Quando estiver com pressa...
- Minha opinião sobre ele mudou um pouco. – concluiu Mary para Vicky quando terminava de lhe contar o que havia acontecido na estação.
- Huummm... – a amiga varreu com mais vigor as folhas da podagem que a professora tinha feito naquela tarde – Amizade verdadeira... Acho que ninguém mais pensa no D4 dessa forma aqui na escola.
- O homem que eu amava no passado, era conhecido como o Máscara de tigre. – anunciou a professora Karoline, voltando quase que imediatamente da sua excursão até a estufa três para pegar sua varinha esquecida, e poder ouvir o restante da história da aluna.
- Começou... – murmurou Vicky parando o que estava fazendo e se escorando na vassoura para poder ouvir o que viria dessa vez.
- Eles parecem muito assustadores e violentos. – continuou a professora – Mas esses homens, na verdade, têm o coração mole. A verdade é que ele era um lutador profissional e mandava dinheiro para orfanatos! Ele não mostrava seu lado gentil para ninguém e era um homem solitário... A única pessoa que podia entendê-lo bem... era eu. – e a professora saiu sonhadoramente da estufa, sem dizer mais nada, concentrada demais em suas próprias lembranças.
- Ainda bem que nós a ajudamos aqui. – lamentou-se Vicky – Não sei o que seriam dessas estufas e dos doces se nós não estivéssemos por perto...
Mary riu. Na verdade, ela achava que dava muito mais prejuízo para a professora devorando os doces vencidos do que ajudando. E, lembrar dos doces, a fazia lembrar de Hainault, que agora não mais estaria ali. E lembrar de Hainault lhe fez lembrar do lenço e que não poderia mais lhe devolver e agradecer por tudo o que ele tinha feito.
***
Christopher Doumajyd andava de um lado para o outro na ala do D4 no salão principal, preocupado com alguma coisa. Então, subitamente, pegou um pedaço de pergaminho e uma pena e sentou-se à mesa para escrever. Quase que se debruçado, ele começou a desenhar as palavras soletrando alto o que estava escrevendo:
- Ryan-o-que-a-chou-de-Pa-ris?-Es-tá-bem?...
Ele parou, não sabendo como continuar. Pensou em algo e então, tomando fôlego, continuou:
- Fa-la-a-ver-da-de-vo-cê-gos-ta-da-We-ed?
- O que está escrevendo?
Doumajyd quase pulou da cadeira levando a mesa junto quando alguém chegou silenciosamente por trás dele e espiou por cima do seu ombro o que ele estava fazendo. Então, ao ver que era sua irmã, ele tentou esconder o pergaminho o mais rápido possível.
- Será que é uma carta de amor?!
- Claro que não! – apressou-se em dizer ele, tentando esconder o nervosismo – Não entre quando quiser, Christy! É sério!
- Ah, é?... – murmurou ela seriamente.
Então, com um gesto rápido de varinha, fez o pergaminho voar das mãos dele a pousar nas dela.
- Por Merlin, Chris! O que é isso? Quem o ensinou a escrever?! Um trasgo bêbado?! Essa letra existe no alfabeto?... Quer que eu escreva no seu lugar?
- Do que adiantaria? Qual é o sentido de uma carta pessoal se não sou eu quem escrevo?... E o Ryan entende a minha letra! – defendeu-se ele.
- Por que escrever uma carta para o Ryan? Onde ele foi?
- Ele foi atrás da Sharon em Paris.
- Sério?! – perguntou ela surpresa – Aquele mesmo Ryan que eu conheço e que cresceu junto com você?!
- Que Ryan mais seria?! – perguntou o dragão de mau humor, se jogando na sua poltrona. – Esse mesmo Ryan que conhecemos a vida toda e que nos deixou para trás hoje.
- Quando se ama, desejasse fazer coisas pelo amor.... – ela começou a recitar, sentando no braço da poltrona ao lado dele – Desejasse sacrificar-se por amor. Desejasse servir ao amor.
- O que é isso agora?
- São passagens do conto de Hemingway.
Ele a encarou perplexo sem entender.
- Alguém escreveu isso, Chris!... Quando você amar alguém verdadeiramente, do fundo desse seu coração sonserino, você vai entender o que eu disse!
Ele encarou o chão por um tempo, muito concentrado.
- Mas, você tem um sério problema com esse seu lado agressivo... Então se lembre: quando estiver com pressa, dê voltas! Não se pode comprar o coração de uma pessoa com dinheiro. Para ser amado, você deve primeiro amar. Sei que isso é difícil para você entender, mas-
- ‘Tô ferrado, Christy! – disse ele levantando-se de repente, deixando a irmã terminado de falar sozinha – Eu agora sinto como se um trovão tivesse desabado em cima de mim!
- Trovões não desabam, Chris. – ela o corrigiu pacientemente.
- Eu preciso mudar completamente a minha percepção!
Ela o encarou, pestanejando:
- ... Acho isso improvável.
- Essa é a minha, irmã! – disse ele lhe dando um tapa entusiasmado nas costas e quase a derrubando da poltrona – Quando você deixar Hogwarts amanhã, pode voltar tranqüila! Logo vou ter algo para lhe mostrar!
- Tudo bem eu ir embora assim? – perguntou ela desapontada.
Mas ele não a ouvia mais, estava planejando algo que lhe ocupava todo a pensamento.
***
Mary Ann estava almoçando tranqüilamente no salão principal como há muito tempo não fazia. As implicâncias com ela tinham parado, principalmente quando os alunos ficaram sabendo que a irmã de Doumajyd havia feito com ele por ela. Mas tudo o que está razoavelmente bem, tem uma certa tendência a piorar, e foi o que aconteceu.
- Ryan foi embora. – disse a líder das meninas implicantes da Sonserina, parando ao lado dela.
- A Sharon Seymour também. – disse a de cabelos cacheados se juntando a primeira.
- E a irmã do Doumajyd também! – disse a ruiva, chegando com um pulo no meio das duas.
- Que pena, todos os aliados da sangue-ruim foram embora. – comentou a loira para as outras como se fosse uma tragédia.
Irritada, Mary largou seus talheres violentamente no seu prato e se levantou, as encarando de frente:
- Se têm algo contra, me enfrentem! Sei me defender sozinha e sempre estou pronta para brigar!
- Ora, não precisa ficar tão AAAHHH!
A loira foi jogada para o lado de repente e rolou pelo chão. Tanto Mary e as outras duas, como todos no Salão Principal, olharam para Doumajyd, segurando o seu taco de batedor e com seu o seu uniforme de quadribol, que parara determinado no lugar onde antes estava a líder das sonserinas.
- Ah, fui tocada pelo Doumajyd! – esganiçou a garota no chão, como se aquilo fosse a melhor coisa que lhe tivesse acontecido na vida.
- Cala a boca, feiosa! – rugiu Doumajyd.
As outras duas saíram de seus choques e foram ajudar a amiga, que pareceu não se importar nem um pouco em ter sido insultada pelo líder dos Dragões e ainda sorria radiante.
Doumajyd olhou para Mary, olhou para o lado, olhou para o chão, olhou para a mesa, totalmente sem saber o que fazer agora que tinha chego até ali. Então ele murmurou para si mesmo:
- Como era?... se estiver com pressa... dê voltas. – ele deu duas voltas, parando no mesmo lugar onde estava e disse, encarando Mary como se o que ele diria fosse uma ordem absoluta e irrevogável – Amanhã, uma hora, Hogsmeade, praça do relógio! – e saiu, sem dizer mais nada.
Mary permaneceu estática no mesmo lugar, piscando sem saber o que tinha acabado de acontecer. Um silêncio pesado instaurou-se no Salão Principal até ser quebrado pela garota ruiva, encarando a líder incrédula:
- Doumajyd vai sair com ela?
- Eu acho que não ouvi direito. Ele falou mesmo aquilo? – se perguntou a de cabelo encaracolado.
- Isso foi um convite para um encontro?! – a loira parecia ter levado um choque, encarando Mary com os olhos arregalados.
Todos do salão olharam para a Mary e, simultaneamente, as meninas gritam de inveja e ouve uma explosão de comentários.
- Mentira... – murmurou Mary antes de sair correndo pelo salão, fazendo o mesmo caminho que o líder do D4.
***
Ela finalmente o alcançou nos terrenos, a meio caminho do campo de quadribol.
- É... – ela começou não tendo certeza de como falar com ele.
- Ahn? – ele se virou e se surpreendeu ao ver que era ela e, tentando disfarçar isso, ele perguntou coçando o nariz – O que foi?
- O que foi isso agora há pouco?
- O quê?... Você não sabe, idiota?... – ele olhou para os lados, constrangido em ter que explicar – Em outras palavras, é Hamingu-eay!
- Quê? – ela entendeu menos ainda.
- Leia livros! Livros!– riu-se ele, como se ela fosse uma pobre coitada sem cultura, e continuou o caminho para o seu treino.
***
No outro dia, Doumajyd chegou quinze minutos mais cedo à praça do relógio de Hogsmeade e parou na frente da estátua de um bruxo montado a cavalo. Parecendo extremamente feliz, ele olhou para o seu próprio relógio de bolso para conferir a hora e disse para si mesmo:
- Se ela não chegar em cinco minutos, mato ela!
***
- Tudo bem se você não for? – perguntou Vicky enquanto ela e Mary Ann andavam pelo centro comercial de Hogsmeade, bem longe do lugar marcado para o encontro.
- Por que eu deveria passar o meu domingo com um cara como ele? – perguntou Mary ainda emburrada pelo que tinha acontecido no dia anterior, olhando para o céu de um cinza pesado e ajeitando melhor o seu casaco para se proteger do vento frio.
- Se você não for ele pode se vingar.
- Sei disso...
- Mas se você for, será o inferno... Se você não for é ruim e se for é ruim também!... Como consegue ter essa sorte, Mary?
- Bom, eu já estou numa guerra com ele, não tenho nada a ver se ele quiser ficar me esperando... Isso se ele for, não? Pode muito bem ser outra maldade que ele planejou.
- Então vamos nos divertir! – Vicky a puxou pelo braço – Fazia tempo que eu não vinha para cá!
Elas foram até a livraria e Mary olhou o seu relógio: uma hora e meia.
Foram até Dedosdemel e Vicky encheu os bolsos com caramelos, seus preferidos. Mary olhou para o seu relógio: duas horas.
Elas foram até o Três Vassouras e comprar algo quente para tomar e depois compraram bolos de caldeirão e se sentaram em um banco para ver o movimento dos bruxos apressados do mundo fora da escola. Agora, Mary já consultava o relógio a cada cinco minutos.
***
Doumajyd olhou para o relógio da praça e depois conferiu com o seu: três horas.
- Demorei? – perguntou uma voz atrás dele.
O dragão se virou rapidamente, mas tudo o que viu foi uma bruxa passar apressada por ele e se encontrar com alguém que a esperava do lado oposto. Furioso, ele voltou a se encostar na estátua, resmungando:
- Acabo com ela!
***
Mary olhou para o seu relógio enquanto Vicky admirava os vários ursinhos de pelúcia da loja onde elas haviam entrado: já eram quatro horas.
- Olha! – Vicky a chamou apontando para um conjunto de bonecos de crianças fantasiadas de animais. – Esse não se parece com o último amado da professora Karoline, o Máscara de Tigre?
Mary olhou para o que a amiga mostrava. Era o boneco de um menino que usava uma roupa de tigre e parecia não ter gostado nada disso. Ao contrário dos outros bonecos do conjunto, ele estava de mau humor e ficava com os braços cruzados, constantemente chutando uma pedra invisível ou implicando com os outros bonecos que passassem na sua frente.
Ela se lembrou do que a professora dissera: eles parecem muito assustadores e violentos, mas esses homens, na verdade, têm o coração mole. E imediatamente a lembrança de Doumajyd dando voltas e parando na frente dela, a encarando e marcando de repente um encontro lhe veio à mente. Então ela viu pela janela que começara a nevar.
E se ele tivesse ido mesmo? E se ainda estivesse esperando por ela?... Parecem assustadores, mas na verdade têm coração mole... Mary não agüentou mais, não consegui simplesmente parar de pensar naquilo, e tomou uma decisão:
- Vicky! Desculpa, estou saindo!
- O quê? – a cabeça da amiga surgiu por detrás de uma pilha de gnomos de pelúcia, mas Mary já havia saído correndo para fora da loja, onde a neve começara a cair com mais intensidade.
***
Enquanto corria desembalada pelas ruas escorregadias de Hogsmeade, em meio a neve que caí sem parar. Mary tentava convencer a si mesma de que aquela seria uma viagem perdida, que Doumajyd não a estaria esperando na praça do relógio, que tudo fora uma armadilha para ele fazer alguma coisa com ela.
- Ele me convidando para sair?!... Que absurdo! – ela falava consigo mesma – Não tem como! – ela olhou para o relógio que marcava quase quatro e meia – Já está tarde, não tem como ele estar lá!... – ela virou a última esquina para se chegar na praça e parou ofegante, tentando olhar entre as várias pessoas que estavam lá – Ele não estará...
Então, como se mundo a sua volta tivesse ficado em câmera lenta, ela o viu esperando, encostado na estátua do bruxo a cavalo, com a neve acumulada nos cabelos e nos ombros, tremendo de frio.
- Mentira... – foi tudo o que ela conseguiu murmurar diante da cena.
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