. Logo, seus amigos estavam lá, se preparando. Mary Elise entrou dizendo que já estava na hora do solo de Laura. Todos desejaram boa sorte e ela foi. A luz do palco estava apagada. Ela se posicionou sobre o local que sabia ser o do principal foco. A luz se ascendeu e lá estava ela, linda, acompanhando os compassos da música. Vestia um collant branco com detalhes em lilás, e o tutu-bandeja com as cores invertidas. Tinha uma leveza...uma sensibilidade... Logo nas primeiras notas, podia-se notar que era uma música triste, melancólica... A menina dançou com tamanha perfeição, que quem a conhecia, podia dizer que ela não estava dançando apenas, mas que estava vivendo a música como se fosse a própria vida. No fim, foi bastante aplaudida. Fez uma reverência e saiu do palco quando as luzes tornaram a se apagar. Correu para o camarim e trocou de roupa. Um vestido branco e leve. Soltou os cabelos do coque e pôs neles uma rosa branca. Depois de mais alguns números, foi chamada novamente. O monólogo fora escrito por ela própria, num exercício do curso. Lembrava-se que já conhecia o professor de vista, mas não poderia imaginar o quanto àquelas palavras representariam seus sentimentos naqueles instantes. Entrou no palco novamente e o silêncio foi geral. Caminhava lentamente enquanto recitava.
“Sozinha...
Somente eu minha solidão...Fiel companheira...
É errado pensar em mim uma vez na vida?
Sinceramente, já não sei o que sentir.
Já não sei o que é certo e o que é errado.
Quem é inocente e quem é culpado. Talvez nós dois...
Escrevendo em meu diário, sei que é tudo um tempo perdido.
Tudo o que faço, não vale nada!
Por você, eu bebi lítio, mudei de atitudes, troquei meus ideais, meus amigos...
Até agora, vivi num mundo onde todos preferem sorrir, quando, na verdade,
Querem chorar.
Eu corri de braços abertos até a linha de chegada. Meus pés não tocaram o chão.
Caminhei por desertos, escalei montanhas só para estar com você.
Mas tudo foi apenas ilusão...
Espero por meu anjo, mas ele não vem...
Tento desatar minhas mãos e me render. Mas sinto frio...
Frio que coroe a alma e não me deixa sonhar...
Frio que leva pra longe minha vida e me impede de amar...
E quando tento voar, eu caio sem minhas asas. Eu choro sozinha...
Eu tenho medo de chorar sozinha...
Logo eu que sempre achei ter respostas pra tudo...
Minha vida, em nada, com o sol se parece. Pelo contrário.
Ela é apenas vento. Um vento soprado na direção errada em meio a uma tempestade...
Sonhos são pra serem sonhados. E pesadelos, pra serem vividos...
Com você, eu dividi a tristeza e a alegria. Minha força e minha melancolia...
Sinto-me cansada por lutar em uma guerra sem causa.
Que tem como ataque e defesa,
Meu coração...
Ao longe, vejo uma rosa, lutando para sobreviver.
Cercada de espinhos, que parecem ter vida própria e um único objetivo:
Feri-la lenta e dolorosamente...
Olho-me no espelho e vejo, a rosa sou eu.
Suas feridas, meu coração, que ainda sangra...
E os espinhos? Você!
Nada eu devo fazer...Em nenhuma parte eu deveria estar...
Ninguém em minha vida
Enquanto meu coração lentamente morre...
No entanto, só me resta tentar...
Fechar os olhos pra sonhar...
Ou, pelo menos, sonhar em sonhar...”

Uma rosa vermelha em sua mão coloria a cena enquanto a menina representava.
Quando deu por si, uma lágrima escorreu e seus olhos se encontraram com que menos queria. Sentiu uma onde elétrica atravessar seu corpo. Novamente foi aplaudida de pé. Saiu do palco e correu para o camarim. Vic perguntou o que havia acontecido, mas ela só conseguiu chorar abraçada a amiga. Acalmou-se um pouco. Quando já não chorava mais, desceu para o Saguão. Dumbledore a cumprimentou e McGonagall notou algo de estranho.
-O que houve querida?-Perguntou a professora ressabiada.
-Nada de mais.-Sorriu para desconversar e resolveu mudar de assunto.-Vocês gostaram?
-Foi...Magnífico!-Agora sim, um sorriso de verdade.-Não sabia que além de pianista e cantora, era também bailarina e atriz...-O senhor elogiou-a.-E diga-se de passagem, uma ótima bailarina e atriz...-Laura sorriu tímida. Mas não havia parado por ali.-...Não acha Severus?-O homem estava longe e de costas, conversava com Karkaroff, mas ouvia tudo o que se dizia. Ao ver que o velho pediu sua opinião, ele quase se deixou engasgar.
-Ah, sim...sim...- Virou-se rapidamente e sorriu amarelo. Aquilo doeu no fundo da alma de Laura. Ele pareceu não se importar e deu as costas novamente. Laura disse que precisava ir. Despediu-se de todos (com exceção de Snape e Karkaroff) e foi para sua casa. Correu para o quarto e já estava deitada na cama abraçada ao travesseiro. E foi assim que o resto das férias se passou. A menina se dividia entre seu quarto e o teatro, e muito raramente ia ao cemitério ver o túmulo do avô. Faltava apenas um dia para o embarque e ela estava sozinha em casa. Já estava acostumada a solidão, nunca ninguém lhe dava muita atenção. Não se podia dizer que Sarah era uma mãe ruim, mas perfeita também não. Não que Laura se importasse, apenas sentia falta de algo, por isso gostava tanto de Louise e Daiane. Elas lhe davam colo quando mais precisava e nem sabiam. Lá estava ela novamente olhando aquela fotografia, que ela havia conseguindo num livro de formandos da época dele. Tão jovem... Aqueles olhos brilhavam de uma forma... Tinha um sorriso tímido, quase imperceptível. Deixou uma lágrima escorrer e sentou-se ao piano. Lembrava-se nitidamente da vez em que lhe mostrara uma música que ela própria adorava e a única coisa que ele fez, foi olhar em seus olhos, sorrir e dizer: “Perfeita!”
Não sabia dizer se era perfeita para eles ou para “ele”. Tinha mágoa dele sim, mas não por ele ser o que era, mas por ter mentido de tal forma. Então, como se seus dedos tivessem vida própria, começou a tocar:

“Uma lágrima rolou do fundo dos meus olhos /Foi você que me deixou sozinha...Oh não...
Se eu pudesse aqui sentir seu corpo agora sobre mim / Seria divino... / O que há? O que é?
Essa doce dor que dói lá dentro e fica ali / Até que nada exista alem de mim e de você
Pois não há apaixonados como nós / Que não se renderão jamais
Nem mesmo quando uma mentira / Roubar o sonho e a alegria
Apaixonados como nós / Indivisíveis mais e mais / Nesses segredos por detrás da voz
Essa noite eu vou te ter enquanto o mundo dorme / Ser feliz! Fazer o amor que não se pode
Digo a Deus: Ele é meu! / E já vejo você vir chegando sobre mim.
Até que nada exista além de mim e de você / Pois não há apaixonados como nós
Que não se deixarão jamais / Porque existe uma magia / Entre sua alma e a minha
Apaixonados como nós / Inconfundíveis mais e mais / O pranto e o riso somos nós
Como um espelho somos nós...Somos nós... / Com vontade de se ver no outro. Nós...Sempre nós... / Até que não exista mais o que se respirar
Pois não há apaixonados como nós / Que sempre irão se procurar...
Que não aprenderão jamais a estarem sós / Nunca mais!
Na praia nada além de nós e a areia fina no cabelo / E não existe ninguém mais Apaixonados do que nós / Apaixonados como nós... E você sabe que me tem
E sendo um só vamos seguir... É tudo que eu queria ouvir...
Apaixonados como nós... E sendo uma coisa só
Jamais ninguém vai encontrar apaixonados como nós / Apaixonados como nós... Nós...
Indivisíveis mais e mais... Somos nós... / Apaixonados como nós... Como nós...
Apaixonados como nós...”

Snape. Sempre Snape. Amanhã o veria e nem sabia como o olhar. Era um misto de alegria e medo. Onde estava sua coragem grifinória? Se McGonagall a visse agora, com toda certeza não a reconheceria. Dava Graças a Deus porque Karkaroff não estaria lá. Vic, Juliet, Eryck e Mathew haviam se transferido para lá. Ah, Mathew... Seu melhor amigo era um menino loiro e de olhos azuis. Faziam teatro desde pequenos. Ele tinha o dom de faze-la sorrir mesmo nos piores momentos. Quando seu avô havia morrido, ele ficou ao seu lado o tempo todo. Era um menino de ouro, apaixonado por Pollyane. Ah, e Vic... Vic havia arrumado um namorado, Jack Reeves. Era um bom rapaz, trabalhava em Hogsmead e os dois se gostavam de verdade. Juliet também estava de namorado novo, Kaio, um Corvinal que reencontrou de férias em Paris. Eryck continuava o mesmo, só que quando ela resolvia tocar no nome de Snape, ele simplesmente mudava de humor. Mas porque Snape fizera aquilo com ela? Ela nunca o desrespeitara. Sempre fora uma boa aluna, uma boa menina... E no entanto, ele brincou com seus sentimentos. E agora, queria se afastar. Havia se enganado com ele, mas algo dizia que ele realmente gostava dela. O brilho que vira em seus olhos na noite do monólogo, tristeza, dor, arrependimento... Ah mas que confusão estava sua vida. Levantou-se e caminhou até a janela. Solarolo era tão bonita à noite. As luzes deixavam o parque claro e Laura podia observar cada detalhe. A pequena lagoa, o jardim... Lá estava a roseira que havia plantado alguns anos antes. O teatro, a praça, a floricultura... Estava tudo lá... Cada coisa em seu devido lugar e ela, ela nem sabia qual era seu lugar. Fechou a cortina e deitou-se. Como seria o amanhã? Como seria sua vida depois do amanhã? E foi com essas perguntas que adormeceu... Sem saber como seria o amanhã...

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