O retorno a Hogwarts
O dia amanhecera úmido. O céu, coberto de espessas nuvens brancas, anunciava talvez a ocorrência de uma fina garoa, mas não era esse o fato mais significativo daquela notável manhã de Agosto.
Nas janelas de inúmeras casas, pessoas se amontoavam, ainda de pijamas, para observar pontos das mais variadas cores cortarem o céu, em todas as direções. Às vezes, uma ave podia ser vista descer e pousar rapidamente sobre o tapete de uma casa qualquer, depositar sobre o mesmo um envelope, e novamente se lançar aos céus. E naquela casa, não era diferente.
Mesmo que a desajeitada construção parecesse se manter em pé por magia e mesmo com sua localização longe de qualquer cidade, no interior, ainda assim uma ave encontrou-a, depositando sobre o tapete surrado quatro envelopes. Todas as cortinas da casa ainda estavam fechadas, e o curioso relógio na cozinha indicava, com seus ponteiros, que todos os moradores dali ainda estavam em seus quartos, adormecidos. Quase todos.
O ponteiro que indicava ‘Molly Weasley’ moveu-se agilmente da posição ‘quarto’ para a ‘banheiro’, e depois de alguns instantes, encontrava-se na posição ‘cozinha’.
A mulher brandiu a varinha, e em segundos a mesa já estava devidamente arrumada. Oito cadeiras, não necessariamente iguais, dispunham-se ao redor da mesa retangular, e em frente a cada uma, apareceram um prato, alguns talheres e uma xícara. Não demorou muito para que, do fogão, surgisse um morno e apetitoso aroma de ovos e bacon, habilmente preparados pela figura ruiva e baixinha.
- Ron, faz o favor de sair logo desse banheiro..! – A jovem esfregava os olhos, enquanto falava em direção à porta trancada do aposento. Em uma das mãos segurava um coelho de pelúcia encardido, e na outra, sua escova de dente.
- Pronto! – Uma cabeça ruiva e sardenta apareceu na fresta da porta, visivelmente irritada com a garota do lado de fora. – Por quê não acordou mais cedo, se queria usar o banheiro com toda essa pressa? – Ele saiu, deixando a porta aberta para que a irmã entrasse.
- Você já tem dezoito anos, Ron, não aja como se tivesse três.. – Ela, então, adentrou o pequeno banheiro e fechou a porta atrás de si, deixando um Ron mal-humorado do lado de fora. Ele bufou demoradamente, e voltou para o próprio quarto, já tirando a camisa do pijama e atirando-a sobre a colcha laranja amarfanhada na cama.
Um estalo se fez ouvir na pequena cozinha, seguido de muita fumaça esbranquiçada espalhando-se pelo ar. O susto fora tão grande, que Molly deixara escapar um gritinho afetado, e um prato espatifou-se contra o piso.
- Essa é a última vez que aviso! – Ela aproximou-se dos filhos, que inocentemente se mantinham parados no lugar em que haviam surgido, e apanhou-os pelas orelhas, fazendo com que tivessem que se abaixar. – Fred e Jorge, NUNCA MAIS APARATEM NA MINHA COZINHA, ESTAMOS ENTENDIDOS?!
- Com toda a certeza, mãe – os dois trocaram um olhar cúmplice, respondendo em uníssono, antes de se soltarem e receberem um abraço apertado. – O papai ainda não voltou? – Perguntou Fred, sentando-se em um dos lugares vazios da mesa, sendo seguido por Jorge.
- Não, mas ele não irá demorar.. Oh, vejam só! – Ela apontou o dedo roliço para a janela, e Fred afastou prontamente as cortinas, avistando na estrada de terra batida um carro azul se aproximar, estacionando em seguida em frente à casa.
Um homem alto e igualmente ruivo desceu do automóvel, fechando a porta ruidosamente, e aproximou-se da porta. Demorou um instante para que ele abrisse a porta, e revelasse sua expressão cansada para a esposa e filhos.
- Bom dia, Weasleys. – Ele cumprimentou, coçando levemente a cabeça que já apresentava sinais de calvície. Arthur Weasley colocou sua maleta de couro marrom sobre uma pequena mesa, perto da porta, e começou a observar com certo interesse a pequena pilha de cartas que havia acabado de recolher de seu tapete. – Fred, Jorge, Molly, onde estão os outros?
A pergunta fora imediatamente respondida quando uma profusão de cabelos encaracolados e ruivos foi vista correndo pela cozinha, na direção de Arthur. Ginny se jogou nos braços do pai, enquanto Ron aparecia na porta da cozinha, acenando para todos.
- Hey..! Bom dia – O homem sorriu, observando a filha que havia crescido tão rápido. Parecia ter sido apenas ontem o dia em que recebera a carta de Hogwarts, endereçada à sua pequena menina de onze anos. Exatamente igual às quatro cartas que possuía nas mãos agora.. – Oh! Acho que temos correspondência para vocês hoje!
Os quatro filhos amontoaram-se ao redor do pai, e ele lhes entregou os envelopes, tão curioso quanto eles para descobrir o conteúdo das cartas. O papel fora rasgado quase simultaneamente, enquanto cada par de olhos azulados percorria as linhas demoradamente:
A Escola de Magia e Bruxaria Hogwarts tem o prazer de enviar à sua família alguns comunicados;
Para a senhorita Ginevra Weasley, uma carta segue em anexo com a lista de materiais necessários para realizar o sexto ano do curso.
Para o senhor Ronald Weasley, uma carta segue também em anexo com a lista de materiais necessários para realizar o sétimo ano do curso, e um convite para participar do nosso corpo docente na matéria de DCAT, juntamente com os senhores Potter e Granger, sendo monitores do professor Remus J. Lupin.
Para os senhores Fred e Jorge Weasley, uma carta segue em anexo para cada um com as devidas informações sobre as atividades que exercerão durante este ano letivo em Hogwarts.
Atenciosamente,
Minerva McGonnagal, professora e Diretora.
Após lerem com atenção repetidas vezes, cada um apanhou dentro de seu envelope a carta ‘em anexo’ citada, passando os olhos levemente pela mesma.
- Então Hogwarts está de volta! – Ginny exclamou, uma expressão indecifrável tomando conta de seu rosto. Guardou de volta os dois pedaços de pergaminho no envelope, e sentou em seu lugar na mesa, de frente para o de Fred. Os outros fizeram o mesmo, sentando-se em seguida em seus devidos lugares.
Com mais um aceno de varinha naquela manhã, Molly distribuiu o conteúdo das três frigideiras pelos pratos das seis figuras ruivas presentes na cozinha, preenchendo também cada xícara com café fumegante.
- Hm.. isso é muito bom, não acham? Pensei que talvez fosse demorar mais para que a escola voltasse a funcionar, quer dizer..faz tão pouco tempo que..- Ron começou, levando sua xícara até os lábios, mas não chegou a beber. Os outros observaram-no, um sorriso terno aparecendo no rosto de cada um. Molly colocou a mão sobre a do filho, chamando sua atenção.
- Todos sabemos que é preciso voltar a ter uma vida normal. Para começar, vocês precisam terminar os estudos!
- É, isso é verdade.. – Ginny completou, os olhos turquesa perdidos em algum ponto do conteúdo de sua xícara. Podia ver o próprio rosto refletido na superfície escura do café, e não podia negar que a expressão que ostentava não era das mais alegres naquela manhã de Agosto.
Ficara sem saber do irmão e dos amigos por um ano inteiro, e de repente se encontrava prisioneira na própria casa. Não podia sair, nem abrir as janelas, podia apenas perambular à procura de algo para fazer e se distrair. Sua mente e coração, no entanto, não conseguiram encontrar nenhuma atividade que os tirasse da batalha que estava acontecendo lá fora, em algum lugar.
- Hm..mãe? – chamou Fred, despertando Ginny de seus devaneios. Passou os olhos pelas outras quatro pessoas da mesa, além de sua mãe, e percebeu que todos pareciam nutrir a mesma dúvida. – Por que temos oito lugares postos na mesa, se somos apenas seis? – Fred e Arthur se entreolharam, como se o pai quisesse dizer que Molly ainda esperava a vinda de Charlie e Percy, ou então Bill e Fleur, que haviam se mudado para a França tão logo a Grande Guerra terminara.
- Oh! Que cabeça a minha! – Molly levou a mão gordinha à testa, dando um tapinha de leve. Um sorriso maternal tomou conta de seu rosto. – Hermione e Harry estão para chegar.
Oito e meia..ela está visivelmente atrasada! O jovem levou a mão aos cabelos, eriçando-os de maneira impaciente. O relógio de pulso indicava que a amiga estava meia hora atrasada, fato que nunca havia ocorrido antes. Hermione Granger era uma jovem mulher extremamente pontual, e que nunca deixava sequer uma margem de suspeita em suas ações. Gostava de estar sempre certa e não admitia falhas. Naquele dia, no entanto, parece que havia dormido tempo a mais.
Os olhos passearam pela lareira fria e apagada da sala, esperando que o fogo de acendesse sem qualquer iniciativa de sua parte. Não havia tido tempo de modificar o cômodo, apenas limpá-lo, portanto ele ainda mantinha os móveis e a decoração da época em que servira como base para a Ordem da Fênix. A casa de número 12 no Grimmauld Place ao menos era um lugar calmo para se viver, diferente da casinha na rua dos Alfeneiros que Harry havia deixado pouco antes da Grande Guerra.
Caminhou até a porta, contrariado, a tempo de ouvir um leve estalo e um pouco de fumaça espalhando-se pelo ar. Em seguida, a imagem da jovem se materializou atrás do vidro, acenando para Harry. Sem demora, ele abriu a pesada porta de madeira, encontrando uma Hermione despenteada e esbaforida segurando um envelope, idêntico ao que havia recebido na manhã do dia anterior.
- Bom dia, Hermione.. – ele cumprimentou, segurando o riso por vê-la daquela forma. Depois de tudo que os três amigos haviam passado no último ano, sentia que muita coisa havia mudado. Acima de qualquer coisa, sentia que a amizade havia sido fortalecida.
- Não pense que eu não sei o que se passa nessa sua cabecinha.. é, eu me atrasei, perdi a hora, dormi demais, satisfeito? Bom dia, Harry – Recebendo licença, ela adentrou o hall e pendurou a bolsa num cabide, ao lado da porta. Deu no amigo um longo abraço, envolvendo seu rosto na cascata castanha e cacheada que eram seus longos cabelos, mais controlados e atraentes do que costumavam ser aos onze anos.
Quando se separaram, ela segurou o rosto de Harry entre as duas mãos, observando os olhos verde-escuros. A cor havia mudado muito desde que conhecera aquele garoto sobre o qual sabia mais do que ele próprio, graças à sua mania de obter informações sobre tudo e todos, devorando freneticamente livros e quaisquer outros meios de informação escrita. Haviam sido claros e inocentes, podia até mesmo arriscar que eram de certa forma assustados. No entanto, estavam agora escurecidos pela sucessão de perigos e perdas pelos quais Harry já passara.
- Como tem passado? – Hermione perguntou, recebendo em resposta um sorriso encabulado.
- Mione, eu estou ótimo, da mesma forma que digo que estou todos os dias. – Ela sorriu, bufando de leve e fingindo aborrecimento.
- Não pode evitar que eu me preocupe, ainda mais sabendo que você mora nessa casa enorme, sozinho e.. – antes que ela pudesse continuar o costumeiro sermão, Harry já havia aparatado dali, deixando-a em meio à fumaça. – e ainda por cima me deixa falando sozinha! – apanhou a pequena bolsa que havia pendurado ao lado da porta e aparatou, apressada, tendo em mente inúmeros planos para esganar o amigo quando o encontrasse, em frente À Toca.
O som de uma xícara quebrando-se em contato com o piso cortou o ar, fazendo com que todas as atenções da mesa se dirigissem na direção de Ginny. A mão que havia segurado o objeto ainda mantinha-se na mesma posição, como se ela não tivesse percebido a falta dele. Seus grandes olhos turquesa estavam paralisados em algum ponto indefinido da parede.
- Que houve? – perguntou Arthur, enquanto a mulher brandia levemente a varinha e juntava os cacos em uma nova xícara. A garota apenas piscou, atordoada, e levantou-se, indo apressadamente em direção às escadas. Todos se entreolharam, sabendo no íntimo que ela apenas ficara surpresa com a aproximação repentina de Harry.
Os longos cabelos ruivos esvoaçaram escada acima, e em alguns mínimos instantes, Ginny já se encontrava no próprio quarto, batendo ruidosamente a porta do mesmo. Em passadas largas, chegou até a penteadeira e espalmou as duas mãos na superfície amadeirada e lisa, observando o próprio rosto no espelho. Não podia dizer se havia sofrido grandes mudanças durante o longo e gélido ano em que passara enclausurada. Seu corpo estava mais feminino, os cabelos mais longos, mas ainda mantinha o mesmo rosto e os mesmos olhos. A única coisa que não poderia dizer é o tipo de mudança que havia atingido sua mente e coração. É verdade que havia estado por muito tempo perturbada pela ausência e silêncio, e nesse momento simplesmente não sabia como agir, se o visse novamente.
Após um breve estalo, Harry já estava em frente àquela casinha que nunca poderia esquecer. Permaneceu por uns instantes apenas observando-a, notando a fumaça que saía da chaminé, e imaginando se todos já estavam tomando café na aconchegante cozinha da Sra Weasley. Alguns instantes se seguiram antes de virar-se para encarar a figura da amiga que acabara de surgir depois de mais um estalo, em meio a uma espessa nuvem de fumaça esbranquiçada. Ambos entreolharam-se, e Hermione sentiu a vontade de esganar Harry se esvair com a suave brisa que os atingia. Entrelaçou os dedos com os dele, puxando-o na direção da porta.
- Não vai ficar parado aí com cara de bobo, francamente! – Ele sorriu, despertando do transe em que estivera, e acompanhou-a até a porta de madeira. Esperou um momento até que pudesse organizar seus pensamentos, e bateu de leve com os nós dos dedos na superfície áspera e pesada.
Não precisaram esperar mais que um minuto inteiro para que o rosto sardento de Ron aparecesse.
- Ei Harry, Mi, podem entrar! – Ele abriu a porta, revelando a cozinha cheia de rostos conhecidos.
Os olhos azuis pararam sobre os amendoados de Hermione, e Harry apenas sorriu para os dois. Ela colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha e, surpreendendo a todos, se lançou aos braços de Ron, prendendo-o num abraço apertado.
Ele levou uma das mãos desajeitadamente até o topo da cabeça dela e entrelaçou os dedos em meio aos fios perfumados cor-de-caramelo. Hermione o soltou, sorrindo.
- Tudo bem? – Ela perguntou, tímida, recebendo um sorriso como resposta.
- Claro, claro! Mas entrem, mamãe acabou de preparar o café.. – Ron deu licença para que eles adentrassem a cozinha, sem perceber que segurava a mão da garota. Harry, no entanto, não perdeu o detalhe e sorriu, dando-se conta que finalmente tudo parecia estar indo bem. Havia anos que suportava as discussões bobas dos amigos, pelos motivos mais absurdos, esperando que um dia eles finalmente percebessem e aceitassem o que já estava óbvio. Depois da Grande Guerra, porém, parecia que eles haviam descoberto o quanto a vida era frágil e que não podia ser desperdiçada com brigas infantis.
Os três foram até seus lugares na mesa e sentaram-se, mas todos perceberam que os olhos de Harry haviam parado sobre o lugar vazio na mesa, onde instantes antes estivera Ginny. Molly percebeu o olhar perdido dele, e sorriu maternalmente.
- Ginny está lá em cima, Harry, pode subir se quiser. – Ele corou, percebendo que fora pego desprevenido. Mesmo assim, levantou-se e foi até a porta da cozinha, na direção das escadas.
- Obrigado, volto em alguns minutos.. – E subiu, percebendo os olhares assassinos que Fred e Jorge haviam lançado sobre ele no momento em que colocara o pé no primeiro degrau.
- Ora, meninos! Deixem sua irmã em paz! – disse Arthur, repreendendo-os, enquanto um sorriso brincava em seu rosto.
- Não fiz nada! – Eles responderam em uníssono, colocando um biscoito na boca em seguida.
Ao chegar no topo da escada, seus olhos foram direto para a porta que continha a placa de madeira no formato de uma flor. No miolo, uma letra caprichosa formava o nome ‘Ginny’. Ele ficou parado em frente a porta e deixou que os olhos passeassem pelas letras entalhadas na madeira, esperando que talvez só isso fosse suficiente para que a jovem ruiva surgisse ali. Com certo receio, encostou levemente os nós dos dedos na porta, antes de bater. No instante seguinte, precisou de um enorme esforço para manter os pés imóveis, tamanha era a vontade de sair dali e descer novamente para a cozinha. Podia ouvir os passos ritmados dela dentro do aposento, e sentiu-se congelar quando ouviu sua voz.
- Quem é? – Ele não pode sequer responder, apenas continuar encarando a porta, imóvel.
O som do trinco sendo girado cortou o ar, e em seguida a porta abriu-se, revelando a figura ruiva que estivera dentro do aposento.
- Eu já estava descendo, Ron, não precisava vir me... – Os olhos dela subiram até a altura dos dele, e ela sentiu o ar fugir de seus pulmões. Havia se esquecido de como ele era mais alto que ela, e de como podia se sentir protegida quando estavam próximos. – H-Harry.. eu..
Ele, no entanto, já havia domado sua incerteza infantil, passando os braços ao redor da figura frágil dela, puxando-a para perto de si num abraço. Deixou uma das mãos perder-se por entre os fios de fogo, e sentiu que os braços dela também o contornavam, pressionando de leve. Suas pálpebras cederam, tornando o tato sua visão.
Ginny empurrou-o delicadamente, fazendo com que Harry abrisse os olhos, e fitou-os demoradamente. Algo ali fez com que ele percebesse, finalmente, que tudo não estava tão bem quanto ele pensara estar.
- Faz tempo que não nos vemos. – ela começou, quebrando o contato visual. Ele apenas sorriu.
- Mandar corujas estava fora de questão, Gin, eu não podia arriscar. – Harry contornou o pequeno rosto dela com as mãos, fazendo com que seus olhos se encontrassem mais uma vez. E naquele momento, ele percebeu que a garota não era mais a mesma, embora tivesse os mesmos olhos e o mesmo rosto daquela que fora sua.
- Não havia necessidade de me enviar corujas, Harry.. Eu sabia o que você estava fazendo, e sabia que estava vivo, pois era o que os jornais diziam. – Soltando-se das mãos dele, ela encostou a porta do quarto e caminhou em direção à escada, descendo-a na mesma velocidade. O jovem apenas permaneceu parado no mesmo lugar, até que resolvesse descer atrás da ruiva.
- Mas..! – ele começou, fazendo com que Ginny parasse no meio da escada, e se virasse para ele.
- Somos amigos, Harry, e estou feliz por você estar a salvo.
A Estação King’s Cross estava particularmente cheia às dez e meia da manhã, no dia do embarque a Hogwarts. E por mais que quisesse ser discreto, pessoas por toda a estação continuavam a apontar e se aproximar de si, sorrindo e mostrando admiração. Se aquilo já o surpreendia aos onze anos, quando adentrou no mundo da Magia, era de se supor que já estivesse acostumado. Ron e Hermione, no entanto, ainda estavam assustados com tanta gente reconhecendo-os como os heróis que venceram a Grande Guerra.
- Sério, estou me sentindo um animal no zoológico... – Hermione bufou, empurrando o carrinho como se o mesmo pesasse toneladas. Os três, acompanhados pelos Weasleys, chegaram no ponto exato onde a plataforma 9 se separava da 10. A passagem para a plataforma 9 e ¾.
- Um animal...aonde?! – Ron fitou-a confuso, ao que ela apenas sorriu em resposta.
- Aah...Ron, é um lugar que os trouxas adoram visitar para aborrecer os animais. – ele pareceu convencer-se com a explicação de Harry, e balançou levemente a cabeça de um lado para o outro.
Molly depositou a mão sobre o ombro de Ginny, e ela lhe sorriu.
Vamos, vocês têm apenas mais vinte minutos para se instalarem no trem! – Eles se entreolharam, e uma leve expectativa pairou no ar.
Ainda desorientados pela ansiedade, empurraram decididamente o carrinho de encontro a supostamente firme parede de tijolos, desaparecendo magicamente no instante em que se estabeleceu o contato.
Do outro lado, a quantidade de pessoas empurrando seus carrinhos de lá para cá era menor, mas isso não impediu que o trio fosse observado atentamente ao passar.
Apesar de tantas mudanças, a locomotiva vermelha estava lá, da mesma forma que a haviam encontrado durante boa parte de sua adolescência. A fumaça densa e cinza erguia-se ao céu, perdendo-se entre as brisas.
- Acho que aquela está vazia! – disse Hermione, apontando uma das cabines na qual não havia nenhum aluno pendurado, despedindo-se de seus pais e familiares. A jovem abraçou a Sra Weasley rapidamente, e sumiu por entre as entradas da locomotiva.
- Até parece que está no primeiro ano novamente! – Debochou Ron, fazendo o mesmo e seguindo-a. Os outros se entreolharam, e também adentraram o trem, apressando-se para chegar até a cabine vazia.
Ron e Hermione haviam deixado alguns de seus pertences ali, seguindo para a cabine dos Monitores. Os outros quatro apenas se sentaram, aguardando que um tranco os avisasse que a locomotiva já estava andando. Alguns instantes se seguiram, e as árvores e campos já haviam se transformado em montanhas na paisagem vista da janela.
Continua...
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