Fogueira Santa
Os fiscais do imposto armaram a charrete e pegaram o caminho de volta.
- Os Hufflepluff irão pagar caro por isso! – disse um deles.
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Helga estava no quintal de sua casa. Já estava anoitecendo. O povo naquela época não tinha entretenimentos, por isso, Helga tinha que se contentar em colher flores e arrancar ervas daninha.
Fora sua casa, onze se estendiam em sua volta formando um semi-arco. Outras crianças estavam fora de sua casa conversando, em volta do poço ou fazendo o mesmo que Helga. A vida nos feudos para as crianças corria mansa. Não iam para a escola, pois eram filhos de servos (entende-se: futuros servos), não faziam catequese na Igreja, pelo mesmo motivo, e não trabalhavam no campo com seus pais, pois era um trabalho cansativo e árduo, que uma criança de oito, nove anos não ira agüentar.
Seus pais conversavam dentro de casa.
- Foi você que pegou o saco enquanto eu brigava com eles? – questionava o pai de Helga.
- Não fui, já disse querido, eu estava tentando acudir vocês!
- Mas não pode ter sido mais ninguém!
- É isso que estou tentando dizer! Não entende?! Sabe quem estava parado a essa hora enquanto você brigava com os guardas?
- Não me vai dizer que era Helga, porque ela não teria força para carregar o saco da porta até aqui.
- Bem, era a única que estava fora da confusão e você sabe...
O homem olhou assustado para a mulher.
Lá fora, Helga brincava com um texugo, a cerca de sua casa não estava mais lá.
- Meu texugo, meu texugo – cantava ela.
Lá dentro a conversa continuava.
- Você não acha que...
Ela consentiu com a cabeça com os olhos úmidos.
- Não podemos negar isso, coisas estranhas acontecem quando ela está por perto – disse ela.
- Os texugos... – disse ele vagamente.
- Objetos que flutuam... – disse ela.
- Raios de luzes a noite...
- Sim, devemos ter uma conversa séria com ela, se os vizinhos descobrissem...
- Vem, vamos chamá-la. – terminou ele indo abrindo a porta.
Lá fora um alvoroço enorme se fazia. Pessoas saíam de suas casas e chamavam outras para verem o que estava acontecendo e apontavam para o quintal dos Hufflepluff`s e olhavam em volta espantadas. Helga estava tão entretida que não percebera que algumas dúzias de pessoas apontavam para ela. Estava brincando agora não com um texugo, mas com doze!
Uma charrete com os ficais chegava ali, que por sua vez arregalaram os olhos.
O pai de Helga, assustado, chamou sua esposa e saiu correndo em direção à filha.
Um dos ficais ficou de pé na charrete e gritou:
- Fogueira!
Todos ali perceberam a presença dos ficais e por sua vez levantaram as mãos gritando:
- Fogueira! Fogueira!
O pai de Helga a pegou no colo e sacudia a cabeça negativamente com lágrimas nos olhos. Helga lançou um olhar inquisitivo para sua mãe que estava na porta . A mãe apenas abriu mais a porta para seu marido entrar correndo com a Helga para dentro.
- Papai, o que é fogueira? – disse ela observando seus pais.
Eles estavam chorando e abraçando-a.
- Por quê? Porque não nos contou filha! – gritou sua mãe.
- O que mãe? – disse Helga assustada.
- Que você é uma profana (bruxa)!
Lá fora alguem gritou:
- Que venha a Santa Inquisição!
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Godric começou a andar a passos rápidos, já havia perco, mas mesmo assim não queria demorar a chegar, não mesmo.
Godric Gryffindor era de uma família muito pobre que morava perto do castelo dos Slytherin`s. Seu pai cuidava dos cavalos e charretes deles e sua mãe trabalhava no castelo o dia inteiro e só retornava a noite, mas sempre deixava o almoço pronto pela manhã.
Às vezes ele acompanhava seu pai no serviço, mas não gostava muito. Odiava os nobres e o jeito com que tratavam seu pai. Certa vez, Godric chutara a canela de Elmon, quando este mandara seu pai limpar o chão por onde ele ia passar. Todos a volta haviam o olhado espantados imaginando o que lhe iria acontecer, mas o rei apenas virou-se para o garoto, que na época tinha sete anos, colocou a mão sobre sua cabeça e disse:
- Muito corajoso de sua parte – disse Elmon altivo e presunçoso. – Mas não volte a repetir isso, as conseqüências serão gravíssimas.
Isso deixara Godric sem ação. Em casa, seu pai não falara nada a respeito nem ao menos olhara em seu rosto. Na hora de dormir Godric tentou se redimir:
- Eu só estava querendo te proteger pai, e pode ter certeza que um dia vou fazê-lo.
Seu pai puxou seu casaco de pele de animal, virou o rosto com um sorriso e dormiu.
Godric estava entediado e apressou o passo mais ainda. Não tinha mais chances de chegar até o final daquela trilha sem ter que andar tudo aquilo: nenhum outro competidor havia quisto dar carona a ele. Já estava anoitecendo, o que o lembrou do velho mito dos feudos.
Os moradores da vila sempre diziam que era perigoso andar sozinho a noite dizendo que havia monstros pela redondeza. Para Godric, pura baboseira, talvez um artifício para não andarem a noite por aí e verem alguma coisa que os senhores feudais não queriam que outros vissem, mas era o único que pensava isso no vilarejo.
Estava andando tão imerso em seus pensamentos que não se deu conta de dois animais, um a sua frente e outro a suas costas, até que um rugido o acordou.
Godric olhou para frente: um leão andava em sua direção a sua frente e outro rugido atrás o avisou que eram dois leões ali. Eram enormes e sua juba era levemente rajada de um vermelho fogo. Seu coração gelou, um arrepio passou por toda sua espinha e ele travou. Não conseguia mexer um músculo. Os leões estavam se aproximando andando de lado como se ele fosse o centro da circunferência. Rugiam a cada segundo fazendo Godric tremer a cada rugido. Não conseguia falar também, a voz parecia ter escapado de sua boca.
Outro rugido, mas esse foi o pior: sentiu o ar da boca do leão atingir seu pescoço. Um desespero abateu-o e aumento ainda mais quando o leão a sua frente ficou pouco menos de dez centímetros dele. Os olhos da fera que estava a sua frente miraram o seu com um ardor, com uma chama ardente e penetrante. Godric ao menos tempo que estava aterrorizado, sentiu uma enorme admiração a força daquele animal, que inspirava cima de tudo, coragem. Godric fechou os olhos e esperou pelo fim, em seguida, sentiu uma dor horrível na altura de sua barriga, como se a tivessem rasgado.
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Rowena e sua família chegavam de charrete as portas do castelo dos Slytherin`s, já era noite. Os portões se abriram e eles entraram. Rowena desceu da charrete e foi em direção das servas, que exclamaram sobre a beleza dela quando a viram.
- Chame Salazar, diga que eu cheguei – disse ela com seus lindos olhos azuis circundados por um preto intenso.
Salazar havia ouvido um boato sobre fogueira e perguntava ao seu pai sobre o esquema de proteção do castelo:
- Pai, aqueles leões são verdadeiros?
- Claro que não filho, não quero perder servos. – disse rudemente – Trata-se de um poderoso feitiço de proteção que paralisa a vítima e ao mesmo tempo em que dois leões ilusórios aparecem. Eles chegam cada vez mais perto bem devagar para causar mais medo e no final golpeiam a vítima que só sente dor mais não é ferida verdadeiramente, em seguida, desaparecem.
- Mas por quê isso?
- Não entendeu ainda? A vítima volta para a casa achando que guardamos feras na propriedade e conta a todos e o boato se espalha, assim ninguém ousa invadir nossa casa.
- Pai, só mais uma pergunta: existem texugos nessa região?
- As cobras não deixariam nem ao menos chegarem perto do vilarejo.
A porta se abriu e uma serva apareceu:
- Com licença Vossa Majestade. Salazar, Rowena está te chamando, os Ravenclaw`s acabaram de chegar senhor Elmon.
Salazar, imerso em seus pensamentos, desceu.
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Godric sentira somente dois golpes e nada mais. Abriu os olhos e não viu mais aqueles dois leões. Achou muito estranho tudo aquilo e começou a raciocinar.
“Bem, não eram leões verdadeiros, senão teriam me matado...” pensou ele “Mas o que eram?.....Só se fosse....mágica?!”
Seu coração bateu forte.
“Será então que os Slytherin`s são bruxos?!”
Godric sabia muito bem o que era magia, já havia feito alguns feitiços involuntariamente e se esforçava para não fazê-los sem querer na frente de qualquer pessoa da vila, se o fizesse seria morto na fogueira...assim como dezenas de outros...
Havia anoitecido e já estava frio. Uma pequena escrita em couro estava no chão logo à sua frente. Godric a pegou ao mesmo tempo em que seu rosto vermelho. Era de Chantter, aquele homem que soltou seu cavalo, provavelmente a jogara ali quando passou por lá:
Decepcionante...mas o que esperar de uma criança?
Espero que não demore a acostumar com o último lugar.
Boa caminhada.
Apesar de achar o bilhete extremamente idiota, Godric sentiu mais raiva ainda, um fogo invadiu seu peito, teria que chegar lá antes que a comemoração acabasse e desmascarar Chantter. Desejou mais do que nunca ter um daqueles leões para levá-lo de volta. Quase ao mesmo tempo um leão parecido com um daqueles surgiu a sua frente, mas estava um pouco diferente. Seus olhos eram vermelhos-fogo, assim como sua juba enorme, tão vermelhos que ele achou que estavam brilhando.
O leão agachou-se e ele, instintivamente, subiu nele segurando em sua juba. O leão levantou-se e virou-se para o norte e, num impulso, começou a correr velozmente.
Godric parecia estranhamente levar jeito para isso, estava em perfeito equilíbrio em cima do leão e com um estranho brilho nos olhos, mal tinha percebi que ele mesmo conjurara o leão em um feitiço de reversão ilusória, e isso tudo, inconscientemente...
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A festa já havia começado e várias famílias bruxas, todas puro-sangue, se misturavam no grande salão dos Slytherin`s. Alguns dançavam uma música clássica tocada por um grupo de bruxas com longas saias lá no fundo do salão. A vocalista se parecia muito com a vocalista das Esquisitonas, ao menos o nariz agigantado era igualzinho.
Outros grupos de bruxos e bruxas se juntavam a alguns trovadores do rei que recitavam suas poesias de amigo e de amor. Salazar conversava com Rowena sobre alguns comentários que tinha ouvido.
- Uma foi acusada de transformar as cercas das casas em texugos e o outro foi acusado de rugir.
- Rugir? – riu Rowena – Claro que você não acreditou, não é Príncipe Slytherin?!
- Mas sabe de uma coisa Plumas de Pavão – disse ele os braços num gesto imitando as empregadas quando diziam esse nome – eu perguntei a meu pai se existia texugos por aqui.
- E ele respondeu o que? – perguntou ela cruzando os braços e olhando ele fixamente.
- Ele respondeu que as cobras não deixariam eles chegarem nem perto do feudo.
- Mas claro que as vezes algum deles pode conseguir não é mesmo?
- Mas doze?! Use o cérebro! Achei que os Ravenclaws`s eram conhecidos por serem a linhagem bruxa mais inteligente.
- E são! Creio que você não passou no teste de Artilharia e tirou zero na prova de História da Magia.
- Creio que você está sabendo de coisas que não são da tua pessoa.
Lá no fundo do salão, três bruxas adolescentes olhavam fixamente para Salazar.
- Um estrago! – dizia uma com uma cara de quem estava sonhando.
- Um abacate! – dizia a segunda levando a mão ao peito.
- Uma perdição! – dizia a terceira mordiscando o lábio.
Rowena, vendo que Salazar olhava para elas apressou em falar algo tentando chamar a atenção de volta a ela:
- A festa está muito parada não? – disse balançando um leque freneticamente em seu rosto, apesar de o tempo não dar qualquer sinal de que estava quente.
- Realmente – disse ele virando o rosto de volta –Acho que vou dar uma olhada naquilo e bem rápido, antes que as irmãs Malfoy`s me chamem para dançar – terminou ele fazendo um sinal de cruz.
- E como você pretende ir? – disse Rowena incrédula.
- A cavalo se quer saber. Se eu for de carruagem vai chamar muito a atenção – completou vendo a cara de nojo de Rowena.
- Sabe, você as vezes não se comporta como um nobre! – disse ela.
- E por que devo? Muito chato essa vida às vezes. “Deve se portar como um cavalheiro” – terminou, imitando sua mãe com uma voz aguda.
- E realmente deve... – mas parou ao olhar suas vestes – o que você fez?!
- Ah, alguns toques próprios, só isso...
- Seu pai vai te matar!
- Ah não, me matar não, mas ele me prometeu uma seção de maldições(castigo) – disse ele ao mesmo tempo em que Rowena levou sua pequenina mão à boca. – Bem vou indo então, até nos vermos.
- Até – disse ela secamente tentando descobrir o motivo que levava um nobre a abandonar uma dama.
Salazar foi andando até a porta. Ele e Rowena eram as “crianças” mais comentadas daquela festa. Dois lindos jovens, inteligentíssimos, ótimos bruxos. Sempre havia olhares curiosos dos convidados em suas direções e muitas vezes iam cumprimentá-los com algum presente. Rowena adorava isso e, sempre que percebia que a olhavam, ela mexia nos seus cabelos com as mãos levemente e dava um sorriso.
Já Salazar não gostava muito, queria ficar mais escondido, andar sem ter alguém o olhando, não gostava da idéia de que toda hora o estavam vigiando.
Salazar passou pela grande porta do salão e ganhou a área externa. Quatros guardas estavam de pé ali na escada que antecedia a porta. Todos voltaram seus olhares a ele.
- Selem dois cavalos – ordenou ele.
- Mas o senhor vai sair? Sozinho?
- Sem perguntas – disse o garoto estendendo sua varinha na direção deles.
- Desculpe mi-lorde.
Salazar olhou para o céu. Milhares de estrelas piscavam formando inúmeros conjuntos de imagens. Marte brilhava fortemente e o mais estranho era Vênus que estava perto dele. Vênus nunca aparecia aquela hora, ela só era vista no amanhecer. Uma nuvem tampou sua visão ao mesmo tempo em que lançou raios ameaçadores entre suas vizinhas.
- Pronto senhor, pode escolher – disse um dos guardas mostrando quatro cavalos selados.
- Este – disse Salazar montando nele. Bem, não diga nada a ninguém, senão meu pai irá dobrar o horário de nossas seções de feitiços.
Salazar já ia tocar as rédeas e partir quando Rowena aparece na porta.
- Espere! – gritou ela.
- O que foi? – gritou ele da outra ponta.
- Eu vou junto! – gritou ela ainda parada.
- Achei que não gostava de cavalos!
- Realmente! Eles fedem muito!
Duas crianças de dez anos partiram a cavalo da mansão dos Slytherin`s.
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Godric estava já a cem metros do final e via a aglomeração de pessoas logo à frente. Vários homens se encontravam reunidos entre uma fogueira grande bebendo e conversando alegremente, tão entretidos que não viram o garoto se aproximando. A menos de dez metros dali, o leão sumiu, Godric caiu de pé no chão e correu em direção a eles. Chantter dava gargalhadas com seu pai a esquerda da fogueira. Godric parou atrás dele e gritou:
- Trapaceiro!
Todos pararam de conversar e olharam o garoto, um segundo depois já explodiam em gargalhadas.
- Não fale asneiras garoto! – disse Chantter rindo e derrubando um pouco de cerveja da caneca.
- Você soltou meu cavalo! – tornou a gritar espalhando cuspe no ar.
- Receio que não, pequeno Gryffindor, e acho que deveria cuidar melhor dele da próxima vez.
Isso deixou Godric com mais raiva ainda.
“Como ele pode ser tão cínico!”
Godric levantou sua perna e chutou a canela de Chantter. Este por sua vez segurou uma contração na boca, mesmo o sendo chute sendo dado por uma criança era um chute na canela, forte ou não, mas era um chute na canela.
- Muito engraçado você garoto – disse ele num sorriso falso passando a mão sobre sua cabeça.
- Olha essa escrita AQUI! – gritou mais alto mostrando-a a ele.
Chantter lançou um olhar indeciso, todos agora tinham parado de gargalhar e olhavam a cena em profundo silêncio.
- Acho que não preciso fazer isso para ganhar de um garotinho mimado.
- Acho que não deveria ter medo de perder para um garoto da minha idade, seu TRAPACEIRO – e terminou dando um chute mais forte na mesma canela que havia chutado.
Chantter não segurou uma careta de dor. Levantou Godric pela gola da camisa até a altura de seu rosto.
- Você! Muleque! Não repita isso de novo, entendeu?
E nisso soltou Godric no chão que despencou e caiu sentado. Seu pai não demorou muito para reagir e logo em seguida desferiu um soco por trás na nuca de Chantter. Querendo ou não, Chantter era bem mais forte que seu pai, que já estava velho em seus quarenta anos de trabalho sob o sol escaldante de Midgard. Chantter revidou o golpe quase ao mesmo tempo, fazendo o pai de Godric cair, e se preparou para lançar-se sobre ele no chão.
“Agora ele nos paga”
Num ímpeto de fúria, Godric, quase que instintivamente, agarrou um graveto no chão ao mesmo tempo em que se levantou, se colocando entre seu pai e Chantter. Ergueu seu o graveto na direção do rosto de Chantter e abriu a boca mais que o permitido, para o espanto de todos, soltando um rugido longo e ameaçador, fazendo os cabelos de Chantter balançarem.
Chantter ficou pálido e seus joelhos dobraram. Olhares raivosos miraram Godric e gritaram:
- Fogueira!
Godric virou-se para seu pai, que ainda estava no chão, e disse enraivecido:
- Eu disse que um dia o defenderia, não disse?
Um lágrima saiu do rosto dele (seu pai).
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Na praça principal dezenas de pessoas segurando tochas se reuniam para verem a garota bruxa ser queimada viva. No centro, Helga estava amarrada pelos pés e pulsos em uma cruz alta fincada no chão. Abaixo dela, uma pilha de gravetos e pinhas se preparavam para servirem de combustível. Ela chorava gritando pelo pai e pela mãe e se agitava tentando se desvencilhar das amarradas, mas isso nada mais fazia que ferir mais seus pulsos.
Sua mãe chorava apoiada no peito de seu pai, que por sua vez olhava a filha com os olhos vidrados. A população berrava impropérios e a chamavam de bruxa, liderados por um padre:
- Filha de Satanás!
- Possuída!
- Diaba!
Isso só fazia aumentar a aflição de seus pais e da menina, que estava banhada em lágrimas. Um tumulto tomou conta dos fundos e pessoas abriam um espaço: três padres lideravam a frente de um grupo de vinte guardas que traziam um menino amarrado a uma cruz igual à de Helga.
Em pouco tempo ele já estava amarrado e somente olhava a multidão com os olhos paralisados e travados de tanto medo. Seus pais foram impedidos de o seguirem e agora se achava sozinho ali, pronto para ser morto...
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Salazar e Rowena chegaram até aquele grupo de pessoas na praça principal de frente para a Igreja. Haviam sabido que o grupo enorme se reunia para condenar duas crianças de dez anos por bruxaria. Ambos pararam com os cavalos em um lugar atrás de algumas árvores.
- Estou lhe falando Rowena! Eles são bruxos!
- Como filhos de servos podem ser bruxos?! E ainda fazer magia sem varinhas é para bruxos fortes e puro-sangues!
- Isso é o que os nossos pais nos falam, mas acho que é não é verdade... – disse ele pensativo.
- Papai me disse também que mestiços são amaldiçoados...para sempre! – sussurrou ela tenebrosamente dando um tremelico.
- Olhe, veja! – exclamou ele apontando para as duas crianças.
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Dois padres vieram a passos rápidos e pararam a alguns metros das cruzes, com um pergaminho nas mãos. Com um sinal os dois começaram a ler ao mesmo tempo:
- Eu declaro que Helga Huffepluff é condena por transformar doze cercas em doze bichos demoníacos em plena aldeia servil. Isso é bruxaria e é condenado por Deus.
Que a ira divina se faça presente e consuma seu corpo com o fogo da justiça do Espírito Santo. Morte à profana!
- Eu declaro que Godric Gryffindor é condeno por emitir o som da besta do apocalipse através de sua boca. Isso é bruxaria e é condenado por Deus. Que a ira divina se faça presente e consuma seu corpo com o fogo da justiça do Espírito Santo. Morte ao instrumento do Diabo!
- Morte! – gritou todos ali.
E nisso, os dois levantaram as mãos e a multidão lançou suas tochas aos dois montes de gravetos e pinhas que se encontravam bem debaixo de Helga e Godric. Os dois, desesperados começaram a se mexerem freneticamente, o que fez gotas de sangue pingarem do pulso de Helga, onde estava amarrada.
Os gravetos e pinhas começaram a inflamar logo abaixo dos dois com uma velocidade impressionante. Mais atrás, guardas seguravam os pais de Helga que davam um último olhar a filha e gritavam tomados pelo desespero. Mais atrás ainda, Salazar e Rowena assistiam a cena de olhos arregalados.
- Vamos salvá-los! – disse Salazar.
- Papai disse que eles podem trazer doenças terríveis!
- Só para vê-los se são bruxos mesmos, se não forem nós os devolvemos!
- Papai disse que eles podem deformar nossos corpos! – disse ela quase sufocada comprimindo a mão contra o peito ao olhando para aquela cena horrível.
- Ma...
Mas foi interrompido por um grito alto e estridente de Helga. A chama agora alcançava os pés dela e de Godric. Salazar olhou imediatamente para Rowena, que assentiu com a cabeça. Os dois tiraram as varinhas do bolso e murmuraram:
- Frosto Ignea!
O fogo que agora tomava conta da perna dos dois crucificados parou de queima-los e Helga e Godric tiveram a estranha sensação de que ele fazia cócegas.
Mas o medo e o terror eram tão grandes que Helga e Godric não perceberam e continuaram a gritar com medo e ainda achando que estavam sendo queimados vivos. As pessoas ali começaram a lançar olhares interrogativos entre eles estranhando o fato de os corpos das duas crianças ainda não estarem sendo carbonizados.
- Vamos, tome isso – disse Salazar dando um frasco a Rowena.
- O que é isso?
- Poção da Invisibilidade, roubei alguns frascos do meu pai.
Os dois tomaram em um só gole a poção e ficaram totalmente invisíveis.
- Temos alguns minutos apenas – disse Salazar.
- Vamos estuporá-los para facilitar – disse Rowena.
Os dois correram com seus cavalos em direção as cruzes. Várias pessoas tiveram que se jogar para trás para não serem atropelados pelos cavalos. Dois jatos de luzes vermelha, aparentemente, saíram do cavalo e acertaram Helga e Godric arrancando alguns “oh” de espanto do povo que os rodeavam.
- Eu pego ela! – disse Salazar
- Ok, eu pego o garoto então.
Salazar chegou com o cavalo perto da menina e sussurrou:
- Fique tranqüila menina, eu vim te salvar!
Helga, estuporada, não estava entendo absolutamente nada.
- Eu congelei as chamas, por isso elas não a queimaram, venha, eu sou bruxo também, vai estar a salvo comigo. – nisso ele fez um movimento com a varinha e disse:
- Não tenha medo, você não vai cair. Difindo! Mobilicorpus!
As amarras se cortaram. Helga pareceu que ia desmoronar no chão, mas instantaneamente ela flutuou no ar e flutuou até ficar em cima do cavalo. Isso foi o suficiente para tirar exclamações e fazerem todos levarem a mão à boca.
Rowena chegou perto de Godric e ficou sem jeito.
- Ei! – murmurou.
O garoto olhava o nada paralisado pelo Estupefaça.
- Bem, vamos tirá-los daqui, ok? – disse preparando sua varinha. Vamos ver...Difindo! Accio Godric!
As cordas se partiram e Godric voou magicamente até Rowena, caindo, literalmente em cima dela. Os dois quase caíram do cavalo.
- Pronto! – Salazar gritou alto em meio os sons das pessoas e com Helga as suas costas em cima do cavalo.
- Temos um problema! – gritou ela mirando para um grupo de pessoas ao lado.
A população se armara com pedras e paus e ia em direção a eles. Estavam furiosos e, segundo seu pensamento, se a fogueira não tinha feito o serviço, certamente paus e pedras o fariam.
- Tem um grupo de vinte cinco ali! Acho que dá pra passar por eles – disse Salazar.
Helga e Godric estavam confusos demais para dizer qualquer coisa.
- Vinte e seis! – corrigiu Rowena.
- O que vamos fazer? Estamos perdidos! Meu pai vai me matar!
- Ora essas, Príncipe Slytherin, acho que esqueceu que sou uma Ravenclaw!
- Quais seus planos então?
- Que tal algumas fagulhas? – disse ela piscando o olho.
- Ótima idéia... – disse ele impressionado.
- Então...- disse ela enquanto fazia uma pedra que vinha em sua direção voar a pelo menos vinte metros dali. – No três...um...dois...três!
Da ponta da varinha de cada um deles saiu uma fagulha de luz em alta velocidade, explodindo entre as pessoas. Um caos tomou conta do lugar e a maioria se pos a correr, outras acharam as pedras uma melhor solução.
- Protego! – disse Salazar enquanto três pedras voavam em sua direção e uma acertava seu cavalo. Abriu caminho ali vamos!
Rowena assentiu enquanto disparava mais fagulhas, e os dois fugiram da praça cavalgando. Acabavam de fazer algo proibido...muito proibido! Agora a Igreja anunciaria que dois bruxos estavam a soltas e isso era sinônimo de encrenca, era bem provável que a propriedade dos Slytherin´s fosse revistada.
As nuvens já estavam saturadas e sucumbiram. Uma chuva grossa começou a cair, mas eles não se importaram nada com isso. Não demorou muito e eles chegaram perto do portão e pararam.
Salazar foi o primeiro a sair do cavalo, o que fez pulando. Rowena desceu elegantemente, como uma pluma.
- Você é realmente louco Salazar! – disse Rowena torcendo os cabelos numa tentativa inútil de seca-los.
- Não vai me dizer que não gostou? – disse ele dando uma piscadela.
- Bom, sabe que se nossos pais souberem...
- Ah sim...acho que ganho só mais três semanas de maldições com meu pai – disse ele sem dar muito importância a isso.
- E você diz só? – Rowena disse incrédula.
- Por isso devemos escondê-los.
- Por isso devemos tira-los do cavalo antes. – disse ela. Enervate!
Godric automaticamente sentiu o efeito do Estupefaça desaparecer e respirou aliviado. Helga estava trêmula e Salazar foi até ela, ajuda-la a descer do cavalo. Rowena não fez questão de ajudar Godric a descer do cavalo.
- Papai disse que servos tem doenças contagiosas! – disse pra Godric.
Godric apenas sentou-se no chão enlameado sem dizer uma palavra, estava perdido em seus pensamentos.
- Papai disse também que vocês não tem ossos – Rowena fez cara de nojo.
- O que?! – disse Godric.
- Rowena! – gritou Salazar – Vem cá.
Rowena levantou a saia e foi até ele.
- Ela tem osso! – disse ele apertando o rosto de Helga.
- Não fale mentiras! – resmungou Rowena.
- Vê se ele também tem ossos – disse absorto enquanto apertava os braços de Helga e percebia que ela também tinha ossos nos braços.
Rowena apertou o ombro de Godric com o dedo, sentindo algo duro.
- Nossa, ele também tem. Papai sempre disse que...
- Tah, tah, já sabemos! – disse Godric se desvencilhando de Rowena.
- Meus pais também! – disse Salazar que com os dedos sentia as costelas de Helga todo entusiasmado.
- Então...o que aconteceu exatamente? Quem são vocês?! - perguntou Godric.
- Meio óbvio não? Salvamos vocês – disse Rowena. Eu sou Rowena Ravenclaw e ele é Salazar Slytherin.
- O filho do rei? – perguntou Helga.
- Sim, o príncipe Slytherin – disse Salazar num muxoxo. E vocês quem são?
- Helga Hufflepluff. – disse Helga sorrindo
- Godric Griffyndor – disse Godric desconfiado.
Ficaram um tempo se entreolhando. Um universo novo estava diante de Rowena e Salazar, pois eles nunca tinham contato com crianças de suas idades, muito menos com servos, alías, aquele dia era sinal de que servos não eram monstros e doentes, o que para os dois parecia ter grande significado. Helga e Godric estavam meio confusos, porém impressionados com os dois nobres, haviam sido salvos e, extraordinariamente, com magia.
A chuva caía sobre as quatro crianças. Todos tinham a impressão de que já se conheciam antes. Godric olhou para o céu e num relance viu as quatros estrelas brilhantes de Cão Menor bem mais próximas umas das outras.
- Quatros pessoas...-sussurrrou.
Rowena franziu a testa curiosa.
- Eu também tinha percebido – disse ela. Mas onde aprendeu astrologia? Vocês não vão a escola!
- Meu pai me ensinou algumas coisas... – disse Godric vagamente.
- E magia?– perguntou Salazar – O que sabem fazer?
Helga e Godric trocaram olhares entre si.
- Não sei, nunca percebo o que faço e só faço quando fico nervoso - disse Godric.
- Eu também não sei, mas as vezes faço os texugos aparecem e sem perceber... - disse Helga.
Salazar virou-se para Rowena com uma cara de "não disse que estava certo" e disse:
- E onde estão suas varinhas?
- Nossa o quê? – perguntou Helga.
- Varinha – repetiu Rowena tirando a sua do bolso – Isso aqui. É com isso que fazemos magia. Vejam – e nisso fez um movimento com a varinha e disse:
- Wingardium Leviosa!
Um pedaço de lama saiu do chão e começou a flutuar, fazendo Helga e Godric ficarem impressionados.
“Eles são como a gente” pensou Helga e Godric.
- Ah, já ia me esquecendo, podemos fazer magias de outra forma também. – tornou ela.
Nisso, ela guardou a varinha e tirou um frasco com um líquido azul cristal do bolso.
- Salazar irá nos mostrar como essa funciona! – disse ela estendendo a mão a ele. Tome esta poção, eu que inventei – disse ela quase rindo.
Ele olhou indeciso para a poção, mas decidiu pegá-la ao se deparar com os olhos curiosos de Godric e Helga. Tirou a rolha e tomou. Imediatamente seus cabelos levantaram e ficaram espetados como agulhas para o alto, tão duros como pedras. Helga abafou uma risada.
Salazar sacudiu os ombros não sabendo o que tinha acontecido. Em seguida, abaixou o olhar para a poça de água que se formara no chão e viu seu reflexo.
“Meus cabelos” pensou levando os dedos à cabeça. Rowena não segurou e gargalhou bem alto.
- Bem...acho que podem me chama de porco espinho agora – disse ele meio sem graça.
Os três riram.
- Vamos ver – disse Salazar levantando e se analisando – roupa remendada, nariz sangrando, cabelo petrificado e corpo encharcado de água! Estou pronto pro casamento de minha irmã não acham?
Os quatro sorriram bem gostoso. Sentiam-se em casa.
- Acho que está atrasado para festa Príncipe Slytherin! – disse Rowena rindo – Pode ir que eu cuido deles, daqui a pouco eu me junto a vocês.
- Tudo bem, vou pagar a bronca sozinho – disse ele conformado em direção ao portão – Príncipe Slytherin chegando...
“Gostei deles” pensou Helga.
- Sopa quente? – perguntou Rowena.
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