A Toca



O terror tomou conta de todos os centímetros quadrados de Hermione. Ela não saberia dizer se ficou um minuto ou muitas horas, ali murmurando baixo agarrada ao peito de Rony, sem ter coragem de olhar para frente ou de chorar. Ele a envolveu em um abraço protetor, mas logo a pegou pela mão de novo e a conduziu até seu próprio quarto. Este estava, milagrosamente, intacto. Rony a sentou em sua cama e de pé em sua frente, pôs suas mãos em seus ombros e a olhava com carinho, tentando acalmá-la.

- Por favor, Mi acalme-se. – disse em um tom baixo de voz. – Pegue algumas roupas suas, rápido, e vamos para A Toca. Você ficará lá alguns dias conosco. - A única coisa que Hermione conseguiu fazer foi olhar para Rony, com um olhar perdido e seguir suas ordens.

Ainda sendo conduzida pela mão, Rony a levou de volta para a sala, segurando sua mala na outra mão. Os dois pararam em frente à lareira, e Rony entregou um pouco de pó de flú para Hermione. Ela teria que ir à frente. Ainda tentou olhar pelo canto do olho seu cômodo favorito, em chamas, mas não teve coragem o suficiente. Entrando nas chamas esverdeadas, conseguiu distinguir a imagem de Rony lançando um feitiço nas chamas, e litros de água apagarem o fogo. “Aguamenti” pensou orgulhosa antes de começar a rodar pela lareira.
Quando parou de rodar, se viu na cozinha d’A Toca. Harry, Gina e a Sra. Weasley conversavam animadamente sentados à mesa e Gina correu ao seu encontro animada.

- Mione! – seu sorriso sumiu assim que viu a expressão aterrorizada da amiga. – O que aconteceu?
- Vamos Mi, você precisa descansar. – Mione não percebeu quando Rony surgiu atrás dela. Ele a pegou pelos ombros e começou a conduzi-la até a escada. – Já conto tudo pra vocês. – acrescentou, olhando para trás e vendo três rostos preocupados.

Ela subiu as escadas automaticamente sendo guiada por Rony e, quando se deu conta, já estava entrando pela porta do quarto de Gina. Ela a levou até a cama, e delicadamente fez com que ela se deitasse. Sentou à beira da cama e olhou para ela por uns instantes.

- Vou pedir para minha mãe preparar uma poção calmante para você, tudo bem? – disse quase num sussurro.
- Ron, francamente, não precisa. – Mione já estava mais calma.
- Precisa sim. – insistiu ele gentilmente. Mione não conseguiria recusar, nem se quisesse. E concordou com a cabeça. – Fique deitada que eu já volto.

Ficou deitada durante alguns minutos apenas olhando para o teto, com um vazio imenso em sua cabeça. Não queria pensar no que tinha acontecido o que era totalmente fora do normal para Hermione Granger. Os últimos dias estavam sendo tão atribulados, tão cheios de surpresas e reviravoltas, que ela queria mesmo era poder dormir durante um bom tempo e esquecer-se de tudo. Ouviu a porta abrindo lentamente, e viu Rony entrando com uma xícara em suas mãos.

- Vamos, tome tudo. – ela se sentou e recebeu a xícara em suas mãos. Rony sabia ser gentil quando queria. Ficou ao seu lado até que ela terminou o último gole.
- Obrigado Ron. – Ela disse sinceramente. Ele corou.
- Não foi nada. – disse meio atrapalhado. – Agora descanse. Tenho que descer e contar a história toda com detalhes para Harry. – eles se olharam nos olhos e Hermione sentiu aquele calafrio habitual. – Mais tarde eu volto.

Rony estava sendo tão carinhoso e gentil que Hermione, mais por instinto do que por ter planejado o ato, deu um pequeno beijo em seu rosto, como forma de agradecimento. Ela observou como suas orelhas ficaram vermelhas e como ele sorriu. Seus olhos azuis continuaram fixos nos dela durante o que pareceu uma eternidade, mas ele logo acordou de seus devaneios e saiu.
Hermione ficou olhando perdida para a porta fechada à sua frente, pensando em como ele sempre estivera ao seu lado quando mais precisou. Mas seus olhos foram ficando cada vez mais pesados e ela adormeceu profundamente, em um sono tranqüilo e sem sonhos.

***

Alguns raios fracos de sol entraram pela janela, incomodando o seu sono. Quando abriu os olhos, teve que esperar um segundo e outro para descobrir o que fazia deitada naquele lugar estranho. Foi então que se lembrou de tudo que tinha acontecido na antiga casa de Snape, como tinham invadido a sua casa, como Rony tinha segurado toda a barra e a levado para A Toca. Ela estava deitada no quarto de Gina, que parecia não ter dormido lá.
A poção que a mãe de Rony havia feito pareceu ter surtido um ótimo efeito. Ela dormira por muitas horas e se sentia totalmente renovada. E parecia ter voltado a ser a mesma Hermione de sempre, já começando a pensar no que poderia explicar toda aquela série de acontecimentos. Ela precisava conversar com os dois amigos. E comer alguma coisa. Então, desceu para a cozinha o mais silenciosamente possível. Molly Weasley já estava lá preparando o café da manhã de todos.

- Querida, sente-se! – a Sra. Weasley ofereceu uma cadeira e com um toque em sua varinha, várias torradas e um copo de suco apareceram em sua frente. – Como você está, meu bem?
- Melhor impossível. – respondeu sinceramente. – Muito obrigada Molly.
- Ora, minha querida, não foi nada. Você sabe que você é como uma filha para mim. Espero que fique conosco alguns dias, pelo menos até as coisas se acalmarem.
- Acho que aceitarei a oferta. - As duas mulheres sorriram. – Harry ainda está aqui?
- Oh sim, Harry ficou lá no quarto de Rony. – algo se moveu ao pé da escada. – Falando nele... bom dia meu filho.
- Bom dia mãe. – Rony deu um beijo estalado na bochecha da matriarca e sentou-se ao lado de Hermione. – Bom dia Mione. Está melhor?
- Melhor impossível. – repetiu sinceramente. A Sra. Weasley conjurou algumas torradas e mais suco para o filho e, misteriosamente, saiu da cozinha dizendo que tinha outros afazeres. – Me conte o que vocês descobriram Ron. – ela não conseguiu segurar.
- Ainda bem que perguntou. - Rony sorriu largamente. – Eu e Harry fomos até sua casa e tentamos achar alguma evidência de quem entrou lá, mas não conseguimos nada. Harry jura que só pode ter sido o Malfoy, mas não temos nada contra ele. Denunciamos a invasão ao Ministério.
- E eles não fizeram muito caso do assunto, não é mesmo? – Hermione terminou o raciocínio do ruivo. Ele apenas concordou silenciosamente. – Sempre sofri alguma ameaça por causa do projeto em proteção aos elfos e o fato de ter nascido trouxa nunca me ajudou muito. – ela suspirou. – E infelizmente qualquer pessoa poderia ter acesso ao meu endereço lá no Ministério.
- Não saímos muito do lugar. – comentou Rony meio chateado, comendo com uma bocada só quase toda a torrada que matinha na mão.
- E a poção desconhecida? – Hermione não lembrava o fim que ela tinha levado.
- Nós achamos melhor esperar você acordar e descobrir. Ela está lá junto com a sua mala. Nunca fomos bons mesmo em poções, Harry e eu. – Rony sorriu largamente pela segunda vez no dia. E algo frio percorreu o corpo de Mione.

Os dois continuaram tomando os seus cafés em silêncio por um bom tempo. Quando o sol estava um pouco mais alto, Harry e Gina desceram as escadas juntos, com olhares furtivos para ver quem estava acordado. Hermione olhou para Rony pedindo uma explicação e ele simplesmente murmurou algo como ”você não vai querer saber”, o que ela entendeu perfeitamente que ele não estava totalmente satisfeito com o que tinha acontecido, seja lá o que fosse.
Tudo o que Rony havia contado a ela mais cedo acabou sendo discutido novamente com Harry e Gina à mesa. As acusações de Harry contra Malfoy tinham sentido se acreditassem mesmo que foi ele quem estava rondando a casa antiga de Snape, mas eles não tinham provas suficientes para provar nenhuma das duas coisas. E nada que Harry contou acrescentou alguma coisa ao raciocínio de Mione, que já estava desistindo de descobrir alguma coisa através de especulações.

- Acho que teremos que descobrir primeiro qual poção nós pegamos na casa de Snape para seguirmos em frente. – a idéia de que a poção e o atentado em sua casa tinham uma ligação direta não saía de sua cabeça. E ela não costumava ignorar essas suas idéias teimosas.
- E como você descobrirá isso Mi? – era Gina quem perguntava.
- Tem um livro de poções sobre como rotular uma poção desconhecida, desassociar todos os seus ingredientes e até prever seus possíveis efeitos. – ela conseguia ver a capa avermelhada com escritas douradas do livro que mencionava. – Mas a minha edição queimou junto com todos os meus livros.
- Vamos escrever para a Floreios e Borrões e pedir um livro novo para você. E que ingredientes precisará para fazer isso? – Harry perguntava sério.
- A maioria deles acho que encontraremos aqui mesmo, n’A Toca. Quando o livro chegar posso comprar qualquer um que seja fora do comum. – concluiu tentando-se lembrar de alguma coisa mais significativa no livro.
- Ótimo. – Rony levantou sorridente. – Podemos então aproveitar o dia?!

Os outros três que estavam sentados à mesa não puderam deixar de rir. Afinal, Rony já era um homem adulto. Mas, ainda assim gostava de se mostrar como um adolescente, na maioria das vezes. Eles resolveram seguir o desejo de Rony, e foram para o jardim da casa para jogaram uma partida de quadribol, onde Harry e Gina sempre massacravam Rony e Mione.
É engraçado como as horas passam rápido quando não se preocupa com nada, e foi assim que as horas correram para os quatro adultos que mais pareciam adolescentes se divertindo no jardim. Na hora do almoço, Hermione pegou a coruja de Harry, Edwiges, emprestada para fazer o pedido do livro. E durante toda a tarde eles ficaram matando o tempo entre partidas de xadrez-bruxo e longas conversas sobre a volta as duas mulheres à Hogwarts.
A noite chegou e todos decidiram ir dormir. Hermione ainda se sentia eufórica, mas acatou a decisão da maioria e se dirigiu com Gina para o quarto dela. Fazia anos que ela não se sentia tão cheia de vida, tão rodeada de amigos. Às vezes parecia que tinha apenas uns quinze anos e estavam passando as férias na casa da família de Rony. Quando as duas amigas já estavam deitadas em suas camas, Hermione lembrou-se da cena que vira de manhã entre Gina e Harry e achou que já era hora de matar sua curiosidade.

- Gi, quando você vai me contar o que houve entre você e Harry essa noite? – disse com um sorriso maroto. A amiga sorriu e deu de ombros.
- Com toda essa confusão, acabei acidentalmente dormindo na cama de Harry. – disse com um falso olhar inocente. – Mas não foi nada demais. – completou.
- E o seu irmão deixou? – Hermione estava surpresa.
- Na verdade ele só descobriu hoje de manhã, quando entrou apressado no quarto e deu de cara comigo dormindo abraçada a Harry. – Agora era Gina que tinha um olhar cheio de malícia.
- Então ele não dormiu lá? – Hermione perguntou em um tom um pouco mais preocupado. Onde diabos Rony teria dormido?
- Não. – Gina respondeu simplesmente, mantendo um suspense. – Na verdade, na última vez que eu o vi, ele estava sentado na beira de sua cama. – Ela completou marota. – Acho que ele acabou adormecendo lá mesmo, do seu lado.

Como se tivesse levado um choque, Hermione lembrou-se de ter sonhado vagamente que dormia abraçada a Rony. Ainda sem saber se aquilo era verdade ou não, as cenas de Rony levantando tão cedo para tomar café com ela, seu olhar de não me pergunte o que aconteceu quando viu Gina e Harry juntos encaixava perfeitamente agora. E preocupação que ele tinha demonstrado no dia anterior. Hermione ficara surpresa de não ter percebido antes que Rony com toda certeza ficaria ao seu lado.

“Como ele sempre fica ao meu lado.” Pensou avoada enquanto se preparava para dormir. O único sonho que tivera durante a noite anterior voltou em sua cabeça. “Será que dormi abraçada a Ronald Weasley?”.

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