Prova de amor



Petúnia já estava decidida, mas mesmo assim decidiu consultar sua irmã antes de tomar qualquer decisão. Ela agora com certeza era uma boa amiga e Pet sabia que ela lhe encaminharia para a direção certa. Conversar sempre era bom. Desabafar o que sentia. Lílian deu um ombro para Petúnia chorar por Válter. Qualquer coisa que estivesse acontecendo com os dois afetava indiretamente ela já que agora Lílian era a fiel confidente de sua irmã.
Naquela tarde de fim de verão, depois de chorar por muito tempo, Petúnia foi conversar com a irmã. Havia refletido horas a fio e sabia que Válter merecia uma chance de provar que tinha o seu valor. Lílian pensava de forma parecida.

- Pet, eu francamente acho que se você o ama tem que esquecer os erros do passado e viver o presente - Lílian falava enquanto olhava diretamente nos olhos de Petúnia.
- E se ele me decepcionar novamente? - com certeza Pet não estava muita segura sobre a opinião da irmã.
- Se ele te ama não a decepcionará - disse Lílian carinhosamente. Era incrível como ela conseguia ser inteligente e adorável ao mesmo tempo.
- E aí que está o ponto! Eu estou certa sobre meu amor, mas como eu vou ter certeza de que ele também está? - perguntou Petúnia chorosa.

Lílian respirou fundo e juntou seus dedos. Precisava pensar. Como Válter poderia comprovar o amor que sentia por Petúnia? Mas é claro, pensou Lílian! Uma prova de amor!

- Você pode pedir para ele provar seu amor! - conclui Lílian feliz por ter encontrado uma solução para o difícil dilema que sua irmã vivia.
- Uma prova de amor? Como aquelas dos filmes? Mas, o que seria? - perguntou Pet tentado se lembrar de algo parecido que havia visto no cinema.
- É simples. É só pensar em algo que ele nunca fez, ou que ele tem vergonha de fazer, ou que ele não goste. Algo do gênero - explicou Lílian pacientemente.

Petúnia não perdeu dois tempos pensando. Lógico. Aquela seria uma prova de amor perfeita.

- Eu estava pensando... - começou Petúnia - Ele nunca me apresentou os pais dele e nunca me levou na casa onde ele mora. Se ele fizesse isso com certeza eu saberia que ele me ama.
- É perfeito, Pet! - disse Lílian entusiasmada - Assim você também pode ficar sabendo mais sobre ele!
- É, vai ser bom. O problema está se ele não aceitar - disse Pet fechando a cara.
- Bom, se ele fizer isso então... vai provar que não te ama - disse Lílian seriamente enquanto fitava Petúnia - É preciso arriscar.

Após uma conversa mais que esclarecedora com Lílian, Pet resolveu telefonar para Válter. Precisava de uma vez por todas acabar com todo esse problema.

- Válter? - perguntou Pet assim que atenderam ao telefone.
- Pet? - perguntou Val.
- Sou eu mesmo.
- Ah - disse ele suspirando aliviado - Pensei que não ia nunca mais falar comigo, mas pelo visto não conseguiu ficar muito tempo longe de mim.
- Mas você é muito convencido. Talvez fosse melhor eu desligar o telefone... - disse Petúnia desafiadora.
- NÃO! - disse Válter - Quero dizer, não precisa. Pode falar.
- Eu quero que você prove o seu amor por mim - disse Pet a Válter. Ele parecia surpreso.
- Provar o amor? Que história é essa? Como assim, Pet?
- Se você fizer o que eu quero, eu posso pensar em lhe perdoar. A escolha é sua.
- E afinal de contas, o que você quer? - perguntou Válter curioso.
- É algo muito simples, você só precisa me levar para conhecer seus pais na sua casa - disse ela.
- Mas, Pet! Não dá! - Válter ainda tentou justificar, mas Petúnia não deixou.
- Não me interessa se dá ou não! Eu só volto com você quando eu conhecer o verdadeiro Válter! Quando já estiver decidido me ligue! - disse Petúnia firmemente e logo depois desligou o telefone não permitindo se quer que ele retrucasse.

No fim Pet tinha achado que fora um pouco dura com Val. Mas não havia jeito. Ou ele provava o amor que tinha por Petúnia ou cairia fora de uma vez por todas. Aquela era um ultimato.
Havia anoitecido e Válter ainda não tinha ligado. Pet já até achava que ele não fosse nunca mais falar com ela, mas quando já estava perdendo as esperanças o telefone tocou. Era Válter que finalmente havia se decidido. Ele disse que ela poderia conhecer a casa dele daqui a dois dias e ainda iria conhecer os pais dele. Válter não parecia nada satisfeito com aquilo, mas não teve saída. Em breve Pet conheceria o senhor e a senhora Dursley.
Essa idéia podia assustar qualquer um, conhecer os sogros, mas para Petúnia aquilo era um alívio. Além de poder saber mais sobre a vida de Válter ela ainda tinha descoberto o quanto ele a amava. Podia parecer bobo, porém ela sabia que era difícil para ele tomar aquela decisão.
O encontro com os pais de Válter transcorreu naturalmente. Eles pareciam pessoas muito simpáticas. "Nem parecem os pais de Válter", Pet logo pensou quando os encontrou pela primeira vez. Válter também não era tão pobre como se dizia. Na verdade ele tinha sido até um tanto dramático quando havia contado o seu segredo.
Com certeza um peso tinha sido tirado das costas de Petúnia. Ela sabia que apesar de Válter ter mentido, aquilo tudo não era culpa dele. Quer dizer, era e não era.
Ela imaginava como teria sido a reação dela se soubesse logo de cara que Válter era pobre. Provavelmente ela o desprezaria sem nem ao menos conhecê-lo.
Esse fato teve extrema importância na hora de Pet decidir dar uma chance a ele. Se não houvesse mentira, também não haveria namoro. Por mal ou por bem algumas mentiras tem que ser relevadas. Nessa situação era esse o caso.
Petúnia e Válter estavam felizes. Afinal, ele se deu conta de que não era só um namoro qualquer. Ele sentia-se de um modo diferente. Algo como se não houvesse tido vida antes dela. Ele nem imaginava como conseguira viver tanto tempo sem Pet.
Petúnia também estava adorando voltar a namorar Válter. Ela por si só, não se deu conta dos dias que foram passando. Só na última semana das férias de verão ela pode perceber que logo iria embora e nunca mais veria Válter. Aquilo a entristecia profundamente. Ela havia adiado esse momento o máximo que conseguira. Só que agora faltavam apenas cinco dias para ela partir.
Na segunda-feira, logo pela amanhã, aquele assunto não lhe saia da cabeça. Ela como sempre, resolveu desabafar com Lílian.

- Pet, eu não sei o que dizer. Essa situação é muito complicada - disse Lílian. As duas estavam numa sala de jogos que ficava dentro do hotel. Sempre vinham ali para passar o tempo quando seus pais não estavam no hotel.
- Eu sei, e é por isso que eu estou falando com você - explicou Pet enquanto olhava diretamente para Lílian - Isso me tira o sossego. Nós iremos embora no sábado e eu não sei o que fazer.
- Isso parece um filme! - disse Lílian enquanto ria discretamente. Ela sempre gostava de comparar a vida da irmã a uma produção hollywodiana - A garota que se apaixona por um rapaz nas férias de verão da família. Podia ser um sucesso de bilheteria - disse ela ainda sorrindo.
- Estou falando sério. Isso aqui não é um filme. Eu acho que eu estou realmente apaixonada pelo Válter - disse ela enquanto abria um sorriso tímido.

Lílian suspirou fundo. Ela sentia pena de ver sua irmã tão aflita.

- Você tinha que estar conversando isso com ele e não comigo. Eu sinto não poder ajudá-la. É difícil, eu sei, mas quem sabe vocês não podem namorar a distância?
- Isso seria um tanto quanto complicado. Eu quero me casar, ter filhos e uma bela casa. Uma vida normal para mim seria o suficiente. Só que eu não posso me casar com alguém, muito menos ter filhos, se essa pessoa está em outro continente - disse Pet bastante irônica.
- É... - disse Lílian enquanto balançava a cabeça em sinal de aprovação - Você tem razão. Mas não perca as esperanças. Converse com ele. Discutam isso. Já está mais do que na hora de vocês abrirem o jogo um para o outro. Você não vai se encontrar com ele hoje à noite? Não há oportunidade melhor do que essa. Sempre há uma luz no fim do túnel.
- Obrigada pelas palavras bonitas, Lílian - disse Pet suspirando - Mas não vou esperar até de noite. Vou me encontrar com ele agora.
- Só que os nosso pais não estão em casa. Não é melhor esperá-los? - sugeriu Lílian já sabendo que Pet não iria seguir seu conselho.
- Não há tempo a perder. Eu vou na casa dele. Caso os nosso pais voltem antes de mim invente qualquer coisa.

Lílian olhou para sua irmã abismada.

- Inventar? Você quer que eu minta para os nossos pais? - perguntou Lílian.
- Não precisa mentir, é só ocultar a verdade. As vezes uma mentira é melhor do que mil verdades. Veja o meu caso por exemplo, eu nunca teria conhecido Válter se ele não tivesse mentido para mim.
- Está bem, está bem. Eu vou fazer o melhor que eu puder. Da para ver que o caso aqui é de vida ou morte. Então, o que você está esperando? Vá!
- Tchau - disse Petúnia saindo dali destinada a encontrar Válter.

A garota caminhava pensativa pelas ruas. Olhava as pessoas andando, assim como ela, pelas ruas. Despreocupadas, levando as suas próprias vidas. Era muito difícil vislumbrar uma saída para o seu próprio problema.
Não sabia o motivo, muito menos quem causará toda aquela situação. Observando mais atentamente os detalhes, Pet sabia que ela era culpada pela situação ter chegado a esse ponto. Ela nunca deveria ter tentado namorar sério com Válter. Mas agora era tarde, ela já estava apaixonada.
No caminho não conseguiu evitar que uma lágrima solitária rolasse pela sua face. Ela não queria e nem iria chorar. Toda aquela pressão que vinha se acumulando a tempos estava sendo exposta.
Ela se sentia muito mal com tudo aquilo. A aflição lhe tomava conta. Queria chegar logo e encontrar Válter. Queria ouvir ele dizendo que ia ficar tudo bem. Queria que tudo aquilo não passasse de um simples pesadelo e que na manhã seguinte ela nem se lembrasse.
Quando chegou na casa de Válter não pode deixar de se sentir aliviada. Alívio que durou pouco assim que descobriu que ele não estava.
Resignada, Pet voltou ao hotel. Talvez não tivesse tanta diferença em falar com ele agora ou falar depois. Afinal, eles encontrariam uma solução, juntos.
Porém era muito mais fácil falar do que fazer. Pet tentou se distrair com algo para passar o tempo, mas não conseguia se concentrar. A noite parecia que nunca iria chegar.
Finalmente, quando deu a hora do encontro, Pet desceu para esperar seu namorado. Faltavam poucos dias para ela ir embora, não tinham tempo a perder. Precisavam pensar em algo.
Quando Válter chegou, Petúnia o abraçou com força como se nunca mais fosse o vir.

- Ah...! Estava com tanta saudade de você - disse ela em meio ao abraço - Senti tanto a sua falta!
- Mas nós nos vimos ontem, Pet - disse ele - Aconteceu alguma coisa? - perguntou o rapaz levemente preocupado.
- Você esqueceu? Eu volto para a Inglaterra no sábado. E eu...E eu... - sua voz falhava - não quero... - disse ela começando a chorar, ainda abraçada com Válter - perder você!
- Calma, calma... - disse Válter a consolando - Você não vai me perder - disse ele a apertando mais fortemente.
- Vou sim! Eu vou embora daqui a menos de cinco dias e você vai ficar aqui - disse ela se soltando dos braços de seu amado - O que nós vamos fazer? - ela não conseguia parar de chorar.
- Eu também não quero perde-la! Você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida inteira - disse ele sorrindo abertamente - Eu prometo que nada nem ninguém vai nós separar!
- Eu não vou voltar para casa, Válter - disse ela seriamente - Eu não vou...
- Talvez se nós fugíssemos... - disse Válter sem muita convicção no que falava - Para um lugar bem longe.
- Fugir? - perguntou Petúnia com estranheza - Essa não é uma boa idéia - murmurou Pet transparecendo incerteza.
- E nossa única chance. Vamos deixar tudo para trás! Vamos viver nossas próprias vidas - propôs o rapaz.
- Isso parece tão arriscado - Pet ainda oferecia alguma resistência, mas parecia estar começando a aderir a idéia - Mas eu acho que não a outro solução, não é mesmo? - perguntou por fim.
- Não, Pet, não há. Pode parecer algo muito momentâneo, mas eu tenho certeza de que nós nos amamos, e o resto nós iremos conquistar.
- Eu preciso de um tempo para pensar. Fugir é muito drástico! - disse ela.
- Eu sei, mas não há outra alternativa. Façamos assim, você volta para o seu quarto e pensa em outro jeito de não nos separarmos, e então você me dá a resposta.
- Está bem. Eu prometo pensar com cuidado em tudo isso - disse ela.

Válter se aproximou dela e lhe deu um beijo rápido.

- Bem, agora eu acho que não tem mais clima para nós sairmos - disse Válter - Eu acho melhor você subir logo.
- Então eu vou indo. Tchau, Válter - disse ela docemente.
- Até logo, Pet - disse Válter e Pet voltou para o quarto.

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