Volta a Hogwarts
Capítulo 17: A volta a Hogwarts
O garoto estava ali, sentado, ao lado da cama da loira febril. Apesar da sua aparência frágil, seu peito arfava docemente. Jack tentou não derramar mais lágrimas por entre os olhos verdes. Tudo aquilo parecia um pesadelo ruim. Mas era real. Tão real quanto o possível. Ela havia sofrido outra tentativa de assassinato, e ele poderia ter impedido, mas...
Ele deu um soco no braço da poltrona. Os amigos, que permaneciam calados e tristes, se assustaram com o repentino ato. Greg suspirou e colocou o braço no ombro do amigo.
- Jack, não foi culpa sua. Pare de se torturar.
- Só um minuto, só mais um minuto e eu poderia ter impedido. Eu não... N-não sei por que eu saí de perto dela. Por quê? – ele levantou os olhos para o teto, como que pedindo a explicação para Deus.
Denis continuou a fixar o olhar frio sobre o amigo. Ao ver de Jack, o garoto culpava sim ele pelo ataque à menina, mesmo que Den não pudesse reclamar muito: o próprio deixara Mel na mão também, ficando acidentalmente bêbado e caindo nas garras da prima de Ian Poldeck. Então ficava assim: sem falar nada, apenas olhando e esfregando os olhos, para evitar as lágrimas. Denis Cavalcante chorando? Nem quando nascera!
- Sejamos francos: nenhum de nós agiu da maneira que deveria ser. Penny dependia da nossa proteção, e sabíamos disso desde que ela veio para cá. Pelo menos eu e o Jack. – Greg olhou para Denis, que começou a encará-lo abertamente, não entendendo a afirmação. – Então, todos nós fomos culpados.
- Vocês sabiam que teriam de protegê-la? Como assim?
- Harry estabeleceu isso para nós desde o começo do ano letivo. Ou será que você acha que foi coincidência eu, o Jack e a Melany termos sidos os primeiros a nos aproximarmos de vocês?
O loiro ficou processando essa informação tardia olhando para a janela: nevava lá fora, e tudo ao seu redor parecia mais gelado do que já estava. Seus pais haviam passado na mansão mais cedo para vê-lo, mas já deveriam estar a caminho do Brasil. Mas antes, Goreth, mãe de Den, fizera uma cena maior até que a da mãe de Penny, querendo que o filho voltasse para o Brasil com ela, temendo pelo seu querido e precioso filhinho. Apenas depois de alguns drinques ela se acalmou e concordou em se separar dele novamente. Denis achou aquilo patético, mas teve de concordar que mãe era mãe, especialmente a sua.
Eles ouviram batidas na porta. Então Melany adentrou o quarto, visivelmente abatida, usando roupas largadas e quentes. Ela esfregava os braços enquanto se aproximava da cama. Evitou descaradamente olhar para Denis.
- Tio Harry está te chamando, Jack. Ele quer que você descreva mais uma vez o que aconteceu para o Jacob. Acharam ele com uma mulher, dentro de um dos quartos. Ele estava bêbado, mas já está sóbrio o bastante para te ouvir.
- Certo. Então, eu... – ele levanta vagarosamente e sai, não sem antes olhar para Penny.
- Nunca vi o Jack assim. Nem quando ele me jogou dentro do Lago de Hogwarts e eu quase peguei pneumonia serêica. – ela suspirou.
- Bem, éramos crianças, e não sabíamos direito o que significava isso, não é? O caso é diferente, e temos consciência de tudo agora. Não é só a vida dela que está em risco.
- Greg, é impressão minha ou vocês sabem mais do que eu? Aliás, eu, Dill e Penny?
- Não, não é impressão sua. Mas agora eu preciso ver ela, a Dill. Onde ela está?
- Na sala, com o pai e a mãe dela. – o moreno assente e sai sem olhar para os lados. No fundo queria que os dois amigos restantes no quarto se acertassem, mas também precisava muito falar com Dill, e com Draco.
Houve um momento de silêncio entre eles. O vento lá fora açoitava a janela. Denis nunca fora ruim com as garotas, pelo contrário, se fosse em outros tempos ele resolveria aquele impasse empurrando a ruiva para a parede e beijando-a com ou sem seu consentimento. Mas aqueles eram outros tempos, e ele sentia que nunca teria coragem de fazer aquilo com Mel. Mudara muito. Por causa dela.
- Eu sinto muito. – ele só conseguiu falar isso. Ela se virou, os cachos leves caíram em cascata para o lado. – Mel, não foi culpa minha, aliás, foi sim, porque eu fiquei meio que preocupado com você, comigo, com o idiota do Ian, eu... Eu vacilei, amarelei, sei lá! Só me desculpa?
- Denis, você sabe o que o Ian fez depois que eu te vi com aquela... Aquela... – ela desistiu de tentar falar algo, não desceria tanto o nível. – Ele simplesmente riu da minha cara, porque ele percebeu que eu pus toda a minha confiança em você, que eu praticamente... Que eu... Ai, Denis, eu não sei... – ela mordeu os lábios vermelhos. O garoto achou que iria desmaiar. – Olha, o importante é que ele conseguiu o que queria: fez-me perceber que eu não posso confiar em você.
- Não, Mel! – ele exclamou mais exasperadamente do que ele quis. Por que ela sempre o fazia sair das estribeiras? – Melany, eu sempre serei seu amigo, você se tornou especial demais para mim, por incrível que pareça. Se eu bobeei agora, foi vacilo, me desculpa, mas... Não ouça aquele idiota, okay?
Os olhares deles vacilaram. O garoto poderia ver que isto não iria convencê-la, não de imediato, não quando isto não era toda a verdade, pelo menos não era a verdade confessável. Nem ele sabia qual era a parte inconfessável.
Ela o encarou mais avidamente. Depois abriu a boca e fechou algumas vezes. Não sabia o que falar, o que fazer. Então, ela simplesmente saiu do quarto. Os olhos, ele percebeu, estavam brilhantes.
”Perfeito, Denis. Perfeito!”
**********
- Sev, até quando isso vai durar? – ela perguntou com frustração no olhar.
O homem a encarou, sentindo que não iria agüentar vê-la derramar mais lágrimas daquele jeito. Mas felizmente o tempo de segredos estava acabando. Ou seria infelizmente?
- Querida, tudo vai ser esclarecido o quanto antes, eu prometo. Mas por enquanto quero que você se concentre na sua amiga. Penélope vai precisar do nosso apoio para melhorar.
- Mas ela já está fora de perigo, não é?
- Com certeza. – ele assentiu e percebeu que a filha respirou devagar, se acalmando. Não estava sendo fácil para Dill. Tudo parecia ir às mil maravilhas naquela noite, e do nada, quando seu príncipe encantado finalmente conseguira quebrar seu feitiço de gelo, outro bruxo despertaram-nos para a realidade, tentando assassinar sua melhor amiga. Fora uma queda dura. E feia.
Antes que a ruiva conseguisse se acalmar mais para tentar arrancar mais sobre tudo, eis que chega Harry. O mestre parecia mais pálido do que antes, não se conformava de que Penny tivesse passado por aquilo dentro da sua própria casa, debaixo dos narizes mágicos de bruxos altamente respeitados do Ministério. A audácia deste bruxo, qualquer que fosse, já estava o irritando por demais.
- Snape, será que você pode vir comigo? Jack vai falar com Jacob agora, e quero que todos estejam presentes, para discutirmos isto logo de uma vez. Acho que teremos de tirar as crianças daqui, talvez mandá-las para a escola antes do esperado...
- Oras, tio Harry. De que isto adiantaria? O atentado não já ocorreu? Isso não resolveria em nada o problema da Penny. Acho melhor continuarmos aqui, com você e Tia Gina!
- Dill, nós também achávamos isto. Mas, o que ocorreu esta noite mostra o quanto erramos. Mas nós vamos discutir a sós, está bem? Vemos-nos no quarto. – ele olha cansado para o homem e sai.
- Melhor irmos logo. Venha, querida.
- Mãe, fique comigo, por favor, não quero ficar só! – a menina faz um bico para a mãe. Queria disputar agora a atenção com Snape, mostrar que apesar dos seus atos estarem sendo tão meigos e paternos para com ela, não significava que o passado já fora esquecido.
A mulher, que até aquele momento permanecera calada, apenas dando apoio moral à filha e ao esposo, olha a garota de relance: uma comunicação que apenas elas duas possuíam. E como não conseguia dizer não a ela...
- Filha, tenho uma idéia melhor: que tal o Greg te fazer companhia, hein? – e com efeito, o moreno entrava pela sala quente, com as mãos cobertas pelas luvas dentro do suéter verde, que o deixava mais lindo que antes. A menina corou sem querer, enquanto Severo e Cris saíam discretamente, sorrindo de lado.
Gregory, que não ouvira nada, vinha irremediavelmente na direção dela, com aquela expressão de quem ‘comeu-e-não-gostou-e-ainda-cuspiu-no-prato-Malfoy’, que ele habitualmente não tinha, mas hoje as coisas estavam difíceis.
- Para aonde eles foram? Falar com Harry?
- Aham, isso mesmo. – ela concordou, olhando para onde seus pais saíram. Era tão estranho ver Cristina com um homem, especialmente seu próprio pai.
- Como está? Tão assustada quanto eu?
- Nenhum de nós esperava isso. Ah, Greg. Quem poderia imaginar? Acho que nem a própria Penny, que é a mais nova vidente do século, poderia supor. Agora que ela está bem, só penso em pôr minhas mãos no filho-da-mãe que fez isto conosco.
A expressão homicida nos olhos inchados dela o deixou com vontade de rir, mas ele evitou. Talvez a fome estivesse apertando mais do que o sono, mas não importava, a amava justamente por aquele jeito de ser que ele nunca encontrara em garota alguma. Daquele jeito mesmo.
- E Den e Jack?
- Espero que a esta hora Denis esteja se pegando com a Mel dentro de algum quarto. E Jack, está falando algo com Jacob, não é?
- Uma reunião a portas fechadas, até com Severo e Harry. Irão decidir o que farão para nos proteger. Sabe, sinto-me agora tão vulnerável. Se nem em uma propriedade particular como Hogwarts e a Mansão Potter estamos seguros, onde estaremos?
Ele olhou nos seus olhos negros, teve uma forte vontade de não responder e apenas beija-la. Aquilo ainda o iria deixar maluco, mas conseguiu voltar sua razão para a pergunta.
- Draco acha que eles estão pensando de modo errado. Estão tentando nos proteger de alguém que aparentemente não conhece a nenhum de nós, alguém distante, mas ocorre justamente o contrário: esta pessoa deve estar mais próxima do que se imagina.
Dill o olhou com desconfiança. Seus olhos cinzas não mentiam: ele sabia mais do que qualquer um. Ou talvez era o único que não se importava de esconder que sabia. Ali estava parte do que Severo prometia há séculos lhes falar, ou o que eles já sabiam, pesquisando sozinhos, pois a curiosidade os havia dominado a tal ponto, que não conseguiam simplesmente esperar: alguém, algo... Um conhecido, o traidor.
Seus devaneios e sua conexão de olhares foi interrompido por uma ruiva verdadeira entrando de um modo apressado pela sala. Melany não parecia nada feliz, menos até do que todos por ali. Seus olhos caramelizados estavam enxaguados, e na mesma hora que ela percebeu os dois remanescentes da sala, se virou e saiu correndo novamente.
Os amigos entenderam que algo dera errado. Não foi preciso dizer nada, na mesma hora eles levantaram e foram conversar com a menina.
**************
- O que você acha que está acontecendo dentro dela? – Harry perguntou olhando para a loira deitada.
- Apenas um adormecimento. Ela está fora de perigo, já disse. Esta maldita droga que deram a ela, seja qual for, não teve tempo de fazer efeito, graças a Merlim. – Jacob falou pensativo, colocando a mão na testa da pupila.
- Farei o que for necessário agora. Estou farto disso, não podemos regredir no tempo, Severo. Nossa guerra já acabou. Por que tudo isso está acontecendo de novo?
- Não faço idéia. – o homem respondeu pensativo. A mulher do seu lado sorriu, cansada. A cena era muito triste ao ver de Cris. E isso era porque ela não passara pela Guerra contra Voldemort.
- A expressão do rosto dela... Parece que ela está tendo bons sonhos.
- A entidade que a guia é muito sensível. Nunca a deixaria sozinha, e deve estar ajudando-a. Cleptra é do Egito antigo, tem anos de existência, e com certeza também vai nos ser muito necessária.
- Só espero que nos ajude mesmo. Penny, mesmo não sabendo, é uma das principais chaves disso.
- Chaves? – Cristina não havia entendido. – Agora vocês estão chamando os meninos de ‘chaves’?
- É só uma expressão, querida. Mas no fundo, todos são isso mesmo. Peças, chaves... De um mistério do nosso futuro.
Enquanto os bruxos divagavam sobre isso, a consciência de Penélope estava em um estado de latência. Ela não sabia de onde vinha, para onde ia, o que fazia ali. Tudo era claro, escuro, estranho... Ela havia se perdido, mas alguém a estava procurando, tinha vozes! Ela tentou falar, mas sua voz foi abafada. O desespero começava a querer despertá-la, mas ela não podia, não queria, deveria continuar ali. Até que...
- Penélope, Penééélopeeee...
- Com licença? Oi, quem está aí? – saiu com dificuldade, mas saiu.
- Nossa, você é educada até quando está latérgica? Que estranho. – a mulher saiu das sombras, e fez-se a luz. Era alta, bonita, morena, cabelos lisos, com franja. Olhos marcantes, usava uma maquiagem digna de princesa. O vestido esvoaçava mesmo sem haver vento. O cheiro dela lembrava a Pen um perfume que certa vez seus pais produziram para um bruxo africano. Havia canela, cânfora, menta, enfim, especiarias. Era tão bom.
- Desculpe, mas quem é você?
- Meu nome é Cleptra. Sua entidade.
- Prazer eu sou a Penny.
- Eu sei. – ela sorriu enigmática. Os olhos pareciam os de uma esfinge.
- Onde nós estamos? Eu só me lembro de ter aceitado aquela bebida do...
- Exato, e aí... Você nos colocou em um enorme perigo! Por que aceitou aquilo?
- Educação, pressa, sei lá. – ela realmente não se lembrava o porquê. – O homem meio que me deixou sem ação, sabe? Os olhos dele...
- Eram lindos, eu me lembro.
- É... – elas ficaram em silêncio, se encarando. Penny não sabia ao certo o que dizer, aquela experiência estava além da sua imaginação, do seu alcance. Jacob nunca a ensinara a lidar com isto. Então o que fazer? Tentou se concentrar. Sabia que deveria aproveitar este encontro para pôr tudo em ordem, então não se conteve por mais tempo.
- Cleptra, por favor, me diga por que fizeram isso? – a moça sorriu. Era exatamente a pergunta certa.
- Querem nos liquidar, garota. Você é a vidente mais nova deste século, a escolhida! A que pode ver o que irá ocorrer com os bruxos mais famosos destes tempos, a que tem a solução para o mistério sem fundamento, o medo invisível, o mal resguardado.
- E... Este mal... Tem a ver com Lord Voldermort?
- De certa forma sim. O traidor, aquele que deveria estar ao nosso lado, filho da guerra, cheio de rancor. Ele está atrás de nós, e de um meio de alcançar a vida eterna e os ideais do antigo Lord.
- Mas... Como ele pode tentar fazer isso?
A mulher fez uma cara de mistério. Sua voz era suave e sóbria, mas os olhos não escondiam o temor por estar falando isso tudo. Mesmo sendo enigmática, Penny entendia tudo.
- Através de feitiços maléficos, antigos e ainda sem solução. Tudo depende do modo como você vê, veja bem, nos olhos dele estará a solução. Vejo temores sem fundamento, e distração. O amor tem de prevalecer, mas...
- Mas o quê?
- Terá de ser feita uma decisão. Os seis devem regressar. Sete, talvez não.
- Cleptra... – Penny começava a se perder, a visão estava ficando ofuscada. – Me diga quem é. Me diga, por favor, pule os protocolos, e me diga quem é!
A mulher sorriu como uma esfinge. E ela se lembrou: esfinges nunca dão respostas, só os enigmas. As vozes ao seu redor estavam mais claras agora, os seus olhos lacrimejavam. Era hora de acordar, ela sabia. E pelo menos assim poderia rever a todos, e contar o que havia descoberto.
- Já é tarde. Mais do que imaginam. É hora de agir. E tome cuidado, sim?
E dito isto, Cleptra desapareceu por entre as luzes. E Penny despertou.
***********
- Olhe, ela está acordando! Filha! – a mãe de Penélope não resistiu ao impulso de ir abraçá-la, apesar do seu estado frágil. A loira bem que quis desviar do abraço afobado da mãe, mas não teve forças, e ficou lá, sufocada, até que o pai conseguiu afastar ela dos braços da filha.
- Penélope, estávamos tão preocupados. Que bom que você acordou filha! – as lágrimas desciam.
Ela não conseguiu não sorrir, para tentar acalmá-los. No meio das lágrimas e risadas ela conseguiu finalmente falar.
- Pai... Onde está aquele meu caderno?
- Caderno? – ele se espantou. Mas quase na mesma hora sua expressão desanuviou.
- Isso. Traga meu caderno, por favor. Ah, e se no meio do caminho encontrar Jacob e o professor Snape, eu ficaria mais grata ainda. – ela terminou de falar. Sentia um peso no peito que sabia que só terminaria se acabasse com as dúvidas.
*******
Todos eles estavam reunidos em uma sala quente, com xícaras de chá fumegando nas suas mãos. Nenhum deles esperava uma notícia muito animadora ou revigorante. Ao contrário do começo daquelas férias, esta última noite na Mansão Potter estava sendo a mais detestável de todas.
- Certo. Garotos, acho que já não é novidade para vocês que Penélope já acordou. – Harry começou. O silêncio pareceu aumentar. – E, vocês já devem saber que nós a proibimos de receber visitas.
- Por quê? – Denis finalmente o interrompeu. Ele esperava aquilo desde que entrara.
- Simplesmente porque o estado dela é muito delicado, e não queremos pô-la em risco desnecessário.
- Você acha que um de nós fez isso com ela? – Greg perguntou atônito. A expressão dele era parecida com a de todos os jovens.
- Claro que não. Mas é melhor prevenir do que remediar, não acham? Ou será que vocês me perdoariam se ela fosse atacada novamente debaixo do meu teto? – mais silêncio.
- Não é bem isso, Harry. Sabemos que não foi culpa sua, mas... Queremos ver Pen! Nossa, estou até preocupada. Primeiro essa história de que há um traidor, e agora vocês a deixam de quarentena, isolada...
- Dill, querida. Tudo o que fazemos é para o seu bem, okay? Então, menos preocupação, e mais arrumação. Já que vocês irão para a escola amanhã, não é? Então... Boa noite. – e ele sai por uma porta lateral. Os outros continuaram por lá, quietos.
- Temos de fazer algo. Não consigo entender por que Penny tem de ficar longe de nós. Nós é que temos capacidade de protegê-la. – Jackl pensa um pouco alto demais.
- Nem tanto, primo. Por exemplo, você acha que poderia ter feito algo contra a pessoa que deu o veneno a ela? Se só o veneno era daquele jeito, imagine os poderes da pessoa! – Mel ri da cara do moreno.
- Amigos fazem de tudo para defender seus amigos. – Denis fala olhando para ela.
- Ah não ser que estejam bêbados. – ela devolve, e vira a cara para ele. – Dill, alguma idéia? Eu conheço você! Sempre está pensando...
- Não sei. Acho que teremos de fazer algo por nós mesmos. Mas antes precisamos saber o que Penny sabe. Eu realmente sinto que ela tem informações valiosas, Harry me passou isso pelo olhar... Mas por enquanto... Resta esperar. O que, aliás, é só o que fazemos, desde setembro. – ela termina com cara de poucos amigos.
- Uaaah! Então, acho que vou indo dormir. Mas antes vou tomar um banho bem relaxado, então, caras... Se não quiserem me ver pelado pela minha suíte, não venham agora, ok? Então até! – e o moreno sai antes de poder rir mais das caras e bocas que Greg e Denis fizeram e ouvir as desconfianças de Mel e Dill.
Entretanto, o garoto, filho de maroto, nunca que iria numa hora daquelas dormir. Ele subiu as excelentes escadas com tapeçarias, sem fazer barulho. Virou alguns corredores, se espremeu por passagens antigas, evitando o quarto dos pais. Até que parou em frente a uma porta bonita, como as outras. Só que nela, se via logo, havia um feitiço contra intrusos. Ele parou e sussurrou uma palavra. A porta deu um ‘clic’ abafado. E lá de dentro ele viu uma loira sentada aos pés da cama, esperando por ele.
- Pensava que você não vinha mais!
- Ah, eu nunca esqueceria de você. - Ele sorriu de um jeito mais do que maroto. A loira sentiu um leve arrepio, e preferiu mudar de assunto.
- Então... Por que não trouxe os outros? Mais ninguém quis me ver?
- Na verdade... Achei muito arriscado trazer mais alguém. Meu pai está muito desconfiado sabe? E além do mais, queria falar a sós com você.
- Sério? Que coisa! – a menina, instintivamente se sentiu mais quente.
- Todos estão muito querendo falar com você. Estamos preocupados com o que vai acontecer agora com a gente e o que vamos ter de fazer para deter este... Traidor. Afinal, não queremos que ele acabe com você. Vamos pegar ele primeiro. Certo?
- Eu agradeceria muito! – ela sorri amarelo. O menino estava agora a seu lado, olhando-a profundamente.
- Eu serei o primeiro a dar-lhe uma boa surra, ao estilo dos trouxas. Tudo por você. Você me preocupou muito, sabe? E eu... Me senti muito culpado.
- Não foi culpa sua. De ninguém, aliás. Mas se é para te mostrar que não estou ressentida, te dou qualquer coisa. – ela falou sem malícia, pensando em algum presente.
- Que tal... – ele sussurrou. – Um beijo?
A menina estava quase na ponta da cama para evitar a incrível atração que sentia pelos lábios dele. Chegava a ser uma cena engraçada, ela via os olhos fechados dele, esperando o toque dos seus lábios. Penélope tinha aquela incrível sensação de que Jack esperava mesmo que eles fizessem algo ali, escondidos, dentro de um quarto. Seria até romântico, mas no fundo, ela já sabia que aquilo não daria certo. Não agora. Não como ele queria.
Então, antes que ela pudesse ao menos ficar tentada em retribuir o beijo, algo bate na janela. Jack recua firmemente, com cara de surpreso. Mas era só Brown, a coruja da menina, com uma carta no bico. Penélope mais do que depressa se levantou e foi pegar a correspondência, tentando não olhar para a cara de Jack, ela se sentou na cama e foi lê-la.
- De quem é? - ele perguntou com uma voz que julgara ser indiferente ao que ele tentara fazer a pouco.
- De meu primo, sabe. O Rob. Ele ficou muito preocupado com o que aconteceu, tem me escrito regularmente. Estou até com saudades dele. Mas ele prometeu que nos veremos amanhã pela manhã.
- Ah! - o Potter mais novo exclamou descontente. - Ah, claro. Seu primo, seu ex-namorado. Que bacana. Bem então eu... Vou indo, ok? Ainda tenho de arrumar minhas coisas. Nos vemos amanhã.
- Claro, Jack. Até amanhã. E bons sonhos.
E sem mais ele saiu do quarto. O garoto estava começando a ficar vermelho. Achara que iria ser uma boa noite, mas errara! Foi por tão pouco! Se sentiu um pré-adolescente frustrado. Mas aquilo não ficaria assim. Teria ela para si. Ah, teria.
Dentro do quarto, Penny começou a ler a carta do primo. Há séculos eles realmente não tinham nada que não fosse amizade, mas essa amizade era no mínimo muito lucrativa para ela. Jack, ela percebera por instinto tanto feminino quanto vidente, achava-a atraente e convidativa. E era tão fácil para ele ter esse tipo de coisas que se eles ficassem daquele jeito... Ela não passaria de mais uma... Amiga conquistada. Não seria desse jeito. Não com ela. Ele veria.
***************
Eles logo aparataram na Sala do Professor de Poções. Saindo de lá, cada um foi para a sua respectiva Casa, tentar ajeitar as coisas na cabeça e as coisas fora do malão. Na tarde daquele dia frio de inverno, se sentaram em uma sala de aula vazia para aproveitar ao menos a vista da sua árvore preferida. O Lago, quase todo congelado. Os quadros agasalhados. O vento que soprava frio. Os amigos que voltavam.
- Penny! - Rob Foster chegou para tirar-lhes a prima. A loira abriu um sorriso muito grande, ao ver de Jack, e pediu licença a eles para ir conversar a sós com ele.
- Idiota. - Den rosnou baixinho. Jack o focalizou, perguntando o porquê daquilo.
- Ah, qual é. Você também não gostou disso. Eu vi. - ele deu um daqueles sorrisos frios. Melany também o olhava. Eles ainda não estavam se falando direito, mas o fato dele xingar o ex da sua ex... Aquilo a deixou um pouco fisgada.
- Estive pensando... - Dill atraiu a atenção deles. - Vou começar a pressionar Sev a nos contar o que está acontecendo. Simplesmente não agüênto mais. Depois do que Penny nos disse... Que coisa, quero logo saber de tudo! - ela se revoltou sem motivo aparente.
- Não custa esperar. - a voz da razão e da paciência personificada na figura de Greg Malfoy falou.
- Não custa esperar para você que possivelmente já sabe de tudo, bonitão! Eu estou farta, me escondem coisas desde que nasci. Então não me venha falar de paciência. - ela bateu a xícara que segurava na mesa e saiu, irritada.
Todos se espantaram, menos Greg. Já fazia algum tempo, ele percebera, a menina o estava tratando daquele jeito. Frio, distante, deseducado, belicoso. Parecia que depois de tudo estavam regredindo. E ele até já imaginava o porquê, mas não podia botar tudo a pratos limpos com ela na casa dos Potters sem levantar suspeitas. Agora em Hogwarts poderia. Tinham espaço o bastante. E teria de ser antes das aulas.
Ele olhou todas as caras assustadas na mesa, que se resumiam a Jack e Mel, já que Den era Den, o oclumete, e os primos Masefield ainda não haviam chegado. Então se retirou sem falar nada.
***********
Ele a encontrou em um corredor vazio, a meio caminho da Torre da Grifinória. “Perfeito”. Pelas janelas de vidros ofuscados pelo frio se via a Cabana de Hagrid, um bolinho de glacê.
- Hey! - ele exclamou para pará-la. Como ela não virou, ele apertou o passo e a segurou pelo ante-braço com força. - Hey, hey!
- Está parecendo que você quer começar a cantar algum refrão idiota.
- E está parecendo que você está louca. - ele rebateu. Aquilo já era demais. - Dil, o que está acontecendo?
- Quer saber? Simples. Você me enganou todo este tempo! E ainda fuçou a minha história de vida. Me pegou pelo que mais me dói. E me traiu! Você não tem vergonha na cara, não é, Gregory Malfoy!
Bem. Ele perguntara e ela fora direta, típico dela. Estava se referindo a tudo que ele fizera nestas férias, tudo que ele possivelmente escondera, tudo o que fizera para conquistá-la. Ele suspirou e a soltou. Botando as mãos enluvadas no bolso da calça trouxa e cara, ele perguntou.
- O que quer saber?
- Por que foi perguntar para minha mãe sobre ele? Por que teve de perguntar justo sobre o Edu? Ele era só meu. Minha lembrança, e de mais ninguém. Aquela música, sabe... Era nossa. Na hora eu achei tudo lindo e tal, mas agora eu vejo que... Você apenas... Apenas...
- Não. Era a música que eu te vi tocar. I miss you, do Silvershair. Eu não sabia que essa música tinha sido também de você e desse outro cara.
- Bem, agora sabe, não é? - ela se virou, passou a mão pelos olhos que possivelmente estavam borrados pela maquiagem. Ela não deixaria ele vê-la chorar. Não mesmo. Só deixara um garoto vê-la chorar por ele, e agora ele estava morto.
- E o que mais? É sobre o que sei? Sobre o traidor? Sobre isso tudo? Dill, é uma coisa complicada. Sei o que Draco me conta, e é muito pouco, acredite. Não é tanto quanto o que nós descobrimos sozinhos ou sabemos. É tudo teórico, sem fundamento. - ele a escutou fungar. A pouca luz que tinha estava desaparecendo, e só era por volta das três horas da tarde. Ele não queria que aquilo estivesse acontecendo. Não mesmo.
- Dane-se! Eu quero saber.
- Não posso. - ele falou relutante.
- Então não fale mais comigo. - ela começou a andar.
- Dill! Por favor, me escute. Nós... - ele a segurou de novo, mas ela foi mais rápida e puxando a varinha, lançou-lhe um feitço cortante. - Ai!
- Não temos mais o que conversar. Pelo menos não agora. - e saiu resoluta pelo corredor. Por um segundo ela quis que ele a seguisse, mas ela percebeu que isso não aconteceria. Ele sabia o que se passava dentro dela, e segui-la só dificultaria as coisas. Ela foi se deitar no quarto, ouvir algo bem melódico e EMO, acariciando Blue e comendo o chocolate dado pelo seu padrinho. Pensou em Edu. Seu primeiro amor, aos 13 anos. " Ele era perfeito. Tão perfeito para mim, que dava nojo..." Era sempre assim que começava a falar dele. Não sabia o porquê.
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- Hoje iremos começar as aulas novas. Não quero gracinhas ou reclamações. As tarefas serão mais pesadas e difíceis, portanto não vacilem. Seus N.I.E.M.'S vão ser tão difíceis quanto essas tarefas. Agora, quero que vocês anotem esta teoria para então começarmos a aula prática. - a professora Tonks se virou e começou a anotar algo muito complicado no quadro. Dill, sentada na última cadeira, fingia que ela falava grego e se deixava levar pelo ar quente da lareira da sala. Mel, ao seu lado lhe deu um cutucão.
- O quê?
- Copie! Tonks não vai maneirar, você ouviu.
- Claro que ouvi, não sou surda. Mas não estou com saco para isso hoje. Aliás, nem sei por que acordei hoje. Estou mais pra lá do que pra cá.
Mel fez um bico que lembrou Hermione.
- Sei que não quer falar sobre isso, mas...
- Sim, não quero falar sobre isso. E nem quero que você se meta nisso. Eu não me meti na sua briga idiota com o Den, certo? Faça o mesmo.
Ela fez uma cara de indignação, mas voltou a copiar a aula calada e não falou mais nada até a hora que bateu o horário.
- E agora? - Jack e Den se juntaram as duas a caminho da próxima aula.
- Poções. Com alunos da Sonserina. - a ruiva de verdade enfatizou olhando para a amiga. Dill fingiu que não era com ela e ajeitou o cabelo.
Apesar da aula conjunta, o moreno não tentou se aproximar. Estava tão na cara que os dois tinham brigado, que até o professor veio perguntar o que havia de errado com eles.
- Nada que lhe interesse. E cuide da sua vida! - ela exclamou, colocando mais alguns ingredientes no caldeirão. Den ficou morrendo de vontade de rir da cara de Rud.
Nada melhor para uma pessoa estressada do que permanecer sozinha. Esfriar a cabeça, pensando besteira, comendo besteira, ouvindo besteira. Era o que ela melhor sabia fazer. No horário vago, resolveu ir bater perna pelos corredores da escola, reencontrando velhos colegas, mas não se detendo muito com eles, dando apenas um sorrisinho de 'olá'.
Mas engraçado como às vezes tudo acontece como menos queremos. Denis foi atrás dela, chamando a atenção por suas vestes amassadas e pela gravata a dar o nó. Arrancando suspiros involuntários e risadinhas baixas.
- Precisamos conversar.
- Perda de teeempo! - ela começou a cantarolar no ritmo da música alta que ouvia.
- Não sobre você, mulher! Sobre mim! - ela o focou. - Preciso desabafar com alguém. E como a Pen está cercada de septa-anistas sedentos por tirar um pedaço do cérebro dela, Jack ficando com alguma qualquer e Greg fazendo besteira por ter brigado com você... Vai você mesma!
- Alguém já disse que você não bate bem?
- Já. E essa pessoa acabou acordando numa maca de hospital. Acho que já te contei isso. Mas, bem... Não é esse o caso. O caso é a Mel!
- Seeeei! Ainda não fizeram as pazes?
- Não! E eu preciso dar um jeito de fazer isso. Preciso me redimir, Dill. Me ajude, você é mulher. Deve já ter passado por isso. Me diga o que fazer para provar a ela que eu sou digno.
- Digno do que exatamente? - ela o estudou. - O que você realmente quer com ela, caro colega?
"Droga.", ele pensou. Teria de falar para ela. Teria.
- Não sei direito. Acho... Não tenho certeza... Que gosto dela. De um jeito mais... Mas... É complicado, viu? Então não me faça perguntas, só me ajude!
- Ok! - ela achou graça da tentativa dele de saber o que realmente sentia. - Ok, eu sei o que ela quer que você faça, no fundo. Mas... Você vai estar se arriscando a fazer besteira, ouviu? Você pode até estragar tudo. E não ter mais chance nenhuma.
- Eu topo! Um Cavalcante não tem medo do futuro. Ele arrisca.
Ela sorriu. Então foi contando tudo o que sabia de Melany para ele.
**************
- Como irei? Como irei fazer com que eles se despedacem? Como irei? - a estranha figura se questionava dentro de uma espécie de grande caverna úmida e fria.
Estava todo coberto, dos pés à cabeça, andando de um lado para o outro, se remoendo com dúvidas e idéias. Todas pareciam irrelevantes e levianas. Já chega de planos infantis, de tentativas de assassinato. Isso não dava certo. Já percebera isso, já que a 'vidente' era a mais protegida, sempre havia alguém perto dela.
Ele deveria atacar o ponto mais fraco, o que fosse o mais improvável, o de guarda mais baixa justamente por ser considerado o mais forte. Mas quem seria esse?
A racional, com seus longos cabelos ruivos, sua inteligência materna? O sensitivo, com toda a sua frieza, sua sensatez, sua sutileza? O dueto perfeito, legilimens e oclumente inigualável, filho daquele lendário maldito Potter? O oclumente, que se escondia atrás dos seus fios loiros e dos olhos azuis? Ou a Legilimens, filha do diretor, a de caráter mais forte e vil?
Quem? Quem seria a próxima e fatídica vítima do Traidor? Era isso que ele pensava. Deveria haver algo que escapava de sua ampliada visão. Ele decidiu observar mais atentamente a todos, e logo ele teria o que queria: o elo fraco, o que o faria vencer.
"E então... Terei tudo o que ele não teve. Tudo o que sempre quis", pensou, mas convicto da vitória em cima daqueles que um dia venceram seu mais querido mestre, Lord Voldemort.
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