Capítulo I
Capitulo I
- Havia homens nesse casamento? - Clarice Evans engoliu uma dentada minúscula da sua sobremesa, tentando disfarçar o brilho dos seus olhos.
Lilian resistiu ao impulso de suspirar. Como é que sua mãe não se apercebia de que nem tudo na vida girava à volta dos homens? O facto de ter quase trinta anos e continuar a ser solteira obcecara a sua mãe. Porém, ela estava decidida a não se conformar com qualquer um. Também não se iria casar por dinheiro, como sua mãe esperava.
Lilian queria viver um conto de fadas. Queria um homem que a adorasse e que a amasse, com uma paixão que desafiasse toda a lógica. Era bastante simples: queria ser feliz para sempre.
- Pois não convidaram nenhum homem – respondeu Lilian. Quando o silêncio se prolongou mais que o normal, deu-se conta de que a mãe esperava uma resposta para a sua pergunta absurda.
Clarice olhou para ela uns segundos e depois riu-se.
- Claro que havia homens. Chicago está cheio de homens. O que te perguntava é se conheceste alguém interessante.
- Dancei com vários homens – disse Lilian tentando esquivar-se à pergunta com uma resposta verdadeira: tinha passado a maior parte da noite a falar ou a dançar com antigos companheiros de universidade.
- Houve algum em especial que te chamasse a atenção?
Lilian bebeu um gole do seu café delicioso da Guatemala. Havia um homem em concreto que fizera mais do que chamar-lhe a atenção.
- Como se chama?
- Quem? – perguntou Lilian, desesperada, comendo um pedaço de bolo de queijo para arrefecer o aquecimento que o café lhe produzira. Oxalá tivesse saído depois do jantar.
- O homem que te está a fazer corar – disse Clarice. – Presumo que seja bonito.
- Bonito?
A imagem de Tiago projectou-se na mente de Lilian. Bonito era pouco. Sempre gostara de homens de cabelo escuro. Para alem disso, Tiago tinha uns olhos castanhos iluminados por brilhos dourados e esverdeados escondidos atrás de uns óculos. Os seus cabelos eram pretos e como se diria? “indomáveis”. Tinha quase dois metros, era magro, musculado e largo de ombros. Nos seus braços, qualquer mulher sentir-se-ia delicada, feminina e desejável.
- Era bonito – disse Lilian quebrando o silêncio. – mas, não importa porque não voltarei a vê-lo.
Uma aventura de uma noite não significava nada. Lilian não ia cometer o erro de acreditar que aquilo fora algo mais do que sexo.
- Sempre foste muito pessimista.
- Realista, diria eu – replicou Lilian.
- Se tivesses aprendido alguma coisa comigo e com o teu pai, saberias que querer é poder.
- Estás em Chicago, mãe – disse Lilian, perguntando-se porque continuavam a manter aquela conversa incomoda. O bolo de queijo não era bom. – Mesmo que o quisesse voltar a ver, não saberia como o contactar.
- No entanto, com certeza que um dos teus amigos no casamento saberia – apontou clarice.
- Era um antigo colega de estudos de Arthur Weasley. – disse Lilian, encolhendo os ombros. – É tudo o que sei.
Não era tudo o que sabia dele. Contudo, era tudo o que ia dizer sobre ele. A sua mãe não tinha de saber como era Tiago nu, nem que falava francês enquanto fazia amor.
- Arthur Weasley – Clarice franziu o sobrolho. – Esse nome é-me familiar.
Lilian suspirou. Arthur vivera vários anos em Saint Louis. Clarice vira-o em várias ocasiões. Porém, aparentemente, não o pusera num lugar suficientemente alto na escala social, para merecer ser recordado.
- É o publicitário de Christy Diggory.
- Ah, claro – Clarice sorriu. Com certza que se recordava da apresentadora importante e do seu marido. – Devias telefonar a Christy ou a Amos. Tenho a certeza que eles te ajudarão a encontrá-lo.
- Não – Lilian não ia passar por aquilo.
Quatro anos antes, Amos Diggory era o homem com quem Lilian planeara casar-se. Todavia, numa viagem de fim-de-semana a Las Vegas casara-se com a sua namorada do liceu. Lilian perdoara-os há algum tempo. No entanto, a ultima coisa que queria de Christy ou de Amos era que pensassem que ela estava desesperada ao ponto de perseguir um homem que não se incomodara a pedir-lhe o número de telefone.
O facto de naquele fim-de-semana se ter comportado como uma parva, não significava que o fosse.
- A que se dedica o homem misterioso? – perguntou a mãe.
Lilian comeu outro pedaço de bolo, quase a sorrir pela cara com que a mãe ia a sorrir ao ouvir a sua resposta.
- Não tem trabalho.
A excitação quase desapareceu dos olhos da mãe. No entanto, ficou ainda um brilho leve de esperança.
- É suficiente rico para não trabalhar?
Tiago levara-a ao aeroporto num velho Buick de finais dos anos oitenta. Lilian esboçou um sorriso trocista e abanou a cabeça.
- Morto de fome – Clarice abanou a cabeça desgostosa. – Estão por todos os lados. Bom, não penses demasiado nele. Além disso, provavelmente, deve ser casado.
- Não é casado! – Exclamou Lilian. Ela sempre pensara que o casamento era algo sagrado, por isso reparava se usava aliança quando a convidou para dançar. Depois, quando a acompanhou até ao quarto, perguntara-lhe directamente.
- Não te zangues. A maioria dos homens estão casados, é um facto.
- Pois ele, não – frisou Lilian, perdendo o controle de si mesma. - Se não, não teria estado com ele.
- Como? – perguntou Clarice, levantando as sobrancelhas e deixando imediatamente de mexer o café. – Passaste a noite com ele?
As faces de Lilian incendiaram-se perante o olhar de curiosidade da mãe.
- Não, por Deus! Dançamos um pouco, bebemos uns copos e falamos.
Embora Lilian não fosse muito boa actriz, naquele momento a sua actuação deve ter sido convincente, porque a expressão da sua mãe foi de desilusão.
- Só isso?
- Porque perguntas? Por acaso achas que devia ter ido para a cama com ele? - Lilian levantou a voz.
- Não me teria parecido mal – disse a mãe, encolhendo os ombros. – Queria que te divertisses no fim-de-semana. Se incluía uma aventura com um homem atraente, então eu não teria qualquer problema com isso.
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Lilian apertou os lábios ao recordar-se das palavras da mãe e arrancou de carro da casa desta. Enquanto ela se atormentava pelo seu comportamento descuidado, a sua mãe não via nada de mal nisso.
Claro que isso não a devia ter surpreendido. A mãe acreditava que se devia viver cada momento e fazer o que quisesse. Embora Lilian tivesse recusado essa filosofia de vida, o fim-de-semana anterior abraçara-a com uma paixão que a fazia corar.
Fora estranhamente fácil. Fora somente necessário um olhar na sala de dança…
" Lilian esboçou um sorriso tímido e levantou o seu copo em jeito de saudação. Já tinha reparado nele na pista de dança. A primeira vez que o vira estava a falar com uma loira, que se ria sem parar, de um modo muito irritante. Depois, enquanto dançava com Joni Alvarez, que a cumprimentara, enquanto girava sem cessar nos seus braços.
Lilian estava intrigada. Contudo, parecia que ele nem a tinha visto. Até um instante depois, quando o viu a olhar para ela. Ela sentira um calafrio e ele pousara o seu copo vazio no tabuleiro de um empregado, para se encaminhar para ela.
Uns instantes depois estava ao seu lado.
- Apetece-te dançar? – perguntara-lhe, com uma voz grave, precipitando os batimentos do seu coração.
Lilian encolheu ligeiramente os ombros e pousou o seu copo na mesa.
- Porquê?
Assim que lhe pegou na mão e a atraiu para si, ela deu-se conta do erro que tinha acabado de cometer. Estando entre seus braços, Lilian sentia o sangue percorreu o seu corpo a toda a velocidade e tremia de ansiedade.
Dançaram juntos três canções, até que Lilian se desculpou e saiu. Começava a sentir-se de um modo muito perigoso.
Saiu da sala, atravessou a recepção do hotel e dirigiu-se ao elevador, dizendo para si mesma que fora o casamento que despertara aqueles sentimentos de … bem… desejo.
Sara Michaels, uma das suas amigas da Saint Louis, que era cantora, actuara no casamento e as canções de amor acordaram os sentimentos que Lilian mantinha normalmente bem enterrados.
Também não ajudara o facto de que na festa toda a gente estava acompanhada, menos ela.
Suspirou e levantou a mão para premir o botão do elevador.
- Deixa-me ajudar-te - disse uma voz familiar, num murmúrio.
Lilian levantou o olhar e os seus olhos abriram-se de surpresa. A ultima vez que vira Tiago, estava rodeado por várias jovens que pareciam enlevadas com cada palavra que pronunciava.
- Também ficaste com sono?
- Não, eu não vou dormir no hotel – disse ele.
A porta do elevador abriu-se e ele fez um gesto com a mão para que ela entrasse primeiro. Depois seguiu-a. – Pareceu-me uma boa ideia acompanhar-te até ao teu quarto.
Lilian franziu o sobrolho. Se tivesse a dançar, teria começado a rir-se. Todavia, só tinha bebido alguns copos de vinho e estava completamente sóbria.
- Consigo chegar ao meu quarto perfeitamente bem sozinha. Não preciso de escolta.
- não disse que precisavas – disse ele, piscando o olho. – faço-o porque me apetece.
Embora gostasse de estar com ele e de falar com ele, Lilian não tinha a certeza se era boa ideia deixa-lo acompanha-la ao quarto.
- Caso não tenha dado conta, não mordo.
O seu sorriso era tão contagiante que Lilian também sorriu. A porta fechou-se e Lilian carregou no número do seu piso.
- Como posso ter a certeza disso?
- Porque – deu um passo para ela, - se mordesse, já o teria feito na pista de dança.
Sem uma palavra de advertência, ele aproximou-se e levou a mão até a nuca dela, acariciando-lhe também o queixo com os polegares.
Ela ficou sem fôlego. O tempo pareceu parar, quando os seus olhares se encontraram; o olhar dele reflectia a mesma labareda que lhe ardia nas veias.
- Quero acompanhar-te até ao teu quarto – repetiu ele.
Lilian ganhou fôlego e abanou a cabeça. Não tinha a certeza de poder confiar nele … Ou seria em si mesma que não confiava?
- É demasiado …
- Irresistível?
- Estava a pensar mais em insistente – o elevador abriu-se e ela saiu. Tiago seguiu-a.
- Toda a gente tem algum defeito.
- Ser impulsiva nunca foi um dos meus – afirmou ela.
Pegou-lhe na mão e acariciou-lhe a palma com a ponta do dedo.
- Manda-me embora, que eu irei.
As suas carícias não deixavam Lilian respirar, quanto mais pesar com clareza.
- Não tenho a certeza …
- Talvez isto te ajude a decidir.
Ele atraiu-a para si, levantou-lhe o queixo com o dedo e cobriu-lhe os lábios.
A sua boca era quente e sensual. A barba escassa da madrugada picava-lhe ligeiramente a pele, enviando descargas de desejo por todo o seu corpo. O seu coração batia ferozmente no peito. Ele levantou a cabeça e olhou para ela com uns olhos castanhos penetrantes.
Lilian respirou fundo, enquanto se olhavam. Desejava aquele homem, de um modo que desafiava toda a lógica. Tinha a certeza de que era um sentimento honesto e real.
A única coisa que restava decidir era se devia ou não confiar no seu instinto. “
O som do telemóvel trouxe Lilian de volta à realidade. Por momentos, sentiu-se ultrajada, como se a chamada tivesse interrompido algo importante. Nas suas lembranças, naquela noite, no seu quarto, nada os interrompera. Estiveram os dois sozinhos, sem interrupções … toda a noite.
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Fim do primeiro cap. espero que tenham gostado.
Agora um trecho do proximo cap:
"Preciso de alguém com quem dividir o apartamento. Se conheceres alguém que esteja interessado, dá-lhe o meu número.
Sara encostou-se na sua cadeira, pensativa.
- Talvez conheça alguém. O único problema é que é um homem.
Lilian evitou a tentação de sorrir. Só Sara se preocuparia com isso.
- Não me importa.
- Não sei há quanto tempo está em Saint Louis. No entanto, anda à procura de um lugar onde ficar. Acho que se darão bem.
- Conheço-o?
- Não é daqui – respondeu Sara. – Acabo de o contratar para que se encarregue de preparar a minha viagem pela Europa."
Bjs e comentem please!
Sandra Potter
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