Brigas e esbarrões



Saíram do táxi e Petúnia logo bateu seus olhos no hotel que estava a sua frente. Não era um dos mais luxuosos de Los Angeles, mas era enorme. Tinha no mínimo vinte andares e o piso da escada de entrada era todo feito de mármore branco e granito.

- Bem, demorou mas chegamos - falou Jeannie interrompendo o silêncio momentâneo que reinou durante alguns segundos entre a família.
- Até que esse hotel não é tão ruim - comentou Jerry encostando a mão no corrimão dourado da escada de entrada.

Um funcionário do hotel veio carregar as malas que estavam no táxi sendo seguido pela família que logo pode ter sua primeira impressão sobre o interior daquele magnífico local.
Jerry e a Jeannie foram até a recepcionista enquanto Lílian e Petúnia sentavam em bancos no saguão do hotel.
Depois que o Sr. e a Sra. Evans se registram todos subiram de elevador até o nono andar com um funcionário do hotel trazendo as malas. Eles caminharam lentamente até a porta do 909.
Quando entraram, Lílian logo se deparou com um pequeno, mas bem decorado quarto de hotel. Tinha uma cama de casal e uma porta para outro quarto que deveria ser os que elas, Lílian e sua irmã, iriam ocupar.
Petúnia nem disse nada. Entrou direto no quarto e se jogou em uma das camas.

- Mãe, estou cansada - disse ela se reconstituindo e sentando pesadamente sobre uma cadeira.
- Todos nós estamos, querida. Essa viagem foi realmente cansativa. Aproveite para dormir agora, porque amanhã iremos ao estúdio da Warner Bros em Hollywood.
- Sério, Mãe? - perguntou Lílian se sentando na cama com um sorriso no rosto.
- Seríssimo. Eu agendei ontem quando estávamos nos preparando para viajar.
- Nossa, que chato! - disse Petúnia em tom de gozação.

Lílian e Jeannie conversaram um pouco, mas o cansaço não as permitiu prolongar por muito tempo o diálogo. Também havia o fato de Petúnia não querer falar com Lílian por causa que ela havia iniciado um assunto sobre seu ano letivo em Hogwarts. Com isso, as duas se recolheram para dormir. Apesar de ainda ser cinco e meia da tarde a viagem havia sido realmente exaustiva.

***

Petúnia e Lílian dormiam tranqüilamente até o momento que a mãe delas escancarou a cortina deixando o sol de mais um dia de verão entrar no quarto e logo o inundando de luz.

- Acordem, minhas garotinhas. Já é hora de se levantar - falou docemente Jeannie enquanto acordava suas filhas.
- Mãe! Estou com sono - protestou Petúnia.
- Já são dez horas da manhã - contestou Jeannie sorrindo.

Lílian nem reclamava porque apesar do sol bater em seu olho ainda não havia acordado. Foi necessário sua mãe lhe dar um leve solavanco no ombro para a menina acordar.

- Está muito cedo ainda - falou ela sonolenta e bocejante.
- Nunca é cedo demais para os turistas. Estamos aqui para isso e não para dormir até o meio-dia.
- Essa sua mania de acordar cedo vai me levar a loucura - falou Petúnia enquanto sua mãe a ajudava a se levantar.

Depois de reclamarem e espernearem tanto, ambas já haviam perdido o sono. Logo que abriram a porta que dava para o quarto de seus pais, Petúnia deu de cara com Jerry sentado em uma poltrona lendo jornal. Assim que ele as vê pára imediatamente de ler.

- Bom dia! - disse Jerry com entusiasmo - Aliás, um lindo dia.
- É, pode ser - falou Petúnia ainda meio ranzinza por ter sido acordada, na opinião dela, cedo demais.
- Vocês dormiram muito. Sabe... - tentou dizer Jerry, mas foi cortado por Lílian.
- É... Dormimos muito! - disse a menina em sarcasticamente.
- Mas como não? - se perguntou o pai surpreso pelo argumento da filha - Ontem, ainda nem era de noite quando vocês foram dormir!
- Chega de bate papo que temos que descer para o restaurante. O desjejum já deve estar servido.
- Como você é velha, mãe! - falou Petúnia procurando algo dentro das malas ainda não desfeitas.
- Por que? - se espantou Jeannie olhando abestalhada para a filha.
- Hoje em dia ninguém fala mais desjejuar - replicou a filha mais mal humorada do casal deixando de procurar seja lá o que estivesse procurando para ficar parada em frente a mãe.
- Se arrumem. Depois do desjejum - disse Jeannie enfatizando a última palavra - vamos direto à Hollywood.
- Já vamos? Logo pela manhã? - perguntou Lílian em notas surpresas e de espanto.
- Vocês jovens de hoje acham que existe tempo para tudo! - disse Jerry rindo por trás do jornal.

Jerry e Jeannie já estavam prontos para irem, mas tiveram que esperar suas filhas. Petúnia não demorou muito tempo para se arrumar. Colocou uma calça azul e um suéter combinando com seu tênis. Assim que apareceu com essa roupa sua mãe a reprovou:

- Nós somos turistas. E aliás está um belo dia de sol lá fora. Vai esquentar e é melhor você trocar esse suéter por uma roupa mais apropriada.
- Ah, mãe! Eu estou bem assim! - retrucou Petúnia.
- Não está não - falou Jeannie olhando para a roupa e balançando a cabeça em sinal de negação - Não é mesmo, amor?

Jerry não prestou muita atenção em que Jeannie havia dito:

- Claro, está certíssima... Petúnia, faça o que sua mãe mandar, querida - disse ele sem tirar os olhos do jornal.
- Jerry Evans, olhe para mim enquanto eu estiver falando! - disse Jeannie em um tom de voz mais elevado.
- É o caderno de esportes, querida - disse ele tentando se justificar.
- Ah, claro! Vocês homens são todos iguais. O quê esse jornal tem que eu não tenho? - perguntou Jeannie em um tom de voz um pouco elevado.
- Deixa de besteira! - disse ele finalmente fechando o jornal e o colocando em cima da mesa.

Após alguns segundos em que Petúnia, que presenciou a discussão, olhava para seus pais admirada, Jerry retomou a fala.

- Por Deus, Jeannie! Pensei que você ia ter um "A.C.I".
- Mas que história é essa de A.C.I.? - perguntou Jeannie espantada.
- É o tal "Acesso de Chilique Incontrolável" - falou Jerry calmamente.
- Quanta bobagem, Jerry. Deixe de criancices, homem - disse ela enquanto andava até a janela para olhar pela enésima vez o ensolarado dia que fazia.
- Está bem. Concordamos então em parar de brigar e finalmente tentar nos distrair, certo? - perguntou Jerry incerto da resposta que teria.
- Tudo bem, então - Jeannie disse em tom de rendimento - Mas é apenas porque estamos atrasados. Depois ainda quero ter essa conversinha com você - completou em outro tom.

A briga cessou e a paz voltou a reinar naquela sala. Foi então que Jeannie se deu conta que Lílian ainda estava se arrumando. Já passavam das dez e meia daqui a pouco eles teriam que almoçar.

- Eu vou ver o que aconteceu - disse Jeannie enquanto entrava no quarto.

Lílian ainda escolhia com que roupa iria.

- Por deus, Lílian - vociferou Jeannie - Pegue qualquer uma. Daqui a pouco já é hora do almoço.

Contrariada, Lílian terminou de se arrumar apressadamente. Dez minutos depois todos desceram para o restaurante.
Jeannie falava para o marido como o saguão do hotel era ricamente decorado. Nele havia candelabros do mais fino cristal, os sofás eram de couro negro e o balcão da recepção eram feito de mármore. Havia muita gente chegando no hotel, dava para perceber esse detalhe apenas olhando para a recepção. Turistas se exprimiam tentando conseguir algum quarto, já que aquela época era a alta temporada. Pai e mãe conversavam mais a frente, enquanto Petúnia estava com uma cara emburrada e Lílian feliz pelo passeio. De repente Petúnia se lembra de algo.

- Mãe - diz ela interrompendo o pronunciamento da mãe sobre os pisos de porcelana do hotel.
- O quê foi, querida? - uma curiosa Jeannie questionou a filha.
- Eu esqueci minha bolsa no quarto. Posso voltar lá e buscar?
- Não dá tempo. Estamos atrasados, mãe - ponderou Lílian entrando na conversa.
- Então combinamos o seguinte. Eu vou no quarto e enquanto isso vocês já começam a comer e depois eu me junto a vocês. Assim é melhor? - disse Petúnia numa tentativa de solucionar o problema.
- Por que você quer tanto essa bolsa? - perguntou novamente a mãe.
- Mãe, estamos perdendo tempo - a essa altura Petúnia já se irritara.

Jeannie não demorou nem um segundo para pedir o auxílio do marido.

- O que você acha, Jerry? - perguntou ela recorrendo ao marido.
- Deixa ela ir, desde que seja rápido. Se não depois ela vai ficar nos amofinando com essa história - disse Jerry colocando um ponto final no assunto.

Petúnia agradecida pegou a chave do quarto e correu para o elevador. Após alguns minutos chegou no quarto 909 e encontrou sua amada bolsa. Quando a achou dentro do armário não pode deixar de exclamar um "Ah! Aí está você" para a bolsa.
Saiu o mais rápido que pode pois já deviam ter passado mais de cinco minutos e ela não queria ficar ouvindo sua mãe dizer que ela tinha se atrasado. O elevador já a esperava, entrou nele e ficou observando o ponteiro que indicava o andar que o elevador estava e desejou que ele passasse mais depressa. Finalmente ao chegar no hall do hotel pode o perceber cheio. Estava apressada e saiu esbarrando em muitas pessoas pedindo desculpas logo depois.
Ela estava tão desligada que nem havia percebido quando um garoto entrou na sua frente. Ele, igual a ela, parecia atrasado para algo, só que o tal garoto corria. O inevitável aconteceu. Ele andando todo apressado e ela completamente desligada acabaram por se esbarrar.
Ambos caíram no chão com o encontrão. Com tanto tumulto ninguém parecia ter notado o que ocorrera. Ambos pareciam não ter se machucado, mas Petúnia estava irritadíssima.

- Você está bem? - perguntou o rapaz com uma voz gentil já se levantando.
- O que você acha? Você vem correndo igual a um maluco e me joga no chão. Como você gostaria que eu estivesse? Contente? - disse gritando para o saguão todo. Muitas pessoas se viraram para ela.

Petúnia no momento era um misto de raiva e vergonha. Raiva porque o garoto a havia derrubado e vergonha pelo escândalo que dera.

- Você está nervosa. É melhor se levantar - falou enquanto estendia sua mão para puxar a moça.

Ela recusou a mão de uma maneira um tanto quanto grossa.

- Agora você faz isso, mas na hora que eu estava andando você podia ao menos desviar de mim.
- A culpa não é minha. Você é que não olha por onde anda!
- Eu? Como tem coragem de me acusar? - insinuou a garota enquanto se levantava finalmente do chão podendo ver o rapaz melhor.

Ele devia ter a sua idade, mais era bem mais alto que ela. Vestia uma calça jeans muito apertada e desbotada. Usava um casaco preto totalmente brega, na opinião de Petúnia já que hoje fazia calor, e por baixo uma camiseta larga e muito folgada. O físico do rapaz não era dos melhores , além disso tinha um cabelo loiro penteado para o lado que parecia irritar muito Petúnia. Seu rosto se contorcia de tal forma que parecia estar levantando um carro.

- Escuta bem, garota - começou ele com muita calma na voz, era visível que ele se controlava e escolhia muito bem as palavras - Eu me desculpo, está certo? A culpa foi minha. Mil perdões. Agora posso ir?

Petúnia se espantou ao ver o garoto tão calmo assim. Causou a ela certa estranheza, porque agora era que devia ser o momento em que ele devia começar a gritar mais alto com ela, mas ao invés disso fez algo totalmente inesperado. A menina começou a talvez ver ele com outros olhos, afinal ele era alguém calmo e sereno, pelo menos tentava ser. Como ela sabia que essa discussão já havia a atrasado aceitou as desculpas, pouco sinceras, do rapaz.

- Tudo bem - falou com uma voz de quem não dá o braço a torcer - Está desculpado. Mas foi porque você teve sorte de eu estar atrasada.

O tal garoto que Petúnia não sabia nem mesmo o nome começou a andar retomando a direção em que anteriormente caminhava. As pessoas que estavam olhando a pequena discussão voltaram a brigar por uma vaga no hotel. Então, Petúnia Evans, caminhou para o restaurante com pensamentos misturados na cabeça.
Não sabia o porque mais desde o momento em que ele tomou a atitude de apartar a briga, algo havia mudado na concepção dela sobre ele. Isso era muito estranho, pelo menos era o que Petúnia achava. Pensando nisso, e também em que nunca de qualquer modo nunca mais o viria, ela percebeu que havia gostado da atitude dele.

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