Sentimentos e palavras
Hermione estivera extremamente enganada ao achar que seria fácil conversar com Harry. Todas as vezes que eles ficavam sozinhos, alguém aparecia para falar alguma coisa. Por isso já estavam no último dia de férias, e ela ainda não havia trocado uma palavra sobre aquele assunto com ele. Estavam terminando o jantar e a senhora Weasley tirava os pratos da mesa com acenos da varinha, quando Tonks e Archie abriram a porta com um estrondo e aos risos, o quadro da senhora Black começou a gritar.
- Por Deus. Precisavam fazer tanto barulho? – a senhora Weasley foi correndo até os dois que se entreolharam e riram.
- Nos desculpe, Molly. Rictusempra... – Tonks disse como se isso explicasse tudo.
- Não foi nossa culpa. Eles nos pegaram. – Archie parou de rir para explicar sério, mas logo voltou a rir.
- Ora, pelo amor de Deus. – a senhora Weasley sacou a varinha. – Finite Incantatem. – os dois imediatamente pararam de rir e se entreolharam sérios. – Agora podem falar como gente?
- Estávamos fazendo a ronda. E alguns deles nos acharam... demos sorte que não eram os mais inteligentes. Crabbe e Goyle... – Archie explicou. – Aqueles dois… nunca… - mas a senhora Weasley os interrompeu.
- Vocês deram muita sorte. Não acham que deveriam descansar?
Ela praticamente foi arrastando os dois para o segundo andar e os três desapareceram na escada. Hermione não pôde deixar de pensar que finalmente tinha a oportunidade perfeita, apenas ela e Harry observavam tudo pela porta do corredor que levava a cozinha. Quando a senhora Weasley desapareceu com Archie e Tonks eles se entreolharam incomodamente.
- Precisamos conversar. – ela disse e ele concordou com a cabeça. Foram para a cozinha, mas antes que pudessem falar algo, a coruja que a senhora Weasley havia comprado e que eles descobriram ser para Gina entrou voando.
- Droga, volta aqui Plutus... – a garota ruiva veio correndo atrás do animal. Ela parecia não simpatizar muito da pobre coruja. – Me desculpem, ele se assustou quando mamãe chegou brigando com Tonks e Archie... – disse totalmente sem graça e saiu correndo. Os dois se entreolharam e Harry se aproximou do fogão parecendo incrivelmente interessado nos restos do jantar.
- Não adianta mais fugir, né? – ela começou hesitante, mas continuou com mais firmeza. – Olha, o que quer que seja que nós decidamos agora, vai interferir em tudo.
- Eu sei. – ele respondeu meio deprimido mexendo nas colheres. – Mas, honestamente, Hermione, eu... eu acho que não me importo.
- Nem se isso afetasse sua amizade com o Rony?
- Se ele não sabe ficar feliz por mim, é por que não é realmente meu amigo certo? Mas acho que ele vai entender. – ele parecia realmente convencido disso apesar de sua voz soar triste e até mesmo cansada. Ela se aproximou dele e pôs uma mão em seu ombro.
- Harry... você... Tem certeza disso?
- Tenho, mas quero saber é o que você quer. – ele se virou e olhou bem nos olhos dela.
Ela sentiu novamente o coração acelerar. O que ela queria? Ela queria ele, sabia disso, mas não estava tão disposta como ele a arriscar uma amizade de seis anos. Por mais que seus sentimentos por Harry fossem fortes, não podia se sentir traindo um amigo. A amizade daqueles dois fora tudo para ela nos últimos anos, não sabia se teria amigos se não fosse por eles.
Porém durante esses anos seus sentimentos foram evoluindo por eles de formas diferentes. Ela olhava para Rony como um irmão, por mais que ele não a visse da mesma forma, mas as brigas que tinham e o modo que se tratavam, sempre foi fraterno para ela.
Mas com Harry... sempre sentira uma admiração enorme por ele. Mas a admiração foi diminuindo, à medida que ela via o quanto ele era humano e um humano que sofria muito e, de repente, dentro dela, foi crescendo uma necessidade de nunca deixar que ele sofresse por sua causa e essa necessidade foi virando uma vontade que passou a ser uma vontade de estar sempre ao lado dele e ajudá-lo sempre.
Ela nunca havia pensado nisso como amor até o dia dos namorados passado, quando se descobriu feliz por Cho ter brigado com ele por causa da entrevista, mas isso não a deixou feliz no início. Sempre sentira que todos queriam que ela ficasse com Rony, e mesmo já tendo conversado com ele sobre seus sentimentos, sentia como se fosse uma obrigação da sua parte não insistir para que o amigo partisse para outra, mas nunca pensou que fosse se descobrir apaixonada por Harry de repente.
Agora estava ali parada olhando para que esperava uma resposta sobre o que ela queria. E o que ela queria? Era óbvio, óbvio demais para dizer, mas ela iria dizer.
- Ah, eu quero você. – ela disse quase num sussurro e ele sorriu. Passou a mão pelo pescoço dela e encostou suas testas.
- Eu te adoro, Hermione Granger. – ele se aproximou suavemente e deu um selinho nela que deixou uma vontade de beijá-lo de verdade.
E realmente quando ele se aproximou de novo, veio um beijo suave e carinhoso, mas ao mesmo tempo ávido. Ela sentiu que ele segurava seus cabelos e afundou seus dedos nos cabelos dele. Sentia seus estômago ir até o chão e voltar várias vezes quando ele aumentou a pressão do beijo. Um cheiro de menta a invadiu e não queria que isso acabasse nunca mas o som de alguém segurando um grito os fez separarem-se bruscamente.
Ainda se sentindo meio tonta ela olhou para a porta da cozinha, aonde um Rony branco como cera os observava boquiaberto. Hermione sentiu toda a tontura e felicidade se esvair num passe de mágica enquanto o amigo dava um passo para trás um brilho estranho nos olhos. Ela ia se aproximar dele, mas não conseguiu apenas desviou o olhar da figura pasma do amigo.
- Olha, Rony... – Harry começou passando a mão pelos cabelos, mas o amigo não deixou. Saiu correndo parecendo raivoso. Ela ficou olhando para Harry que parecia bem triste. Ela sabia muito bem como era para ele ficar sem conversar com o amigo e na cabeça dela fora por isso que tivera aquela vontade de jamais abandoná-lo. O garoto suspirou e se assentou numa cadeira.
- Harry. – ela se aproximou e o abraçou por trás. – Vamos ter que esperar agora. – ela se abaixou e pressionou seus lábios nos dele bem forte, mas não chegou a ser bem um beijo.
- Eu sei. – ele pôs a mão na cabeça dela que se assentou na cadeira ao lado da dele. – Mas como já disse, acho que ele vai entender, eventualmente. – deu um sorriso amarelo.
Não se falaram por alguns minutos, sentindo apenas a proximidade um do outro. Olhavam para a mesa em silêncio, mas seguravam as mãos entrelaçadas. Ninguém apareceu para chamá-los para dormir, mas eles tinham plena consciência que teriam que acordar cedo no dia seguinte e num consenso silencioso foram dormir.
O corredor do segundo andar estava silencioso. Quando tiveram que se separar se olharam por uns minutos. Ele se aproximou devagar dela e deu um selinho de leve.
- Tenha bons sonhos. – murmurou antes de se virar para abrir a porta receoso. Aparentemente Rony fingia que dormia, pois ele entrou sem fazer barulho.
A garota suspirou antes de abrir a porta do próprio quarto, aonde Gina dormia. Ela pôde ver a massa que era a amiga se mexendo. Entrou silenciosamente e se jogou na cama, o sono a atingira em cheio e ela nem mesmo queria trocar de roupa. Dormiu profundamente e apesar do desejo de Harry teve uma noite sem sonhos.
***
Quando abriu os olhos na manhã seguinte, quando sua mãe batia violentamente na porta do quarto, Gina esperava encontrar Hermione já acordada e vestida para irem para a estação King’s Cross, mas ao se levantar viu a amiga jogada na cama profundamente adormecida. Nem ao menos havia tirado as roupas que usava no dia anterior. Se aproximou devagar para acordá-la.
- Mione. Mione, acorde. – ela cutucou a outra de leve e Hermione se mexeu devagar abrindo os olhos pesadamente.
- Já amanheceu? – ela se assentou de repente parecendo assustada.
- Mamãe acabou de passar aqui para descermos. É melhor trocarmos de roupa para irmos à estação. – a amiga parecia bem confusa.
- Eu deveria ter acordado uma hora atrás. Acho que esqueci de por o relógio para despertar. – se levantou e foi até a mala pegar roupas e se trocou tão rápido que Gina chegou a ficar assustada.
- Ainda tem tempo, Mione. – disse tranqüilamente observando a amiga terminar de arrumar os materiais no malão enquanto colocava as próprias roupas. – Não precisa correr como se fosse a última coisa que fosse fazer.
- Você sabe como as coisas ficam, Gina. É sempre bom estar tudo pronto antes da sua mãe sair por aí gritando desesperada.
- Você tem razão. – A coruja que sua mãe comprara contra sua vontade voava ao redor de sua cabeça. Ela estendeu a mão e pegou a coruja em seus braços, esta piou alegremente quando a garota afagou sua cabeça.
Na verdade Gina não queria a coruja e no início não gostava do pobre animal, mas acabou sentindo carinho por ele, de tanto que ele tentava agradá-la. A garota terminou de arrumar sua coisas também e prendeu a coruja na gaiola. Saiu acompanhando Hermione, passando pelo corredor elas encontraram Harry saindo silenciosamente do quarto.
- O Rony ainda está dormindo? – ela perguntou.
- Está fingindo. – o garoto deu de ombros. – Daqui a pouco ele vai tomar café. A propósito, bom dia pra você também Gina.
- Bom dia. – a ruiva respondeu calmamente. Observou que Harry se aproximou de Hermione com um sorriso e pôs a mão no ombro dela.
- Bom dia. – ele disse.
- Bom dia. – ela respondeu parecendo incomodada.
Os dois seguiram na frente ele ainda com a mão no ombro dela. Gina sorriu para a cena, mas era de curiosidade. Da última vez que ela os vira juntos pareciam constrangidos e agora pareciam felizes. Ela suspirou e foi atrás deles.
Tonks, que estava com um cabelo verde fosforescente, e Archie eram os únicos na cozinha. Hermione e Harry se assentaram sem cerimônia e Gina os seguiu.
- Cadê minha mãe? – ela perguntou se servindo de um torrada que estava na mesa.
- Dumbledore a chamou. – Archie respondeu. – Nós vamos levar vocês até King’s Cross. – ele disse enfiando uma torrada inteira na boca com um som que Gina achou grotesco.
- Não é problema pra mim. – Harry disse.
- Que bom. Será que o Rony vai demorar? – Tonks disse bocejando.
- Sei lá. Ele estava dormindo quando eu saí. – O garoto deu de ombros.
- É verdade. Vocês brigaram, não é? – Tonks disse parecendo curiosa. – Mas por quê? – Harry e Hermione ficaram desconfortáveis.
- Aposto que foi alguma besteira. – Archie respondeu. – Quando eu tinha dezesseis anos brigava muito com meus amigos por besteiras. Mas sempre fazíamos às pazes.
- Não... Bem, foi uma besteira mas... não foi só uma besteira... – Harry começou.
- Você não vai dizer à eles? – Rony estava apoiado no batente da porta com um sorriso irônico. Gina quase podia sentir a tensão que havia na sala.
- Harry, não. – Hermione segurou o garoto para que ele não se levantasse.
- Você também não quer dizer? Quero dizer, depois do que houve ontem... – Rony continuava com aquele sorriso. Mas o que havia acontecido? Do que ele estava falando?
- Cale a boca, Rony. – Pra surpresa de todos Hermione foi quem falou, se levantando, até mesmo Harry olhava boquiaberto. – Sobre o que você viu ontem... Olha, não foi pra te magoar...
- Disso eu tenho certeza. Mas precisava ser com ele? – apontou com a cabeça para Harry.
- Bem, se você não entende, eu não vou explicar. Honestamente Rony. Não volte a falar comigo até que pense se a nossa amizade pode ser jogada assim no lixo. Por mim é claro que vamos continuar amigos, e tenho certeza que pelo Harry também, mas se você não quiser a gente não pode fazer nada. – a garota disse e se assentou.
Rony mordeu o lábio inferior com raiva, mas se aproximou e se assentou do outro lado da mesa. Gina queria perguntar do que eles estavam falando, apesar de ter uma vaga idéia do que fosse, mas Tonks falou antes.
- Parece que o negócio foi mais sério do que pensávamos. – era um dos raros momentos que a mulher estava séria. – O que diabos aconteceu entre vocês?
Rony olhou para o outro lado e Harry e Hermione se entreolharam.
- Ele nos viu juntos ontem. – Harry disse simplesmente colocando um torrada na boca. Rony fez um barulhinho de impaciência e Archie engasgou.
- Juntos como em “nos sentamos juntos para conversar” ou como em “juuuntos”? – o jovem Black perguntou.
- Como em “juuuntos”... – Hermione respondeu levemente corada. Tonks e Archie se entreolharam com os olhos arregalados.
- Você já sabia, Gina? – a metamorfomaga perguntou ao ver que a garota não apresentava nenhuma reação.
- Já imaginava. E pare de fazer caretas Rony. Você não está em posição de desdenhar. Caso não se lembre, está a um passo de perder seus melhores amigos. – ela disse quando o irmão olhou feio para ela. O garoto pareceu levar um tapa na cara pois ficou branco como cera, mas se recuperou e voltou a fazer cara feia.
- Acho melhor irmos. – Archie disse depois de algum tempo. Todos concordaram e se levantaram em silêncio.
O barulho de malões descendo pelas escadas encheu a casa e por um instante todos acharam que a senhora Black iria acordar, mas ela nem sequer tentou. Mas no meio da descida, Rony havia aparentemente esbarrado em Harry que rolou da escada. O garoto se levantou, mas estava bem tudo fora um susto.
- Me desculpe. – o ruivo disse branco e Harry resmungou um “tá bem.” Mas pareceu bem irritado.
Eles foram a pé já que tinham tempo e Tonks e Archie encolheram os malões colocando-os em seus bolsos. Foi um passeio silencioso, embaixo de uma chuva leve. Hermione e Harry iam na frente com Bichento e Edwiges. Gina ia no meio conversando baixinho sobre quadribol com Archie e Tonks, levava Plutus com ela e Rony vinha logo atrás de cara feia e com Pichi.
Chegaram na estação faltava meia hora para o embarque. A plataforma 9 ¾ estava cheia e assim que viu Luna, Gina correu até ela. Viu Harry e Hermione se despedindo quando ela entrou para a cabine dos monitores seguida logo depois por Rony. Harry ainda ficou um pouco do lado de fora conversando com Archie e Tonks.
Ela e Luna entraram para procurar uma cabine já que parecia que o trem estava enchendo rápido. Encontraram Neville em uma cabine e resolveram ficar na mesma cabine que ele. Gina se lembrou que tinha que pegar a mala com Tonks e deixou Luna e Neville com Plutus e saiu pelo trem. Haviam várias pessoas e ela acabou trombando em alguém e derrubando a pessoa.
- Nós nos esbarramos muito Weasley. – Gina não podia acreditar em sua sorte, de todos os alunos de Hogwarts ela tinha que derrubar justo Draco Malfoy e bem numa época que ele a tratava estranhamente.
- Ah, dá um tempo, Malfoy. Foi mal por ter te derrubado, mas não enche viu? – ela disse rudemente quando o choque passou. – Agora dá licença que eu... – mas ele a interrompeu sem parecer zangado.
- Fica quietinha, Weasley. Você fica bem melhor de boca fechada. – Ela arregalou os olhos espantada, isso fora um elogio ou uma ofensa, mas ela não teve muito tempo para pensar.
Ele a puxou para dentro de uma cabine e expulsou os segundanistas da Lufa-Lufa que estavam lá. Gina não tinha o que dizer, iria apenas se virar e sair, mas ele a segurou pelo braço. Ela se virou para olhar com raiva, mas o olhar dele a fez ficar surpresa novamente. Era simplesmente indescritível e ela nunca havia visto alguém olhara para ela daquela maneira. Não havia ódio, tampouco amor. Não havia desprezo, muito menos adoração. Havia de fato uma certa admiração serena, mas ela estava muito assustada pra perceber isso na hora.
- Que foi? – ela disse puxando o braço de volta.
- Você é incrível. – ele soltou o braço dela com um sorriso sem razão. – Eu nunca vi ninguém como você. Como você consegue?
- O quê? – agora ela estava realmente assustada, do que ele estava falando.
- Ser assim. Você é muito corajosa e frágil. Irritantemente adorável e adoravelmente irritante. Totalmente petulante, mas doce. Isso claro com pessoas diferentes, mas mesmo assim. Você é uma antítese Weasley.
- Eu ajo com cada pessoa da maneira que elas merecem. Se uns merecem ser estuporados na sala da diretora, é por que é um idiota. – ela disse se irritando novamente, mas essa irritação se foi quando o outro começou a rir.
- Eu sou um idiota? – ele disse. – Você nunca parou pra pensar que se eu sou um idiota você e seus amigos também são? Quero dizer, o que eu faço que eles não fazem?
- Você quer dizer além de ser mentiroso, sem escrúpulos e estar do lado de Voldemor...
- Não fale o nome dele perto de mim. Eu odeio aquele ser... – Malfoy parecia muito irritado.
- Odeia? – ela arregalou os olhos.
- Você com certeza odiaria Dumbledore se seu pai fosse parar em Azkaban por obedecê-lo até o fim.
- Eu... eu... achei que você botasse a culpa disso no Harry...
- Eu queria era extravasar no primeiro que aparecesse. Aconteceu de ser o Potter. Mas eu sei que se meu pai não estivesse obedecendo o Lorde... – um apito e um súbito tremor indicou que estavam partindo.
- Olha, não me leva a mal não, o papo tá interessante, mas eu tenho que ir. – ela disse irônica e se virou.
- Podemos conversar de novo qualquer dia. – ele respondeu no mesmo tom de ironia e a garota se assustou ao se pegar considerando o convite. Não fora tão mal conversar com ele, por mais estranho que o pensamento fosse.
Quando saiu da cabine deu de cara com Harry. O garoto sorriu ao vê-la.
- A Luna disse que foi buscar sua mala. O que aconteceu? – ela não podia contar para ele o que acontecera.
- Encontrei uma conhecida e acabei entrando na cabine dela para conversar. – ele acreditou facilmente.
- Trouxe suas coisas. Vamos Hermione ainda está na reunião, mas já deve estar voltando.
De repente ocorrera a Gina de se perguntar com quem seu irmão iria viajar se não fosse com eles. Será que ele iria preferir viajar sozinho ou ver que estava errado. Resolveu que não adiantava pensar nisso por enquanto e foi atrás de Harry, com alívio por que assim que o garoto começou a andar, Malfoy saiu da cabine.
***
Já deveriam estar viajando a uma hora, a chuva aumentara e agora era uma tempestade e caía torrencialmente. Neville lia concentrado um livro de Herbologia, Luna se entretinha com um exemplar do Pasquim, “Qual a verdade por trás dos gigantes? Seriam eles na verdade ninfas das montanhas?”. Harry ria cada vez que levantava os olhos e lia a manchete, gingantes definitivamente não eram ninfas. Gina também se entretinha com a leitura de um exemplar do Diário Semanal e ele mesmo lia um livro que havia comprado.
Era sobre animagia, mas os outros não sabiam, pois ele havia colocado uma capa falsa e todos achavam que na verdade ele lia o “Guia Prático de poções avançadas.” Ele não desejava que ninguém, muito menos Hermione, soubesse que ele queria poder se transformar em animago assim como fora seu pai. Com certeza a garota acharia isso irresponsável.
“Os animagos muito raramente se transformam no que querem, mas a transformação depende, na maior parte dos casos, das características do bruxo. Se um bruxo se transforma num gato com certeza é por que as características básicas de um gato (inteligência, auto-suficiência, influência sobre os outros) forem marcantes nesta pessoa.”
Com certeza era por isso que a professora McGonagall era um gato.
“As características físicas também influenciam. Se uma pessoa já lembra um cavalo ou uma serpente, a transformação nos respectivos animais se torna mais simples e por isso menos desgastante. Mas existem certos casos em que as necessidades dos bruxos a se transformar também influem no animal que ele vai virar, mas estes casos específicos são tratados no capítulo 5 (Quando a necessidade influi.). O capítulo seguinte é dedicado ás transformações por características psicológicas, o próximo por semelhança e o quarto capítulo por vontade.”
No segundo capítulo havia uma tabela das características e animais que faziam os bruxos virarem. Harry por essa tabela se imaginava como uma águia (facilidade em achar objetos pequenos), um cavalo (ágil) ou então um leão (mania de tentar salvar os outros, como dizia Hermione), mas ele não se visualizava como um desses animais.
Nesse instante Hermione abriu a porta e todos ergueram os olhares para a monitora que estava com as sobrancelhas arqueadas.
- Oi pra você também. – Luna disse singelamente e voltou a ler
- Ah... olá Luna. Olá todo mundo. – A garota sacudiu levemente a cabeça e se assentou ao lado de Harry.
- Olá. – ele deu um beijo de leve nela, mas percebeu que todos olhavam.
- Estão namorando... – Luna disse de uma maneira que não dava pra saber se era uma pergunta ou uma afirmação e o garoto sentiu que corou um pouco.
- Estamos. – ele disse tentando encarar tudo menos os amigos, mas acabou encontrando o olhar admirado de Neville.
- Parabéns. – o amigo disse. – Me perdoem dizer isso mas... é estranho. Quero dizer. Vocês dois... eu sempre achei que o Rony...
- Não ponha o nome do meu irmão no meio... – Gina disse. – Ele não está aceitando muito bem... Aonde ele está, Hermione? – ela perguntou.
- Ficou numa cabine com Simas e Dino. – a garota disse meio deprimida. E Harry sentiu seu estômago estranhamente incômodo.
- O que está lendo? – Hermione se esticou para ler, mas ele foi mais rápido e mostrou a capa para ela. – Poções? Você está bem Harry?
- Qual o problema? – ele tentou disfarçar ao ver que ela ficou desconfiada. – Todos estão lendo e eu com certeza não iria ficar falando sozinho. Resolvi ler também.
- Nesse caso... – ela disse pegando um livro e lendo também.
- Animagia! – Harry se espantou, mas não foi o único. Gina também olhava espantada para o livro de Hermione. Quando a outra levantou os olhos espantada de um para outro, eles se calaram e voltaram a se concentrar em sua própria leitura.
Por que Hermione também estava com o livro sobre animagia? Será que ela também tinha planos de se tornar uma animaga? Com certeza ela seria um gato. Mas também poderia ser uma coruja ele pensava tirando os olhos do livro para admirar a namorada. Ela estava extremamente concentrada no livro e nem mesmo piscava. Ele suspirou e voltou a se entreter com sua própria leitura.
“A transformação por semelhança é quase tão simples quanto a por características psicológicas, porém exige menos esforço. Normalmente ocorre quando o bruxo não está disposto a gastar muita energia e pretende aprender rápido, mas pretendem lidar com a desvantagens de não controlarem muito bem seus instintos animais pois seus organismo demora a se acostumar com o novo corpo, assim como a mente demora.
Mas a transformação por semelhança garante ao animago poder ficar um maior espaço de tempo como animal, exatamente pelas características já citadas anteriormente. Claro que isso não é garantia de...”
Nesse instante alguém abriu a porta da cabine e todos levantaram os olhos. Rony estava parado na porta com um olhar de ódio. Ele apontou o dedo para Gina de um modo autoritário.
- Que história é essa de cabine com Malfoy? – ele perguntou. Realmente estava possesso. A irmã olhou com tédio para ele.
- Não sei do que você está falando. – ela respondeu secamente.
- Uns segundanistas me falaram que ele entrou puxando você e expulsou eles da cabine.
- Se foi ele quem me puxou era com ele que você deveria estar brigando. – a ruiva disse calmamente. – Quer sentar? – ela apontou com a cabeça para o assento a sua frente, aonde Luna e Neville abriram espaço para ele.
Rony perdeu toda aquela raiva no olhar e simplesmente encarou a irmã espantado com a calma dela. O garoto parecia dividido entre se assentar lá ou não e isso fez Harry se irritar.
- Por deus. Senta logo. Se não quiser falar com a gente não fala, mas ninguém está conversando mesmo, não faz diferença. – Ele disse revirando os olhos. Sentiu Hermione dar um cutucão nele discretamente, mas ignorou isso.
- Não obrigado. – O outro disse secamente e saiu.
- Isso foi gentil, Harry. – Hermione revirou os olhos.
- Você está falando dele, não é?
- Você disse que a presença dele aqui não faz diferença.
- Eu disse que ele não falar com a gente não faz diferença. É muito diferente.
Apesar de parecer chateada com ele, Hermione deu uma risadinha e voltou a ler o livro.
- Não agüento mais isso. – Gina fechou a revista e a jogou no chão. – Vamos conversar um pouco? Acho que já li a revista umas vinte vezes. – os outros quatro olharam curiosos para ela. – Honestamente Harry, nunca achei que fosse te ver tão entretido com poções. E você, Luna, essa revista é do mês passado. Neville, esse livro é do meu ano você já leu. E Mione... por que diabos você está lendo sobre animagia? – os olhares curiosos se viraram para Hermione.
- Olha só. – ela respondeu fechando o livro. – Parece que já estamos chegando.
Todos olharam pela janela e realmente, a estação já começava a se fazer visível. Eles guardaram seus livros e revistas. Hermione segurava Bichento bem firme e foi uma sorte por que o gato quase caiu quando o trem parou bruscamente. Gina que olhava irritada para Plutus na gaiola caiu pela porta aberta, ficando sentada no corredor.
- Essa doeu. – ela disse.
- Sai do caminho, Weasley. – Malfoy disse parado ao lado dela.
- Oh... quanta gentileza. – ela disse se levantando e ficando no caminho dele no corredor. – e agora? Vai fazer o que?
- Gina! – Hermione puxou a amiga para dentro da cabine e Malfoy passou com um sorrisinho irreconhecível. Harry estranhou o fato de o garoto estar sem seus guarda costas.
- Alguém aí reparou que ele não estava com os dois gorilas? – ele disse.
- Crabbe e Goyle? Não estava com eles mais cedo na hora que... – Gina começou.
- O seu irmão! – Harry se lembrou. – Será que o Rony foi atrás do Malfoy como você falou? – Gina ficou branca.
- Ah, não. Ele não fez isso. Ele não pode ter feito isso. – ela murmurava.
Harry e Hermione se entreolharam, e ele tinha certeza que a namorada também se perguntava o motivo do desespero de Gina. O que tinha demais o Rony brigar com o Malfoy, não era como se isso fosse um fato raro. Além do mais, ela mesma havia desafiado o garoto, na frente de várias pessoas no beco diagonal. Eles deram de ombro e saíram para a plataforma da estação.
Hagrid acenou para eles de longe e eles acenaram de volta. O gigante gritou alguma coisa, mas eles não entenderam, devido á chuva que ainda não diminuíra.
Os dois foram até as carruagens aonde os testrálios o encaravam calmamente.
- Você está vendo eles? – Hermione perguntou interessada e ele balançou a cabeça afirmativamente. – Vamos entrar. Não é bom ficar encarando eles demais, eles podem se assustar. – ela o empurrou para a carruagem. Lá estavam Anna Abbot, Justino Finch-Fletchey e Ernesto MacMilliam. – Podemos ficar aqui? – os outros acenaram afirmativamente com a cabeça, mas se entreolharam.
Harry se lembrou do segundo ano, quando todos olhavam desconfiados para ele achando que ele era o herdeiro de Slytherin. Ficou em dúvida se perguntava aos colegas o que estava errado e acabou se decidindo por perguntar.
- Qual é o problema? Por que vocês estão me olhando?
- É verdade que você e o Weasley brigaram? – Ernesto perguntou.
- Por causa da Granger? – Justino completou. A pergunta deixou Harry realmente irritado.
- Não brigamos por causa da Hermione. Brigamos por que o Rony não fica feliz pelos seus amigos. – Justino, Anna e Ernesto se entreolharam receosos. – O que foi agora? – Harry revirou os olhos.
- É que... – Anna começou. – O Weasley disse que vocês estavam traindo ele.
- O quê? – Harry gritou. – Ah! Ele que se exploda e fale o que quiser. Já disseram coisas muito piores de mim... – se irritou. – Honestamente... Como ele diz uma coisa dessas.
- Não se irrite, Harry. Mas agora ele passou dos limites. Nós vamos conversar com ele hoje ainda. – Hermione pôs a mão no ombro dele.
- Eu não! Ele é que está errado, ele que venha conversar! Já disse que não vou ligar pras idiotices do Rony. – e foi a última coisa que ele disse a noite toda. Mesmo durante o jantar o máximo que ele disse foi um boa noite, nem mesmo prestou atenção no novo professor de Defesa contra as Artes das Trevas.
***
Rony realmente havia sido um idiota dessa vez e ela estava decidida a falar com ele, e mesmo que Harry não quisesse, ela via como ele estava chateado. Quase não falou durante o jantar e nem mesmo aplaudiu o retorno de Lupin como professor, o que a fez crer que ele nem mesmo havia percebido que o professor havia voltado.
- Harry, você viu isso? – ela se virou para ele.
- O que? – o garoto levantou os olhos da comida como se estivesse acordando.
- Lupin. – ele olhou com curiosidade para ela, que apontou para a mesa dos professores.
- O que ele está fazendo aqui? – perguntou piscando.
- Ora, não é óbvio? Ele voltou a lecionar Defesa contra as Artes das Trevas.
- Mas eu achei que os pais não fossem concordar... ele continua um lobisomem.
- Acho que os pais não podem ficar escolhendo muito, não é? Quero dizer, com certeza preferem um lobisomem no qual Dumbledore confia, que um professor qualquer que pode acabar tirando o diretor da escola e não ensina nada.
- Bem, que legal. – Harry suspirou sem animação e voltou a se concentrar na comida. – Eu vou subir. Qual é a senha, Mione? – ele perguntou quando acabou de comer.
- Orgulho de Gryffindor.
- Orgulho de Gryffindor?
- Acho que todas as senhas têm motivos dos fundadores. Acho que querem tornar a união entre os alunos das casa mais fortes antes de tentar fazer com que as casas se unam.
- Certo. Te espero lá em cima. – ele afagou os cabelos dela e se levantou.
- O que ele tem? – Gina perguntou do outro lado da mesa.
- O seu irmão andou espalhando que eu e o Harry traímos ele. Dá pra acreditar?
- Vocês deveriam conversar, isso já está ficando ridículo. – a ruiva revirou os olhos.
- Eu vou falar com ele. Vamos levar os alunos do primeiro ano.
- Quem são os monitores chefes?
- Ah... John Keebler da Corvinal e a Joanna Clearwater da Lufa-Lufa.
- E os novos monitores da Grifinória?
- Colin e Corrine. Eu tenho que ir Gina. Você vem?
- Ah não... Eu vou ficar pra... hm... falar com o Lupin. – Hermione achou que Gina não estava falando toda a verdade, mas o que quer que ela tivesse escondendo não estava contando por uma boa razão e apesar de estar meio agressiva, Gina não fizera nada de errado ainda, logo não tinha por que desconfiar da amiga.
Se levantou e foi até Rony. Pôs a mão no ombro do rapaz que a olhou sem expressão e se levantou com tédio.
- Primeiro ano! Por aqui. – Hermione gritou e um bolo de alunos foi até eles, que saíram do salão. – Rony... – ela começou, mas ele fingia que não ouvia. – Ah, pare com isso. Eu quero conversar.
- Sobre o que? – Rony parou de repente e os alunos pararam assustados. – Sobre a traição?
- Não houve traição e você sabe disso! - ela disse rispidamente voltando a andar e sendo seguida pelo ruivo e pelos alunos. - Eu nunca disse que te amava e nós nem mesmo namoramos. Você sempre soube muito bem que seus sentimentos não eram correspondidos. Olha, eu vou te dizer uma coisa que deveria ter dito há um ano... Parte pra outra, Rony. Eu digo isso porque gosto muito de você. Você sempre foi um dos meus melhores amigos, é como um irmão para mim. Parte pra outra, pára de sofrer... Você tem muito potencial, mas primeiro precisa parar de se rebaixar. Se parar de falar comigo e com o Harry for um passo pra você se valorizar, tudo bem, mas não fale mentiras por aí, você sabe que está magoando duas das pessoas que mais se importam com você. Você acaba se magoando no processo. Não estou te pedindo pra me pedir desculpas ou ao Harry. Só parte pra outra Rony, por nós isso já está bom. Claro que se você quiser voltar a falar com a gente... – ela parou em frente ao retrato da mulher gorda. – Orgulho de Gryffindor. – a passagem se abriu e os alunos do primeiro ano entraram correndo. – Se você quiser voltar a falar com a gente, Rony... sabe onde estamos.
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