Passado e Presente



Depois de um estalo agudo, ela olhou em volta e pode ver o jardim verde e bem cuidado. Olhando adiante, lá estava a casa onde passara a maior parte de seus verões, uma casinha pequena para o tamanho da família que abrigava, mas enorme para todos que a quisessem como lar. A Toca.
Aquele lugar lhe trazia mais lembranças do que estava pronta para sentir. Todos os dias que passou debaixo do teto dos Weasley ficaram passando e voltando em seus pensamentos...

***
- Eu nem acredito que finalmente nos formamos! – Rony estava extasiado.
- E são tantas cartas nos oferecendo emprego! – Harry parecia abobalhado. – O que faremos?
- Ora, Harry, vamos ser Aurores! – os olhos de Rony brilhavam enquanto olhava para a carta do Ministério da Magia endereçada a ele.
- Não podemos simplesmente escolher o Ministério sem analisar todas as outras opções. – Mione parecia tão abobalhado quanto o próprio Harry. – Quer dizer, temos uma vida toda pela frente e...
- Não exagere Mione! Agente pode mudar de emprego se não gostarmos.
- Isso não é uma matéria de Hogwarts Rony, agente não pode ficar mudando de emprego a cada ano!
- O que você quer dizer com isso, sua sabe-tudo?
- Ora, cresça Ronald!
***

Aquela tinha sido a última briga que ela tivera com Rony por um motivo sem importância. As suas últimas férias juntos estava quase acabando e eles ainda mal se falavam. Eles tinham que escolher logo as carreiras que seguiriam e Hermione sentia seu coração ficando cada vez mais apertado. Agora eles já eram adultos, mas Rony ainda agia como se fosse um adolescente e, pior, ainda não demonstrava querer pensar no futuro... no futuro dos dois.

***
- Mione?
- Oi, Rony.
- Er... Harry me disse que amanhã você vai embora.
- Eu tenho que ver meus pais antes de começar a trabalhar, Rony.
- Você já se decidiu onde vai trabalhar?
- Bom... – depois de dias ela estava encarando-o nos olhos. Aqueles olhos azuis a faziam corar sempre. – Na verdade, eu ainda não sei...
- A grande Hermione Granger não sabe o que fazer?! – Rony parecia surpreso. – Nossa...
- Talvez... – Era a hora, pensava para si mesma. – Talvez, você Ronald Weasley me deva dizer o que fazer. – Olhando no fundo do azul dos olhos de seu Rony, ela se aproximou e podia sentir seu perfume e ouvir sua respiração forte.
- Eu... – Rony estava totalmente sem ação. – ...Sinto muito.
Aquelas duas palavras doeram mais que qualquer feitiço que já havia atingido Hermione. Antes que desabasse em lágrimas, ela saiu correndo do quarto de Gina e desaparatou sem ao menos ouvir Rony dizer “Espere!”.
***

Antes mesmo de perceber o que estava fazendo, Hermione chegou em frente à porta de entrada d’A Toca. Podia se ouvir a música e a conversa alegre e alta do outro lado da porta e um cheiro leve de comida caseira. Era a hora de voltar ao presente. “Toc toc”.
- Já vou... já vou! – aquela voz feminina era muito familiar, mesmo estando abafada pelos risos e pela porta. - Mione!!! – Gina abriu um grande sorriso e a abraçou. – Que bom que você veio!
- Eu não podia deixar de vir não é mesmo?! Harry me mataria amanhã no Ministério.
- Entre!

As duas amigas foram em direção à cozinha, de onde vinha a maior parte do barulho e do cheiro de comida. Chegando lá, Mione viu uma cena que não via há tempos: a grande família Weasley reunida, em volta da grande mesa da cozinha. Molly Weasley estava em frente ao fogão, de onde surgia um cheiro irresistível de comida; o Sr. Weasley estava de pé conversando com seu filho Carlinhos, que mais pareciam dois velhos amigos que pai e filho; Fred e Jorge contavam alegremente uma piada ou outra para Harry e Gui; e Fleur conversava com uma mulher ao seu lado na mesa.
Assim que todos perceberam a presença da nova convidada, Mione foi cercada de cumprimentos e abraços de boas vindas e em alguns segundos já se sentia tão em casa que nem podia dizer que ficara tanto tempo sem estar naquela casa. Depois de mais um abraço apertado em Harry, ela e Gina se viram de frente a Fleur e à mulher que não conhecia sentadas na mesa.
- Herrrmione! Que bom ver você. – o seu inglês ainda não era dos melhores.
- Olá Fleur. – a outra mulher a olhava com interesse. Quem diabos seria ela?
- July, esta é Hermione Granger. Mi, July Scotland. Ela é...
- Minha namorada.

Aquela voz conhecida entrou em seus ouvidos e a fez piscar forte para ver se entendia bem. Lá estava ele, Rony Weasley, entrando pela porta da sala na cozinha. Parecia bem mais alto do que antes, mais forte nos braços e no tórax e muito mais sério nos olhos. Aqueles olhos a assustaram e Hermione se lembrou exatamente porque deixara de ir à Toca quando viu aqueles olhos frios em sua direção, e Rony pousando suas mãos nos ombros da mulher à sua frente.

***
Depois de aparatar na casa de seus pais, Mione decidiu que não devia ficar remoendo tanto sofrimento pelo amigo. Afinal, ela nunca soubera se ele realmente correspondia ao sentimento que ela nutria por ele durante tantos anos. E era doloroso saber que a resposta era não.
Foi por essa dor que Mione escolheu trabalhar no Ministério. Ela sabia que virar Auror ao lado de Rony seria doloroso demais. Ela queria esquecê-lo de vez. Assim que escreveu ao Ministro com sua aceitação de emprego, soube que Rony havia se decidido por trabalhar na Romênia. Seria melhor assim.
Depois de quase um ano de treinamento, todos os três foram admitidos em seus respectivos trabalhos. Para comemorar, a família Weasley fez um almoço n’A Toca assim que Rony veio passar uns dias em casa e, Harry e Mione, finalmente puderam também descansar.
Quando seus olhos finalmente se encontraram com o de Rony, ela só sentiu desprezo. A raiva que ele emitia era nítida.
- Como anda seu trabalho de bajuladora do Ministro, hein?!
- Eu não sou baju...
- Você é como o Percy, Hermione. Uma traidora.
***

- Muito prazer. – July disse com um sorriso educado, voltando Mione à realidade.
- Er... prazer. – Ela ainda não parecia acreditar no que tinha ouvido. Sem saber o que fazer, ela olhou para Gina.
- Bom, agora que estamos todos presentes. – disse Gina em um tom alto e bem humorado. – Vamos comer!

A notícia que o jantar seria finalmente servido deixou o clima na casa muito mais animado. Os gêmeos foram os primeiros a vibrarem com a notícia e se sentarem à mesa, pegando os talheres e batendo-os na mesa. A atitude foi seguida por Gui e Carlinhos, depois por Harry e, finalmente, Rony também se sentou e imitou os irmãos. Mione assistiu aquela cena boquiaberta, e ouviu Gina explicar.

- É apenas uma pequena tradição na família. – disse sorrindo. – Mamãe fica super feliz com a nossa demonstração de afeto. – Gina também de juntou ao bando de “baderneiros” batendo seus garfos e facas na mesa.
- Esses garotos... parecem crianças Hermione. – a Sra. Weasley começava a servir as travessas na mesa. Ela parecia divida em censurar toda aquela bagunça e sorrir pela demonstração de como aquela família permanecera unida, mesmo depois de tantos anos. – Sente-se, querida. Sente-se.

Os garfos e facas só pararam de bater contra a mesa quando todos estavam com os pratos cheios e prontos para comer. Toda aquela grande família estava reunida em volta da mesa e, com um olhar de aprovação do Sr. Weasley, todos começaram a comer animadamente. Aquele clima era totalmente contagiante, e Hermione esqueceu-se por um momento todo aquele constrangimento de sua chegada na festa.
Durante todo o jantar, Fred e Jorge contaram histórias hilariantes sobre todos os seus novos produtos, e como eles ainda conseguiam burlar a segurança de Hogwarts para mandarem toda a sua encomenda para seus clientes. A sorte dos gêmeos era que a Sra. Weasley estava ocupada prestando atenção em tudo o que sua mais nova nora dizia, e não escutou toda a conversa deles.
Gina, por outro lado, tentava de todas as formas manter uma conversa animada com Hermione, contando de como estavam nos últimos dias todos da família de volta à Toca, de como iam seus estudos para se tornar professora de Feitiços em Hogwarts e de como seu namoro com Harry estava indo de vento em polpa. Mas nada que Gina dizia, impedia que Mione ouvisse toda a conversa envolvendo a nova namorada de Rony.
Agora Mione já sabia que July, assim como Rony, era inglesa e trabalhava como Auror na Romênia. Ela estava de passagem no fim de semana pela Toca, mas já voltaria para a Romênia e esperaria Rony, que estava de férias, por lá. Tinha um porte elegante e educado, uma bruxa puro sangue da pele clara e de olhos e cabelos pretos e lisos. Parecia ser muito inteligente e tinha um grande sorriso.
Rony parecia dividido entre ouvir as história dos seus irmãos e contar para a mãe como a sua nova namorada era incrível. Como se exibisse um troféu, ele contava como ela tinha crescido em uma família tradicional, estudado em casa e se tornado Auror mesmo contra a vontade dos pais. Ela não tinha combatido os Comensais da morte ou os bruxos das trevas apenas porque já estava na Romênia estudando para tirar seus N.I.E.M.s e realizar seu sonho.

“Como ela é incrível!” pensava Mione ironicamente para si mesma.
- Mi, o que você disse?! – Gina a encarava. Será que havia pensado aquilo em voz alta?
- Nada não, Gi. – corou.

Seus olhos cruzaram com os de Rony algumas vezes, mas tudo o que ela podia sentir era o frio e o desprezo vindos dele. Toda aquela história deixava Hermione entristecida e mal conseguira ficar sentada à mesa até que se serviu a sobremesa. Mais algum tempo se passou até que todos já haviam comido a sobremesa, e se levantavam indo em direção à sala para poderem conversar mais confortavelmente. Foi nessa hora que Hermione puxou Gina para o hall de entrada discretamente.

- Eu acho que já vou indo Gina. Amanhã trabalho cedo no Ministério.
- Mas ainda está cedo Mi. – Gina parecia meio chateada.
- Me desculpe, mas... Eu tenho mesmo que ir.
- Olha, perdoa o paspalho do meu irmão. Ele foi meio duro com você não é? Acho que ele só ficou surpreso com a sua presença por aqui. – Gina parecia ler o que Mione pensava, ou pelo menos tentava fazer isso.
- Não foi nada Gi. – a angústia batia mais forte agora em Mione. – Eu e seu irmão sempre brigamos, não é mesmo?
- Mas...
- Não foi nada. – Mione tentava demonstrar alegria. – Além do mais, vocês devem aproveitar o máximo que podem para curtir a sua família...
- Você também faz parte desta família, Hermione.
- Bom... eu vou mesmo indo. Boa noite.

Antes que a amiga pudesse fazer mais algum protesto, Hermione desaparatou para sua casa. Chegando lá, não pôde evitar as lágrimas que vieram aos seus olhos e a angústia que a tomara durante todo o jantar. Deitou-se em sua cama e abraçou o travesseiro, parecendo uma menininha.
“Na sua família só tem lugar para uma. E essa uma não sou eu.” Com a tristeza tomando conta de si, Hermione adormeceu chorando.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (1)

Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.