O Retorno



Harry corria o máximo que podia por uma trilha que levava ao rio, a sua esquerda Ethyar saltava de um galho a outro, rindo da lerdeza do amigo, que jamais poderia vencê-lo em uma corrida. Porém, Harry era orgulhoso demais para se deixar vencer desta forma e, um pouco antes de chegarem à margem do rio, lançou um feitiço que fez o amigo cair no chão, conseguindo assim vencer a corrida.

-Senhoras e senhores, eis o novo campeão! –Harry comemora saltando e rindo da expressão de desagrado de Ethyar.

-Ora, seu maldito trapaceiro! –Ethyar rosna chegando perto de Harry e se pondo ereto, como se tentasse intimidá-lo.

-Não me ofenda! –Harry reage sem se deixar intimidar.

-E como chamas quem trapaceia para vencer? Ou vais negar que me fez cair? –falou ainda raivoso, mas Harry sustentou-lhe o olhar.

-Não havia nenhuma regra que proibisse o uso de magia. –Harry fala com um sorriso maroto, que fez Ethyar estremecer.

-Te farei engolir este sorriso vitorioso e aceitar minha superioridade! –o desafia sacando a espada fina e curta que carregava em sua cintura.

Rapidamente Harry desembainha sua espada curta e bloqueia o golpe que Ethyar aplicava de cima para baixo. Usando sua maior força, o elfo força a espada de Harry para baixo, tentando quebrar-lhe a guarda, no entanto, Harry aproveita isto, para girar o corpo agilmente e chutar-lhe a canela do pé de apoio, enquanto sua mão o empurrava no sentido contrário, fazendo o elfo se desequilibrar. Já no primeiro passo a frente, Ethyar se voltou para Harry recomposto, vendo que o amigo havia invertido a posição da espada e já o golpeava lançando o punho à frente, a lâmina paralela ao antebraço.
O elfo possuía grande destreza e força, mas Harry além de ágil tinha uma técnica superior, por isso aproveitou um ataque direto e horizontal de Ethyar para fazer um movimento giratório que desarmou o elfo e deixou a lâmina do moreno no pescoço do amigo.

-Como podes ver, eu sou o vitorioso de hoje. –Harry fala com um sorriso de canto, ao que Ethyar assentiu reconhecendo a derrota.

-Martano ficaria orgulhoso se te visse! –o elfo fala parabenizando o amigo, que lhe sorri, enquanto tira o cinto e as botas. Ethyar fazia o mesmo.

-Já seu pai sentiria dor no peito ao ver-te cometer erros tão tolos. –retruca rindo do amigo que lhe atira a camisa no rosto.

Tanto Ethyar quanto Harry tinham quatorze anos, já chegavam a um metro e setenta, além de possuírem um corpo com músculos bem trabalhados. No entanto, o elfo era um pouco maior que Harry, seus músculos apesar de definidos não alteravam a aparência suave de suas formas, sua pele alva combinava com o cabelo prata que contrastavam com os olhos rubros. Já Harry apesar de mais baixo, tinha as costas mais largas, usava o cabelo curto e, como Martano, possuía uma franja que lhe chegava perto dos olhos esmeraldas, uma tentativa de cobrir-lhe a cicatriz.

-Fico uma semana sem o ver e já ganhas mais caroços e pêlos, daqui a pouco viras um macaco! –Ethyar brinca com Harry que olha para o abdômen definido e na região mais abaixo, onde pêlos que julgava inconvenientes apareciam.

-Eu bem que preferia não ter tantos pêlos, como os elfos, e provavelmente se meus músculos não fossem tão protuberantes algumas elfas desviariam o olhar de ti e olhariam para mim! –fala com um suspiro de lamento. –Mas tudo bem, prefiro ser o feio habilidoso que o bonito desastrado! –brinca com o elfo antes de mergulhar, escapando de um feitiço lançado por Ethyar, ser chamado de desastrado era uma grande ofensa para um elfo.

-Deixarei essa passar porque entendo teu medo de ficar só. –fala antes de mergulhar. –Aliás, já pensaste em como são as fêmeas humanas? Será que chegam perto da beleza das elfas. –pondera se apoiando a margem e a esquerda de Harry, que também estava recostado.

-Às fêmeas humanas, se chamam mulheres. –explica ao amigo que assente. –Já vi algumas pinturas de mulheres em livros e quadros na Heren Istarion, mas Merimë me disse que as mulheres de hoje não se parecem em nada com as de mil anos atrás, então eu não tenho certeza. –fala parecendo não se importar muito.

-Não tens curiosidade de conhecer outros de sua raça? Ver se são todos feiosos como tu. –pergunta curioso e brincalhão.

-Claro que tenho curiosidade de ver como é o mundo dos humanos, apesar de temer ter contato com eles. Failon fala tão mal sobre o contato entre Istaris e humanos, que temo ser corrompido de alguma forma. –Harry confidencia ao amigo, se virando para olhar para ele, que corresponde ao gesto.

-Tens força de caráter e recebeu a mesma criação que um elfo, eu não vejo como possa se corromper. Confio em ti e em tua honra. –as palavras do elfo fizeram Harry sorrir mais aliviado, era bom saber que tinha um amigo que confiava tão plenamente nele.

-De toda forma, pretendo te levar comigo para vermos tudo o que Cemendur nos contou que viu quando me acharam. –Harry fala empolgado.

-Mas eu iria, tu querendo ou não! –a resposta imediata faz Harry rir. –Mas já pensaste em quando pretendes ir? –pergunta pensativo, o que fez Harry ganhar uma expressão mais séria.

-Sim, quando completar meus vinte anos, já terei terminado a primeira parte de meus treinamentos e creio já estar pronto para ir. –fala parecendo não estar tão certo daquilo.

-Não se preocupe tanto, prometo que não roubarei a atenção de todas as jovens mulheres para mim, deixo algumas para ti! –Ethyar fala tentando descontrair e Harry ri, começando uma guerra de água, que se seguiria por uma corrida a nado pelo rio.

**

Harry e Ethyar seguiram pelo mesmo trilho da floresta pelo qual vieram. O caminho verde deu lugar a outro de pedra. Pouco depois aproximaram-se por uma colina coberta por uma vegetação curta e muito verde, depois daquela coluna encontrar-se-ia a vila. Metros depois escalaram a colina chegando a Almaren.
A frente de ambos projectava-se uma grande vila com algumas estátuas, misturavam-se com templos onde o mármore reinava, construída por sua vez sobre uma outra coluna. Abandonaram o caminho de pedras para calcarem um acesso com o chão revestido de lajes brancas, impecavelmente limpas.
A vila era alegrado por fontes e lagos com um alternar de luz e sombra. Jardins semelhantes nos quais flores, árvores de fruto com folhagem permanente, água e sombra, agradáveis lagos, constituíam uma composição equilibrada…
O contraste entre as cores era único. Era incrível como a graciosidade da simplicidade poderia ser tão elevada.
Alguns habitantes da vila, belos, esguios, de olhos singulares, estavam vestidos com túnicas das mais variadas cores. A perfeição e a beleza permaneciam naquela vila.
As casas desde as mais simples possuíam uma beleza incomum, eram feitas moldando-se a natureza com magia, dando a impressão de que eram parte integrante da natureza.
Não eram relativamente grandes, mas tanto Harry ou Ethyar sabiam que por dentro era totalmente o oposto. Muitas delas situavam-se perto de nascentes claras e serenas, e encantadas de modo a não serem visíveis aos olhos de qualquer humano.

_Olhe seu pai ali Ethyar, se ele imaginasse como te derrotei hoje…

_Caso lhe vá contar, aconselho-te a vigiar continuamente as suas costas nos próximos dias. -fala entre dentes.

_Isso é uma ameaça? És capaz de me atacar de costas?

_Se posso te vencer de frente, porque seria trapaceiro? Nem todos são como vós.

_E porque não o fez hoje?

_Tivestes apenas sorte. -fala dando o assunto por encerrado, pois estavam se aproximando de um elfo com longos cabelos prateados, olhos rubros... enfim, características semelhantes aos de Ethyar.
Calion era um elfo respeitado por todos os Ezellohar e considerado o melhor lanceiro de Almaren.

_Por aqui tão cedo jovens?

_Sim, Calion, ainda tenho de ir para a Heren Istarion, ler uns livros recomendados por Hanya.

_Haryon está se preparando para sua partida ao mundo bruxo.

_Istaris…-fala pensativo enquanto mirava Haryon.

_Bom…tenho de ir. -Despede-se atravessando a vila.

A Sede de Heren Istarion ficava fora de Almaren, mas nada que não demorasse pouco mais de uma hora, pois Haryon aprendera a ir por atalhos fazendo metade do tempo do que se fosse pela trilha normal.
Por fim chegou ao local. A sua frente encontrava-se uma enorme espécie de templo de puro mármore, em forma de pirâmide mas com cume cortado. Não tinha muitas janelas ou aberturas, mas a superfície estava decorada com relevos, colunas e desenhos deslumbrantes que descreviam o que Haryon sempre pensava ser episódios da história de civilizações antigas, com alguns sinais de deteriorização, típicos de uma estrutura muito antiga. Enormes escadarias com incontáveis degraus davam acesso aos níveis superiores, mas uma bela entrada também do mesmo material, guardada por duas gigantes estátuas de elfos em meditação. E como sempre, o jovem sentiu emanar do ‘templo’ uma forte fonte de magia e conhecimento, que o embriagava e o chamava para o seu interior.

Chegou a uma entrada protegida por um portão de grades de ferro com fosso a rodeá-lo. Eram visíveis exóticos animais aquáticos a nadarem nas águas estagnadas e só era possível atravessá-la por uma frágil ponte de madeira e corda. Existiam algumas janelas nas paredes de mármore que permitiam ver muitos archotes no interior do ‘templo’.
Entrou e as paredes do corredor por onde avançava eram largas e bem iluminadas por archotes, presos em suportes dourados, e chamas que se erguiam de pratos de pedra colocados sobre as mãos de estátuas que representavam os membros da Sede. O chão era feito de lajes de pedra polida. O longo corredor chegou ao fim e desembocou numa gigante sala. Tinha mais de vinte andares de altura, desafiando a sua dimensão quando visto por fora.
Haryon dirigiu-se a uma dessas salas feitas de mármore, com mesas reluzentes, iluminadas pela luz solar que entrava pelo tecto.
Um espaço amplo e tranquilo.

As suas paredes estavam cobertas de livros, era uma espécie de biblioteca antiga e muitos dos documentos importantes eram preservados em manuscritos de papiros, cujo rolo podia chegar até 18 metros ou em pergaminhos. Os rolos desses materiais tinham sido organizados em armários com divisórias e arrumados uns ao lado dos outros, com etiquetas visíveis indicadoras dos títulos. Aquela Sede estava intacta, guardando manuscritos considerados fundamentais para o entendimento da história élfica. Alguns armários ainda continham pertences dos membros da Ordem, inclusive diários.
Haryon pegou no calhamaço de livro que necessitaria e caminhou através de uma arcada até chegar a parte posterior, onde havia um majestoso pátio onde muitas vezes se encostava em alguma árvore.
Cada elemento do pátio havia sido cuidadosamente planejado, a viçosa e exuberante grama, as plantas, as flores, os arbustos, os altos ciprestes, fontes, esculturas onde aves raras se banhavam…entre outros elementos, tudo de forma a criar um ambiente de calma, paz e harmonia. Sentia-se bem no meio daquela natureza luxuriante.

Porém, no meio da leitura sentiu uma forte dor de cabeça o que o obrigou a largar o livro, levando as mãos a cabeça que começou a latejar e qualquer movimento executado pelo jovem fazia sentir sua cabeça doer mais e mais ao ponto de querer detonar. Sentiu os olhos a arderem querendo fechar e cedeu acabando por desmaiar.
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Harry se viu parado em um cemitério escuro e cheio de mato; para além de um grande teixo à direita podiam ver os contornos escuros de uma igrejinha. Um morro se erguia à esquerda. Muito mal, Harry conseguia discernir a silhueta escura de uma bela casa antiga na encosta do morro.

Apertando os olhos para enxergar na escuridão, ele divisou um vulto que se aproximava, andando entre os túmulos sempre em sua direção. Harry não conseguia distinguir um rosto, mas pelo jeito que o vulto caminhava e mantinha os braços, dava para ver que estava carregando alguma coisa. Fosse quem fosse, era baixo e usava um capuz que lhe cobria a cabeça e sombreava o rosto. E... Vários passos depois, a distância entre eles sempre mais curta - Harry viu que a coisa nos braços do vulto parecia um bebê... Ou seria meramente um fardo de vestes?

Um outro homem se aproximou vindo de outro lado, trazia um terceiro homem consigo e este parecia inconsciente. Usando uma varinha, o homem fizera o outro levitar e amarrou-o a uma lápide de mármore. O garoto viu o nome ali gravado faiscar a luz da varinha, “TOM RIDDLE”.
O homem agora estava verificando a amarra que ia do pescoço aos tornozelos. A aproximação deste da luz da varinha, fez com que Harry visse o rosto jovem e magro, cabelos loiros e olhos negros.

Harry se virou e viu que o outro bruxo deixara o embrulho no chão e agora empurrava um caldeirão de pedra para perto do túmulo. Continha alguma coisa que parecia água - Harry a ouviu sacudir - e era maior do que qualquer outro caldeirão que Harry já tivesse usado; sua circunferência era suficientemente grande para caber um adulto sentado.

A coisa embrulhada no fardo de vestes no chão se mexeu com mais insistência, como se estivesse tentando se desvencilhar. Agora o homem, que agora via ser gordinho e ter o cabelo ralo e de cor escura, estava mexendo com uma varinha no fundo externo do caldeirão. De repente surgiram chamas sob a vasilha.
O líquido no caldeirão parecia estar esquentando bem rápido. Sua superfície começou não somente a borbulhar, mas também a atirar para o alto faíscas incandescentes, como se estivesse em chamas. O vapor se adensou e borrou a silhueta do homem gordinho, que cuidava do fogo. Seus movimentos sob a capa se tornaram mais agitados. E Harry ouviu uma voz aguda e fria.

- Ande depressa! –a voz parecia vir do embrulho que estava no chão.

Toda a superfície da água estava iluminada pelas faíscas. Parecia cravejada de diamantes.

- Está pronta, meu amo.

- Agora... - disse a voz fria.

O loiro abriu o fardo de vestes no chão, revelando o que havia nele, e Harry soltou uma exclamação muda de susto.
Estava à mostra algo feio, pegajoso e cego. A coisa que o homem andara carregando tinha a forma de uma criança humana encolhida, só que Harry nunca vira nada que se parecesse menos com uma criança. Era pelada, de aparência escamosa, de uma cor preta avermelhada e crua. Os braços e pernas eram finos e fracos e o rosto – nenhuma criança viva jamais tivera um rosto daqueles - era plano e lembrava o de uma cobra, com olhos vermelhos e brilhantes.
A coisa tinha uma aparência quase desamparada, ela ergueu os braços magros e passou-os pelo pescoço do loiro e este a ergueu. Por um instante o garoto viu o rosto plano e maligno iluminar-se com as faíscas que dançavam na superfície da poção. Então o loiro a depositou dentro do caldeirão, ouviu-se um silvo, e ela submergiu. Harry escutou aquele corpinho frágil bater no fundo do caldeirão com um baque suave.

O gordinho começou a falar. Sua voz tremia, ele parecia assustadíssimo. Ergueu a varinha, fechou os olhos e falou para a noite.

- Osso do pai, dado sem saber, renove o filho!

A superfície do túmulo aos pés do garoto rachou. Horrorizado, Harry observou um fiapo de poeira se erguer no ar à ordem do gordinho, e cair suavemente no caldeirão.
A superfície diamantífera da água se dividiu e chiou; disparou faíscas para todo o lado e ficou um azul vivido e peçonhento.
O gordinho choramingou. Tirou um punhal longo, fino e brilhante de dentro das vestes. Sua voz quebrou em soluços petrificados.

- Carne... Do servo... Dada de bom grado... Reanime... O seu amo.

Ele esticou a mão direita à frente, a mão em que faltava um dedo. Segurou o punhal com firmeza na mão esquerda e ergueu-o.
Harry percebeu o que ele ia fazer um segundo antes acontecer, fechou os olhos com toda força que pôde, mas não conseguiu bloquear o grito que cortou a noite, e que o atravessou como se ele tivesse sido apunhalado também.
Ouviu alguma coisa cair ao chão, ouviu a respiração ofegante e aflita do homem, depois o ruído nauseante de alguma coisa tombar dentro do caldeirão. Harry não suportou olhar... Mas a poção ficou vermelho-vivo e sua claridade atravessou suas pálpebras fechadas...
O gordinho ofegava e gemia de agonia. Somente quando Harry sentiu sua respiração aflita no próprio rosto é que percebeu que o bruxo estava bem diante dele.
- S-sangue do inimigo... Tirado à força... Ressuscite... Seu adversário.
Harry nada pôde fazer para impedir isso, ele viu o punhal de prata reluzente tremer na mão que restava. Viu a ponta da arma furar a dobra do braço direito do homem que estava amarrado e o sangue fluir pela manga de suas vestes rasgadas.
O homem, ainda ofegando de dor, apalpou o bolso à procura de um frasquinho que ele aproximou do corte do homem para recolher o sangue.
O bruxo cambaleou de volta ao caldeirão com o sangue do garoto.
Despejou-o ali. O líquido no caldeirão ficou instantaneamente branco ofuscante. Concluída a tarefa, o gordinho se ajoelhou ao lado do caldeirão, depois se deixou cair de lado e ficou deitado no chão, aninhando o toco sangrento de braço, arquejando e soluçando. O loiro apenas fitava tudo com um sorriso satisfeito.
O caldeirão foi cozinhando, disparando faíscas em todas as direções, um branco tão branco que transformava todo o resto num negrume aveludado. Nada aconteceu...
E então, de repente, as faíscas que subiam do caldeirão se extinguiram.
Uma nuvem de vapor branco se ergueu, repolhuda e densa, tampando tudo que havia na frente de Harry, impedindo-o de continuar a ver outra coisa exceto o vapor pairando no ar. Através da névoa à sua frente, ele viu, com um assomo gelado de terror, a silhueta escura de um homem, alto e esquelético, emergindo do caldeirão.

- Vista-me - disse a voz aguda e fria por trás do vapor, e o loiro correu a apanhar as vestes negras no chão, levantou-se, ergueu o braço e colocou-as sobre seu amo.

O homem magro saiu do caldeirão, com o olhar fixo no que estava amarrado. O garoto mirou aquele rosto mais branco do que um crânio, com olhos grandes e vermelhos, um nariz chato como o das cobras e fendas no lugar das narinas.

-Eis, o dia do recomeço da jornada, o dia do retorno de Lord Voldemort! –O loiro falou lançando um olhar significativo ao homem que estava amarrado. Esta foi a última coisa que Harry ouviu antes de cair na escuridão.

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Haryon despertou e forçou-se a abrir os olhos, a despeito da forte claridade que o cegava. Demorou uns segundos a acostumar-se com a luz solar, a sua cabeça já não pulsava, sentiu a respiração acelerada e um pouco de cansaço como se tivesse estado num potencial de acção durante todo o sonho. E esse sonho falava de Melkor, achou que seria importante relatar o que vira aos conselheiros. Pegou o livro que havia caído, atravessou a arcada colocando-o no sítio e partiu para o castelo.

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Ao chegar perto do castelo ouviu uns ruídos que já identificava de longe, eram sons de metal a ser martelado. Martano estava mais uma vez concentrado em algum trabalho, tanto que chegava a suar devido ao árduo trabalho que estava a realizar. Haryon aproximou-se dele.

_Não achais está lâmina bela? - pergunta completamente seduzido pela beleza e complexidade do material.

_Sim, muito bela. – fala esquecendo por breves momentos o assunto que o estava preocupando.

_Está quase acabada. Mas me diga, há algo vos aflija?

_Há e acho melhor reunirmos com os outros conselheiros.

_É algo relacionado com o Melkor? -pergunta Elanor aproximando-se dos dois. - Haryon abanou afirmativamente a cabeça, já sabia da capacidade da elfa em saber o que se passava no coração de alguém.

Ao notar o quanto poderia ser importante, os três dirigiram-se pra o interior do castelo.

_Melhor será que vós procureis Dumbledore. Ele saberá vós aconselhar. – afirma Lóte após Haryon ter relatado o que havia acontecido no sonho.

_Então teremos de suspender os treinamentos? – pergunta Melroch.

_Não precisamos suspendé-los, vós podeis treinar aqui intensamente durante oito meses e no fim fará um teste formalizando seu término de formação básica, o que achais?- sugere Failon.

_Por mim, tudo bem. –fala animado, pois seria mais tempo que passaria em Almaren, apesar de saber que teria de estudar muito, faria cinco anos em oito meses.

_Assim quando terminar poderá regressar ao mundo bruxo, não poderemos fazer nada por vós lá, mas saiba que estaremos aqui para o que precisar. – fala Hanya e Harry sorri agradecido.

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A viagem fora um pouco mais longa do que Harry imaginara, mas agora estava aos portões da propriedade de Hogwarts, a noite escura e sem lua ocultava o castelo e boa parte dos jardins. Empurrou um dos lados dos portões e este se abriu suavemente, olhou para os lados tentando ver alguém e como não conseguiu, seguiu a diante. Foram necessários alguns metros para que Harry pudesse vislumbrar a silhueta do castelo, que a cada passo se agigantava a sua frente.
Já estava próximo a uma grande porta dupla de madeira de lei e podia ver com clareza as paredes de pedra da imponente construção, quando viu e foi visto por um homem magro que aparentava ter bastante idade, tinha os cabelos grisalhos e ralos, andava meio curvado e parecia muito mal-humorado.

-O que pensa que está fazendo aqui há esta hora e nesses trajes, moleque? –A voz do homem não lhe agradou em nada e seus modos rudes lhe fizeram pensar se ele não seria uma mistura de homem e orc.

-Eu desejo falar com o diretor, Alvo Dumbledore. Ele está me aguardando. –Harry fala em tom firme, mas polido.

-Se ele o está esperando, me siga que o levarei até o escritório. –o homem fala no que poderia parecer um resmungo, mas Harry resolveu ignorar e o seguiu em silêncio.

Assim que entraram, Harry maravilhou-se com o hall. O vestíbulo da entrada era tão grande, mas nada que superasse o do castelo de Almaren. As paredes de pedra estavam iluminadas por tochas incandescentes, o teto era altíssimo e uma escadaria de mármore dava acessos aos andares superiores. Continuaram o caminho subindo a escada que se movia, pelos corredores via diversos quadros que não só se moviam, como falavam com ele e pulavam de uma moldura a outra o acompanhando até que mudava de andar. Quando deu por si, o homem rabugento murmurava algo para uma gárgula de pedra, que prontamente saltou para o lado abrindo passagem para que os dois tivessem acesso a uma escada. Assim que chegaram à porta do escritório, o homem entrou e fez um gesto para que esperasse, minutos depois, voltou e disse que era para ele entrar. Harry entrou no escritório amplo, muito diferente ao que sempre estivera acostumado. Era uma bela sala circular repleta de pequenos ruídos estranhos. Havia um grande número de instrumentos prateados sobre várias mesas de pernas finas que zumbiam emitindo pequenas baforadas de fumo. As paredes estavam cobertas por quadros de antigos diretores e diretoras, todos eles a dormir tranquilamente nas suas molduras. Havia ainda uma enorme secretária com pés de garra. No entanto o que mais o chamou atenção foi o homem de olhos azuis, cobertos por um oclinhos meia-lua e que possuía uma longa barba branca, assim como a uma mulher de cabelos grisalhos e aparência austera, nunca antes havia estado perto de pessoas de aspecto idoso.

-Bem-vindo, Harry! É um prazer revê-lo. –o homem o saudou simpaticamente, enquanto a mulher manteve a expressão de choque. –Creio que está atrasado uns quatro anos, mas por favor, sente-se. –o tom era de divertimento, mas Harry encarou como uma leve reprimenda por ter recusado o convite para estudar em Hogwarts. –Eu sou Alvo Dumbledore e esta é Minerva McGonagall, vice-diretora da escola, diretora da Casa da Grifinória e professora de transfiguração.

-Prazer em conhecê-los, meu nome é Harry Potter. Mas vejo que vós já sabeis quem sou. –Harry fala um pouco surpreso e desconfortável, principalmente quando os quadros começaram a murmurar e apontar para ele.

-E como não saberíamos se é igual ao seu pai, com exceção dos olhos, que sem dúvida são como os de sua mãe. –Minerva fala admirada e radiante por ver o belo rapaz em que se transformou o bebê que conhecera há anos atrás.

-A senhora conheceu meus pais? –Harry perguntou animado, já que os elfos não tinham informações sobre seus pais.

-Seus pais estudaram aqui, Harry, e Minerva foi professora deles, assim como eu era o diretor na época. –Dumbledore fala com um sorriso simpático e reconfortante. –No entanto, tem alguém que poderá falar melhor deles para você. Agora nos fale sobre sua vinda, creio que deva ter acontecido algo para que mudasse de idéia quanto a seus estudos.

-Sim, eu não vim para estudar e sim para saber mais sobre Voldemort. –aquela frase faz os quadros chiarem e Minerva estremecer levemente, além de levar preocupação à expressão da professora e do diretor.

Nos minutos seguintes Harry relatou com detalhes o sonho ou visão, que teve há meses atrás e também falou sobre o treinamento para que pudesse voltar ao mundo dos homens e enfrentar seu destino. Dumbledore e McGonagall se entreolharam preocupados e fizeram algumas perguntas sobre o que Harry sabia, complementando uma e outra coisa quando necessário.

-Harry, creio que mais uma vez a guerra tenha começado, amanhã falarei com o ministro e lhe mostrarei fotos de antigos comensais para que você tente reconhecer os dois que ajudaram Voldemort a recuperar seu corpo. Por enquanto você estudará aqui e aprenderá um pouco de magia bruxa, creio que isto seja essencial para você saber o que enfrentará e como se defender, além de que será uma ótima oportunidade para que conheça outros jovens de sua idade. –Dumbledore fala de modo gentil, mas que deixa claro que não aceitaria um não da parte de Harry.

-Certo, mas eu não trouxe nem mesmo uma muda de roupa, achei que íamos apenas fazer planos para daqui algum tempo. –Harry fala hesitante.

-Não se preocupe com isto, teus pais deixaram uma boa quantia de herança e com ela poderá financiar suas roupas e estudos. Agora, o que acha de irmos para o salão principal, os outros alunos já devem ter chegado e estão aguardando a seleção e o jantar.

-Seleção? Mas eu não creio que esteja com roupas muito apropriadas para a ocasião, pelo menos foi o que o homem que me trouxe aqui disse. –Harry fala olhando suas vestes, que para os elfos, simbolizavam alguém de ascendência nobre e eram de caráter muito formal. Consistia em uma calça e camisa azuis claras como o céu de verão e tecido fino e brilhante, o sobretudo ia um pouco abaixo dos joelhos e era feito de tecido mais grosso e opaco, o azul era mais escuro como o oceano, havia adornos bordados com ouro e por cima desta peça havia um cinto de couro de dragão, cuja fivela era de prata e ornada com diversas pedras preciosas, no cinto pendia uma bainha também de couro de dragão, a qual portava uma espada de cabo feito em ouro branco, gravado com uma série de desenhos e runas élficas.

-ArgusFilch é nosso zelador, ele deve ter achado que era um aluno e como não estava de uniforme disse-lhe que a veste não era adequada, no entanto, no seu caso eu diria que a veste é perfeita e muito bela. –a afirmação do diretor foi apoiada pela professora, que também se levantava para ir ao salão principal.

-Neste caso, tudo bem. –Harry concorda com a partida e sai logo atrás dos mais velhos. No caminho houve uma explicação detalhada de Minerva sobre o que é a seleção e fica admirado em saber que seus pais eram grifinórios, a casa da professora.

Assim que passaram por uma porta, Harry se viu atrás de uma grande mesa, que estava de frente para mais quatro, estas cheias de alunos, cada uma simbolizando uma casa. A sala comunal dos Gryfindor que era uma divisão acolhedora e redonda, cheia de confortáveis cadeirões de braços. E numa das paredes uma agradável lareira.

-Obrigado por ter feito a seleção este ano, Severo. –Dumbledore agradece ao professor que estava à frente de um banquinho, no qual jazia um chapéu. Severo Snape era magro e possuía cabelos negros que alcançavam seus ombros, uma pele pálida e oleosa. Seu nariz era em forma de um gancho e os olhos negros eram intimidadores. Ele se sentou logo após fazer um gesto com a cabeça. Dumbledore ao vê-lo se sentar continuou a falar. –Hoje haverá um acontecimento raro em Hogwarts, um aluno, que fora convidado a se unir a nós uns anos atrás, irá finalmente ingressar na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts e será selecionado para o quinto ano. Caros alunos e professores, quero que recebam Harry Potter. –este anúncio fez todos olharem mais atentamente para o rapaz, que até então não havia sido notado, logo vários murmúrios se espalharam pelas mesas e os olhos estavam focados nele, que caminhava até o banquinho e pegava o chapéu para por na cabeça, deixando o banco de lado já que este era pequeno demais para ele sentar.

“Hum... vejo que possuí diversas qualidades, é sempre mais difícil selecionar jovens com sua idade, cheio de ímpetos da juventude e já com indícios de maturidade.” –o chapéu fala na mente de Harry, que se sentia muito desconfortável com aquela situação.

“Diga-me o que cada casa exige e lhe ajudarei na decisão.” –Harry fala em pensamento, querendo acabar logo com aquilo.

“A Sonserina é a casa dos astutos, aqueles que querem poder e respeito; A Corvinal é a casa dos que possuem sede de saber; A Lufa-lufa é a casa dos que tem bom coração e gostam de ajudar o próximo; A Grifinória é a casa dos corajosos que buscam grandes feitos. Como pode ver, se enquadraria muito bem em mais de uma delas por seus sentimentos, por isso preciso que me dê acesso a sua mente para que possa fazer a escolha mais sabia.” –o chapéu responde pensativo, tentando entrar um pouco mais na mente do jovem.

“Não precisa ter trabalho, sou corajoso e meu destino é cumprir grandes feitos, portanto anuncie a Grifinória.” –Harry fala confiante, em sua mente a voz da professora ecoava dizendo que seus pais haviam pertencido a nobre casa dos leões.

“Não pode me dar ordens ou fazer as escolhas por mim!” –o chapéu retruca desgostoso.

“Pois o destino é meu e não vejo o porquê não escolhê-lo. Quero ser um grifinório.” –Harry responde firme em sua decisão, não iria abrir mão de conhecer o mundo de seus pais.

“Com uma atitude destas e toda a energia que sinto, o mandarei para a Sonseri...”

“Fale isto e não falará mais nada! A menos que não tema uma lâmina afiada de uma espada élfica.” –Harry o interrompe e o ameaça sem a menor a culpa, levando a mão até a empunhadura da arma para mostrar ao chapéu que falava sério.

-Grifinória! –o chapéu seletor anuncia e a mesa vermelha e dourada irrompe em palmas entusiasmadas. Harry, assim como um belo homem de cabelos negros e olhos azuis sorriam vitoriosos e, até mesmo, Minerva sorria discretamente pelo anúncio.

Um pouco envergonhado, Harry começou a andar na direção da mesa, sem saber ao certo onde se sentar, até que um ruivo um pouco sardento e aparentando ter sua idade o chamou, havia mais dois rapazes junto com ele fazendo sinal, então se encaminhou para lá e se sentou de frente para o ruivo e de costas para a mesa da Corvinal.

-Meu nome é Ronald Weasley, mas pode me chamar de Rony. –o ruivo se apresenta sorrindo, enquanto vários pratos de comidas variadas apareciam na mesa. –A sua direita está Simas Finningan, à esquerda Dino Tomas e a minha direita Neville Longboton. Somos os rapazes do quinto ano. –terminada as apresentações, Harry cumprimentou a todos, enquanto os via encher os pratos com as diversas iguarias.

-Porque você demorou tanto a vir para Hogwarts? E que roupas são essas? –Simas pergunta curioso, enquanto Harry pega um pouco de salada e se serve de suco.

-Essas roupas são vestes nobres para os elfos. Eu fui criado pelos Ezelohar, um povo élfico. –completa ao ver a expressão surpresa dos rapazes. –Por isso não quis vir antes, eu queria esperar meu treinamento básico terminar. Mas agora estou aqui e creio ficar um bom tempo. –Harry explica tomando cuidado para não falar nada sobre Voldemort ou a profecia, havia ficado claro que aquilo era um segredo.

-Então você estava com elfos! Eles são realmente tão bonitos quanto dizem? –Neville pergunta até esquecendo a comida.

-Eu não sei o que dizem, é minha primeira vez entre humanos. Mas certamente os elfos são os seres mais belos que já vi. –Harry fala um pouco sem-jeito, tomando um gole de suco para não olhar a expressão dos rapazes.

-Ei, pega um pouco desse frango, está uma delícia! –Dino fala tentando ser simpático e pega um pedaço para oferecer a Harry.

-Não, obrigado. Eu não como carne. –Harry recusa gentilmente e aquilo chama a atenção de todos a sua volta.

-Como assim não come carne? –Rony pergunta olhando para Harry, que teve a desagradável visão da comida sendo mastigada pelo ruivo.

-Eu não gosto da idéia de me alimentar do que fora um ser vivo, mas é algo difícil de explicar. –Harry responde com calma, já o haviam alertado sobre esse costume dos humanos.

-Bom, você não sabe o que está perdendo, é muito bom! –Rony fala com a boca cheia, fazendo Harry rir ao imaginar a bronca que Hanya daria ao ruivo caso o visse.

-Por que riu, não acredita? –Simas pergunta a Harry que faz um gesto negativo.

-Não é isso, apenas imaginei algo engraçado... –Harry interrompe a explicação ao ver um fantasma aparecer na mesa a sua frente.

-Olá, meu nome é Nick-quase-sem-cabeça! Sou o fantasma da Grifinória. –o fantasma se apresenta e como reverência descola quase totalmente sua cabeça de seu corpo e depois a coloca no lugar novamente, fato que explica o nome do fantasma.

-Muito prazer... é a primeira vez que vejo um fantasma. –Harry comenta sorrindo encantado, estava realmente adorando a visita ao novo mundo.

Passou o jantar conversando com os novos amigos, que lhe falaram sobre a escola, descobrindo que só gostavam de um professor chamado Sírius Black e que dava aula de DCAT. Mas o assunto principal e mais emocionante foi sobre um esporte chamado Quadribol, onde eles voavam em vassouras, objeto que teve de ser descrito para Harry, eram divididos em dois times e as funções variavam de acordo com a bola com a qual jogavam, eram ao todo três, Goles, Balaço e Pomo-de-ouro. Depois do jantar Dumbledore fez um aviso, ao qual Harry não conseguiu prestar muita atenção pelas brincadeiras de Rony, o mais divertido dos quatro. Assim que chegaram à torre da Grifinória, subiram alguns degraus até chegarem ao quarto que os cinco dividiriam, nele havia cinco camas de dossel com cortinas vermelhas, aparentemente as cores da Grifinória decoravam todo o lugar daquela torre.

-Hei, agora que reparei, você tem uma espada! –Simas exclama admirado e os demais se aproximam para ver a bainha que Harry segurava, havia retirado o cinto.

-Sim, é um presente de um dos elfos que me criou, Martano. –Harry fala enquanto desembainha a espada, deixando que a cor cristalina da lâmina ofuscasse a visão dos amigos, ela parecia feita de diamante.

-Uau! De que material ela é feita? –Rony pergunta boquiaberto.

-É uma liga de cristal e uma jóia élfica, também é forjada com uma poção especial e magia de elfos. –Harry fala em tom professoral, havia acompanhado cada etapa da forja daquela espada. –No entanto eu nunca a usei, por isso, somente quando for empregada em uma luta de verdade, ela ganhará sua verdadeira forma.

-Nossa! Isso é demais! –Dino fala olhando com reverência o objeto mágico.

-Nos conte mais sobre os elfos e o lugar onde morava! –Rony pede e todos se unem em torno de Harry, que adorava contar suas pequenas aventuras ao lado de Ethyar.

A noite foi longa para os cinco rapazes, todos fascinados com o mundo de onde Harry viera. Harry também se mostrava muito intrigado com a diferença de costumes e até com o jeito de falar dos outros, muito menos formal que o que usava. A madrugada já estava perto do fim quando o cansaço os venceu e os fez deixarem as outras histórias para o dia seguinte, o qual felizmente era um domingo e não haveria aula.


N/A: Oi, aqui é a Lílian. Desta vez atualizamos rápido, mas o próximo cap talvez demore um pouco mais.

N/A²: O que acharam do retorno a Hogwarts? Gostaram da conversa com o chapéu seletor? Gostaram da apresentação do Rony? Agora o mais importante, quem foi o inimigo sacrificado e quem estava ajudando Rabicho?

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