Capítulo Sete
Capítulo Sete - Meias Verdades
A construção do restaurante árabe nem parecia que tinha duas semanas. O sheik estava muito entusiasmado com o projeto e os arquitetos especializados estavam trabalhando de vento em popa. Harry acompanhava a obra com otimismo, dando certo como mais um projeto realizado. Na verdade, ele mesmo estava se sentindo realizado, com tudo aquilo que estava acontecendo com ele.
Sua relação com Ginny tinha melhorado desde daquela noite, como se tivesse recuperando um tempo perdido ou vivendo algo jamais vivido. Harry considerou a segunda hipótese. Constatou que aquela vida era maravilhosa e que realmente queria vivê-la intensamente. Se fosse um sonho... torcia para nunca mais acordar.
Ele pensava em tudo isso enquanto se dirigia para o restaurante onde ele e Hermione combinaram de almoçar. Ela havia marcado o encontro dois dias antes e disse que precisava falar com ele. Pela voz, parecia algo sério. Harry ficou preocupado. Como amigo. Parecia que o sentimento amoroso pela melhor amiga estava indo embora aos poucos e permanecia uma amizade. Harry torcia para que ela fosse feliz.
Muitas coisas ocorreram durante aqueles dias. Ele havia tomado coragem e foi ao Cemitério visitar Ellen. Ele chorou e confessou que ela foi a melhor secretária e pessoa que ele conhecera. Pediu perdão por não ter convivido mais com ela.
Hermione olhou a porta do restaurante, tentando esconder a ansiedade. Era o mesmo restaurante onde ela e Harry se encontraram depois que voltaram de Paris. Desde o acidente, não tinha voltado para lá.
Durante uma semana, Hermione pensou em tudo que acontecera. Ginny lhe contara sobre a memória de Harry que não voltara, mas parecia que ele não fazia esforço (ou questão) que ela voltasse. Aquela demora estava fazendo com que Hermione ficasse mais cismada. Não poderia pressionar o amigo e pedir a ele que fosse a um neurologista contra sua vontade. Temia que o caso de Harry estivesse além de um tratamento médico.
Alguns minutos depois, Harry chegou e sentou-se na mesa. Franziu a testa ao ver a cara de preocupação (que Hermione amaldiçoou não conseguir esconder).
- Algum problema, Mione?
- Harry... - Hermione resolveu falar tudo de uma vez. - É que... estou preocupada com você.
- Eu estou bem. - sorriu, tentando tranqüilizar a amiga, mas não conseguiu.
- Não, Harry, não está. Sua memória ainda não voltou e está demorando a voltar.
- É uma questão de tempo - Harry sacudiu os ombros, mas no fundo temeu que Hermione desconfiasse de alguma coisa. Conhecia bem a amiga. Ela não errava. Nunca.
- Não, Harry, não é! Eu conheço você. Não está agindo como se tivesse perdido a memória.
- Como assim? - Harry tentou manter-se tranqüilo.
- Ginny veio conversar comigo. Disse que estava preocupada com você. Que sua memória não voltava. Mas que você não faz esforço para me lembrar.
- Claro que faço! - ele fingiu contrariedade.
- Harry, você não está agindo como um desmemoriado, mas como... - Hermione suspirou. Como diria aquilo? - Como se tivesse preso ao passado.
Harry endureceu o maxilar. Sabia que não poderia enganar a amiga por muito tempo. Por mais que aquilo fosse um absurdo, ela não deixaria barato. Não podia mais mentir. Tinha que contar a verdade.
- E estou.
- O quê? - Hermione não entendeu.
- Preso ao passado.
- Então, liberte-se! Viva essa vida maravilhosa que você tem! Você tem um belo emprego, uma namorada maravilhosa, uma filha a caminha. Que vantagem terá de viver ao passado??
- Como você quer que eu viva uma vida que eu perdi?? - Harry ficou alterado e as pessoas voltaram seus olhos para ele. Harry tentou se acalmar e sentou-se.
- O que está dizendo? Como assim, perdeu?
- Hermione... aconteceu uma coisa naquele acidente de carro que eu sofri... Eu acordei, pensando estar num hospital. Quando eu olho ao redor, cá estava eu: chefe, rico, quase casado e futuro chefe de família.
- Não entendo...
- Claro que entende, Mione. Você mesmo disse. Preso ao passado. Exatamente isso, eu ainda estou preso a ele, porque, do nada, como uma mágica, eu fui, eu vim para um futuro. Um futuro promissor que eu não vivi.
Hermione olhou como Harry estivesse maluco ou algo assim. Olhou para ele, esperando que ele dissesse que era brincadeira.
- Você está dizendo que...
- Eu bati o carro, desmaiei. É a última coisa que me lembro. Eu não sei como eu vim parar aqui, mas não tem como voltar.
- Harry, não existe máquina do tempo.
- Eu sei. Por um momento, penso que estou em coma no hospital, esperando o momento certo para acordar. Mas isso aqui... nunca foi tão real.
- Tá querendo dizer que pulou um ano de sua vida?
- Um ano de muitas realizações, imagino. Pessoal, profissional. Tentando me acostumar com tudo isso. Um dia chego lá.
Hermione permaneceu em silêncio, assimilando todas as informações. Aquela história parecia surreal demais para ser verdade. Mas ao olhar Harry, ela via. Aquele Harry do passado. O Harry atual estava adormecido.
- Eu pensei tantas vezes em como voltar e viver essa vida de um jeito certo. Talvez se eu sofresse outro acidente de carro...
- Harry, outro acidente é inadmissível! Não fará você voltar ao passado e sim, ficar com seqüelas!
- Eu sei disso... - Harry analisava o paliteiro, pensativo. - Já que não posso voltar, preciso de ajuda. Conte-me, com detalhes, o que aconteceu...
- Oras, não sei de muita coisa...
- Hermione, você sabe que eu não posso contar com Ginny. Pois ela acredita que eu esteja mesmo com amnésia. Não quero assustá-la. Estamos bem. - Hermione sorriu marota e Harry; sem-graça.
- Não quero que ela sofra.
- Está bem, Harry, ajudarei você.
- Acredita mesmo em mim.
- Não há outra explicação. Mesmo que essa seja a mais absurda.
- Eu sei... Me perdoa por não ter contado antes. Tive medo que me taxasse de maluco e... - Harry tentou falar, mas foi interrompido pela amiga.
- Harry, eu jamais pensaria que você enlouqueceu. Eu acredito em você. É a pessoa mais íntegra e incrível que conheci. Pode contar comigo para o que precisar.
Harry sorriu, agradecido. Finalmente, encontrara o apoio que procurava.
A conversa com Hermione tirava um pouco do peso que Harry carregava. Ele não poderia imaginar
que acreditaria nele, mas conhecia a amiga muito bem para saber que ela era uma pessoa inteligente.
e conhecia-o para saber ele não inventaria uma história daquelas. Era por isso que Mione era
uma pessoa especial. Rony tinha muita sorte de tê-la como mulher.
Depois do almoço, Harry retornou com vontade de trabalhar, mas tinha que fazer uma coisa antes.
Algo estava remoendo seus pensamentos nos últimos dias. Concluíra que tudo que conquistara: casa, prestígio não tinha caído do céu. E, com a verificação de cada projeto que realizara ao longo daqueles anos, concluíra que por cada projeto pronto e pago, daria para viver bem durante muito tempo.
Ele precisava checar. Sua carteira tinha tudo que precisava: número de conta, senha, o banco em que era cliente. Tudo. Só precisava conferir.
As mãos suavam enquanto digitavam as informações pelo computador. Era muito melhor e mais fácil do que sair de casa e enfrentar a burocracia bancária. Ashley dissera que, por ser dono de um mini-império, ele tinha prestígio, mas Harry achava a tecnologia uma mão na roda.
Ao colocar a senha, Harry respirou fundo e digitou-a, devagar. Apertou enter. Segundos depois, o resultado. Harry arregalou os olhos, concluiu que o valor estava errado. Digitou a senha novamente. O mesmo valor. Novamente. Nada mudara.
Harry encostou-se na cadeira enquanto o valor piscava. Os dígitos embaçavam seus olhos. E ele contava, sem parar, os zeros que havia na tela.
- Quinhentos milhões de libras!! - Harry conteve-se para não gritar. - Isso é mais que uma fortuna!
Mais uma vez, ele digitou a senha. E novamente os oito zeros piscavam depois do número 5. Não tinha mais dúvidas: era proprietário de uma fortuna estimada em quinhentos milhões de libras. O suficiente para, como ele dissera antes, viver bem durante muito tempo.
Ele poderia parar de trabalhar naquele momento, apenas usufruindo aquela fortuna. Ele, Ginny e Lucy. Pensou em Lucy e no futuro da filha. Aquele dinheiro... Sim, aquele dinheiro seria muito bem preservado para o futuro. Para o futuro de Lucy. Se ganhara tudo aquilo, foi pela dedicação. E ganharia mais e mais se dedicando cada vez mais e profissionalmente.
- Então eu quero pintar umas fadas, também estava pensando nos personagens da Disney, como a Cinderela, Branca de Neve... - Harry apontava cada parede do quarto que seria de Lucy. - A cor será rosa bebê, o que acha? - Ginny não respondia, apenas sorria, extasiada, com a empolgação dele. - Desculpe, eu estou decidindo tudo por aqui. - Harry ficou envergonhado.
- Imagina, Harry, o arquiteto aqui é você. - Ginny abraçou-o.
- Mas a filha é nossa. Temos que decidir juntos. - prendeu uma mecha de cabelo ruivo entre os dedos.
- Harry, você é perfeito, sabia? - ele não entendera nada. - Esse é exatamente o quarto que eu imaginei para Lucy e muito mais.
- Mas você tem que opinar também.
- Você quer que eu opine? - Ginny sorriu marota e Harry afirmou com a cabeça. - Está bem. - soltou-se de Harry e foi para uma parede ao canto. - O berço pode ser de um rosa mais claro. Podemos colocar enfeites girando acida do berço. A cômoda pode ser da cor do berço. Podemos colocar uma cadeira de balanço branca ao lado do berço para que eu a amamente durante a noite. Que tal?
Harry sorriu e colocou a mão na cintura.
- Leu os meus pensamentos?
- Hum... Digamos que... intuição.
- Você é perfeita, sabia? - enlaçou-a pela cintura. - Como fui encontrar alguém tão...
- Tão?
- Única e incrível. - Ginny sorriu.
- Eu me esforço. - Harry riu e beijou-a.
- Negócio fechado?
- Fechadíssimo, senhor Potter. Pode começar o projeto amanhã.
- Ok. - beijou-a novamente e levou-a para o quarto deles.
Harry olhou aquela maquete. Sempre ficava ansioso quando fazia maquete, mas aquela era especial: era do quarto de sua filha. Tinha algumas coisas no estoque e fez apenas um esboço, mas tinha que comprar específicos. Ginny disse que a maquete tinha que ser como uma casinha de boneca Harry concluiu que ela tinha razão.
Olhou no relógio. Eram quatro horas. As lojas fechavam às seis. Daria tempo de comprar alguma coisa. Ele e Ginny combinaram de comprar os móveis apenas quando a maquete tivesse pronta e aprovada pelos pais de Lucy. Harry tomaria conta do material de maquete.
Pegou o carro e saiu. Na mesma loja que comprava materiais não vendia para quarto de bebê, mas ela tinha referências. Pegou o endereço. Não ia demorar.
Estava distraído, pensando em como seria a sensação de Lucy nos seus braços, ela o chamando de "papai", quando... .
Uma buzina. Um carro totalmente descontrolado. Flashes vêem sua memória. Ele saindo de um restaurante, completamente transtornado um carro. Um caminhão... agora um carro...
Ele tenta desviar, mas perde o controle. O carro cai. A árvore. Não podia ser. A mesma árvore. Ele bate nela.
Tudo fica escuro.
Continua...
N/A: Penúltimo Capítulo. Até o final. Juh!
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