Música para poucos ouvidos



Capítulo VIII
Música para poucos ouvidos

Biblioteca, domingo à tarde...
-O que faz aqui, prima?
Lizzy levantou a cabeça para encarar os olhos verdes de Charllote. Ela era tão linda, puxara a mãe em quase todos os aspectos, ou todos, por que Lizzy nunca conseguiu identificar uma característica do seu tio Gui na prima. Tanto que se quer foi para a Grifinória.
Quando Lotte foi selecionada para a Corvinal, a família Weasley bem que tentou disfarçar a decepção, mas não conseguiu. Afinal, a geração anterior - e a anterior a anterior - havia sido toda de grifinórios.
Um ano antes, a entrada de Lúcifer para a Grifinória, que não era esperada, tinha sido comemorada efusivamente. Os tios passaram um bom tempo sacaneando Malfoy por ter seu primogênito na casa do leão. Weasley na Grifinória era uma tradição que eles queriam continuar... Perpetuar... Mas Charlotte acabou com o sonho dos mais velhos.
E quando Daisy foi selecionada para Lufa-lufa, a noticia foi recebida de forma mais amena, até por que, qualquer coisa era melhor que a entrada de Loureine e, posteriormente, de Draco II para a Sonserina. O resto da família tinha esperanças que nenhum descendente de Weasley fosse parar por aquelas bandas. Mas também não dava pra dizer que os caçulas dos Malfoy terem ido para a casa das cobras, tivesse sido uma surpresa pára alguém.
-Revisando a matéria da semana. – respondeu a ruiva com um sorriso cansado – Não quero deixar nada acumular esse ano.
-Faz bem... – olhou em volta - Sabe do Lucifer?
-Treinando com a banda, talvez. – disse, voltando a encarar o livro que lia – Não sei os horários dele.
-Hum... – fez a outra com seu eterno ar superir, sem provavelmente perceber que a ruiva ficara chateada – Certo então, falo com ele depois...
Lizzy continuou a ler o livro para fingir que não havia se importado com o ocorrido. Gostava de Charlotte, era uma prima querida, mas ela tinha umas manias que enchiam o saco. Duas em especial: futilidade e interesse excessivo nos passos de Lúcifer e JS. Do segundo ela até não se importava de dar informações, mas quando as perguntas eram sobre Lúcifer, tinha que se segurar para não demonstrar que o sangue fervia.
Seus pensamentos acabaram tomando outro rumo quando os melhores amigos entraram na biblioteca também. Aquilo sim era uma surpresa. Era extremamente difícil leva-los ali em um dia comum de aula, mas em um domingo era praticamente impossível.
Sorriu satisfeita assumindo para si mesma que, finalmente, eles haviam lhe dado razão e se propuseram a estudar mais naquele ano. JS sentou ao seu lado enquanto o outro conversava com a bibliotecária para, em seguida, buscar um livro na prateleira.
As suposições de Lizzy sobre estudo logo foram aniquiladas quando Procion - que nesse dia tinha o cabelo cor púrpura - chegou à mesa e abriu um enorme livro a frente do outro.
-Aqui! Eu disse que existia!
Ela levantou os olhos curiosa e pode ler logo no cabeçalho da página “poção da invisibilidade”.
-O que vocês querem com isso?
-O que dois caras de 16 anos querem com uma poção de invisibilidade, Lizzy? – perguntou JS, fingindo impaciência.
-Vocês não estão pensando heim...
-Visitar os vestiários femininos??? Sim, Lizzy querida, estamos sim... – disse Procion com o maior sorriso cínico que conseguiu expor.
Por mais que soubesse que a reação da amiga aquela informação fosse ser ruim, ele simplesmente não resistira a curiosidade de ver o escândalo que ela ia fazer.
-Isso aqui é complicado, Procion. – disse JS avaliando o preparo da poção - Ainda não entendi por que não podemos usar o feitiço da Desilusão. Ou a capa da invisibilidade do papai... É mais pratico.
-E rastreável... O feitiço da desilusão é uma magia para enganar trouxas, não bruxos, esqueceu? Meu pai descobriria em dois tempos... A capa é boa, mas podemos ser facilmente pegos caso alguém esbarre na gente... Já isso aqui, ninguém vai conseguir nos ver, nem sentir... Mesmo que esbarre em nós...
-Vocês dois não estão pensando realmente em fazer isso, estão? – chiou a outra sem que eles lhe dessem atenção, porem.
-Duas semanas para ficar pronto... É muito tempo.
-Você levou 16 anos para ter a chance de vê-la sem roupa... Qual o problema de esperar mais duas semanas?
-Peraí! De quem vocês estão falando?
O tom de voz era mais sério e agudo. Eles resolveram prestar atenção dessa vez.
-Er... De ninguém...
-Que vestiário estão pensando em invadir?
-Ah... Bom... – Procion não estava certo se deveria entrar “naquele detalhe” com a Lizzy, procurou o apoio do amigo com os olhos, mas JS estava achando o mofo que se formava nas folhas do livro mais interessante – Eu votei pelo da Sonserina. – acabou dizendo – Mas o JS não aprovou a idéia.
-O que eu ia querer ver naquele vestiário?
-A Loureine, por exemplo...
-A Malfoy? Por Merlin, aquilo é branca demais!
-Gostaria de lembrar aos dois que, embora seja uma Malfoy ela também é minha prima!
Silencio.
-Então, se não é o da Sonserina, qual é?
Nenhum deles se atrevia a falar. Elizabeth já imaginava o porque.
-Estão pensando em invadir o vestiário da Corvinal. – concluiu, com as maças do rosto já se aproximando da cor dos cabelos.
Como JS continuava a fingir que lia o livro, incapaz de encara-la, foi Procion quem acabou confirmando com a cabeça.
-É para ver a Charlotte, não é?! – gritou, chamando a atenção de todos na biblioteca para si, por sorte era domingo e não havia quase ninguém lá.
-Lizzy querida... – Procion sempre começava a frase assim quando queria explicar-lhe algo obvio – Ela é a garota mais gata de Hogwarts, caramba! Se for pra termos esse trabalhão todo, que seja para pegar o melhor prêmio!
-Ela é MINHA prima! – rugiu.
-Lizzy, desculpa, mas você tem primas em TODOS os vestiários do colégio, sabe... Não deu pra nós levarmos esse ponto em consideração.
Ela cruzou os braços, e disse, nua voz debochada.
-Ah é... Então pro que não invadem o da Lufa-lufa, ou o da Grifinoria?
-Por que eu tenho IRMÃES nos dois. – concluiu JS.
-Além do mais, o que a gente ia ver lá? Por Merlin! – reclamou Procion achando a discussão toda muito idiota... “Invadir o vestiário da Lufa-lufa quando se tem uma Deusa no da Corvinal? Que coisa mais besta pra se fazer.”
Lizzy bateu fortemente o livro que lia, colocou-o em baixo do braço e deu as costas para os dois.
-Ei! Peraí! – chiou Procion, ao ver que Lizzy ia embora – Nós vamos precisar de você.
Ela o encarou com um misto de fúria e descrença no olhar.
-Você é muito cara de pau, Procion! Será que ainda não entendeu que eu não vou ajuda-los a fazer isso, seu cretino?!
-Mas só você pode conseguir as folhas de mandrágora que precisamos, Lizzy. – ele usou seu melhor tom de manha.
Lizzy cruzou os braços e sorriu triunfante.
-Então acho que não vai haver excursão a nenhum vestiário esse ano... – dizendo isso se virou e foi embora, deixando os dois amigos para trás.
-Droga! E agora?
-Agora é esperar a raiva dela passar e tentar de novo... – sorriu Potter – Você sempre consegue convence-la no final, esqueceu?
Primeiro dia:
-Procion, me passa o suco, por favor?
-Claro Lizzy querida... Me passa umas folhinhas de mandrágora?
-Da isso aqui!
Segundo dia:
-Não!
-Mas Lizzy...
-Já disse que não!
-O que custa?
-Vai custar os seus dentes se continuar a me encher, Procion!
Terceira dia:
-Você vai continuar sem falar com a gente?
-Você vai continuar a me pentelhar para ajudar vocês?
-Sim.
-Então, sim também...
Quarto dia:
-Lizzy querida...
-Não, Procion!
-Bom dia pra você também.
-O que está acontecendo, heim? – perguntou Lúcifer ao ver a ruiva saindo de perto do metamorpho.
-Ah... Nada demais... É que eu preciso de umas folhas de mandrágora e a Lizzy não que pegar pra mim... To tentando vence-la pelo cansaço...
-Pra que? Eu posso arrumar folhas de mandrágora para você. – disse o loiro colocando as mãos no bolso e sorrindo displicentemente.
Procion arregalou os olhos, lembrando que Malfoy também era aluno de confiança da professora de herbologia. Assim como Lizzy.
-Claro! Você pode! É verdade... – bateu com a mão na testa – Como eu pude esquecer de você?
-Sem empolgação, metamorpho. Não vai pensando que vou te arrumar as folhas assim... Pode ir dizendo o que pretende com elas...
_Ah! Não se preocupe... Tenho certeza que você vai adorar a idéia! ... Bom... Eu acho...
*****************
-E... Finalmente... Dois pratos de bateria.
-Confere.
Albert e Lúcifer acabavam de conferir e guardar todos os instrumentos que precisariam levar para Hogsmead, onde a Leões de Hogwarts se apresentaria em poucas horas.
O ruivo fechou o malão com os instrumentos musicais que havia dobrado, como se fossem roupas, para poder transportar melhor. Jogou-o nas costas, sem parecer perceber o peso real do objeto enorme e encarou o primo Malfoy.
– Podemos ir.
Desceram as escadas em direção ao quadro da mulher gorda, os demais componentes do grupo já os esperavam na saída do colégio.
-Então? E a Creevey? Não tem mais volta mesmo?
-Nem pensar, Albert.
-Que bom... Eu acho aquela garota meio tantan, com aquelas mudanças de humor exageradas, você nunca sabe que reação esperar dela... Sei lá...
-É, isso foi um dos motivos que eu terminei com ela sabe, mas o principal foi que a gente não tem nada haver.
-Sei, e você levou dois anos para perceber isso... Qual é, Leite com Sucrilhos... Você ta é afim de outra.
O loiro sorriu de lado, não pela lembrança do apelido de infância que ganhara graças a pele muito branca e as sardas em excesso que tinha nas costas. Mas sim pela percepção do primo.
-Estou é?
-Eu te conheço, Lúcifer. Você não da ponto sem nó.
-Lógico, eu ainda sou um Malfoy...
-Sim, sim, não precisa ficar me lembrando disso... Mas o que eu quero dizer é que: você não é de ficar sozinho, não teria terminado se já não estivesse com alguém.
-Digamos que eu percebi que não vou conseguir quem eu realmente quero estando com outra.
-Ah! Finalmente se tocou do óbvio! Isso é bom.
-É... Andei conversando com a Charlote.
-Então, isso quer dizer que vai investir?
-Sim vou. Só não sei como ainda...
Os dois, baterista e baixista, seguiram para o vilarejo visinho juntamente com os demais componentes do grupo, Alan tocava a guitarra de base, Procion fazia os solos enquanto JS era o vocalista. Costumavam acordar mais cedo que os demais naqueles domingos, para terem tempo de arrumarem tudo para as apresentações que realizavam durante todo o dia no Três Vassouras, mas não reclamavam. Os garotos da Leões de Hogwarts adoravam tocar e aqueles dias em que se apresentavam em Hogsmead eram os mais esperados do ano.
Antes da apresentação começar o local já estava cheio. Dentre os diversos alunos que iam ao Três Vassouras só para ouvi-los, podia-se identificar facilmente todos os Weasley. Naquele dia em especial, Black Jr. também prestigiava o evento, claro, sentado juntamente à sobrinha Bella e as demais garotas da família, que o chamavam de tio, mesmo ele não tendo nada do sangue delas.
-Então tio, até agora você não me disse o que veio fazer em Hogwarts? – perguntou Bella Lílian abraçada a ele, enquanto esperavam o começo da musica.
-Estou refazendo alguns exames, eu reprovei na época de colégio... – gracejou ele.
-Conta outra tio Júnior. – disse Daisy ao lado deles – Todo mundo sabe que você era CDF.
-Shiiii, fale baixo, quer acabar com a minha fama de mal é?
O grupo continuou a conversar animadamente. Ele girou a cabeça discretamente, procurando Dori com o olhar. Sabia que havia sido grosso com a mocinha, mas lembrar das implicâncias de anos atrás fora mais forte do que ele. Queria pedir desculpas, ou pelo menos, fazer algo para que ela se esquecesse o ocorrido.
-Cadê sua prima, Lizzy? – acabou perguntando quando não a encontrou.
-Não sei onde está a Charlote, tio Junior. – respondeu ela, parecendo contrariada.
-Eu não estava perguntando da Charlote... – isso sim pareceu surpreender a garota – To falando daquela outra... A japa.
-Dori?
-É! Isso... É esse o nome dela... Não lembrava... – e não lembrava mesmo, afinal sempre a chamara de japa chatinha, para que nomes – Sabe dela?
Lizzy também correu os olhos ao redor.
-Não... Mas ela já deve estar chegando. A Dori não perde uma apresentação dos meninos.
Mas o show começou e a japonesa não aparecera. Em compensação Bella Lílian desaparecera, e ninguém percebeu, nem mesmo o jovem Auror.
Ela se esgueirou para o lado mais escuro do estabelecimento, do lado esquerdo do palco já que a movimentação toda era pelo direito.
-Finalmente Lílian! Por que demorou tanto?
-Meu tio está ai, Draco. Tive que esperar o show começar para sair sem ele notar.
Ele fez bico. Também pudera, não estava acostumado a esperar e sim a ser esperado. Ela achou graça, vê-lo bravo sempre lhe causava acessos de risos. Ainda contrariado ele a puxou pelo braço para que saíssem logo dali.
-Onde estamos indo?
-Para um lugar mais discreto. – falou ele – Aquela idiota me deu um prazo para cumprirmos o acordo.
-Prazo? Até quando?
-Até hoje... – resmungou o rapaz – Ela quer que o Lúcifer a peça em namoro hoje, e não preciso nem dizer que ele não vai fazer isso, preciso?
-Então, o que nós faremos?
-Tava pensando em acabar com ela, ou algo parecido, mas...
Ele engoliu as últimas palavras e parou de andar repentinamente a fazendo trombar nele. Bella ia reclamar, mas ao ver a mesma cena que ele engoliu todo e qualquer desaforo que viera em sua mente.
A alguns metros a frente deles haviam duas meninas caídas no chão, sendo uma delas envolta numa poça do próprio sangue.
Alguém que havia se tornado bastante próximo dos dois, sem que eles quisessem: Ludmila Goyle.

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