Um capítulo muito cafona
Naquele mesmo dia, Gina fez todo o possível, mas não pode nem se aproximar de Draco. Ele foi levado as pressas para a ala hospitalar, seguido por todos os seus colegas de time, algumas meninas e ainda Crabbe e Goyle. Assim sendo, não havia nenhuma chance de aproximação. Tudo que ela podia fazer era voltar para a sala comunal da grifinória e esperar por noticias. "Como se alguém se importasse...". Quem visse Gina sentada numa poltrona afastada de todos, imaginaria que ela estava triste com o resultado do jogo, todos na casa estavam. Mas ela nem estava ligando, seu problema era outro, e ele a acompanhou mesmo quando ela vestiu a camisola e deitou-se na cama. Qual era o problema? A consciência de Gina a estava torturando impiedosamente.
"Eu desejei que ele morresse", grandes olhos castanhos piscavam nervosamente na escuridão, "Eu praticamente lancei uma maldição nele!", ela exagerava tamanha era sua culpa. Estava se sentindo responsável, por ter instigado Draco a apanhar o pomo a qualquer custo, ela sinceramente achava que era culpa sua que o garoto tivesse se arrebentado todo. "Será que ele esta bem?", a essa altura ela já estava sentada na cama roendo as unhas. "Deve estar se sentindo sozinho... Pobrezinho!", ela lamentava. Estava tão preocupada que nem notou que "pobrezinho" era uma palavra que combinava mais com um trasgo do que com Draco. Então ela teve uma idéia. Uma idéia ousada demais. "E se eu for pega? Ah, mas eu preciso saber como ele está... afinal, fui eu quem rogou essa praga mele!". Mas ela tinha medo demais de ser pega! Mas também estava preocupada com o estado de Draco. Em pouco tempo a preocupação e a culpa finalmente superaram o medo, ela pulou da cama, vestiu um robe, calçou uma pantufa e saiu furtivamente rumo a ala hospitalar.
***
Quando ouviu passos se aproximando Draco se assustou, teria levantando de pudesse, mas uma dor aguda nas costas lhe lembrou de que ele devia fica parado. Odiou se sentir aleijado, mas, como não podia fazer nada, tudo que fez foi perguntar irritado.
- Quem esta aí?
Gina sentiu a irritação na voz de Draco e teve ímpetos de dar meia volta. Mas não o fez, agora já estava ali e, pra falar a verdade, estava muito feliz que ele estivesse vivo para ficar irritado. Sem perceber ela sorriu, se ele estava de mau humor é porque não estava tão mal assim.
- Draco... – ela disse hesitante. E se ele a mandasse embora? Nesse caso ela teria certeza de que ele estava curado. Finalmente curado daquela insanidade dos últimos dias. Ela sabia que não estava "curada", se estivesse, não estaria ali.
Ele sentiu seu corpo todo congelar e não teve voz para responder de imediato. O que ela estava fazendo ali? Bem, ele tinha pego o pomo, talvez ela estivesse impressionada. Talvez o achasse mais imbecil ainda. Mas nenhuma dessas razões parecia forte o suficiente para fazer uma grifinória transgredir as normas da escola. Mais do que isso, a presença de Gina naquela enfermaria contrariava todo o bom senso. "Ela foi muito sensata me deixando falando sozinho ontem...", ele pensou com desdém.
- O que você quer aqui? - Draco disse com, rispidez. Não queria que ela pensasse que ele estava gostando da visita.
- Você está bem? - ela aproximou-se timidamente da cama. Draco notou que ela estava muito tensa.
- Se estivesse bem não estaria aqui. - a voz dele soou ácida.
- Ah, Draco! – a voz dela parecia embargada. - Me desculpe!
Ele não entendeu.
- Me desculpe por... - ela se sentiu tímida, mas mesmo assim, sentou-se na beirada da cama - Por aquilo que eu disse, sobre querer que você morresse. Não era verdade...
Ela estava se sentindo culpada? Draco não podia acreditar. Ele tinha consciência de que varias pessoas, especialmente grifinórios, desejavam sua morte diariamente. Muitos até faziam como Gina, e diziam abertamente. Ele nunca se importou. Claro que preferia um fã-clube, mas achava que esse grupo de inimigos correspondia a um tipo de fã-clube mesmo. O que ele nunca imaginou é que alguém pudesse estar falando só da boca pra fora. Ele ficou feliz em saber que Gina era esse "alguém".
- Eu vou viver - ele disse, bem mais amistoso.
- E como você esta? - ela indagou novamente séria.
- Estou quebrado! - ele riu. - Vinte e cinco ossos e três órgãos estãão sendo reparados nesse momento por uma coisa que eu bebi e nem sei do que é feita.
- Você foi tão imprudente ficando na frente do balaço! - ela censurou. Ela quis ficar calada, mas não pode. - E foi corajoso também...
- Obrigado... - Draco procurou todas as vantagens que ele contava sempre que recebia um elogio. Não pôde acreditar que não achou nenhuma. Resolveu mudar de assunto. - Srta. Weasley, você deveria estar na cama. Seria mais apropriado...
- Tecnicamente eu estou na cama, Sr. Malfoy. - ela deu um sorriso esperto. "Malfoy", ela repetiu mentalmente, "Eu tinha esquecido...". E esqueceu novamente, se distraindo com a risada do sonserino.
- Ah, é? - ele disse muito malicioso - Então a minha cama é um lugar apropriado para a Srta? Bom saber...
- Draco! - ela ficou vermelha até as orelhas.
Ele deu uma risada contida, e contraiu os músculos. Gina deduziu que fosse a dor novamente. "Pobrezinho...", suspirou discretamente.
- Quando você sai daqui?
- Amanha de manhã.
- Ah, quem bom! – ela disse sinceramente.
Nenhum dos dois falou mais nada. Gina não tinha mais nada pra dizer, só pensava em como tinha tido coragem de ir até ali. Draco, ao contrario, tinha algo pra perguntar. Ele ponderou se queria mesmo saber a resposta. Claro que queria.
- Porque você veio? – ele disparou.
- Porque eu queria saber se você estava bem, oras! – ela respondeu com simplicidade. Se ela tinha entendido a profundidade da pergunta, tinha fingido muito bem que não.
- Você podia ter perguntado a Madame Pomfrey, mandado uma coruja, sei lá... Mas você veio. Contrariando umas regras da escola, e todas as regras do bom senso, você veio. - gesticulou discretamente, e concluiu incisivo. - Porque?
- Porque... - ela hesitou. Sabia o que ele queria dizer, e sabia resposta. Mas, não tinha admitido para sí mesma, como admitiria para ele? – Porque, eu precisava ver. Precisava ter certeza de que você estava bem...
- Pra ter certeza, podia ter perguntado. – Draco começava a se cansar das evasivas da jovem. Mas considerou rapidamente a hipótese de ela estar sendo sincera. Talvez fosse só isso mesmo, talvez ela estivesse só se sentindo culpada. Ah, não! Ela não parecia sincera. Estava escrito na testa dela que havia algo mais (ele não sabia que isso era uma característica da família Weasley). O louro tinha uma teoria mais interessante e arriscada sobre o que seria esse "algo mais". E pretendia coloca-la à prova. Ele sorriu com o canto do lábio e blefou. - Você esta mentindo, Srta Weasley...
"Não faça isso comigo...", ela implorava mentalmente. "O que ele quer que eu faça?", ela mexeu nos cabelos e inspirou com força, como se faltasse o ar, "Deuses! Isso não devia acontecer!". Ela olhou para a mão alva de Draco sobre o lençol e refletiu. "Gosto dele?". Ela sabia a resposta, há muito tempo já sabia, mas era tão seguro fingir que não! Quando ela voltou a encarar Draco nos olhos, de repente segurança não lhe pareceu muito importante.
- Eu vim porque me preocupo com você! – ela elevou o tom de voz. Draco não deixou de sorrir, mas estava chocado. Não esperava que fosse dar certo. Não queria que desse certo. "Cala a boca, Weasley!", uma voz em pânico gritou na sua cabeça.
- Eu gostei que você veio... – as palavras escaparam da sua boca. Ele quase fez uma careta depois de dizer, mas se conteve. Estava ficando maluco, só podia ser isso. Tinha planejado dizer outra coisa, mas nem se lembrava o que era. Não importava mais.
- Eu também gostei de ter vindo... – ela disse num fiozinho de voz, que diminuiu ainda mais para completar – Eu me preocupo tanto com você... Eu gosto de você...
Draco pôs sua mão sobre a de Gina. Sentiu que ia fazer uma tolice, sabia que ia. Queria fazer. E ele sabia que quando queria fazer alguma coisa, era caso perdido. Por um segundo desejou não ter sido tão mimado.
- Eu gosto de você também. – ele disse tão "confiante" quanto Gina, mas com a voz bem mais firme. – Gosto mais do que devia...
A ruiva achou que ia cair de costas e morrer. Exageros à parte, foi isso mesmo que ela sentiu, como se sua alma tivesse saído do corpo. Ele estava dizendo o que ela achava que ele estava ouvindo? Bom demais pra ser verdade. Ela tinha desejado viver aquela cena por anos, mas o garoto era outro. Harry Potter, claro. Ele sempre fora o garoto dos sonhos, o menino perfeito, o príncipe encantado. Ela sorriu, pensando que preferia Draco como "protagonista" do seu sonho. E ruborizou levemente quando lhe ocorreu que ele ficava muito melhor no papel de príncipe. "Oh deuses, eu gosto mesmo dele, não é?".
- Draco, eu... - ela hesitava demais, gaguejava. - Eu...
- Eu amo você? - ele interrompeu ironizando. Teve que dizer brincando, porque não podia falar serio. Era ridículo! "Eu amo você, Virginia Weasley!", a frase, o significado, a situação. Era tudo estúpido demais! Ele divertiu-se pensando em como Gina sairia dessa.
- É. - ela disse olhando diretamente para os olhos dele. - Eu amo você.
Draco engoliu seco. Aí estava uma reação que ele não esperava. E o modo como ela tinha dito, naquele tom de desafio. Era interessante como ela se pareceu com Rony por um segundo, mas Draco não notou.
- Se eu dissesse "Eu te amo também" você acreditaria? - ele piscou os olhos exageradamente e sorriu, fazendo o que se pode chamar de cara-de-bom-menino. Era uma expressão que lhe caia muito bem, a despeito da sua personalidade nada doce. Mas ele falava sério.
- Depende...- Ela desviou os olhos, e logo voltou a encara-lo com um leve sorriso de insinuação. - Depende do que você fizesse pra provar...
- Ah! - ele fez-se de indignado - Você ia ver só se estivesse mais perto! - sorriu malicioso - Você não ia duvidar!
Ela inclinou-se, apoiando as mãos nas extremidades do travesseiro dele. "Por Merlin! Eu só posso estar possuída! O que eu estou fazendo?! Virgínia Weasley, pare com isso AGORA!", pensou o lado racional do seu cérebro, enquanto o outro lado tratava de certificar-se que ela estava a meio centímetro de Draco.
- Perto o suficiente? - Gina disse enquanto ele afastava os cabelos dela.
- Você devia desejar a minha morte mais vezes... - foi a ultima coisa que ele disse antes de dar a sua "prova". Um longo beijo, diferente dos anteriores. Mais "quente", e infinitamente mais livre. Porque eles não se sentiam mais culpados.
Não muito, pelo menos.
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