Voltando ao passado



Capítulo sete:
Voltando ao passado.

Harry engoliu em seco. Aquela imagem lhe trouxe uma sensação esquisita. Um aperto no coração. Uma dor desesperadora...
Estava isolada; não havia construções ao lado. Harry suspeitou que só não haviam retirado a casa dali por falta de autorização de um dono ou porque retirar todo aquele entulho dali beneficiaria tanto quanto atrapalhava. Ou seja: nada.

- Vamos dar uma olhada de perto? - sugeriu Rony.
- Vamos - respondeu Harry, surpreendendo os amigos pela firmeza em sua voz.
Subiram o pequeno morrinho que levava até a casa, e pararam, observando.
- A metade de lá não está destruída - observou Hermione. - Se a entrada não estivesse barrada...

Harry se abaixou para observar os destroços que barravam uma possível porta. Era muito lixo.

- Acho que não ia adiantar nenhum feitiço para abrir caminho - disse Rony que se curvara para observar um buraco naquele entulho, numa posição particularmente engraçada. - Porque atrás disso tudo ainda tem uma porta lacrada. Provavelmente, lá dentro está cheio desses destroços. Sem contar na poeira.

Harry não queria aceitar aquilo. Queria entrar. Tinha que entrar.

- Você disse que tem uma porta lacrada ali atrás? - perguntou ele de repente. Acabara de lhe ocorrer uma idéia absurda.

- Sim - respondeu Rony. - Pelo menos acho que é.

Harry se abaixou. Estava meio escuro, mas realmente se via uma porta com o lacre da polícia trouxa.
- Hum... acho que já sei como entrar - disse Hermione.

Na pressa de responder a Hermione, Harry bateu a cabeça ao sair tão depressa daquele buraco.
- Sabe, é? - grunhiu com os olhos lacrimejando e esfregando o cocuruto da cabeça com as mãos.
- Esperem aqui.

Ela foi dar a volta na casa, mas antes se virou.

- É melhor saírem da frente - disse pensativa.

Os garotos se afastaram.

- A onde ela foi? - perguntou Rony seguindo-a com o olhar.


Os garotos esperaram inquietos, até que um som muito parecido com o de uma explosão invadiu seus ouvidos e um mar de poeira os envolveu.
- Her-mi-one – engasgou Rony. – É v-você?
Quando a poeira abaixou e eles conseguiram enxergar direito, viram que uma grande parte do entulho da frente da porta havia sido jogado longe e esta estava aberta. Atrás dela, com a varinha erguida estava nada menos do que Hermione.
- Não vão entrar? Ou preferem a porta dos fundos?
- Porta dos fundos? – repetiu Harry se encaminhando em direção a amiga. – Como você descobriu que havia outra porta?
- O Rony – respondeu Hermione calmamente.
- Mas eu não fiz nada! – exclamou o garoto surpreso, entrando e fechando a porta atrás de si.
- Bom, não diretamente – retrucou Hermione. – Mas a hora que você disse que tinha uma porta lacrada eu pensei. Porque teria entulhos dos lados de fora de uma porta fechada? Quero dizer, eles fechariam a porta como? E passariam por onde se os destroços são resultados da destruição da casa e estão aí provavelmente antes de alguém chegar. Bom, era óbvio que teria uma outra porta.

Rony ficou parado, com as sobrancelhas tão franzidas que lhe dava uma impressão surpreendentemente sinistra.

- Você chegou a essa conclusão com um simples comentário... meu?

Hermione olhou para Harry que se ocupava em observar atentamente cada pedacinho do interior da casa e que parecia ter se esquecido da presença dos amigos.

- É, sim, foi um comentário muito útil - ela sussurrou - Obrigado - disse em seu ouvido, e após ter se certificado de que Harry não lhes dava a mínima atenção, pôs-se nas pontas dos pés e lhe deu um beijo silencioso no cantinho dos lábios.

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Narrado por Rony

Estávamos, Harry e eu, esperando Hermione aparecer de trás da casa (ela e suas manias de desaparecer com ar de "eu sei de alguma coisa" sem nos explicar nada) quando de repente ouvimos uma explosão e fomos cobertos por poeira.

- Hermione? - tentei chamar, mas acho que me engasguei graças a poeira. - É você?

A poeira baixou e eu a vi. A varinha erguida e com uma cara satisfeita. Dentro da casa.

- Não vão entrar? Ou preferem a porta dos fundos?

Harry perguntou como ela havia descoberto a outra porta, enquanto eu o seguia para entrar na casa.
- O Rony - ela respondeu me surpreendendo.
- Mas eu não fiz nada! - exclamei ainda surpreso.
- Bom, não diretamente - retrucou ela. Depois, fez uma longa daquelas explicações bem explicada que nunca me explicavam nada, mas que pude entender que toda aquela descoberta era graças a um comentário que eu havia feito. Perguntei, incrédulo, se era isto mesmo, e após se certificar de que o Harry não estava olhando, me agradeceu (bem próxima a meu ouvido, fazendo os cabelos de minha nuca ficarem em pé) e me deu um "beijinho" no canto da boca, provavelmente, só para me provocar.

Apesar de tudo, eu tinha certeza de que ela desconfiava de outra porta antes de eu dizer aquilo e que meu comentário não ajudou em praticamente nada... Tinha quase certeza (e sorri com este pensamento) de que fora tudo uma desculpa para se aproximar de mim.

Acho que não vou precisar dizer que adorei a idéia...

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Não ficaram muito tempo dentro da casa. Não havia nada lá além de destroços, paredes e poeira lá. Tudo havia sido retirado, provavelmente pela polícia.

Harry subiu as escadas, olhou tudo atentamente, mas não havia nada. Nada além da angústia que existia em seu coração ao se lembrar do que ouvia quando um dementador se aproximava dele, e do que imaginava que acontecera naquela triste noite... Cena por cena.

Mesmo sem nada ter encontrado, ficaram lá por, no mínimo, uns 40 min. Rony e Hermione não diziam nada, por compreensão apenas, mas Harry sabia que no fundo, eles já estavam impacientes.
Ficara com a idéia de que estava aborrecendo os amigos, de uma forma tão intensa, que quando Hermione o chamou, parada a soleira da porta dos fundos, ele respondeu:
- Eu sei que não tem nada que possa nos servir aqui, por isso, concordo com vocês de que é melhor irmos embora. É que... eu nunca consigo me afastar das coisas que de alguma forma, têm ligação com os meus pais. É mais forte do que eu.

Hermione arqueou ligeiramente as sobrancelhas.
- E o que faz você pensar - começou ela. - que estou te chamando para irmos embora?
Foi a vez de Harry erguer as sobrancelhas, surpreso.
- Não?
- Não - respondeu a garota com dignidade. - Queremos... Bom, não sei se você já viu... Mas, venha cá, e dê um a olhada nisso.

A voz de Hermione era meio receosa e hesitante, imaginando o que seria, Harry se encaminhou até a porta.
Foi quando estava chegando, que se lembrou das palavras dos "Andrews": Seus pais haviam sido enterrados nos terrenos da casa... Praticamente certo do que era, Harry chegou até a porta e olhou para onde Hermione apontava.

Estava mesmo certo.

A uma pequena distância, perto de algumas árvores que faziam belas sombras naquele dia suavemente ensolarado de verão, via-se a sombra de duas grandes lápides.


- Oh! - fez Harry, sem saber o que dizer. - Bem, vamos até lá?
Hermione trocou um olhar hesitante com Rony.
- O que foi? - perguntou Harry, olhando de um para o outro.
- Tem certeza... que quer que estejamos presentes?
Harry sentiu-se corar um pouco. Não pensara nisso.
- O que o rony quer dizer - retomou Hermione - É que é um momento seu, e que entenderemos se quiser ficar sozinho.
Harry pensou por alguns instantes.
- Vocês têm razão - disse por fim. - Se, é claro, não se importarem de... esperar.
- Esperaremos - disse Hermione suavemente.
- É, esperaremos na frente da casa, se precisar é só gritar.

Harry sorriu e virou as costas, rumo às lápides, e pensando consigo mesmo: pelo menos vou fazer uma boa coisa, deixando os dois sozinhos.
Sorriu de novo com este pensamento.

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Cheguei em frente às lapides. Não eram apenas lápides simples, como as que estamos acostumados a ver em túmulos, mas se ligavam a um pequeno relevo de concreto na terra, onde provavelmente, estavam enterrados os corpos.
Apesar de serem duas as lápides, o leito de concreto estava unido, era único. Foram enterrados juntos; a escrita comprovava isso:

Tiago Potter e Lílian Evans
Nascidos em: __/__/__ e __/__/__
Falecidos em: __/__/__ e __/__/__

E no concreto:

“Nem a morte os separou"

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- É - pensou Harry ao terminar de ler - Nem a morte separou vocês dois. Mas me separou de vocês...

Algo quente escorreu de seus olhos e molhou-o o rosto. Sentindo um vazio dentro de si, Harry deixou-se desabar na terra fresca, ao lado do túmulo dos pais, e permitiu-se desabafar todo o seu desespero.
Lágrimas corriam fartas de seus olhos e regavam a terra, enquanto ele pensava... Primeiro seus pais, Sírius... e Dumbledore... Todas as pessoas que ele amava... Morriam. E ele poderia ser o próximo. Não tinha medo da morte, mas morrer, sem antes destruir Voldemort, significava deixar as coisas do jeito que estão. Abandonar a Gina, o Rony, Hermione, os Weasley, todas as pessoas que ele amava e que confiavam nele. Seria fazer com que a morte de seus pais, de Sírius, Dumbledore e todos aqueles que morreram na guerra contra o mau, fosse em vãs. E... não. Ele não queria isso! Ia mais do que vingar a morte de seus pais lutando incansavelmente para destruir Voldemort e seus comensais, ia vingar a morte de sobrinhos, filhos, netos, irmãos, amigos e família de todos que já foram vítimas dele, e ia também, assim, evitar novas mortes, novos sofrimentos.

Harry tirou os óculos, já não eram necessários naquele momento, e apoiou a testa nas mãos, seu peito arfando descontroladamente, tal era o seu íntimo desespero. Não sentiu vergonha de assumir para si mesmo que naquele momento, o que mais queria era poder sentar-se no colo de sua mãe, abraçá-la... Abraçar o seu pai... ouvi-lo contar suas armações de maroto quando era jovem...


Uma música tocava ao longe... Harry não entendia a letra, parecia uma outra língua; português, talvez, mas seu coração parecia compreender o sentido da música...

Fada/ Fada querida
Dona/ da minha vida
Você se foi... Levou meu calor
Você se foi... Mas não me levou...

Aos poucos, o desespero de Harry foi diminuindo. Parou de tremer violentamente e suas lágrimas foram escorrendo com menos intensidade...

Lua/ Lua de encanto
Onça/ Pra quem eu canto
Ela levou... minha magia
Mas ela é... minha alegria

Uma paz tomara conta de Harry. Ele continuou de cabeça baixa, os olhos fechados. Inspirou profundamente, um perfume novo pairava no local... Um aroma gostoso, fraternal, que ele se lembrava de já ter sentido alguma vez, e ele soube... sem compreender, mas soube de quem era aquele perfume. Em seu subconsciente, viu seus pais sorrindo e lhe acenando... Ele sorriu também, em resposta...

Vejo uma luz, um a estrela brilhar
Sinto o cheiro de perfume no ar;
Vejo minha fada e sua vara de condão;
Tocando o meu coração...

Ele abriu os olhos. Estava sozinho... mas sim, não estava sonhando, ainda podia sentir o perfume...

Madrugada de amor que não vai acabar
Se estou sonhando não quero mais acordar
Minha história linda, meu conto, de amor
Algo aqui me diz que essa paixão não é em vão
O meu sentimento é bem mais que uma emoção
Eu espero o tempo que for
Minha fada do amor...

Harry sorriu para si... Seus pais estavam ali, de alguma forma, eles estavam ali, ele sentiu.
- Eu amo vocês... - ele sussurrou olhando para os lápides.

Estremeceu... Sentira algo... Um roçar de leve, um ventinho morno em sua bochecha, e ao mesmo tempo, como uma levíssima pressão em seus cabelos... Como se alguém tivesse lhe dado um beijo, e outro alguém, afagado seus cabelos...

Agora - murmurou Harry. - Eu sei... Nem a morte separou vocês de mim...
Levou a ponta dos dedos aos lábios, e "depositou seu beijo" ali, no centro do leito de concreto, e sentido-se bem mais aliviado, levantou-se.
Quando ia se retirar, notou pela primeira vez, já que apenas agora estava tranqüilo o suficiente para isso, que algo não estava se encaixando naquele cenário.

Era um vaso de flores naturais, belas e abertas, apesar de simples.
Oras, qualquer pessoa que passasse por ali, acharia um vaso de flores extremamente normal em cima de um túmulo. Mas... Quem depositaria um vazo de flores nos túmulos dos pais de Harry? E as flores eram naturais, novas. Não estariam ali há muito tempo.

Ele hesitou, mas acabou pegando o vasinho para analisa-lo. Quando o fez, algo caiu no chão e ele se virou para ver o que era.

Um pedaço grosso de pergaminho, dobrado, escrito em letras garranchadas e de forma:

“A Harry Potte”.

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