Capítulo Um.
‘Não vá’.”
“Será que você poderia, uma vez na vida, acordar no horário?”-disse Carmen Esperanza, abrindo as cortinas, puxando as minhas cobertas e me cutucando em vários pontos.
“O que você está fazendo aqui?”-gani, abrindo os olhos.
“Estou te apressando, sua idiota.”-foi o que ela disse, enquanto desviava habilmente dos vários sapatos jogados no chão. Vi que ela foi até o meu banheiro e ligou o chuveiro.
Carmen voltou ao meu quarto, segurando um par de sapatos.
“Se você não levantar AGORA, eu simplesmente jogo os seus sapatos favoritos pela janela.”
Sentei na cama e vi que ela que estava falando sério.
“Ah, calma aí.”-foi o que eu disse.
“Calma aí?”-ela repetiu, parecendo furiosa demais.-“Eu posso perder meu
emprego, se você não levantar essa sua bunda gorda, ficar mais
APRESENTÁVEL e... em apenas vinte minutos.”
“O que eu tenho que fazer de tão importante?”-perguntei, me levantando.
“Reunião com o Hugh?”- e ao ver que para mim, isso não significava nada,
Carmen continuou, tentando não parecer a ponto de explodir comigo.-“A
reunião que vai fazer você ser uma das autoras a lançar um décimo livro?”
“Ah, MEU DEUS!!!”-berrei, desesperada, andando em direção ao chuveiro.-
“Como eu pude esquecer?”
Só não pense que eu era uma pessoa que esquecia as coisas.
Na verdade, eu sou bem, mais bem profissional.
Você só me pegou na fase que alguns trouxas chamam de inferno astral.
Imagine acordar um dia e perceber que o cara com quem você praticamente
mora junto, não te ama mais. E, além disso, ele vai fazer uma longa
viagem porque está, simplesmente, indignado com a própria vida.
Sim, você só pode virar e pensar: ‘Isso não aconteceu com você’ ou ‘Você é
realmente azarada demais’.
Mas tudo piora.
Só pelo fato do cara ser o herói nacional. E você ser um tanto famosa
demais, não só por ser a mocinha boazinha que conquistou o cara mais
desejado do mundo, mas por ser, também, uma escritora de livros
românticos que faz o maior sucesso em vários países.
Ah, já falei que o meu rompimento virou o assunto mais pesquisado?
Revistas de fofocas, jornais sensacionalistas e até aquelas páginas de
internet só dizem que eu e Harry Potter rompemos depois de onze anos de
casamento.
Se você não sabe, nós nunca nos casamos.
Ou melhor, em onze anos de namoro, a palavra casamento nunca foi
mencionada.
A não ser por algo do tipo:
“Sabe, o Rony e a Hermione? Eles vão se CASAR, Harry.”-eu falei uma
vez, depois de ver uma boa parte das minhas amigas casadas e... quase
grávidas (OK, isso se chama desespero por eu não estar grávida e não ter
um marido).
“Ah, que bom. Você quer dinheiro para comprar um presente?”-ele disse,
enquanto virava a página do jornal.
Um diálogo que no meu livro, provavelmente, teria um final diferente:
“Sabe, o Rony e a Hermione? Eles vão se casar, Harry.”-seria a minha melhor indireta.
E, então, o Harry pararia de ler o jornal, me puxaria pela cintura, daria um beijo na minha boca e falaria:
“Oh, querida, e se nós também nos casássemos? Mas em segredo? Como se
fosse algo realmente só nosso?”
Eu só o beijaria ainda mais e, no dia seguinte, nós estaríamos em Las
Vegas, já casados e aproveitando a nossa lua-de-mel.
OK.
Acho que ser escritora mostra que eu, às vezes, idealizo demais.
Só que no final, eu me reergui.
Não mostrei que, na verdade, eu fui chutada feito uma bola velha e murcha.
Acho que mostrar que eu sou uma pessoa forte e íntegra, me ajudou muito.
Tá, eu confesso.
Não ajudou porcaria nenhuma, já que eu estou, nesse momento, prestes a
ter o meu contrato cancelado.
Sabe, quando eu publiquei o meu primeiro livro, eu meio que implorei para
manter um pseudônimo. Sei lá, poderia ser Rosa Negra, Skinn ou qualquer
coisa menos brega e mais atraente, mas não.
Eles simplesmente não conseguiram entender que por trás de Gina Weasley,
a namorada de Harry Potter, existia uma Gina Weasley, querendo ser uma
escritora de verdade.
Então, com o meu primeiro livro publicado e com uma chamada: A
namorada de Harry Potter escreve o melhor romance do ano, eu consegui
atrair mais pessoas.
Entenda como gente sentimental que gosta de livros onde há romance, frases bem boladas e longos beijos.
Assim, tive a oportunidade de assinar um contrato bom e favorável.
Mas eles não conseguem ver que eu posso continuar escrevendo romances
doces e açucarados como antes.
Afinal, eles lucravam em cima do meu trabalho forçado.
Quem ficava horas pensando no jeito como o romance teria? Na construção
dos personagens?
Quem quase batia a cabeça na mesa por não conseguir deixar a cena como
imaginava?
Eles só não conseguem ver que eu sou capaz.
E isso vai acabar simplesmente hoje, quando eu conversar com o Hugh, o
chefão de todos. Ele vai ver que eu não sou apenas uma mulher ruiva, de
um metro e sessenta e seis e meio. Não, ele vai perceber que eu sou muito
mais do que isso.
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“Essa roupa?”-foi o que eu falei, quando saí do banho.-“Ele vai pensar que eu quero estuprá-lo, Carmen.”
“Você é apenas careta demais.”-cantarolou a Carmen, bem mais calma.-“Olhe esse vestido. Ele é tão Bonequinha de Luxo.”
“Você sabe qual é o personagem que a Audrey Hepburn faz?”-e ao dizer que não, eu disse, toda paciente.-“Ela é uma prostituta.”
“Uma prostituta que se veste bem. E a Audrey é delicada demais para ser chamada de prostituta.”-repreendeu-me a mulher.
“Tá, tá. Não vou usar essa roupa e pronto.”-falei, impaciente. Peguei no meu armário, uma calça preta e uma camisa branca e logo avisei.-“Vou usar isso junto com os meus sapatos da sorte.”
“Você pode usar os seus sapatos da sorte com esse vestido. Você vai ser uma Audrey ruiva.”-ela tentou me convencer, mais uma vez.
“Ela não é ruiva.”-foi o que eu disse.-“Além do mais, não estou no clima para sair vestida assim às oito horas da manhã de uma segunda-feira.
Então, não, muito obrigada.”
Carmen só deu um suspiro e disse:
“Faça o que quiser. Vou te esperar lá na sala, OK?”
“Ótimo.”-falei, distraída.
Eu só precisava me lembrar o lugar em que eu deixei os meus sapatos da sorte.
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“Se você não percebeu, nós estamos atrasadas.”-disse a Carmen, cruzando os braços.
“Apenas cale a boca.”-falei, enquanto tomava mais um gole de café.-“Se você tivesse me acordado mais cedo, nós não estaríamos atrasadas.”
“Se você lembrasse que você tinha uma reunião importante logo de manhã, eu não precisaria ser a sua babá.”-retorquiu a Carmen, ao entrarmos no elevador da editora.-“Sabe, eu não posso fazer você ser uma pessoa responsável, Weasley.”
Revirei os olhos.
“Nem a minha mãe me dá uma bronca dessas.”-resmunguei.
“Não, você quer dizer que... se você estivesse falando com a sua mãe, ela
te daria uma baita bronca por ficar vendo TV até tarde.”
Essa era a verdade.
Mamãe simplesmente não entendia que Harry tinha me dado um fora
porque estava cansado da vida dele.
Não.
Para a minha mãe, eu que pressionara o cara demais e, assim, ele fugira
como um animal assustado.
Bom, eu achava que Harry era um outro animal. E qual é, mãe? Você acha
que eu ia esperar mais quantos anos para casar e ter filhos? É, realmente, se
ela queria ter netinhos, ela tinha que brigar com Harry Potter e não comigo.
“Você quer fazer o favor de sair do elevador?”-disse Carmen, impaciente.-“E
se cancelar a reunião, Gina? E se eu... for demitida?”
Demissão era uma palavra que a Carmen não suportava ouvir.
“Você não vai ser.”-eu falei, mais para mim do que para ela.-“Você vai ver que nós conseguiremos que o meu livro seja publicado. E vai ser a coisa mais fácil do mundo.”
Mas quer saber?
Eu realmente achava que falar coisas positivas, atrairiam coisas positivas.
Só que nada disso aconteceu.
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“Eu li o seu livro.”-foi o que o Hugh me disse.
Nada de ser gentil com a pessoa que mais lucrou ano passado.
Nenhum ‘Bom-Dia, Gina!’ ou ‘Você quer se sentar?’.
“E o que você achou?”-perguntou a Carmen, parecendo afobada.-“Quero dizer, você viu que ela está cada vez mais afiada, né? Alguns diálogos foram simplesmente perfeitos. E Jennifer foi a melhor mocinha que ela já escreveu.”
“Eu só disse que eu li o livro dela, Esperanza.”-falou Hugh, tirando os óculos e os pousando na mesa.-“Não falei nada positivo...”-e nisso, a respiração de Carmen se prendeu, mas ele logo completou.-“Ainda.”
“Então, fale o que você achou.”-retruquei, tentando não parecer tão irritada e desconfortável com essa situação.
O cara nem me cumprimentou.
Eu realmente precisava ser toda educada com ele?
É claro que não.
Hugh levantou as duas sobrancelhas, parecendo espantado, então, ele disse:
“Acho melhor vocês se sentarem. Nós teremos que conversar sobre algumas coisas.”
“Eu acho que eu poderia ficar em pé.”-desafiei.-“Acho que essa reunião pode ser bem breve. É só você falar se esse livro que você leu.”-e nesse momento, apontei para o livro grosso que se encontrava em cima da mesa.-“Vai ser publicado.”
“Sente-se, Weasley.”-e, bem, eu percebi que aquilo não era bem um pedido.
Era uma ordem expressa.
Relutante, puxei a minha cadeira. Carmen sentou-se ao meu lado e eu pude ver que, por alguns momentos, ela cruzara os dedos.
Acho que ela estava pedindo para entidades superiores que não fosse demitida ou qualquer coisa do tipo.
“O livro é surpreendentemente bom.”-disse Hugh.-“Talvez tenha sido o melhor livro que você escreveu, Weasley. O que me surpreende é o fato de você escrever uma estória sobre uma mulher que acredita em um príncipe encantado. E que esse príncipe foi roubado. Como se ele não pudesse escolher o melhor para ele.”-ele fez uma pausa.
Eu e a Carmen sabíamos que ele ia continuar, só que eu o interrompi:
“Tá, essa é a estória do meu livro. Agora, qual é o problema?”
“É muito autobiográfica, Weasley.”-ele falou.
Eu fiquei pasma.
“Isso não tem nada a ver com o Harry!”-falei, indignada.-“Eu... comecei esse romance... antes de terminar com ele.”
“Nós sabemos o que aconteceu.”-disse Hugh, com as sobrancelhas arqueadas.-“O começo é alegre, mas quando nós chegamos na parte em que a Angie simplesmente rouba o Braddley da Jennifer, eu percebi toda a sua decepção. Ou melhor, a decepção da Jennifer.”
“Você acha que ela deveria ficar feliz por ver o cara que ela amava com uma mulher víbora e cruel?”-perguntei, espantada.
“Weasley, eu estou te dizendo que as pessoas vão associar a Jennifer a você. E o Braddley a Harry Potter.”-e, ao ver que eu bufei de pura irritação, ele continuou.-“Nós sabemos que você vai negar até a morte, mas você acha que vai fazer bem para você? Ao ler as críticas? Ao ver que as pessoas estão comentando que o final do livro... não tem nada a ver com a sua vida?”
Ainda fiquei em choque e tentei dizer que não tinha nada a ver comigo.
“Nós sabemos a verdade.”-ele falou, tentando imaginar qual seria a minha próxima reação.
Eu, por acaso, choraria?
Ou tentaria matá-lo?
“Então, o que você vai fazer?”-perguntei, a voz um tanto mais fraca.
“Comece um outro livro.”
“Não.”-eu falei.-“Esse livro é muito importante para mim. Você até falou que ele é o melhor que eu já escrevi. Eu simplesmente, não posso abandoná-lo.”
“Só pense que é um livro que não foi para frente.”
“O que você quer que eu faça?”-eu falei.
OK.
Eu praticamente implorei.
Acho que isso foi um tanto patético da minha parte.
“Gina, vamos começar o seu décimo - primeiro livro.”-aconselhou a Carmen, mas eu simplesmente a ignorei.
“Não.”-falei.-“Eles não vão pensar em Harry Potter, Carmen.”
“Como não?”-perguntou Hugh, incrédulo.-“Ao falarem o seu nome, todos os nossos entrevistados falaram em Harry Potter. Você seria capaz de se desprender?”
“O que você precisa que eu faça... para que esse livro seja lançado?”
“Que tal você arranjar um namorado, Gina?”-sugeriu a Carmen.
“Um namorado?”-repeti, junto com o Hugh. Olhei para o homem, a minha frente, com o cenho franzido.
O que diabos ele estava pensando?
“Seria maravilhoso, Weasley.”-falou o homem.-“Você apareceria com um homem e mostraria a todos que está bem.”
“Você é louco.”-foi o que eu consegui dizer.-“Hugh. Eu não preciso de um novo namorado para ter sucesso. Eu acho que eu sou talentosa o suficiente para vender todos os livros que vocês vão mandar para a gráfica.”
“Você pode ter um público fiel que lê todos os seus livros, mas eu acho que esse livro é um tanto diferente dos outros. Ele está mais... real, Weasley. A sua ‘heroína’ tem problemas reais. Ela foi chutada. E só.”
Não consegui responder.
Aquilo realmente estava acontecendo comigo?
Eu não estava sonhando?
Ou eu estava de porre de novo? Eu sei que não é bom ficar bebendo domingo de noite e tudo o mais, mas não é possível.
“E um namorado seria perfeito.”-falou Hugh.-“Imagina o que a crítica especializada vai escrever: ‘Sim, Gina Weasley pode ter colocado toda a sua decepção em Jennifer ao retratar uma mulher que sofre ao ver o namorado com outra, mas vejam: se Jennifer teve um suposto final feliz com o Braddley (ou melhor, a reencarnação de Harry Potter), Gina Weasley conseguiu algo bem melhor: um novo e maravilhoso amor.’ Isso ficaria maravilhoso para você, Weasley.”
Olhei para a Carmen.
Eu podia sentir que ela iria falar que eu tinha que aceitar. Que era a minha maior chance e tudo o mais.
Entretanto, isso, por acaso, daria certo?
“Tanto que nós poderíamos lançar o seu décimo livro... no seu aniversário.”-sugeriu Hugh.-“Você comemoraria em dobro.”
“Meu aniversário... é daqui há duas semanas.”-falei, nem um pouco feliz.-
“Você acha que eu vou me apaixonar por um desconhecido em duas semanas?”
“Apaixonar?”-riu Hugh.-“Você não está falando sério.”
“Eu vou namorar um homem e eu não vou estar apaixonada por ele?”
“Paixão é algo que só as suas heroínas conhecem.”-ele falou, cético.-“Ou você acha que você seria capaz de ter um relacionamento do jeito como você descreve?”
“O que você quer dizer com isso?”-perguntei, irritada.-“Que eles são perfeitos?”
“Que eles são apenas irreais.”-e nisso Hugh, me deu um sorriso triste.-“São tão perfeitos que você só consegue torcer para que aconteça alguma desgraça.”
Eu balancei a cabeça, em pura negação.
“Você está brincando comigo.”-e nisso, eu me levantei.
“Duas semanas, Weasley.”-ele falou, enquanto mexia em alguns papéis.-“Só se lembre de ficar, pelo menos, um ano com esse cara.”
Apenas saí da sala, batendo a porta com força.
CONTINUA...
N/A: Olá a todos!
Sim, essa fic existe. Ou existia, já que eu comecei a ler... e percebi que ela estava bem ruim, coitada. Então, como o capítulo final de ‘A espiã’ está, simplesmente, me matando, eu decidi começar Meu Acompanhante de novo. Essa fan fic, logo que eu tive a idéia, meio que se tornou a minha fic querida que eu vou dar o melhor de mim, mas, no final, ela não ficou tão boa quanto eu achava que ela poderia ficar (alguém entendeu?). Então, agora, estou tentando me redimir.
Assim, para avaliar se a fic realmente melhorou, seria bom alguns comentários, ok?
Obrigada a todos e espero que vocês continuem acompanhando!
Beijos,
Anaa
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