Desilusão

-Eu não aguento mais, preciso descansar! –Hermione exclama se deixando cair no sofá, parecia exausta.

-Mal treinou uma hora e já cansou? –Harry fala em tom divertido se sentando a frente dela.

-O tipo de magia que você usa é muito avançado, além de exigir muita energia e concentração. –Hermione tenta explicar, o cansaço evidente em sua face.

-Já eu acho o que vocês fazem muito complicado. Usar um objeto para fazer magia além de estranho é complexo. –Harry fala observando sua varinha, antes de deixá-la na mesa a seu lado.

-Mas quando você se acostumar com ela, estará no mesmo nível de um aluno do sétimo ano. Os feitiços que me mostrou essa noite são incríveis! –Hermione fala empolgada, o que lhe faz abrir um grande sorriso, já faziam dois meses que treinavam e ela ficara impressionada com o talento de Harry.

-Eu vou me esforçar para melhorar logo. –Harry se prontifica sem conseguir desviar os olhos do sorriso dela.

-Mas amanhã continuamos, hoje eu estou morta! –Hermione fala já se levantando e ele a acompanha. –Amanhã como é sábado nos encontramos à tarde, ok?

-Claro! Eu combinei de jogar quadribol com Sírius depois do almoço, mas não deve durar mais que duas horas. –Harry comenta pensativo.

-Então eu te encontro no campo de quadribol às duas, assim podemos treinar por lá mesmo. –Harry apenas concorda. –Então, boa noite, Harry! –fala sustentando aquele sorriso luminoso que ele tanto apreciava.

-Boa noite, Anarinya. –a resposta dele sai como um sussurro, quase um pensamento perdido.

-Quem é Anarinya? Alguma amiga de Almaren?–Hermione pergunta curiosa, mas com um sorriso maroto que o deixa completamente sem jeito.

-Não, não é ninguém. –Harry fala sem jeito, as palavras saindo um pouco atropeladas.

-Ninguém? –Hermione pergunta erguendo uma sobrancelha, o que Harry sabia significar que ela não se daria por satisfeita até ter uma boa resposta.

-É, essa palavra não é um nome, é mais um jeito de chamar alguém... como quando me chamam de o menino que sobreviveu. –Harry tenta explicar, mas sem saber como.

-Então é como um apelido? –Hermione arrisca e Harry sorri aliviado.

-Isso! Era essa a palavra que eu não estava lembrando. –fala mais tranquilo, ela parecia ter entendido.

-E o que significa? –Hermione pergunta curiosa, quase se esquecendo do cansaço.

-Saberá quando estiver pronta para aceitar o significado. –Harry fala em um tom quase solene, como às vezes fazia.

-Sempre fala assim, quando quer esconder alguma verdade inconveniente ou omitir algo. –Hermione fala o observando analiticamente. Os braços cruzados e um dos pés batendo no chão.

-É o jeito élfico de falar, então às vezes me deixo levar pelo costume. –fala com simplicidade, não cederia à intimidação dela.

-Só espero que não signifique algo ruim, senão vou te mostrar umas azarações que você não terá como desfazer nem com magia élfica. –Harry não consegue suprimir o riso ao vê-la ameaçá-lo de forma tão displicente.

-Não se preocupe, eu jamais te ofenderia. Anarinya é apenas uma palavra que me vem à mente quando penso em você. –Hermione cora ao ouvir o comentário tão sincero.

-Então, já que vai me chamar assim, acho que devo te chamar de algo também. Você tinha algum apelido entre os elfos? –pergunta curiosa.

-De certa forma sim. Ninguém me chamava de Harry em Almaren, só me chamavam de Haryon.

-E o que significa? Ou você vai me enrolar de novo?

-Significa príncipe herdeiro. É porque eles me tinham como o herdeiro dos Istari e também era um jeito carinhoso das elfas que me criaram me chamarem. –ele fala corando um pouco e ao sentir Hermione se aproximar, sente as pernas fraquejarem.

-Boa noite, Haryon. –fala se aproximando e dando um beijo no rosto dele antes de se afastar na direção do dormitório feminino. –Amanhã você me explica quem são os Istari, seus súditos. –ela fala em tom divertido, já desaparecendo na sombra da noite.

Harry, que ficara paralisado a observando subir, acorda do transe e segue para seu dormitório ainda se sentindo entorpecido.
Puxou o dossel e deitou-se com as mãos cruzadas por debaixo da nuca. Deixou-se estar ali estendido, com o olhar fixo no nada, sem se mexer. Esboçou um recatado sorriso nos lábios ao pensar na conversa que tivera anteriormente com Hermione. Em momento algum se repreendeu pelo facto de se ter deixado levar e a chamar de Anarinya. Por mais que estivesse receoso pelo deslize que cometera, sentia-se feliz por poder compartilhar daquela intimidade com a amiga. E ela havia aceitado o apelido o que o deixava bastante feliz. Estava gostando dessa proximidade, das horas que ficava conversando e rindo com ela, da sua inteligência e amabilidade, entendida de muitas coisas...
Harry balanceou a cabeça e resolveu que o melhor seria tentar limpar a mente daqueles pensamentos e dormir.

A única luz que iluminava o dormitório provinha da janela. Um ténue, porém cintilante fio de luar clareava a cama onde Harry dormia. O moreno revirou-se incomodado na cama. O rosto era marcado por expressões vagas e indefinidas, os cabelos negros grudavam-lhe na testa devido ao suor. A respiração estava levemente acelerada por causa do sonho que estava tendo.

No sonho, Harry caminhava por um longo corredor e apesar da iluminação suave dos archotes, a escuridão assoberbava o local não facultando a visão. Depois de caminhar por um longo corredor que desembocou numa grande sala circular. As velas que libertavam tremeluzentes chamas azuis possibilitavam enxergar portas colocadas nas paredes negras em espaços regulares. Enquanto analisava atentamente as portas da mesma cor e que não apresentavam nenhuma indicação ou maçaneta. Harry ouviu uma grande oscilação e as velas começaram a balançar de um lado para o outro.

Segundos após a sala ter rodopiado constantemente, as chamas azuis desfocaram-se ao ponto de se assemelharem a luzes de néon, a oscilação cessou e tudo ficou tão imóvel quanto antes.

A alumiação melhorada aliviou o moreno, que agora era capaz de identificar as portas e no total contou doze. Havia doze portas à sua volta.
Harry hesitou antes de se colocar diante da porta à sua frente, colocou uma mão na superfície lisa enquanto a outra empunhava a varinha com força, pronto para qualquer sobressalto que estivesse do outro lado. Empurrou-a e ela abriu com facilidade. A claridade mais precisa nesta sala fez com que Harry desse um passo em vanguarda para a comprida sala rectangular. No tecto, havia candeeiros presos que facilitavam avistar que a sala não era inteiramente vazia. Havia algumas secretárias e no centro, um desmedido reservatório que continha algo.
Harry aproximou-se e viu alguns objectos branco-pérolas flutuando a cadência do líquido esverdeado. Emitia um brilho delicado e em simultanêo arrepiante.

Não conseguindo reconhecer o que estava flutuando, Harry regressou a sala circular. A pouca luz das chamas fizeram-no voltar a etapa inicial. A respiração tornou-se descompassada a medida que o seu cérebro projectava imagens desconexadamente. O frio e sinistro rosto de Voldemort aparecia em todas elas. Dando gargalhadas ou simplesmente fixando os olhos vermelhos em forma de fendas pesados de maldade enquanto esperava pacientemente algo acontecer. Fincava a sua concentração em Harry. Delineou nos lábios finos um sorriso perverso e puxou o ar lentamente através das narinas mostrando o quanto se sentia bem por estar vivo.

Harry não pôde definir ao certo o que era, contudo, isso transmitia-lhe uma sensação de que o que quer que fosse devia ser perigoso. Estaria em perigo?

Harry percorreu os escuros e frios corredores do ministério, avançava em passos firmes e apressados, correndo algumas vezes, sem ao menos saber por onde estava se dirigindo. A única coisa que interessava era encontrar alguma pista que o levasse a algo que denunciasse a presença física do ser que não abandonava sua mente. Com a iluminação dos archotes, Harry avistou uma porta negra ao fundo. Caminhou a correr os derradeiros metros que o separavam dela. Agora não estava mais preocupado com o barulho que estava fazendo, abriu a porta de rompante. Observou o ambiente iluminado por velas colocadas em castiçais entre as estantes. Encontrava-se numa sala imensa, do tamanho de um catedral cheia de altíssimas prateleiras e globos de vidros de diversos tamanhos cobertos de pó.

O coração batia rapidamente... começou a caminhar vagarosamente entre os corredores olhando por de relance para trás.
Olhava curiosamente para os números presos nas prateleiras e as etiquetas amareladas com os nomes que identificavam cada globo.
Harry reparou que alguns emanavam um brilho etéreo e estranho e outros eram tão opacos e escuros como lâmpadas fundidas. A sala estava emudecida, sem um menor sinal de movimento caso Voldemort estivesse em algum canto o observando.

Passou por diversas prateleiras e por fim chegou à fila noventa e sete que ficava no fundo. Andou mais um pouco e permaneceu parado, pensado qual seria a função daqueles globos e o motivo pelo qual se encontrava lá. De frente para a prateleira, vislumbrou um globo que emitia um brilho baço, era um dos poucos que exalava alguma luz, apesar de estar coberto por uma espessa camada de pó. Tal como os outros, parecia que não fora tocado há anos. Harry esticou o pescoço e avistou o seu nome numa etiqueta estampada mesmo por baixo do globo de vidro. Atônito, Harry colocou as mãos a volta da frágil superfície poeirenta e fez menção de retirar a esfera da prateleira para melhor contemplar.
De repente, a sala ficou escura. Harry olhou em redor e quando alguma claridade fez-se notar, encontrava-se novamente na sala circular, ao contrário da sala dos globos, esta se encontrava ressonantemente vazia.
As chamas azuladas apagaram-se e a sala começou a girar novamente a toda a velocidade. Harry sentiu o chão cor de azeviche fugir debaixo de seus pés, o corpo contraiu e sentiu-se sugado para fora do sonho.

O moreno acordou convulsivo. Olhou em redor e nada. O dormitório estava mudo. O restante grifinórios continuavam dormindo tranquilos. Levou a mão esquerda a testa, onde a cicatriz ardia. A sensação de perigo fora embrulhada e substituída por ansiedade e preocupação.
Levantou-se da cama e andou até a janela onde uma fresca brisa divagou pelo seu peito desnudo. A respiração abrandara. Por breves instantes, Harry teve a impressão de que sua mente não fora apenas absorvida pelo sonho, sentia a presença de Voldemort. Ele entrara no sonho. Isso seria possível? E esteve lá com ele, observando o mesmo que ele. Quando os seus pensamentos voltaram ao lugar, decidiu que o melhor era não vacilar e deixar para o dia seguinte a conversa que queria ter naquele preciso momento com Sirius.

**
No dia seguinte pela manhã, Harry acordara um pouco mais tarde e fora tomar café da manhã, encontrando-se com os meninos, que o convidaram para um joguinho de quadribol amistoso depois de comerem. Harry aceitou de pronto o convite e fora pegar sua Firebolt, adorara o jogo bruxo que o permitia voar e competir ao mesmo tempo.

Rony ficara como goleiro, Harry e Neville como jogadores de uma equipe e Dino e Simas como jogadores da outra equipe. O jogo de início fora desastroso, Neville não conseguia voar e segurar a goles ao mesmo tempo, então Harry pediu um intervalo e conversou com o amigo, tentando injetar um pouco de ânimo nele e cultivar o espírito de equipe. Duas horas depois Harry e Neville conseguiam trocar passes e davam trabalho a Dino e Simas. Harry voava muito bem, atrapalhando as trocas de passes entre os adversários e interceptando os lances, o que fez Rony ficar ocioso a maior parte do tempo e engolir uns gols fáceis.

Quando pararam para descansar, os garotos logo começaram a falar para Harry sobre Hogsmeade e as coisas que costumavam fazer na cidade. A visita ao povoado seria na semana seguinte e os rapazes estavam muito empolgados, o que deixou Harry muito curioso e ansioso para ir também visitar a cidade, pela qual tinha passado rapidamente no dia em que chegara a Hogwarts.

-Mas e aí, Harry, quem você vai chamar para ir com você a Hogsmeade? –Simas pergunta com um tom levemente malicioso, o qual Harry já aprendera a identificar.

-Eu pretendia ir com vocês, quer dizer, achei que iam me mostrar as coisas de que falaram. –Harry disfarça se sentindo desconfortável.

-Ah, qual é, Harry! –Dino exclama incrédulo e reprovador. –Desde que você apareceu seminu no salão principal que as garotas ficaram loucas por você!

-Até minha irmã está interessada, outro dia me encheu de perguntas. –Rony fala meio aborrecido.

-Sua irmã? –Harry pergunta surpreso.

-É, a Gina, uma ruiva do ano anterior ao nosso. –Harry acena que sabe quem é. –Mas não vai sair com ela não é? Quer dizer, um bom amigo não sai com a irmã dos amigos. –Rony fala de modo protetor e encarando Harry seriamente.

-Não, não se preocupe. –Harry fala se segurando para não rir da expressão de alívio de Rony.

-Então quem vai ser a escolhida? –Simas pergunta curioso.

-Eu não sei se vou convidar alguém, quer dizer, acho que seria legal ir com vocês. –Harry fala um pouco constrangido.

-Você não está interessado em nenhuma garota? –Neville, que parecia meio alheio a conversa, pergunta com uma expressão estranha, que acabou se refletindo no rosto dos amigos.

- Não, quer dizer, tem uma garota em quem eu tenho pensado muito nos últimos tempos... –Harry começa incerto.

-Ufa! Cara, você nos assustou! –Dino exclama parecendo mais calmo.

-Assustei por quê? –Harry pergunta sem entender.

-É que você não parece se sentir bem com o assédio das meninas, também vive falando daquele seu amigo elfo... –Simas fala meio sem jeito até ser interrompido por Rony.

-Deixem de falar besteira. –Rony repreende os amigos e depois se volta para Harry. –Quem é a felizarda? –havia um tom de curiosidade mesclado a outro de determinação que Harry não gostou muito.

-Eu prefiro não dizer, não sem antes conversar com ela. –Harry fala se deixando corar só em pensar na situação em que se encontraria.

-Tudo bem, mas é melhor falar logo, porque os dias de visitas são perfeitos para encontros e a essa altura todos estão a procura de um par. –Rony o aconselha e Harry assente ficando um pouco preocupado.

**
Harry voltou para o castelo apressado e dirigiu-se a sala de DCAT, onde Sirius provavelmente estaria.
Assim que chegou, empurrou as portas semi-abertas e encontrou o padrinho atarefado com os livros espalhados a sua frente.

_Oi! Bem... senão me engano acho que já teve aula de manhã. – Sirius cumprimentou irônico.

_Eu sei. Vim porque preciso falar uma coisa com você.

_Hum... e sobre o que é? -perguntou carregando um dos livros e subindo uns degraus até a porta que havia na parte superior da sala.

_Bem... – Harry começou sem saber como abordar o assunto com ele. – Er… como você faria para convidar uma garota para algo? - questionou sem jeito.

Sirius não conteve as gargalhadas e aproximou-se do afilhado colocando uma mão em seu ombro.

_Você quer convidar quem? - perguntou como quem não queria.

_É uma garota aí. Mas, me diga, no meu lugar como a convidaria?

_Bem... depende da garota. Mas eu costumava perguntar normalmente.

_Como assim, normalmente? Chegar lá e ir directo ao assunto?

_Sim, quer dizer, mais ou menos, como falei depende da garota. Você tanto pode começar por uma cantada, sabe elogios e tal e só depois fazer o convite. Você também não pode dispensar uma dose certa de gentileza. E não sorria muito, algumas delas por vezes não gostam e você pode não conseguir passar a imagem que quer. Chega confiante e não hesita em dizer o que tem a dizer. Siga as minhas instruções e verá que ela aceitará na hora, também se não aceitar será de estranhar. – falou Sirius em tom profissional.

_Por quê?

_Ora... porque está seguindo os conselhos de Sirius Black. Elas adoravam-me, aliais, adoram-me.

_Sei... Então é só isso?

_Sim. Basicamente é só.

_Ok. -murmurou pensativo.

_Essa garota deve ser muito importante para você ter passado a noite em claro a pensar em como falar com ela.

_Não, eu não vim aqui só para falar dela. Há outro assunto que me trouxe aqui. - começa e Sirius indicou-lhe uma cadeira para ele se sentar. – Tive outro pesadelo.

_E sobre o quê? Voldemort? - disse o único nome que veio na cabeça na altura.

_Não… ele não estava lá, pelo menos fisicamente, mas consegui sentir a presença dele, como se estivesse vendo o mesmo que eu.

_Conseguiu identificar onde estava?

_Não. Estava escuro e era um local frio constituído por diversos corredores e salas grandes.

_Aconteceu algo de anormal lá?

_Não, estava muito silencioso, não havia movimento. Mas depois de muito andar, dei com uma sala diferente. Era enorme, havia prateleiras até ao tecto e nessas prateleiras havia imensos globos de vidros com etiquetas a identificar o dono de cada globo. - a medida que Harry despejava a descrição do sonho, Sirius andava impaciente de um lado para o outro parecendo inquietado.

_Encontrou o globo com o seu nome? - parou e perguntou interessado.

_Sim, mas quando ia levantar o globo, as luzes apagaram-se e repentinamente voltei a sala inicial e acordei com a dor da cicatriz.

_Hum... a sala das profecias... só pode ser. – Sirius murmurou para si.

_A sala das profecias? Aqueles globos eram profecias?

_Eram Harry. O sonho que você teve ocorreu no ministério. Mas o que me preocupa agora é Voldemort. Ele teve acesso a sua mente ontem.

_Teve acesso, a tudo? –perguntou confuso.

_Nem por isso, mas acredita, ninguém gostaria de ter outra pessoa conhecedor de quase todos os seus pensamentos. Se voce permitir, Voldemort pode te fazer ver imagens de situações que não existem e assim te enganar. Igualmente pode rever todas as suas recordações e advinhar sempre o que vai aí dentro.
Eu tenho de ir falar com Dumbledore. Falamos mais tarde. –disse
encaminhando-se a passos largos até a saída.

Sirius seguiu o corredor do segundo andar e ao encontrar o objectivo final, murmurou a senha junto a gárgula e esta ganhou vida abrindo a passagem.
Bateu a porta de carvalho e pouco depois ouviu uma voz mandando-o entrar.

_Dumbledore... estou interrompendo? - perguntou após fechar a porta.

_Não. – Dumbledore levantou a cabeça e sorriu. Mandou-o acomodar-se na cadeira vazia a frente de sua secretária. _Parece-me que algo te está afligindo, estou certo?

_Sim, estive com Harry a momentos atrás e... ele contou-me outro sonho que teve.

_E o que aconteceu exactamente?

_Ele contou que estava numa sala espaçosa, com estantes que continham diversos globos de vidro, segundo estas descrições ele só pode ter estado na Sala das Profecias, no ministério. – Sirius conclui.

_E que mais?

_Também parece que sentiu a presença de Voldemort lá, mesmo não tendo visto ninguém.

_Ele ouviu a profecia?

_Não, isso não chegou a acontecer. - o professor respondeu absorto.

_Harry libertou ontem a mente para que Voldemort pudesse penetrar nela sem que ele se apercebesse. Creio que como professor devias dar mais a informar Harry sobre Oclumência e Legilimência.

_Claro, me encarregarei disso. Esta profecia está me inquietando. – desafogou Sirius por fim.

_Está inquietando a todos nós, mesmo que a situação não esteja ainda tão generalizada. Não se consegue distinguir entre o que irá acontecer e o que poderá acontecer. E quanto a Harry, não se preocupe.- o director disse no seu tom calmo.

_Como posso não me preocupar? Muitos verão o regresso de Harry ao mundo bruxo apenas como forma de combater Voldemort.

_Eu sei e igualmente sei que muitos esperam ver um herói vigoroso, um homem de espírito indomável.

_Um homem... -Sirius murmurou para si. – Ele ainda é um adolescente.

_Não para Voldemort. Não o julgues por tão pouco Sirius. Mas por agora concentremo-nos em tudo o que é positivo. Harry tem uma alma honesta e uma coragem que lhe é característico. Ele sabe do papel relevante que tem na profecia e contudo está orgulhoso ao saber que se envolverá por um bem maior, mesmo não sabendo até a que ponto, mesmo desconhecendo até a que ponto Voldemort pode ser um inimigo desumano ou até onde vai a sua sede insaciável de conquista.

_Depende tanta coisa dele. Isso assusta-me. Essa profecia servirá de motivo para o sobrecarregar ainda mais.

_Pois a mim, já não me assusta. – o director afirmou com uma expressão enigmática.

_Não? Porque não?

_Essa é uma pergunta que merece uma resposta melhor do que aquela a que te darei. Podia te contar tudo o que penso acerca desta profecia e isso seria apenas uma fracção do que há realmente para dizer. – Dumbledore esboçou um sorriso pesaroso. – Eu confio no Harry e nos ensinamentos que recebeu junto aos elfos e aposto firmemente na continuação desse desenvolvimento. E tudo isso contribuiu para que a linha de descendência de Harry seja forte e genuíno, uma linhagem de guerreiros. E tanto você, como eu sabemos que um guerreiro notável não nasce de um dia para o outro. Não te preocupes, apesar de nunca ter estado numa, Harry está ciente que uma guerra, seja qual for, é sempre terrível.

_E a guerra que a profecia prevê será singularmente bárbaro.
Houve segundos em que o gabinete esteve debaixo de um silêncio perturbador com excepção de Fawkes que chiava dentro de sua gaiola. O director levantou-se sendo acompanhado pelo olhar curioso de Sirius.

_Eu vou ao ministério. Tentarei mais uma vez chamar Fudge a razão.

_Dumbledore, Fudge deixou claro da última vez que não estava minimamente interessado no que pode vir a acontecer. Ele afirmou que o problema não era dele e tão pouco pretende que venha a ser.

_Nesse caso, eu mesmo informarei a imprensa. - Dumbledore disse por último.

**
Como combinado, Hermione encontrara Harry no início da tarde. Ele se despedia de Sírius, que passara por ela com um sorriso simpático, apesar de parecer preocupado e apressado.

-Está tudo bem? –Hermione pergunta ao se aproximar de Harry.

-Sim e com você? –Harry pergunta nervosamente, os conselhos dos amigos deixando-o sem saber o que dizer.

-Tudo ótimo. Vamos treinar? –Hermione parecia animada e bem disposta, então Harry resolveu deixar para falar do passeio depois do treino.

-Como começamos? –Harry pergunta e Hermione fica pensativa por uns instantes.

-Que tal eu contra você, ambos com varinha? Depois você me ensina sua magia. –Hermione sugere e Harry concorda.

Os dois se colocam frente a frente, separados por alguns metros de distância, encaram-se com um sorriso desafiador enquanto posicionam suas varinhas apontando para o peito do outro. Harry estava mais seguro quanto ao manejo do objeto e planejava impressioná-la um pouco.

Sem aviso, Hermione atacou e sem dificuldade Harry rebateu o raio verde com um movimento semicircular, que se seguiu a um chicoteado, que produziu uma espécie de raio azul esverdeado, do qual Hermione desviou com um movimento ágil de seu tronco, conseguindo assim atacar rapidamente. A troca de feitiços se intensificou e o gramado ao redor dos dois já sofria os efeitos do duelo.

De repente Hermione conseguiu enganá-lo pronunciando um feitiço e lançando outro, que atravessou o feitiço escudo que Harry havia montado e o atingira no ombro esquerdo, provocando um corte e um gemido de dor no rapaz, que ao invés de fraquejar, ignorou a dor e lançou um forte feitiço estuporante. Hermione fora pega de surpresa, a distância entre eles era pequena, então plantou o esquerdo no chão e bateu o direito a frente, logo depois o movendo em um semicírculo, o que fez uma grande quantidade de terra se levantar e bloquear o feitiço, espalhando areia para todos os lados.

-Hei! Não vale usar magia sem varinha! –Harry protesta enquanto verificava o corte no ombro.

-Eu não me lembro dessa regra. –Hermione retruca em tom inocente, sua respiração começava a ficar irregular.

-Nesse caso é melhor soltar seu graveto de madeira! –Harry fala com um sorriso de canto e já movendo sua varinha incessantemente.

Hermione largou a varinha e bateu as mãos fortemente, os braços seu unindo com perfeição, o que formou uma barreira de ar que desviou o primeiro feitiço. A seguir a morena saltou para trás caindo com pé direito no chão e girando rapidamente em torno de si, a ponta do pé esquerdo desenha um círculo perfeito em volta de si, logo depois ela foi envolvida por uma parede de pedras, que resistiu a diversos feitiços de Harry.

Sorrindo pelo bom desempenho dela, Harry guardou sua varinha e postou os dois pés juntos, depois inspirou fundo e bateu o pé direito no chão, suas mãos moviam-se lateralmente de encontro as outras de um modo síncrono, de forma que ao mesmo tempo em que o ar fora pressionado pelas mãos, o pé tocasse no solo e ele expirasse, o que provocou um tremor de terra direcionado ao escudo de Hermione, rachando-o ao meio. Sem parar o movimento, girou o tronco para a esquerda e o ar que estava entre as mãos rigorosamente distâncias um palmo, se inflamou e ao formar uma bola de chamas foi atirado com precisão na direção da garota.

Passaram apenas trinta segundos entre ele guardar a varinha e ver a adversária voar entre um amontoado de pedregulhos, caindo no chão dois metros depois. Andou calmamente até o local, parando apenas para apanhar a varinha de Hermione, que se sentava parecendo um pouco tonta.

-Está bem? –Harry pergunta de modo gentil, enquanto devolvia a varinha a ela.

-Sim. Aquilo foi incrível. –ela fala ofegante, provavelmente fizera um esforço muito grande para manter o escudo.

-Você me surpreendeu, está indo muito bem na dominação de terra. –Harry a elogia orgulhoso, ela aprendia bem rápido.

-Um pouco, mas quero me dedicar mais a água e o ar! –Hermione completa com entusiasmo, apesar da clara falta de ar para parecer empolgada com algo.

-Amanhã treinaremos perto do lago então. Por hoje acho que já basta não é? –ele fala não por ele, mas por ela.

-Certamente! Hoje o dia foi produtivo o suficiente. –Hermione fala se sentando melhor na grama a frente dele. Os cabelos castanhos dançavam com a brisa fria, o rosto estava corado pelo esforço e o sorriso quente transmitia a satisfação que ela sentira com seu desempenho. –Você está bem? - Harry entendera que ela não se referia ao ferimento, que já parara de sangrar. -Tem algo que queira me contar? –Hermione pergunta ao ver que ele havia ficado quieto e a olhava fixamente.

-Hã... er... está tudo bem, não precisa se preocupar. –fala se atrapalhando com as palavras. Estava tão nervoso que se estivesse de pé poderia cair.

-Tem certeza de que não quer me contar nada, Haryon? –a pergunta feita em tom tão doce e ainda finalizada com seu apelido, deu a coragem que ele precisava.

-Eu só estava pensando no fim de semana que vem, no passeio a Hogsmeade. Os rapazes me disseram que é muito divertido, que tem muitas coisas que se pode fazer por lá. –Harry começa tentando achar as palavras certas.

-Sim, todos gostam dos passeios. Até eu. –Hermione fala em tom divertido, mas ainda o olhando de forma a tentar saber o que estava por trás daquilo.

-Então, eu estava pensando que talvez... talvez você quisesse me mostrar como pode ser divertido. –Harry fala com certo esforço para fazer as palavras saírem, sentia sua mão suar frio. Porém o mais estranho foi perceber que ela parecia ter corado com a proposta.

-Estou certa que você se divertirá muito com os rapazes, não precisa se preocupar comigo. Sei que está me convidando para ir porque achou que eu fosse sozinha e ficaria sem ter muito que fazer por lá. –As palavras de Hermione lhe soam completamente incompreensíveis, não tinha idéia de onde ela poderia ter tirado aquela conclusão.

-Não estou te convidando por pena ou coisa assim! Eu quero muito ir com você! –Harry fala sem pensar, mas se arrependendo imediatamente por ter sido tão claro, afinal agora ela saberia de seus sentimentos.

-Eu fico feliz por saber que gosta da minha companhia, apesar de saber que você se diverte bem mais com os rapazes. –Hermione fala de modo doce, enquanto se aproximava o suficiente para segurar a mão dele. –Pode dizer a eles que eu não vou te prender dessa vez, mas quem sabe no próximo passeio. –ela lhe dá um beijo no rosto e depois se afasta com um sorriso.

-Espera. –Harry se levanta e a impede de seguir. –Você deu a entender que vai com alguém a Hogsmeade, é por isso que não quer minha companhia? –Harry pergunta temeroso. As palavras de Rony lhe voltando à mente. “...é melhor falar logo, porque os dias de visitas são perfeitos para encontros e a essa altura todos estão a procura de um par.”

-Não é que eu não queira, podemos nos encontrar na cidade, adoraria te apresentar ao Vítor. –Hermione fala gentilmente, parecendo preocupada em não deixar que houvesse algum mal entendido.

-Vítor? De que ano ele é? –Harry pergunta confuso.

-Ele não estuda aqui. É meu namorado. Ele é jogador de quadribol, apanhador da seleção da Bulgária, foi o campeão do Torneio Tribruxo ano passado, quando nos conhecemos. Ele virá para me ver e acho que você gostará de conhecê-lo, ele pode te dar umas dicas já que você pretende jogar na mesma posição que ele. –Harry fora duramente golpeado, as palavras meu namorado ecoando em sua mente.

-Não sabia que tinha um namorado. –Harry fala sem sentir, as palavras um pouco mais altas que um sussurro.

-Eu não costumo falar muito disso, as pessoas já fizeram muita fofoca sobre isso ano passado. –Hermione fala sem jeito e olhando para baixo, atitude que mostrou que o assunto ainda a incomodava.

-Tudo bem. Esperarei ansioso para conhecê-lo. –Harry, como sempre, falava a verdade, estava ansioso para conhecer aquele que estava no lugar que ele tanto cobiçava, apesar de não saber bem o porquê disso.

-Certo. Eu vou voltar, ainda tenho lição para terminar. Até mais tarde, Haryon. –Hermione se despede com um suave sorriso.

-Até, Anarinya. –ele murmura mais para si enquanto a vê se afastar.

Desde que chegara a Hogwarts, nunca tivera tanta vontade de estar em Almaren como naquele momento. Gostaria de estar entre suas mães, contar-lhes da dor que sentia e pedir que elas o fizessem parar de sentir aquele frio que do peito se espalhava por todo seu corpo.

Pegou sua Firebolt e ganhou os céus sem se dar conta do que fazia. Sua mente apenas evocava lembranças de sua casa, de sua família. Podia imaginar os sábios conselhos de Hanya, o gosto do chá reconfortante de Lótë e a canção que Elanor lhe cantaria para abrandar seu coração. Ainda sem ter consciência do que fazia, começou a entoar a canção élfica e, segundos depois, sentiu uma chuva fina e fria molhar seu rosto em um lamento solidário.




N/A: Oi, aqui é a Lílian, o cap demorou um pouco porque a Bia está com problemas com a internet, mas eis o cap 6, espero que gostem!

N/A²: Bom, antes de mais nada, Igorr o Harry não é fraco, muito pelo contrário, a questão é que uma coisa é você fazer magia sem usar nenhum objeto como condutor, outra coisa é você usar um objeto como intermediário. Claro que é muito mais fácil Harry aprender a usar a varinha do que Hermione aprender a fazer magia sem varinha, justamente porque ele sabe usar e moldar a magia, mas isso vocês verão com o passar dos caps.

N/A³: Tadinho do Harry, 15 anos e teve sua primeira desilusão amorosa! Então para quem achou que seria fácil, enganaram-se, a Mione está comprometida e como puderam ver, Vitor Krum foi o vencedor do Torneio Tribruxo.