Fuga para Las Vegas
Os últimos acontecimentos foram tão repentinos que Pet ainda não os tinha digerido completamente. Fugir? Seria essa a alternativa? Fugir dos seus problemas? Essa era a última coisa que ela queria pensar. Ainda nem era maior de idade para fazer algo como isso. O risco era enorme, mas ela não iria desistir de Válter. Se aquela fosse a única solução para ficar com seu amor, ela não titubearia.
Não era medo propriamente o que Petúnia sentia, e sim precaução. Ela teria que largar sua vida, ser uma fugitiva, deveria deixar tudo para trás. Nem conseguia imaginar a reação de seus pais quando descobrissem o que tinha acontecido.
Assim que Petúnia chegou no quarto, depois de falar com Válter, ela foi desabafar com Lílian. Jerry e Jeannie haviam saído novamente, e elas aproveitaram que estavam sozinhas para conversar mais à vontade.
- Voltou tão rápido! Isso não é bom sinal! - falou Lílian assim que sua irmã chegou - O que aconteceu? - perguntou intrigada.
- Tivemos uma conversa bem objetiva - disse Pet se referindo a ela e a Válter.
- E então, chegaram a alguma conclusão?
- Chegamos - disse Petúnia enquanto soltava um longo suspiro de cansaço e se sentava em uma cadeira - Ele propôs que fugíssemos.
- Ele propôs o quê? - repetiu Lílian sem entender - Como assim fugir?
- Sair de casa, ir embora, adios... - disse Pet ironicamente.
- Meu deus! Ele te propôs isso? Quero dizer, isso é tão clichê!
- Já sei, já sei... Você vai querer comparar de novo a minha vida com um filme! Só que ela parece estar caminhando para um final trágico.
- Não fale isso nem brincando - disse Lílian rapidamente - Mas então, você aceitou?
- Pedi um tempo para pensar - disse Pet - Eu não sei o que eu vou fazer, Lílian.
As duas conversaram e mesmo assim Lílian ainda não acreditava em tudo aquilo. Se nem Pet achava aquilo real como sua irmã iria compreender? Só que ambas sabiam que não havia tempo para divagações, elas tinha que cair na real, e logo. Em poucos dias Pet iria tomar uma decisão que mudaria completamente a vida dela. Cada detalhe tinha que ser analisado, calculado e pensado.
Petúnia havia chegado a conclusão de que realmente não havia saída. Ou ela fugia com Válter ou o perderia para sempre. De que outro modo eles iriam se encontrar? Namorar a distância com certeza não seria a melhor solução. Ela precisava dele perto dela e sabia que aquilo só seria possível se fugissem juntos.
Não era fácil decidir seu futuro. Se de um lado ela fugisse não poderia mas ver seus pais e nem sua família, mas se voltasse para a Inglaterra não veria novamente Válter, o que para ela era algo tão terrível quanto a morte.
Então tentou vislumbrar o seu futuro em cada um dos casos. Se fugisse com Válter com certeza as coisas não seriam fáceis. Eles era apenas dois jovens. Com certeza Petúnia teria que trabalhar, coisa que ela na imaginava fazer tão cedo. Sem falar que ela abandonaria seus estudos e nunca iria para faculdade, que era um de seus sonhos. Por outro lado se ficasse com seus pais e voltasse para casa, ela poderia voltar a sua vida normal. Mas será que ela queria isso? Não conseguia nem imaginar como era sua vida sem ele. Parecia que se conheciam a anos. Se voltasse ela sabia também que se arrependeria para o resto da sua vida porque não teve coragem suficiente para fugir. Isso ela não poderia permitir. Sua decisão estava tomada. Ela iria fugir.
Assim que comunicou sua decisão a Lílian ela de prontidão lhe disse o quão louca ela estava sendo, mas no fim Pet a convenceu de que era o melhor a se fazer.
Na quarta a noite, Pet e Válter se encontraram novamente. Eles não se viam desde quando Válter propôs que fugissem.
Apesar da cara de tristeza de Pet, Válter ficou muito contente por ela ter aceito fugir com ele. Aquilo só mostrava o quanto ela o amava, e ele sabia que aquela decisão tinha sido difícil de ser tomada pois havia passado pelo mesmo dilema.
Eles precisavam agora pensar nos detalhes. Para onde iriam, quando iriam e como iriam.
Válter propôs que fugissem para o México pois era longe bastante para os seus pais não o procurarem. Petúnia logo cortou Válter. Com certeza não era tão fácil assim passar pela fronteira mexicana. Iriam pedir no mínimo um passaporte e seria fácil para os seus pais descobrirem aonde estavam.
Depois Pet propôs que ficassem em Los Angeles mesmo. Nem gastariam dinheiro com transporte pois já estavam lá. Válter achou muito arriscado permanecer em Los Angeles, que apesar de grande não seria um lugar difícil de achar alguém. Além disso seria o primeiro lugar em que os procurariam.
No final acabaram se decidindo por Las Vegas em Nevada. Não era tão longe. Ficava no meio de um deserto e ainda era grande o suficiente para que ninguém os encontrasse.
Na tarde de quinta, Válter e Petúnia juntaram suas economias para poder comprar dois bilhetes de ônibus para Las Vegas. O plano aparentemente não tinha falhas. Os pais de Pet sairiam com a sua irmã na sexta a noite, assim Petúnia inventaria um desculpa de que ela e Válter iriam se encontrar como que para se despedir já que Petúnia deveria ir embora no dia seguinte, só que ela não voltaria para o hotel. Daria tempo suficiente para arrumar suas malas com o necessário e fugir. Quando seus pais já se dessem conta ela estaria em um ônibus a caminho de Las Vegas.
Petúnia então resolveu sair com sua irmã na noite de quinta. Queria se despedir dela que foi sua melhor amiga naquelas férias. Ela era a única, além de Válter e Pet, que sabia que ela iria fugir. Não havia contado isso nem para Susan.
As duas foram até a praia em que Válter e Pet deram o primeiro beijo. Não era muito longe do hotel. Com certeza toda a situação tinha um clima melancólico, despedidas era sempre difíceis.
Ficaram muito tempo, sentadas na areia e vendo o mar. Pet então decidiu interromper o silêncio que reinava entre as duas.
- Sabe, eu acho que foi a melhor decisão - disse ela ainda olhando fixamente para o mar.
- Eu sei, mas é tão estranho. Você sempre me tratou mal. Eu até achava que você tivesse inveja de mim. Mas nessas férias, você começou a me tratar melhor. Ficamos tão amigas... - Lílian deixou uma lágrima solitária escapar de seus olhos - E agora que estamos nos dando tão bem você vai embora.
- Eu mudei - disse Petúnia - A três meses atrás se alguém me dissesse que eu iria fugir com um garoto eu o chamaria de louco. Com certeza não conseguiria me imaginar tomando uma decisão dessas - Pet se segurava para não chorar e deixar o clima pior do que já estava.
- Pet... Talvez se você desistisse... - Lílian não pode continuar porque sua irmã a interrompeu.
- Eu tomei um caminho sem volta - disse Pet filosoficamente enquanto olhava para céu, que naquela noite não tinha estrelas - Eu tenho que ir até o final agora.
- Mas eu vou sentir tanta saudade de você - disse Lílian chorosa - Você é minha melhor amiga.
- Quando eu arranjar um lugar para ficar eu lhe enviarei uma carta. Mas cuidado para a mamãe não pegar. Devo inventar um nome falso qualquer para que ela não desconfie.
- Está bem. Mas me mande cartas contando todos os detalhes entre vocês - disse Lílian enxugando as lágrimas e tentando sorrir - E se quiser também pode me pedir conselhos amorosos - completou ela em tom de brincadeira se lembrando que foi assim que as duas começaram a se tornar amigas.
- Pode deixar - disse Pet sorrindo também - Mas é melhor nós irmos - disse ela se levantando - Amanhã será um longo dia.
Na manhã seguinte Petúnia chorou muito, mas seus pais nem desconfiaram de nada pois já imaginavam que seria esse o comportamento da filha quando fossem embora, só que eles não sabiam que ela estava indo embora de casa. A tensão tomou conta de Petúnia, mal conseguiu comer na hora do almoço porque sabia que aquela era a sua última refeição em família.
Finalmente a noite chegou e os pais de Pet partiram para jantar. Petúnia ficou sozinha e correu para arrumar a sua bagagem. De maneira desorganizada pegava tudo o que tinha e enviava apressadamente em uma mochila. Lágrimas caiam de seus olhos quando se lembrava de todos os momentos em que tinha vivido com sua família. Tristes ou felizes todos haviam sidos muito importantes para ela ser o que era hoje em dia. Flashbacks viam a sua mente a transtornando e a deixando mais emocionada. Se ela dissesse que não havia naquele momento pensado em ficar, ela teria mentido. Por uma ou duas vezes tinha sido tentada pela idéia de permanecer com seus pais e deixar tudo como estava, porém no final manteve-se firme e permaneceu com a idéia fixa em fugir.
Enxugando as lágrimas nos olhos que estavam vermelhos de tanto chorar e um pouco atrasada, Pet carregou sua bagagem nas costas e foi até o lado de fora do hotel encontrar Válter.
Ele já a esperava. Assim que o viu, Pet lhe deu um longo abraço que o deixou sem ar.
- Eu sei, eu sei... não é fácil - disse Válter tentando em vão confortá-la.
Petúnia nada dizia naquele momento. Palavras não poderiam expressar o que sentia. Apenas chorava compulsivamente nos braços de Válter.
- Eu acho melhor nós irmos logo, quanto mais cedo formos menor será a dor da partida - disse Petúnia em meio a lágrimas.
Caminharam lentamente pela rua. Pegaram um táxi para chegar na rodoviária. Petúnia não se sentia nada confortável com a idéia de que estava fazendo algo muito errado. Sentia-se temerosa e a todo momento olhava pela janela como se fosse ser pega.
Ela ficou grata quando chegaram na rodoviária. Já não agüentava mais ficar dentro daquela táxi. Queria deixar logo a cidade para se esquecer que estava deixando sua vida para trás.
Momentos de angústia foram os que se sucederam na espera já dentro da rodoviária. Pet queria se concentrar em algo que não fosse relacionado a sua fuga, mas era quase impossível. Tentou ler um livro enquanto esperava a hora de embarcar, mas não teve sucesso. Tão pouco conseguiu comer o hambúrguer que Válter lhe trouxera. Aquela espera toda a sufocava. E quando menos esperava, Válter, que estava sentado a seu lado em um banco, lhe disse:
- Já está na hora, Pet. É melhor não nos atrasarmos - disse ele em voz cerimoniosa.
Petúnia não ficou contente pelo fato de já irem embora. Sabia que ainda teria uma longa viagem pela frente.
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