Beijos e Ciúmes
Capítulo 16 - Beijos e Ciúmes
12 de Janeiro de 1996.
- Você não devia ter feito aquilo - falou Remus, após o fim de uma viagem de Nôitibus um tanto... atribulada. A noite já chegava e começava a chover.
- Aquele garoto estava me tirando os nervos - interpôs Tonks, enquanto andavam pela rua deserta. - Pelo menos ele calou a boca.
- Mas não devia ter feito aquilo - teimou o lobisomem, visivelmente chateado.
- Foi tão ruim assim? - perguntou a jovem, em tom de risada, ainda que com olhar preocupado.
- É só que... bom, foi na frente de todos, e nós, hum... quero dizer, somos apenas amigos, mas...
- Não foi na frente de todos - interrompeu a auror. - O Lalau já havia descido e, caso não tenha reparado, só havíamos nós e o garoto naquele andar. Além do mais, aquele garoto nem nos conhecia, não sabia quem éramos - ela esperou alguma reação dele. Ao ver que sua espera fora em vão, e também que deixara Remus chateado, ela continuou: - Olha, Remus, me desculpa. Eu não sei o que deu em mim, mas prometo nunca mais fazer isso em público. Pelo menos, não sem sua permissão, claro.
- Está desculpada - falou ele, após algum tempo em silêncio.
Ao ouvir isso, Tonks deu um abraço forte em Remus.
- Que bom - falou, ainda abraçada à ele. - Agora, me diga... Eu beijei tão mal assim?
- É claro que não - respondeu Remus, em tom indignado.
- Ótimo - comentou ela, ficando frente à frente com ele. - Então, vejamos... está chovendo e estamos numa rua do subúrbio quase completamente deserta, com exceção do gato ao lado da lata de lixo.
- E o que há de errado? - perguntou ele, achando estranha aquela frase.
- Exatamente - concordou Tonks -, não há nada de errado - ela puxou-o pela nuca para mais um beijo. Dessa vez, com permissão, claro.
*~*~*
13 de Janeiro de 1996.
Depois de uma reunião de emergência da Ordem (dez Comensais da Morte foragidos de Azakaban pareciam uma emergência), Sirius, Tonks, Remus e Olho-Tonto se encontravam na sede. Era meramente uma conversa, nada de extrema importância.
- O Quartel-General está um completo caos, se querem saber - comentou Tonks, bebendo um gole de cerveja amanteigada.
- Imagino - rosnou Moody. - Na época da guerra, aquilo ali era uma bagunça total.
- Ainda é, eu garanto - concordou Tonks. - O único lugar que está calmo é o Centro de Treinamento. Quase ninguém vai lá ultimamente, deve ser por isso.
- E você vai? - perguntou Sirius, levemente interessado, sentado ao lado de um Remus anormalmente quieto.
- Claro - respondeu, como se fosse óbvio.
- Devia vê-la treinando, Sirius - comentou Moody. - Eu a vi duelando com Proudfoot certa vez, lembro-me que ainda não havia se formado, e Proudfoot entrou lá na minha época. Veja bem, ela quase derrotou Proudfoot, e só não o fez porque tinha um horário para sair de lá.
Esse último comentário fez Tonks sorrir. Um sorriso que simplesmente prendia o olhar de Remus. Era aquele sorriso que o fazia esquecer de tudo. Esquecer da conversa. Esquecer de si mesmo. Era como se aquilo o hipnotizasse. De tal forma que, mesmo vendo que ela falava com ele, foi difícil sair do transe.
- Terra chamando Remus! - falou a jovem, do outro lado da mesa.
- Me desculpe, Nymphadora, eu estou meio distraído hoje - desculpou-se rapidamente, sentindo que Sirius observava tudo com grande interesse.
- Percebe-se - disse ela, secamente. - E é Tonks, Remus.
- É, certo - falou ele, encabulado. - Mas o que você estava falando?
- Ah, esquece - ela voltou para sua discussão com Olho-Tonto. Remus sentiu o olhar de Sirius sobre ele, mas, ainda assim, não o retribuiu. Sabia o que aconteceria quando Moody e Tonks fossem embora.
Dito e feito. Tonks e Moody saíram, e Sirius logo veio falar com o amigo.
- Então?
- O quê? - Remus se fingiu desentendido, enquanto andavam pelos corredores até chegarem aos seus quartos.
- Então, o que a Tonks tem de tão interessante para ser tão observada, Aluado? – perguntou Sirius, se controlando para não rir.
- Eu não estava a olhando, só estava...
- Quase babando?
- É claro que não - falou Remus, corando. - Eu não fiquei a olhando tanto tempo assim...
- Ah, ficou, sim - interrompeu Sirius, rindo. - Mas não se preocupe, caro amigo. Na minha opinião, ela fingiu estar chateada com você. Ela apenas viu que você estava praticamente babando por ela e quis deixá-lo sem graça. Pelo jeito, ela conseguiu.
- É - concordou Remus, tendo cuidado com as palavras.
- É - falou Sirius, um tanto sem nexo, parando à porta do seu quarto. - A verdade é que vocês dois têm que tomar um atitude. Só vocês não percebem tudo isso.
- Tudo, o quê? - quis saber o lobisomem, interessado.
- Boa noite, Aluado - e desapareceu pela porta.
*~*~*
13 de Maio de 1996.
Nymphadora Tonks tinha uma aparência cansada enquanto abria a porta do Caldeirão Furado aquela tarde chuvosa. Talvez seja a chuva, pensou ela. Até que ela viu um rosto conhecido naquele pub praticamente vazio - o que era comum numa terça-feira.
- Então, Remus, o que o traz aqui nessa tarde gloriosa? - perguntou, sentando-se à frente do amigo que, aparentemente, acabara de chegar.
- Não me parece muito gloriosa, se quer saber - falou Lupin, com visível mau-humor.
- Boa tarde para você também, Remus - falou ela, secamente. - Eu estou ótima, já que perguntou.
- Me desculpe, Nymph... Tonks - ela lhe lançou um olhar gélido que o fez falar o sobrenome antes de completar o primeiro. - Eu só pensei em vir até aqui tomar alguma coisa... sair um pouco daquela casa, sabe?
- Entendo - concordou a auror, com sinceridade. O nº12 já não era um lugar muito agradável normalmente, mas andava pior graças ao evidente mau-humor de Sirius, que piorava a cada reunião com suas discussões com Snape.
- O que vão querer? - perguntou Tom, surpreendendo os dois.
- Dois uísques de fogo - pediu Tonks, na mesma hora que Remus abriu a boca para falar. - E nem pense em me lançar esse seu olhar severo - avisou, já sabendo que Remus não tomava bebidas alcoólicas com muita frequência, e nem ela. - Ah, vamos, não temos nada para fazer e ambos somos maiores de idade.
- Você realmente me conhece, hein? - comentou ele, logo após as bebidas chegarem.
- Parece que sim - afirmou ela, tomando um gole. - Quero dizer, se não conhecesse seria um pouco estranho, não? Afinal, praticamente estamos juntos em todas as missões. Embora eu arrisque dizer que você tem mais missões do que eu - ela tomou mais um gole. - E hoje Dumbledore vai à sede para falar conosco, é óbvio que é mais uma missão.
- Eu só lhe agradeço por me aturar tanto tempo - falou Remus, rindo diante da tagarelice da amiga.
- Não precisa agradecer. Não é difícil aturá-lo, você é simplesmente... - a palavra perfeito quase escapou da boca da jovem, mas ela conseguiu emendar: - uma ótima pessoa.
Nymphadora Tonks, o que está acontecendo com você?, perguntou uma voz, dentro da cabeça da auror, que lembrava horrivelmente à de sua mãe.
Eles ficaram um bom tempo ali, conversando (e bebendo, diga-se de passagem), até que a monotonia resolveu dar o ar da graça. Mas, como todos sabemos que monotonia não tem absolutamente nada a ver com Tonks, ela falou:
- Tenho uma idéia - ela tomou o restante do seu segundo copo de voltou-se para o amigo. - Nós devemos ter uma hora e meia sem fazer nada, certo?
- Certo - afirmou, olhando o relógio.
- Então, vamos ao Beco Diagonal que eu tenho compras a fazer - falou ela, se levantando.
- Compras? - repetiu Remo, com olhar preguiçoso. - Na chuva?
- Na chuva - ele murmurou alguma coisa sobre 'ter o que fazer'.
Aquilo deixou Tonks um tanto chateada.
- Ah, vamos, uma diversãozinha à toa não faz mal a ninguém, faz? – perguntou a jovem, o puxando pela mão.
Fazer compras com Tonks era, no mínimo, diferente. A auror estava por vezes quieta e examinadora, por outras tagarela e tocando em tudo o que via. É claro que, depois de quarenta minutos assim, a tendência é se cansar. E é provável que Remus demonstrasse isso, já que, quando saíam da Floreios e Borrões, ela perguntou:
- Você não está se divertindo, está? - o tom de voz da jovem era um tanto infantil. Talvez fosse obra da bebida... mas ela estava simplesmente linda daquele jeito.
- Eu estou... sério - o Beco Diagonal estava vazio; não havia uma só pessoa fora das lojas, com exceção dos dois. Também, quem vem ao Beco Diagonal com uma chuva dessas?
- Hum - ela largou as compras no chão e tirou a varinha, rapidamente, indo para o centro da rua, se enxarcando. - Remus Lupin, aceita duelar comigo?
- Quer duelar? - ele não pôde deixar de soltar um sorriso ao ouvir aquela frase, e largou as sacolas que segurava.
- Na verdade, não - respondeu Tonks, irônica. - Foi só um pretexto para tirar a minha varinha e jogar esses feijõezinhos em você.
Enquanto falava, Tonks conjurou uma caixa de Feijõezinhos de Todos os Sabores e atirou em Remus; era realmente muito hábil com feitiços.
- Eu... Você me paga, Nymphadora Tonks - falou ele, ao ver que ela correu um pouco à frente, e mostrou a língua. Parecia uma brincadeira de criança.
Bom, pensou Remus,Já perdi minha dignidade, mesmo.
Ele correu atrás dela, enquanto a chuva os molhava. Não demorou muito até que ele a alcançou, e a abraçou.
- Você corre bem rápido para um lobisomem, sabia disso? - perguntou ela, tentando continuar a correr.
- Você é que corre devagar - retrucou ele, rindo.
- Não corro, não - teimou Tonks, também rindo. - Você só é mais rápido do que eu.
Ao dizer isso, a auror virou-se para ficarem frente à frente, e o beijou.
Fora, de longe, o beijo mais intenso que já tiveram. Era como se, de repente, tudo o que importasse era aquele momento, o aqui e o agora. E a chuva só fazia com que tudo se tornasse mais apaixonante do que já era.
- A-acho que agora você pode me soltar - gaguejou Tonks, quando o beijo finalmente terminou. E não é que o lobinho beija melhor do que eu pensei?
- É... certo - todos os pensamentos que ele tentava evitar vinham à tona naquele momento, por causa daquele beijo. E que beijo!
- Se quer saber, eu sempre sonhei com um beijo na chuva - comentou Tonks, de propósito, para descontrair a atmosfera.
- Pelo menos, você realizou o seu sonho - concordou Remus, corando.
- E você me ajudou - falou ela, passando o dedo indicador pelo queixo de Remo. - Agora, melhor irmos para a sede, não vamos deixar Dumbledore esperando, vamos?
- Claro que não - disse ele, sorrindo. Era simplesmente impossível não sorrir depois daquilo.
*~*~*
Remus e Tonks conversavam calmamente na sala de estar(ao menos, era o que parecia) da Mansão Black quando Dumbledore chegou com Sirius ao seu lado.
- Serei breve pois não há muito tempo para se falar - o tom dele parecia urgente, ainda que sereno. - Há vestígios de atividade comensal nessa rua - ele entregou um papelzinho à Remus. - E preciso que os dois fiquem lá pelos próximos dois dias. Ficarão nessa pousada, Alastor estará trabalhando lá como espião. Peço que fiquem atentos à qualquer ato e pessoa suspeitos - ambos acenaram com a cabeça. - Nymphadora, já tomei providências com Kingsley. Ele dirá que a srta. está com problemas familiares e por isso teve que se ausentar. Algum problema?
- Não, professor - respondeu Tonks, ainda surpresa com a seriedade da missão.
- Nenhum - respondeu Remus, também surpreso.
- Qualquer dúvida, falem com Alastor - avisou o diretor deposto de Hogwarts. - Eu devo ir. Não é seguro ficar andando por aí com todos me procurando. Boa sorte, aos dois.
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