Visitante surpresa



- Vocês realmente se beijaram?! – perguntou Sarah parecendo que teria um ataque caso Mary confirmasse.
- Como poderíamos? – Mary apressou-se em explicar – ...eu fugi.
- Sério? – Sarah pareceu um pouco menos preocupada.
- Mas isso causou a maior confusão hoje. – lamentou-se Mary – Sabe o garoto que faz o jornal da escola, do quarto ano? Ele nos viu ontem na cidade e pagou alguém para nos seguir.
- E ele... – começou Sarah já quase adivinhando o que havia acontecido.
- Ele tirou uma foto, instantes antes de eu fugir.
- Então...
- Então ele fez um pôster chamativo com a foto em que o Doumajyd fica toda hora indo para me beijar e eu com cara de surpresa diante daquilo. E o pior! Colocou no Salão Principal!
- Não acredito!
- E tem mais ainda! Depois disso, todos começaram a me tratar pelo nome e não mais de Tarja Vermelha ou sangue-ruim. E me tratam bem! Enquanto eu ainda estava parada na frente do pôster, decidindo se me jogaria de alguma torre ou me afogaria no lago, eles me convidaram para tomar café com eles na mesa. E na sala de poções, todos se reuniram em volta de mim como se eu fosse alguém famosa e popular e me convidaram para um monte de coisas... Eu tive que acabar aceitando ir em uma festa de aniversário de um dos alunos que mora em Hogsmeade depois do natal, só assim eles me deixaram em paz.
- Mentira... – murmurou Sarah surpresa diante do que a amiga contava.
- E o Doumajyd também!
- O que ele fez?!
- No almoço, ele e o D4 passaram por mim e me cumprimentaram!
- Sério?
- Na verdade, ele resmungou um ‘Oh’... E quando os outros perceberam o pôster perguntaram para ele se era verdade.
- E o que ele respondeu?
- Que sim! Acredita?! Mesmo eu tendo negado no mesmo instante da pergunta, parece que ninguém me escutou. Eu tentei explicar o que tinha acontecido e que não passava tudo de um mal entendido, mas ninguém ligou. Nissenson deu um tapa nas costas de Doumajyd o felicitando e o MacGilleain também fazia um alvoroço.
- E o Doumajyd?
- Sorrindo convencido e arrogante como sempre, parecendo se divertir com tudo!
- Mas... será que ele planejou tudo isso ou ele realmente está gostando de você?
- Que absurdo, Sarah! Foi tudo uma combinação de situações que não eram para ter acontecido, mas que infelizmente aconteceram... Ah, mas ele realmente tirou a Tarja Vermelha e anunciou isso para todos. Por isso você pode voltar às aulas que ninguém vai mais te maltratar.
- Tem certeza que está tudo bem? – perguntou Sarah esfregando as mãos, receosa, demonstrando ainda não estar convencida.
- Está sim! – disse Mary em um sorriso para animar a amiga – Não se preocupe!... Você leu muito durante esse tempo todo, não?... – ela olhou para a pilha de livros que estavam ao lado da cama de Sarah e se deteu em um sem o nome escrito na lombada – Que livro é esse? – ela o tirou do meio da pilha, derrubando os outros, e viu apenas uma data gravada na capa, percebendo que se tratava de um álbum de fotografias.
Imediatamente, Sarah pulou da cama em uma velocidade surpreendente e agarrou o álbum, o arrancando das mãos de Mary.
- Desculpa, eu... – Mary começou.
- Não gosto dessas fotos. – disse Sarah simplesmente, mas parecendo nervosa com aquilo.
- Ok, foi sem querer... Bom, tenho que voltar agora. Vê se resolve logo sair daqui!
E se despedindo sorridente da amiga, Mary voltou para as suas aulas da tarde.


***


- Você está mesmo levando essa história com a Weed a sério, Chris? – perguntou Nissenson enquanto ele e MacGilleain se revezavam com o jogo de dardos na ala do D4.
Doumajyd estava muito concentrado jogando cartas sozinho na mesa para responder.
- Eu apoio. – comentou MacGilleain.
- Mas não podemos ser assim, não é mesmo? – disse Nissenson – Nossas famílias escolhem as pessoas com que podemos nos relacionar, e a Weed está mais do que fora da aprovação deles. Quando mais a sério você levar isso, quem vai se machucar vai ser ela.
- ...eu não vou fazer nada para machucá-la. – murmurou Doumajyd sem tirar os olhos das cartas.
- O quê?! – perguntaram os dois outros incrédulos não acreditando no que tinham ouvido.
- -Ei, ei, está muito dócil, Chris! – comentou Nissenson largando o jogo e cercando o amigo na mesa.
- Esse não é o Chris! – exclamou MacGilleain – Que encanto ela jogou em você, cara?!
- Até que ponto vocês foram naquela casa mal assombrada? – perguntou Nissenson desconfiado.
- Ponto nenhum. – respondeu Doumajyd.
- Nenhum? – riu-se MacGilleain.
- Na verdade, foi só um encontro desastroso e não passou disso. – comentou Doumajyd.
- Mas, você passou a noite lá com ela. – lembrou Nissenson.
- Sabe, – Doumajyd abandonou as cartas e foi para a sua poltrona, se largando de qualquer jeito nela e parecendo muito bem humorado – É melhor as coisas acontecerem naturalmente, não acham?
Os outros dois o encararam sem entender.


***


Como era costume em todas as férias de Natal, Mary Ann e Vicky pegaram o trem bem cedo para voltarem às suas casas no feriado. Principalmente nesse ano, Mary esperava mais do que nunca poder sair do castelo e passar um tempo com a sua família, longe de todos seus problemas.
As duas andavam com suas bagagens pelos vagões, procurando por uma cabine só para elas, enquanto conversavam:
- Da próxima vez vamos fazer um encontro duplo, ok? – divertia-se Vicky lembrando dos apuros que amiga passara naquelas semana.
- Nós não vamos ter outro encontro! – disse Mary não gostando da idéia – E aquilo nem foi um encontro!
- Você disse nós! – exclamou Vicky – Isso já é admitir! Está se entregando!
- Dá um tempo, Vicky!... Mas como eu a invejo. Você gosta de alguém que gosta de você...
- Ainda não conseguiu esquecer do seu Cavaleiro de Olhos Frios?
Mary não respondeu. Não seria verdade se ela risse e dissesse que o esquecera. O lenço de Ryan ainda estava no seu bolso e ela não o largava em momento algum, como se fosse um talismã que a salvaria como muitas vezes o seu dono fizera.
- Esqueça-o! – disse de repente a professora Karoline, abrindo uma cabine por onde elas passavam.
- Professora! – as duas se jogaram contra a parede com o susto que levaram.
Com um sorriso de orelha em orelha, a professora as chamou para entrar com ela na cabine vazia e continuou depois que fechou a porta:
- Uma nova paixão cura as feridas do coração. Nada melhor do que uma nova para esquecer a antiga!... Eu amei um homem chamado Alvo. – ela começou, se sentando no banco e olhando para algum ponto além da visão limitada das duas – Eu esquecia de todos os meus problemas quando estava com ele... ALVO!!! – ela berrou de repente para a janela e as duas caíram no banco sentadas com o susto – ...O sobrenome dele era Dumbledore.
- Em outras palavras, – comentou Vicky – Alvo Dumbledore?
- Seus óclinhos de meia lua combinavam com ele e era, de fato, um homem gentil. Por mais que eu estivesse deprimida, era só ele conversar comigo com sua voz suave que realmente conseguia me fazer sentir bem... Ah, ele se fazia de forte, mas na verdade era um inseto...
E ela permaneceu suspirando perdida em pensamentos, enquanto Mary e Vicky discutiam seriamente sobre quantos anos a professora deveria ter e se ela teria conseguido um pedaço da lendária Pedra Filosofal desse seu último amado confesso.


***


Os pais de Vicky tinham uma residência normalmente trouxa em Londres, há poucos quarteirões de onde Mary morava, então ela teria uma carona até em casa.
Mary Ann morava em um conjunto residencial de um bairro de classe média. Seu pai trabalhara por muito tempo em uma empresa dos pais de Vicky, quando eles haviam se aventurado em negócios trouxas. Porém, com o desprezo aos trouxas dos grandes nomes do Mundo Mágico, nos últimos anos os negócios não foram bem e a empresa teve que ser fechada. Assim, a família de Vicky ficou somente com seus negócios no Mundo Bruxo e o pai de Mary conseguiu um emprego em uma outra empresa, com chefes trouxas. Mas a amizade de anos da família nunca fora abalada, apesar da grande diferença, tanto social quanto mágica.
Ao descerem na estação, as duas se despediram da professora, que havia aproveitado a viajem para convocar Vicky para ajudá-la na pequena loja de doces da sua irmã na cidade, e sumiu entre a multidão, cantando alegremente e atraindo muitos olhares curiosos. Fora da estação, o motorista trouxa da família de Vicky já as aguardava para levá-las para casa.
Quando finalmente chegou ao bairro em que morava, Mary se despediu de Vicky e prometeu que iria ajudá-la na convocação de férias da professora, e rumou para o prédio da sua casa.
Durante todo o caminho, arrastando seu malão escadas acima, ela não pôde evitar de pensar em tudo o que conversara durante a viajem. E apertando o lenço dentro do seu casaco da escola, lembrou das palavras da professora ‘nada melhor que uma nova paixão para esquecer a antiga’.
- Inacreditável! – ela se arrepiou só em pensar em sua nova paixão sendo Doumajyd.
Aquilo estava absolutamente fora de questão! Doumajyd continuava sendo o ser mais desprezível do mundo, mesmo tendo abolido a Tarja Vermelha, e se ele não aprontou nada durante aquele encontro forçado era por que não conseguia nem mesmo se manter em pé. E agora o cúmulo tinha sido aquela história de que eles estavam namorando que ele anunciara contra a sua vontade para toda a escola. Era realmente inacreditável!
Tentando se livrar de todos os seus pensamentos sobre a escola, Mary chegou a porta do seu apartamento e ouviu vozes alegres vindas de lá de dentro. Feliz por ter visitas na sua volta, ela tentou imaginar quem seria e entrou anunciando:
- Cheguei! – e empurrou o malão com o pé para dentro, o colocando ao lado da porta.
- Ah, Mary! – sua mãe veio correndo até ela, usando seu melhor avental de cozinhar e parecendo contentíssima – Bem que poderia ter nos avisado antes, não filha?
- O quê? – Mary parou a meio caminho de começar a tirar o seu casaco.
- Ora, não se faça de desentendida. – rindo, sua mãe a agarrou pelos ombros e a conduziu até a sala de jantar.
Não entendendo onde sua mãe queria chegar, ela se deixou levar e congelou no mesmo instante em que pisou na sala.
- Oh! – cumprimentou Doumajyd sorrindo, sentando no lugar principal da mesa.

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