Não Perturbe!
Capítulo 6
NÃO PERTURBE
Andi teve um sono pesado.
Quando acordou, estava esparramada na cama e quase todas as cobertas espalhadas pelo chão.
Ela rolou, puxando um lençol sobre si. Levou suas mãos aos olhos fechados e, enquanto os acontecimentos do dia anterior voltavam à sua mente, estremeceu.
Quanto tempo ela ficaria presa naquele lugar? Dumbledore não lhe dera nenhuma pista... tudo que dissera foi “alguns dias”. E ela não achava que agüentaria passar sequer mais uma hora na companhia do Professor Snape. O dia anterior tinha sido uma luta. Em toda a sua vida, Andi jamais conhecera um homem tão odioso, arrogante e – ela tinha que admitir – assustador quanto ele.
Saindo da cama, ela viu uma bandeja com frutas, cereal, torrada e café na sua mesinha de cabeceira. Andi não sabia o que pensar sobre ter aqueles elfos entrando em seu quarto enquanto dormia, mas o café da manha parecia bom.
Ela pensava em ir até os jardins naquela manhã, dar uma caminhada... isso, é claro, se o “professor” concordasse.
Mas, e daí se ele não concordasse? Ela não era uma prisioneira… e sequer ele mandava nela. Então, a não concordância dele não seria um problema.
Andi esvaziou a sua garrafa de água e encheu-a com o suco de laranja que estava na jarra e foi até a sua bolsa.
Ela realmente carregava muita coisa consigo.
Suspirando, ela retirou boa parte do seu conteúdo, olhando com pesar para o seu discman – agora sem utilidade, assim como o seu celular e o seu ‘vibrador portátil’. O seu rosto corou à mera lembrança do dia anterior. Por que, de todas as coisas, ele tinha que pegar logo aquela?
Tirou o seu pingüim da sorte, que parecia não estar funcionando naqueles dias. E também não precisaria da sua bolsinha, cartões de crédito, maquiagem, agenda... Todos foram retirados. No lugar deles entraram protetor solar, suco de laranja, um prendedor de cabelos, uma partitura (ela tinha de estudá-la) e o livro que vinha lendo.
Um tempinho depois, ela estava em frente à porta de Snape. Bateu, depois de uma relutante pausa.
Andi deu um pulo quando apenas um segundo depois a porta se escancarava: não tinha ouvido os passos dele.
Snape se vestia exatamente como na noite anterior: trajes negros que o cobriam-no dos pés à cabeça. Contrastando com o negro, tinha o seu rosto que era quase tão branco quanto uma vela… e ele nunca considerava lavar o cabelo?
De repente, ela sentiu uma essência de ervas. Certamente era alecrim com... óleo de amêndoas? Aquela era a doce e delicada fragrância que ela sentira no dia anterior enquanto era carregada para o castelo… e, estranhamente, vinha do rosto duro que, naquele momento, a encarava cheio de irritação. Era difícil acreditar que ele usava uma loção pós-barba tão boa.
- Erm – balbuciou, esquecendo o quão assustador aquele homem era. – Eu achei que você deveria saber; eu vou caminhar nos jardins. É só... você... no caso de você... se perguntar... – o olhar intimidante dele a fez gaguejar.
- Obrigado, Srta. Carver. Se você não tivesse me informado, morreria de preocupação. Agora, se você não se importa, estou um tanto ocupado...
E fechou a porta, deixando-a boquiaberta no corredor.
O caminho até a porta de entrada do castelo era bastante reto: era só caminhar pelo corredor até uma grande escada que então ela chegava ao Salão Principal.
Enquanto saía do castelo, descia as escadas e caminhava pelo gramado, Andi quase cozinhou com o calor. Ela caminhou para o lago traçando o caminho mais seguro e direto.
A copa de um enorme salgueiro acortinava a água do lago e oferecia uma sombra um tanto estranha. Foi lá que Andi decidiu ficar por um tempo.
Será que aquele realmente era o mesmo lago que ela vira no dia anterior, em meio às ruínas? De certa forma, ele parecia ser maior… Andi voltou o seu olhar para o castelo e prendeu a respiração.
Aquela era a primeira vez que via o castelo, e o seu esplendor era inacreditável. Havia dez torres que ela conseguia ver, e cada uma delas devia ter mais ou menos dez ou onze andares – era difícil contar. Aquilo certamente não era a coleção de paredes quebradas que ela observara no dia anterior – aquelas não eram em nada especiais.
Exceto... exceto para a sua avó.
Mesmo quando ainda era uma criança, Andi percebia o brilho nos olhos da sua avó sempre que ela recontava as suas inesquecíveis férias na Escócia. Quando cresceu, percebeu que a sua avó tivera um romance de verão que resultara no nascimento da sua mãe.
Nos últimos anos, a avó de Andi queria visitar o lugar, mas estava muito doente para fazer a viagem. Andi prometeu fazê-la por ela.
E lá estava ela, dois anos após a morte da sua avó.
Hogwarts! Bruxos! Um professor sinistro! Elfos-domésticos!
O que tinha acontecido no dia anterior?
Numa tentativa de levar a sua mente para algo que ela conhecesse, pegou a partitura e começou a estudá-la.
Era a peça de um concerto de piano. Andi fora chamada para tocar com uma orquestra amadora no fim de agosto. Olhando para a partitura, mesmo estando longe de agosto, ela se sentia ansiosa.
Seria um desafio… Mas Deus sabia: se ela conseguisse passar por mais um jantar com Snape, ela conseguiria passar por isso também.
Andi estudou a peça, seus dedos movendo-se num piano imaginário, e balançando a cabeça para se manter no compasso.
... se ele fosse pelo menos educado com ela...
... Mi, nãoMi bemol
... o que diabos pode fazer uma pessoa ficar tão amarga...?
... ela perdeu o compasso...
... talvez ele fosse misógino...?
... ela perdeu a dedilhação...
E agora ele estava até perturbando a sua música!
Ela fechou bruscamente a partitura e balançou seus dedos no ar em exasperação. Ficou quieta por um tempo, tentando limpar a sua mente. Tomou um grande gole do suco de laranja, respirou fundo algumas vezes e abriu a peça novamente.
Quando um ronco em seu estômago anunciou a fome, ela decidiu que talvez fosse a hora de voltar ao castelo.
O sol do meio-dia estava horrível. A sua pele parecia estar cozinhando, mesmo sob a proteção de um filtro solar fator 20. O friozinho do castelo seria muito bem-vindo.
Andi descia a escada (depois de dar uma pequena pausa para se certificar que aquela realmente era a escada da esquerda) quando, de repente, lembrou que não sabia como pedir comida.
Aproximou-se da porta de Snape.
Será que ela podia? Ela deveria?
Timidamente, bateu.
Um audível suspiro soou por detrás da porta antes que ela fosse bruscamente aberta.
- Srta. Carver!
- Desculpe por lhe incomodar, Professor – ela disse, ficando o mais ereta possível numa tentativa de sentir-se um pouco mais confiante. – Mas como eu peço o almoço?
- Tem um puxador de prata perto da lareira do seu quarto. Puxe-o; fale o que você quer; empurre-o. Os elfos-domésticos lhe levarão comida.
Ele impacientemente atirara as informações, enquanto Andi apenas assentia, tentando memorizar tudo.
Tudo bem... Ela achava que tinha entendido. Por Deus – que ela tivesse entendido!
- Mais alguma coisa?
- Não... Obrigada, Professor.
- Então eu espero não ser perturbado novamente até o jantar...
- Não, Prof...
Mas ele já tinha fechado a porta.
Ela começou a caminhar pelo corredor.
Snape não era apenas grosso, ele era cruel. Ninguém deveria ficar impune depois de tantas...
Andi parou. Ela tinha certeza que contara três portas, mas, ainda assim...
Ela voltou e refez o caminho.
Aquela, com certeza, era a porta do quarto de Snape.
Continuou, contando. Não havia nenhuma terceira porta!
Andi passou a mão pela parede. Foi até o outro lado do corredor e mirou a parede lisa, onde, definitivamente, não tinha porta alguma!
O que diabos ela faria agora?
Seus olhos vagaram pelo corredor.
Ah, não. Pelo amor de Deus, não! Ela não poderia voltar àquela porta.
Pensando seriamente em não almoçar, ficando sentada no corredor até a hora do jantar ao invés de perturbar Snape novamente, Andi deve ter hesitado uns dez minutos antes de...
Forçando as suas pernas a andar, ela lentamente chegou à porta de Snape.
Por quê? Por que isso teve que acontecer?
Gemendo, ela bateu.
Dessa vez a porta foi aberta lentamente. A expressão na face de Snape levou arrepios à sua espinha.
- Errmmmm – ela balbuciou, usando toda a sua energia para controlar o nervosismo. – Eu... Eu não consigo encontrar o meu quarto...
Andi sentiu como se estivesse sendo tragada pelo chão enquanto ele a encarava demoradamente.
- Você está dizendo que não consegue encontrar o seu quarto? – ele perguntou rispidamente. – São três portas de distancia! Nem você pode se perder!
- Eu… O que eu quero dizer é que a porta não está lá. Eu sei que deveria estar, mas não está!
Ele crispou os lábios enquanto deixava seus aposentos e ia até onde a porta deveria ficar.
Parou, cara-a-cara com a parede lisa.
Snape trincou os dentes e seus olhos rolaram brevemente enquanto ele tirava das suas vestes o que Andi pensava ser uma vara.
Apontou-a para a parede.
- INVERTO!
Andi gritou assim que uma luz amarela disparou da tal vara e dissolveu na parede, revelando o contorno da porta. Quando a luz morreu, Snape abriu a porta e entrou no quarto. Ela, estupefata, o seguiu lentamente.
- Tudo parece em ordem – ele disse, olhando o quarto. – Eu receio que tenhamos pouco controle sobre as travessuras dos nossos poltergeists. – Olhando de relance para Andi, que ainda estava entrando, ele disparou. – Algum problema?
Pasma, Andi o encarou.
- Você... você realmente é um bruxo!
Ele olhou-a ligeiramente irritado e caminhou até a lareira. Moveu o puxador e aproximou o rosto da parede.
- A Srta. Carver deseja almoçar. Salmão... – ele olhou-a de esguelha. Andi assentiu. – batatas e salada. Vinho. Café – e empurrou-o de volta para seu lugar.
- Você não precisava ter pedido o almoço... Eu acho que conseguiria fazer isso sozinha – Andi disse lentamente. Ainda estava um pouco tonta pelo que vira há pouco.
- Eu não quis correr o risco de ser perturbado novamente – disparou.
- Bem, obrigada, e... eu adoro peixe... Como você adivinhou?
- Eu vi em seus astros, Srta. Carver – e deixou o quarto.
XxXxXxX
Reviews, por favor.
Bjus para a Lara, que betou mais esse cap, e para o pessoal que revisou: Lo1s.Lane, Olívia Lupin, Shey e Misnape.
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