Aplausos e Bastidores



Naquela tarde, quando Gina chegou a árvore estava bem mais leve. Sentia-se estranha, como se o fato de ninguém (ou quase ninguém) saber como ela se sentia a deixasse mais forte.

- Fascinante Weasley! – Draco estava em pé, apoiado displicentemente no tronco da árvore. Ele lhe lançou um olhar irônico de admiração.

Sem olhar para o garoto, Gina sentou-se em uma das raízes e apanhou o livro de poções em sua mochila.

- Do que esta falando Malfoy?

- Ora não seja tão modesta! – e completou em falsete – “Vocês formam um belo casal”. Admirável! Artístico!

Vendo a aparente empolgação do garoto (Sim, ela sabia que era irônica. Mas é o que dizem “toda brincadeira tem um fundo de verdade”), ela teve vontade de confirmar seu êxito. Depois de um breve duelo interno, ela gaguejou.

- Malfoy... Eu fui...ahm....Eu fui...Convincente? – não podia acreditar que estava perguntando isso. Mas de todas as pessoas do mundo, ele parecia a mais apropriada para perguntar sobre falsidade.

Draco sorriu malicioso, e disse devagar.

- Sabe Weasley, se eu não tivesse te visto se desmanchar em lágrimas pelo babaca do Potter, eu teria acreditado em você. – ficou imediatamente arrependido de ter “dado corda” a Gina e achou melhor mudar o rumo da conversa – Até Pansy ficou impressionada!

- Pansy? –A “fama” da garota veio subitamente em sua mente – Ah! Claro, a sua namorada!

- É, ela mesma... – não parecia muito entusiasmado, mas Gina achou melhor não comentar. Às vezes, se perguntava como um garoto podia namorar uma moça com o comportamento de Pansy. Mas achou não falar daquilo. “Não é da minha conta.”.

- Bem, só sei que foi a coisa mais difícil que eu já fiz! – disse balançando a cabeça.

- Como assim?

- Ora! Sorrir para Parvati querendo que a cabeça dela explodisse! – Gina corou totalmente. Nunca tinha dito uma coisa daquela, ainda mais para alguém como Draco! O pior é que era verdade. Durante toda aquela “ridícula” conversa, ela só tinha desejado que a rival derretesse e sumisse pelas frestas do assoalho.

O que se seguiu foi à cena mais surreal que Gina já tinha vivido até então. Draco começou a rir, mas rir muito, muito mesmo. Riu tanto que perdeu o ar. Gina observou que quando ele ria sua pele não perdia aquela tonalidade pálida nem por um segundo (estava acostumada com pessoas como ela, que ficavam coradas quando riam).

- Não é pra tanto... – disse em voz baixa, quando achou que a crise de riso estava passando do limite.

- Explodir a cabeça dela? Onde você aprendeu isso menina? Foi naquela época que Voldemort era seu amiguinho?... – disse parando de rir aos poucos.

- Não diga o nome dele! – Gina levou a mão aos lábios quase que instantaneamente.

Ainda sobre efeito da crise de riso, Draco disse sarcástico.

- Como eu deveria chamá-lo então? Tom? Tommy? – deu mais uma gargalhada bem humorada.

Gina não achou nenhuma graça na lembrança do diário de Tom Riddle, que tinha sido dela em seu primeiro ano de Hogwarts. Ela ainda tinha pesadelos com o dono do diário, com seus olhos escuros e sua risada esganiçada e divertida. Bem, ao menos no princípio ela tinha achado divertida...

- Pare Malfoy! – sussurrou – Não gosto de brincadeiras com isso...É uma coisa séria pra mim...

O pedido foi totalmente ignorado. Draco continuou rindo, e Gina estava desconfiada que agora ele ria para provocá-la. A lembrança de Tom, a raiva de Parvati e um Malfoy rindo sem parar...

- PARE! – Gina não se lembrava de ter gritado tão alto – CHEGA! Você pode fazer piada com tudo, menos com isso! Eu quase ter morrido não foi piada suficiente para você?

Draco parou de rir imediatamente, como se tivesse levado um choque. Seu rosto não tinha nenhuma expressão quando ele começou a falar.

- Não fui eu quem quase te matei...

- É como se fosse! – Gina falava mais baixo, mas ainda estava meio fora de controle - Eu sei muito bem quem enfiou aquele diário no meio das minhas coisas!

- Meu pai. - disse Draco encarando-a com decisão.

- Sim, mas você deve ter achado muito engraçado, não é? - estava descontando anos de silencio em cima de Draco. Desde que tinha 11 anos não tocava naquele assunto e agora que tinha começado seria difícil parar.

- Achei. - disse amargurado -...No fim do ano, quando eu fiquei sabendo de tudo eu achei muito engraçado!

O nervosismo de Gina congelou, ela nunca tinha imaginado que Draco pudesse não saber de nada. Será que ele estava falando serio?

- Você, não...não sabia? – “Ele esta mentindo!” disse uma voz na cabeça de Gina. – Ora! Eu não tenho porque acreditar em você!

Draco a olhou com desprezo, como se ela fosse menos que uma Weasley (pelo menos foi isso que Gina sentiu). As palavras de Gina trouxeram lembranças desagradáveis para o louro, como quando ele a viu chorando. Draco teve vontade de gritar com a jovem, de mandá-la parar, porque começava a parecer que ela fazia de propósito (mesmo sabendo que isso era improvável).

“Tem tudo pra ser a senhora Potter mesmo!” pensou com raiva.

- Eu tinha 12 anos, Weasley. Ninguém sai contando coisas assim pra um menino de 12 anos...Ninguém inteligente pelo menos...

De forma alheia a sua vontade, as lembranças simplesmente surgiram. Lembranças de quando ele era apenas um menino cheio de vontades (não muito diferente de hoje em dia, na verdade).

Flashback – Mansão Malfoy, cerca de cinco anos atrás

Durante todo o verão Lucio praticamente não esteve em casa. Dizia, em conversas reservadas com sua esposa, que estava as voltas com um grande plano. Finalmente uma missão digna, que o Lord se orgulharia dele, que o Lord haveria de recompensá-lo, que o Lord isso e aquilo... Teoricamente Draco não sabia de nada. Teoricamente, claro, porque ele adquirira na sonserina o habito de ouvir por trás das portas.

Curiosamente, manter a boca fechada é um habito que não se adquire na sonserina e logo Draco acabou dando sinais de que sabia que tinha um “plano” acontecendo. Felizmente para o garoto, seu pai também havia sido um sonserino, portanto, não teve problemas em se vangloriar para o filho sobre um importantíssimo plano no qual estava envolvido. Um plano inteligentíssimo (idéia dele próprio, modéstia à parte) que talvez resolvesse muitos problemas do Lord.

Draco deduziu que deveria ser muito importante mesmo, já que Lucio raramente falava do “Lord” assim, tão abertamente. Normalmente comportava-se com discrição, como recomendava que o filho fizesse (embora ele nunca seguisse esse conselho). Imaginando que talvez fosse uma nova e divertida maneira de se livrar daquele esnobe Potter, o garoto ficou animado e queria detalhes. Recebeu um balde de água fria; Lucio recusou revelar qualquer detalhe, nem mesmo a quem ou a que o plano era dirigido.

- Mas pai eu quero saber! – dizia Draco com sua vozinha pré-adolescente – Eu quero ajudar!

- Não Draco! Isso já está decidido! Você é novo e tolo demais para participar de algo importante assim! Devia, antes, melhorar suas notas, que estão piores que as de uma sangue ruim!

- Mas pai... – ele fez um muxoxo.

- Pare de me aborrecer Draco!

Nessas horas, como sempre fazia, Draco lançava um olhar para a mãe, esperando que ela intercedesse a seu favor.

- Draco, se seu pai diz que você é novo demais para essa...missão...Você deve acreditar nele. Quando for mais velho terá suas próprias missões importantes. – concluiu com sua voz leve, quase etérea, enquanto mirava o marido de rabo de olho.

Era interessante a entonação que ela dava as palavras, como se suas frases tivessem sempre um sentido oculto. Sem pensar, Draco saiu pisando duro e foi fechar-se emburrado em seu quarto.

Fim do Flashback

- Eu sempre pensei que... – disse Gina arrancando-o sem saber do seu devaneio.

- Eu sei o que você pensou, Weasley! – disse por entre os dentes – Eu sei...

Um silêncio constrangedor tomou imperou por alguns segundos (que na opinião dos dois foram mais do que horas!).

- Desculpe. – depois de se achar tão forte era difícil para Gina engolir o orgulho. Ainda mais para um Malfoy, e ainda mais sabendo que ele havia “começado”. O fato era que, seja lá porque, ele tinha ficado muito ofendido, muito mais do que ela própria.

Draco estava se sentindo ridículo por ter ficado tão alterado, tinha sido pego de surpresa por aquele comentário, e não gostava de surpresas. Mas surpresa maior foi aquele estranho pedido de desculpas. Draco de perguntava se ela tinha percebido o quanto seu comentário o tinha afetado – e torcia para que não. Afinal não era certo que Draco Malfoy ficasse abaladinho com conversas de uma menininha Weasley.

- Tudo bem, Weasley. – disse recuperando sua “pose” com alguma dificuldade. - E abra aí na pagina 184...

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