Uma Festa...



O assunto ficou morto por um pequeno espaço de tempo. O fim de outubro de aproximava e, com ele, o tradicional Baile à Fantasia de Dia das Bruxas. Os preparativos estavam sendo deixados nas mãos de McGonagall, Hermione, Dumbledore e Flitwick. Gina os ajudava enquanto conversava com Hermione. Algumas vezes alguém pedia para Snape fazer alguma coisa, mínima que fosse, mas o olhar que ele lançava era assassino demais para que a pessoa insistisse muito.
Mas houve uma hora em que Hermione pediu para ele ajudá-la a pôr umas máscaras de dois por dois metros no alto, que ela tinha muito a fazer. Ele só perguntou como ela queria que ele pusesse. Dumbledore fez uma careta e começou a resmungar.
- Mas você só ajuda ela!
- Foi ela que me cedeu o cargo de DCAT – retrucou Snape, sério, mas pilheriando como nunca fizera.
- Bom saber que a sua educação comigo vem só do seu interesse – retrucou Hermione, sarcástica.
Ele não respondeu. Ainda não tinha tido oportunidade de tocá-la desde que falara com Regina Black. Ele terminou de fazer o que ela pediu e já ia saindo do salão principal quando Dumbledore lembrou:
- Não se esqueça que o baile é à fantasia, Severo.
Snape apenas bufou e saiu com a capa farfalhando às suas costas.

Era a hora do baile. Os alunos apareciam com as fantasias mais variadas, em casais. Os professores também vinham fantasiados. Dumbledore foi de mago Merlin e McGonagall foi de Morgana.
Snape apareceu vestido todo de negro; apenas o corte das roupas era diferente do habitual. Ele olhava em volta, esperando achar uma certa professora de Poções.
- Ela já está vindo – sussurrou Gina, que se aproximou sem ele perceber.
Ele se virou para ela e pensou em algo grosseiro para dizer, mas preferiu permanecer calado.
Logo ele a viu entrar. Hermione tinha os cabelos perfeitamente cacheados, despencando em cascata sobre seus ombros. O vestido era negro e justo, frente única, e abria para uma saia mais ou menos rodada a partir dos quadris. Estava linda.
- É melhor o senhor fechar a boca, professor – murmurou Gina.
- O Potter não está aqui para você ir importunar ele? – perguntou Snape, irritado.
Gina sorriu e disse que ia procurá-lo.
Hermione parecia procurar alguém e ele logo pensou que poderia ser ele. Mas descartou a idéia quando viu vários dos alunos setimanistas e alguns convidados do Ministério se aproximando e pedindo para dançar com ela. Sentiu-se ridículo e foi se sentar a uma mesa a um canto, apenas observando o movimento e as pessoas.
Sentiu-se mil vezes estúpido. Queria voltar para trás no tempo, para quando apenas admirava o corpo dela. Agora era mais que isso e ele sabia.
Hermione ainda olhava em volta e parou para falar com Gina, que sorriu e apontou para o lado onde ele estava. Ele fez que não viu. Hermione sorriu e foi para lá.
- Olá, professor Snape – ele ouviu a voz dela dizer.
Ele quis ignorá-la, e logo percebeu que estava com ciúmes. Olhou para ela e disse:
- Olá, Granger.
Ela sentou-se à mesa com ele.
- Que foi? Você parece mal humorado...
- Eu estou bem – disse ele, sério.
- Não está não – ela disse, sentando-se mais próxima dele e olhando para ele com atenção. – Que aconteceu?
- Nada – respondeu ele, seco. – É só que odeio festinhas estúpidas.
Hermione riu, fazendo-o olhá-la.
- Do que você está rindo?
- Você é muito anti-social.
- Se você acha isso um defeito, pode ir – disse ele.
Hermione observou-o longamente.
- Sevie... foi por causa daquele monte de moleques que veio falar comigo? – perguntou ela.
A palavra “moleques” fora escolhida a dedo por ela para fazê-lo entender que ela não ligava para eles. Snape desviou o olhar e permaneceu em silêncio. Ela sorriu.
- Sou a pessoa mais feliz do mundo agora – disse ela, com uma voz suave. – Você não deveria ter ciúmes, sabe... É você que eu amo.
Ele ergueu o olhar para ela, com as sobrancelhas arqueadas. Ela sorriu para ele. As mãos dela instintivamente procuraram as dele, e ele acariciou-as gentilmente, olhando para ela.
- Você é possessivo assim? – perguntou ela.
- Sou... – disse ele. – Espero que seja um defeito perdoável...
- É bastante perdoável, tratando-se de você – sussurrou ela.
- Ahn... Hermione... – ele hesitou. – Minha idade... ela incomoda você?
Ela sorriu.
- Claro. É por isso que eu estou aqui do seu lado, tentando fazer você me notar a todo custo – sussurrou ela, passando para a cadeira ao lado da dele.
Ele deu um sorrisinho no canto dos lábios.
- Você está linda – disse ele.
Hermione abriu um sorriso.
- E você está muito sexy com essa roupa toda fechada e preta... – murmurou ela.
- Dá vontade de saber o que tem por baixo? – ele perguntou.
Ela fez que sim com a cabeça.
- Bom, você pode saber... – disse ele, com uma voz meio ronronada.
Hermione sorriu para ele e os olhares deles se encontraram. Snape teve outro lampejo, muito rápido, de ele soltando a mão dela e ela correndo para Voldemort e Harry.
- Que foi? – perguntou ela.
- Tive outro lampejo... – disse ele.
- Com o que?
- Você outra vez – disse Snape, sério. – Eu soltava a sua mão contra a minha vontade e você corria para o Lorde das Trevas e o Potter.
- Contra a sua vontade? Essa é muito nova para mim... – disse ela.
A jovem bruxa olhou em volta e observou que não havia olhares ali. Snape tinha o dom de afastar as pessoas de si só com sua presença. Ela aproximou-se mais dele e sussurrou no ouvido dele:
- Até que horas você pretende ficar acordado?
Snape levantou o canto dos lábios num sorriso malicioso e sussurrou de volta no ouvido dela, fazendo-a estremecer:
- Você quer saber oficialmente ou na verdade?
Hermione riu e levantou-se, dizendo que ia pegar alguma coisa para beber.
- Eu vou ficar bem aqui, sem ser notado – disse Snape, afundando-se na cadeira, enquanto a observava afastar-se, com pensamentos impróprios pairando em sua cabeça.
Hermione demorou meia hora. E uma hora. E uma hora e meia. Snape levantou-se, por fim, e procurou por ela. Ele achou que poderia demorar para ir pegar a bebida e voltar, levando em conta a quantidade de gente que havia no caminho, mas uma hora e meia já era demais. Ficou preocupado.
Ele olhou em volta. Andou pelo salão. E olhou em volta. E andou mais pelo salão. Foi até o hall e olhou para fora. Não encontrando nada que desse sinal dela, entrou. Gina vinha para ele.
- O que foi? Você parece preocupado...
- Faz uma hora e meia que a Granger saiu para pegar algo para beber. Mas não voltou. E não a vejo em lugar nenhum.
- Talvez ela tenha ido arrumar o cabelo... ou algo assim.
- Uma hora e meia?
- Mas por que a preocupação?
- O Potter sabe.
- Ah, o Harry também está procurando a Mione. Mas ele só me disse que precisava falar com ela.
Snape assentiu e olhou mais em volta. Agora ele procurava Regina Black. Achou uma incrível coincidência não encontrá-la também. Agora ele tinha que pensar.
Saiu do salão às pressas e voou para as masmorras. Bateu à porta do quarto dela. Nada. Foi à sala dela. Nada. Foi a sua sala. Nada. Foi para os jardins. Poderia ser nada, mas ele sentiu algo diferente no ar. A mesma sensação deprimente de estar entre comensais. Deixou sua varinha à mão e estava preparado para qualquer coisa.
Ouviu passos logo atrás de si e preparou-se para atacar, mas era Harry que vinha e ele o reconheceu a tempo.
- Ah... você também notou a ausência da Granger?
- Faz mais de uma hora que eu não a vejo. Eu a vi entrar e ir falar com você. Mas eu a perdi de vista logo que ela foi pegar alguma bebida...
- Desde aquela hora você não a viu mais? – perguntou Snape, alarmado.
- É – respondeu Harry, não menos preocupado.
Os dois seguiram juntos para um lugar de onde vinham algumas vozes. Era perto da orla da Floresta Proibida.
- Hogwarts está vulnerável hoje – disse Harry. – Isso significa que está mais fácil alguém entrar... Ainda mais tendo Regina Black aqui.
- Descobriu algo sobre ela? – perguntou Snape, num sussurro.
- Um pouco. Era filha única e teve os pais mortos por aurores numa missão para encontrar Lúcio Malfoy... Mas os pais dela eram inocentes... Foi erro do Ministério.
- Então ela foi para o lado do Lorde das Trevas por odiar alguns aurores? – perguntou Snape.
- É o que parece.
- Menininha estúpida – disse ele. – Os comensais não querem saber se ela é sangue-puro ou se é nascida-trouxa... Ela é mais uma vagabunda para eles. Assim como qualquer mulher que não seja poderosa como Bella no círculo dos comensais.
- Será que eles... a Mione...? – Harry perguntou, com lágrimas nos olhos.
- Dumbledore está velho... Pode ter fraquejado um pouco – admitiu Snape. – Mas prefiro pensar que eles não fizeram nada... por enquanto. Se ela for só uma isca para chegar a mim... é possível que ela ainda esteja bem.
Harry preferiu não responder. Eles ouviram passos atrás deles e logo se viraram. Mas era Gina Weasley.
- O que você está fazendo aqui? – perguntou Harry.
- A Mione é minha melhor amiga, Harry – disse ela. – Se isso for pouco para você, pra mim não é. Eu vou ajudar vocês.
Os dois não tiveram tempo de discutir, pois viram algo se mexer nas sombras das árvores. Os três sacaram as varinhas, já iniciando uma defesa contra Accios e similares. Aproximaram-se.
- Mas vocês vieram cedo – ouviram uma voz arrastada dizer.
- Olá, Draco – disse Snape, em seu melhor tom de Mestre de Poções. – Isso é bem coisa sua mesmo. Patético. Com mania de grandeza. Invadir Hogwarts num dia em que estão aqui aurores e o Ministério em peso, além dos professores... Você é mesmo muito estúpido, como seu pai.
Houve um silêncio e os três sentiram uma maldição ser lançada. Todavia, ela nunca os alcançou; Snape os defendera.
- Draco, você ainda não aprendeu a fechar a mente. Você devia tentar.
Mais silêncio.
- Você quer aquela vadiazinha sangue-ruim de volta, Snape? – perguntou Draco, com a voz arrastada de antes, mas um tom meio abalado.
- Quero, se você fizer a gentileza – disse Snape, seco.
- Tragam a sangue-ruim para cá – disse Draco.
Homens de capuz trouxeram uma Hermione completamente desgrenhada, com as roupas estraçalhadas. Ela parecia ter apanhado e estava apenas semi-consciente.
- O que vocês fizeram com ela? – perguntou Harry, quase voando em cima dos outros comensais.
Gina o segurou.
- Espere, Harry – disse Gina, com lágrimas até na voz.
- Por enquanto nada demais – disse Draco, olhando para a jovem, jogada de qualquer jeito no chão. – Estávamos esperando vocês para o show começar...
Os comensais pareciam agitados. A voz de Snape soou mortal:
- Você vai precisar ser muito mais que esse molequinho mimado para comandar todos esses cabeças-ocas. Pelo seu próprio bem, deixe-a e vá.
Draco riu e os outros comensais também.
- Snape, pare com essa mania de ser o maior de todos – disse Draco.
- Deixarei de ser o maior de todos quando algum de vocês for capaz de me enfrentar – tornou Snape, feroz.
Draco puxou a varinha e todos os outros os imitaram.
- Snape... – disse Gina. – Você está para ser perdoado ainda...
- Que eu vá para Azkhaban – disse ele. – Vocês só vão tocar nela sobre o meu cadáver.
Gina não pôde ocultar um sorrisinho. Snape não estava se importando consigo mesmo; só queria livrar Hermione. Queria ajudar a amiga, mas não tinha o que fazer. Gina e Harry apontaram as varinhas para os comensais a fim de dar cobertura a Snape. Nenhum dos dois ousava duvidar da competência dele.
Não ouviram som antes de Draco começar a gritar e a se contorcer no chão. Snape o olhava. Os outros comensais ameaçaram atacar, mas Harry e Gina os tinham facilmente sob controle.
Snape, ainda olhando para Draco no chão, aproximou-se dele e olhou-o de cima.
- Diga em que mundo você me venceria, Draco – disse Snape, antipático. – Você não consegue lançar nem uma imperdoável... chegou a ser um comensal?
Draco se contorcia, gritando como um louco.
- Pare com isso, Snape – disse Harry. – A Gina está certa. Esses estúpidos não dão trabalho. Na vale à pena arriscar o seu perdão oficial por causa dele.
Snape suspirou e suspendeu o castigo.
- Seria bom alguém achar aquela Regina Black – disse Snape, apressando-se na direção de Hermione.
- Eu vou – disse Gina.
- Não – disse Harry.
- Então vá você e eu cuido desses oito comensais enquanto o Snape vê a Mione – disse Gina, insolente.
Harry suspirou e deixou-a ir. Ele prendia os comensais com correntes saídas do chão, enquanto Snape estava abaixado ao lado de Hermione. Ele sentou-a, segurando-a sentada, encostada em seu peito.
- Hermione... o que eles fizeram? Você consegue me entender? – perguntou Snape.
- Eles... me espancaram igual os trouxas fazem... – murmurou ela.
Snape sentiu uma pontada forte no coração.
- Todos eles?
- Todos – murmurou ela fraca.
E não era à toa que ela estava tão debilitada. O fato de ela estar acordada só significava que Draco os mandara irem com calma para que ela vivesse.
- Srta. Granger... tente ficar acordada – disse Snape. – Vou levar você para a ala hospitalar.
- Eu odeio estragar a festa – murmurou ela com um sorrisinho fraco.
Snape deu um sorrisinho contido e afastou uma mecha de cabelo do rosto dela. Não soube o que o levou aquilo, mas segurou umas das mãos dela com a sua que não a apoiava.
- Calma – disse ele. – Se eu te levantar agora você vai gritar?
- Já ta tudo doendo mesmo – murmurou ela, fraca.
Snape se levantou. Harry apenas observou-os. Não soube por que, mas ficou feliz por Hermione. Snape parecia se importar mesmo com ela. Talvez não a amasse ainda, mas ele a amaria logo, se continuasse assim.
- Potter...
- Pode levá-la, Snape. Acho que eu cuido deles. E o Draco... acho melhor ele ir fazer companhia para o pai dele – disse Harry.
- Pela primeira vez concordamos, Potter – disse Snape, pegando Hermione no colo, com um braço por trás das costas dela e outro por debaixo dos joelhos.
Ele levou-a para o castelo no colo, consciente do olhar fraco dela em si.
- Cheguei a pensar que você não viria – disse ela, com a voz quase sumindo.
Ele olhou para ela de relance antes de dizer:
- Achei que a sua demora era por causa dos encontros com muita gente. Parar para conversar com cada um demora. Mas depois de uma hora e meia, saí para procurar você. E não achei, o que me deixou desesperado.
Ela sorriu, outro sorriso abatido.
- Eu sou realmente muito feliz – sussurrou ela, e desmaiou.
Snape ainda sentia o sangue dela correr, por isso não se desesperou mais. Andou mais depressa para a ala hospitalar. Encontrou lá madame Pomfrey.
- Gina me chamou, Snape... e me explicou a história – disse a medibruxa. – Vamos cuidar dela agora.
Snape assentiu e ficou andando de um lado para o outro.
- Você vai precisar despi-la para o exame, certo? – perguntou ele. – É melhor eu sair. Tem alguma poção de que precise, madame Pomfrey?
- Não, acho que você abasteceu meus estoques na semana passada. Mas se eu precisar de alguma coisa irei correndo pedir.
Snape assentiu e saiu. Foi procurar Harry.
Achou-o, ao pé da escada, no hall, conversando com uns aurores. Todos olharam para Snape quando ele se aproximou.
- E então, Potter? – perguntou Snape. – O que foi feito dos comensais?
- Bom... foram mandados para Azkhaban... Vou pra lá logo que a Gina voltar.
- Ela ainda não voltou?
- Ela já nos trouxe a Regina... – disse Harry. – Mas quando ela começou a falar mal da Mione, a Gina a arrastou pelos cabelos para uma sala...
- A Gina é brava... eu não ia querer sofrer a ira dela – disse um outro auror.
- E que acontece? – perguntou Snape.
- Ela deve estar enchendo a Regina de tapa – disse Harry, sacudindo os ombros.
- E você deixa isso acontecer? – perguntou Snape.
- Claro – disse Harry, muito veemente. – Se eu não deixar, ela bate em mim.
Os aurores riram.
- Mas está tudo certo com a Mione? – perguntou Harry.
- Madame Pomfrey vai fazer os exames nela agora – respondeu Snape, algo taciturno. – Saí...
- Hum... entendo – disse Harry.
Ficaram naquele silêncio desconfortável por um tempo, até que Gina voltou, puxando uma Regina Black depenada pelos cabelos. Jogou-a para frente e disse:
- Essa aí precisa de um hospital – disse Gina, com desprezo. – Deve ter algum osso deslocado.
E entrou na ala hospitalar.
- Sabe... isso é um método de repreensão não muito aprovado pelo Ministério – disse Snape, admirando a figura patética de Regina Black com um olhar impassível.
- Ah... os métodos de repreensão, em geral, não são aprovados pelo Ministério – disse Harry.
- Mas comensais da morte não são gente – acrescentou outro auror. – Ainda mais aqueles que ferem Hermione.
Snape nada disse, e fingiu não ter visto o pisão no pé que Harry deu no auror. Era o que ele achava. Comensais da morte não eram gente, não deviam ser tratados como tal. Sentiu-se mal. Queria retirar-se, mas queria acima de tudo saber se Hermione ficaria bem.
- Ahn... eu voltarei mais tarde – disse ele, sério.
Snape andou para suas masmorras sem esperar resposta. Entrou em seus aposentos e foi logo para seu quarto. Culpado. Mil vezes culpado. Entrou em seu banheiro e olhou-se no espelho. Odiou-se mais. Via um ex-comensal da morte velho e estúpido. Não fora capaz de protegê-la. Odiou-se mais. Queria ter estado no lugar dela, ter sofrido no lugar dela. Morrido por ela, se preciso fosse. Mas não. Estivera sentado enquanto ela era espancada. Socou o espelho e viu uma ferida se formar em suas mãos. Jorrou sangue para fora, mas não se importou. Hermione estava tanto pior. Apanhara de oito comensais homens e de uma vadiazinha que ela protegia. Ele devia tê-la avisado do perigo. Ele devia ter falado a ela.
Não adiantava mais nada agora. Ele andava de um lado por outro e não notou o sangue que saía de suas mãos. Não percebeu o estilhaço de vidro que ficara preso à ferida. Sua mente pensava na figura frágil de Hermione, que apenas sorria levemente para ele, em toda a sua fragilidade, por ele ter se preocupado com ela. Ela não lhe saía da mente, é claro que ele se preocupara com ela!
Sentiu que o espaço do banheiro era restrito demais para ele circular de um lado para o outro e voltou ao seu quarto. Agora sim, andava a passadas largas de um lado para o outro.
Queria que a festa já houvesse acabado, queria que todos já tivessem ido embora, queria poder ficar com Hermione e ter certeza de que ela estaria bem. Ele andou de um lado para o outro por quase uma hora e, por fim, decidiu-se a ir para a ala hospitalar.
Ao chegar lá, viu que os aurores já não montavam mais guarda na porta, exceto Harry, agora acompanhado de Rony, que chegara depois.
- Ahn... – ele tentou controlar a amargura na voz. – Madame Pomfrey já deu alguma notícia?
- Não. A única vez que ela apareceu na porta foi para perguntar onde você estava – disse Harry.
- Ela precisa de alguma poção? – perguntou Snape, com os olhos arregalados.
- Não – disse Harry. Ele pigarreou antes de dizer: – A Mione tava chamando você.
Snape assentiu com uma face inexpressiva e adentrou a ala hospitalar. Madame Pomfrey, Dumbledore, Minerva McGonagall e uma Hermione debilitada olharam para ele.
Os lábios da jovem professora se contorceram levemente num sorriso.
- Por que você foi embora? – perguntou ela.
Snape não se sentiu confortável com aquela demonstração de sentimento na frente de três estranhos, por mais íntimos que fossem. Entretanto, a situação impedia uma reprimenda e ele simplesmente disse com uma voz baixa:
- Madame Pomfrey estava examinando você – ele se aproximou e, com um sorrisinho no canto dos lábios, acrescentou: – Eu não ia ver você sem as suas calças...
Hermione riu, mas era uma risada fraca, e ela tossiu um pouco.
- E como você está? – perguntou ele, ainda bastante afastado da cama dela.
- Madame Pomfrey disse que eu vou viver – sussurrou ela.
Snape murmurou irônico:
- Parece que ainda vou aturar a sua presença por muito tempo...
Hermione olhou para ele com os olhos arregalados, achando que ele havia usado uma ironia cruel, mas acalmou-se ao ver um sorrisinho amistoso nos lábios dele.
Ela esticou a mão para ele, chamando-o. Snape fez cara de desagrado, porque os três mais velhos ali sorriam de algo que ele não entendia completamente, mas era como se todos soubessem que Hermione o amava. Dumbledore e McGonagall disseram que tinham que voltar para a festa, a fim de acalmar os convidados, e a medibruxa disse que ia escrever o relatório de Hermione na sala ao lado, de modo que os dois ficaram sozinhos. O olhar deles se cruzou outra vez.
Ela bateu na beirada da cama, pedindo num gesto para ele se sentar lá. Ele o fez e segurou as mãos dela entre as suas. Lágrimas escorreram pelos olhos dela. Ele as enxugou.
- Pare com isso. Não gosto de ver você chorando – disse ele, sério.
- Quando madame Pomfrey foi te chamar a meu pedido... Você não estava aí fora? Aonde você foi? – perguntou ela magoada.
- Eu fui... eu... precisei ir ao meu quarto – disse ele, puxando suas mãos das dela, mas ela as segurou.
- O que é isso? – perguntou ela, sentindo que uma das mãos dele deslizava viscosa.
Ela arregalou os olhos ao ver sangue ali.
- O que é isso? – perguntou ela.
- Deve ser seu sangue – disse ele, tentando se desvencilhar das mãos dela.
Mas Hermione as segurou e pegou a mão dele. Tirou um pedacinho de vidro da ferida e mostrou-o a ele.
- Meu sangue, Severo? – perguntou ela.
À menção de seu nome, ele relaxou.
- Você socou o seu espelho – sussurrou ela, passando os dedos delicados pela ferida aberta de onde ainda saía sangue. – Por quê?
Snape não respondeu. Levantou-se e disse que ia pedir para madame Pomfrey arrumar aquilo.
- Não vá embora – murmurou ela.
- Eu não iria – disse ele. – Estarei aqui em um minuto.
Ele foi para a salinha de madame Pomfrey e Hermione ficou olhando para a porta, em expectativa. Mas, com um susto, ouviu a voz irritada da mulher:
- Severo Prince Snape! De novo isso? Eu já disse... Se você estiver se odiando, grite! Mas não soque o espelho outra vez!
A resposta dele foi um murmúrio que ela não conseguiu ouvir, mas logo Snape estava de volta e sentou-se onde estivera antes, segurando as mãos dela.
- É verdade? – perguntou ela num sussurro.
Snape sabia do que ela estava falando, mas se fez de desentendido:
- O que?
- Você estava se odiando? – ela não o esperou responder para perguntar: – Por quê?
Snape suspirou. Ele não ia dizer. O olhar dele encontrou o dela. Está bem, ele ia dizer.
- Hermione... – disse ele. – Eu fui um comensal da morte. Tenho nojo de mim cada vez que me lembro que fiz cada uma das coisas que eles fizeram. Ou quase todas. E mais nojo ainda quando me lembro que poderia ter evitado que isso acontecesse...
- Mas você não tinha como se...
- Eu sabia, Hermione – disse ele, cansado.
Ela olhou para ele com um ar inquisidor.
- A srta. Black, naquele dia em que atrapalhou nossa conversa... Ela queria falar comigo sobre um suposto aviso de Malfoy pai que você ia morrer. Claro que eu entrei na mente dela, e então descobri que ela uma comensal, uma informante. Mas não falei nada. Fui procurar o Potter. Ele investigou tudo. Mas achei que você não deveria saber. Uma ameaça à sua vida seria uma preocupação inútil, pois achei que você estaria segura em Hogwarts e, se saísse, era só eu avisar para tomar cuidado. Você não ignoraria um aviso meu. Eu fiquei sentado enquanto você era espancada. E eu sabia que alguma coisa poderia acontecer. Eu me odeio.
Ele olhou para baixo com um ar derrotado. Uma das mãos de Hermione soltou das dele e ele olhou para ela, espantado, achando que ela o rejeitaria. Ao contrário, a mão dela foi acariciar o rosto dele.
- Deus, como eu amo você! – exclamou ela.
Snape olhou para ela, aturdido. O inesperado carinho, a declaração, alguma coisa o fez sentir-se mais leve. Ele olhava para ela e, naquele momento, soube que precisava dela mais que de tudo. Que, sem ela, jamais teria alguma chance da felicidade que ele não se julgava merecedor. Fechou os olhos e respirou fundo, sentindo o olhar dela em si.
- Eu queria dizer o mesmo... – murmurou ele. – Mas eu não sei o que eu sinto.
Ele olhou para Hermione, que lhe sorriu.
- Você me acha atraente, pelo menos.
Ele sorriu.
- Mas isso não esteve em questão em nenhum momento, srta. Granger.
Ela deu um sorriso leve e sentiu seus olhos pesarem. As poções começavam a fazer efeito. Snape percebeu isso e, depois de dar um beijo terno na testa dela, levantou-se.



LA RA RIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII

ESSE CAP ENTROU AQUI SÓ PRA ATRAPALHAR O ENTENDIMENTO DELES, CLAAAARO!

ESPERO Q CS TENHAM GOSTADO, MEUS AMORESSSS

BJOKASS

ANNINHA SNAPE

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