Na Cozinha
Capítulo 12 - Na Cozinha
31 de Agosto de 1995.
- Lindo, isso! – exclamou Tonks, ainda batendo na porta. – Absolutamente fabuloso! Espero que esteja contente com o que o seu amigo Sirius fez!
- Contente? – repetiu Remus. – Como é que eu posso estar contente?
- Eu não sei, vocês estavam cochichando até ele resolver fazer essa completa loucura! – ela enfatizou as duas últimas palavras. – Quando eu sair daqui, o Sirius vai ver...
- O Sirius é que resolveu fazer essa loucura, não eu! – ele se defendeu.
- Seria bem mais fácil pedir desculpas - insinuou Tonks –, afinal, o criador disso tudo foi você, e não eu.
- Seria bem mais fácil você pedir desculpas – insinuou, desta vez, Remus –, já que você é que tirou conclusões precipitadas, e não eu!
- Eu não tirei conclusões precipitadas – teimou Tonks, visivelmente contrariada –, apenas deduzi, e não deduzi errado. Você, por trás de tudo, me acha jovem demais e sem habilidades suficientes para ajudar a Ordem, não é?
- Eu nunca disse isso – falou Remus, calmamente. Aquela mulher sempre o fazia perder a cabeça... – Você é que simplesmente invocou com isso!
- É mais fácil ser sincero do que insistir que não acha isso!
- E é mais fácil dar o braço a torcer do que continuar com isso!
Tonks sentou-se, impacientemente, na cadeira que estivera sentada antes da pequena travessura de Sirius, e Remus fez o mesmo. Ambos ficaram sentados ali, sem dar atenção um ao outro, suspensos em seus próprios pensamentos.
Era simplesmente esplêndido, pensava Tonks, o que Sirius fez. Como se mantê-los trancados numa cozinha fosse resolver alguma coisa! E, uma hora ou outra, alguém abriria a porta da cozinha... O problema é que ainda eram duas e dezessete da manhã. Ela só teria que ficar calada por, o quê, umas quatro horas? Nymphadora Tonks só ficava quieta assim quando dormia (e olhe lá!). Esse é, decididamente, um problema. Ela só não iria pedir desculpas. A culpa não fora dela! O que Remus disse era apenas uma acusação sem precedentes... O que ela falava era o certo. Só era realmente ruim, já que Remus sempre fora tão... simpático. E inteligente. Não era de se jogar fora. Ela não exagerara, apenas fora sincera. Tudo bem, talvez tenha sido de um jeito explosivo demais...
Enquanto isso, Lupin pensava - quase - da mesma forma.
Incrível, pensou ele, como as mulheres são complicadas. Numa hora, Tonks falava rindo, e na outra estava gritando com ele. Ele nunca achara Tonks imprópria para a Ordem... Nunca a achara uma adolescente. Ela era uma mulher e era - ainda que ele se recusasse a pensar nisso - bonita e inteligente. Linda, por sinal. Mas, ainda assim, ele não pediria desculpas. Não fora culpa dele. As acusações dela eram sem fundamento algum. Essa era a verdade. Ele é que estava certo, não ela. Ela que exagerara. Se bem que ele talvez não devesse ter levado tão a sério...
Então, de repente, quase como se fosse sincronizado, duas vozes irromperam o silêncio:
- Me desculpe – disseram os dois, no mesmo tom vencido.
- Não, eu é que me desculpo – pediu Tonks levantando-se e indo em direção à ele.
- Não, a culpa foi minha – falou Remus, levantando-se também.
- Eu é que exagerei, você nunca disse que me achava imprópria para a Ordem – interpôs Tonks. – Você acabou cedendo por que eu pressionei demais para que admitisse que não me achasse hábil o bastante para estar aqui.
- Mas eu não deveria ter-me deixado levar – falou ele, quando já estavam frente-a-frente. – Eu perdi o controle, como poucas vezes perdi. A culpa foi de nós dois.
- Então, estamos quites – falou uma Tonks sorridente.
- Imagino que sim – sorriu ele, em troca. – Mas eu queria que soubesse que não a acho uma adolescente... Você é uma mulher adulta, Tonks.
- Ainda que minhas últimas atitudes não invoquem isso – disse a jovem. - Amigos?
- Amigos.
Eles se abraçaram com força, e, ao voltarem ao normal, havia um 'algo a mais' no olhar de cada um. Estavam muito próximos. Mais do que normalmente estavam. Ainda mais próximos do que no memorável e fatídico dia em que Monstro aparecera de repente na cozinha.
Então, como se fosse magia (e não deixa de ser, né?) se beijaram. De um jeito terno, mas, ao mesmo tempo, selvagem. Pareceu durar horas, para ambas as partes. Que, aparentemente, se esqueceram de seus pensamentos e do mundo ao seu redor.
Até que um deles parou (N/A: e vocês já podem imaginar quem, né?).
- Tonks, me desc... – começou Remus, mas acabou sendo interrompido.
- Se você pedir desculpas, juro que azaro você quando tiver minha varinha de volta – o tom ameaçador fazia contraste à um rosto muito sorridente. – Ora, vamos, Remus, eu não vejo o que um mero beijo pode causar!
- É que...
- Eu não tenho nenhuma doença contagiosa, se é isso que você quer saber – defendeu-se Tonks, brincando. – Foi só um beijo... mais nada. Isso não é um compromisso, nem nada... certo? - o tom dela foi um tanto... impreciso.
- É – concordou Lupin, rápido, com um risinho. – Afinal, não há nada entre nós... certo? - mais um tom impreciso.
- É, certo – concordou ela, depressa, agora um tanto encabulada.
- Certo – ele complementou, ainda mais encabulado do que a Tonks. – É, hum... Imagino que teremos que esperar mais, não é? Não me parece que Sirius irá abrir a porta tão cedo.
- Eu concordo – falou Tonks, olhando esperançosa para a porta. – Ele deve ter ido dormir, e esqueceu a gente aqui.
- É bem provável – passado o momento embaraçoso, ele criou coragem para puxar conversa. – Então, vai levar os garotos para a estação amanhã?
- Vou, estou fazendo hora extra a semana inteira para tirar folga de manhã – respondeu ela, sentando-se de volta na cadeira. Mal fez isso e a porta abriu, de repente.
Sirius vinha com aquele sorriso maroto de sempre e, cuidadosamente, deixou as varinhas em cima da mesa, até que disse:
- Então, tudo resolvido? – ele perguntou em um tom - obviamente - manso, calmamente.
- É, digamos que sim – respondeu Remus, embora olhasse para o amigo de um jeito ameaçador –, mas ambos concordamos que você não devia ter nos trancado aqui.
- Foi uma atitude bem imatura, Sirius – completou Tonks, com o mesmo olhar que Remus.
- Ora, vamos, Aluado... Priminha... Pelo menos estamos os três felizes e amigos! – falou Sirius, arriscando um sorriso.
- E com as varinhas, não se esqueça – lembrou Tonks, pegando a sua e guardando no bolso. – Dessa vez você escapou, Sirius. Agradeça ao Remus pelo meu bom-humor. Se me dão licença, eu tenho pouco mais que três horas de sono e não quero desperdiçá-las. Até mais!
Eles observaram a jovem sair da cozinha e esperaram até terem certeza de que ela se fora. Então Almofadinhas falou, em tom e sorriso maroto:
- Que bom que está tudo resolvido!
- É... – concordou ele, esfregando os olhos. Acabara de perceber que estava com sono.
- "Agradeça ao Remus pelo meu bom-humor" – falou Sirius, numa clara imitação de Tonks, apenas com um tom agudo desnecessário. – Por que isso?
- Sei lá... Provavelmente porque fizemos as pazes – respondeu Remus, virando-se para pegar um copo de água.
- Sei – disse Sirius, em tom sarcástico. – Não aconteceu nada?
- Não – mentiu Remus. Era óbvio que não se atreveria a contar a Sirius. Isso significaria morte social. Afinal, ele não pararia de fazer piadinhas de mal-gosto na frente de quem quer que fosse, além de que iria, provavelmente, ficar tentando aproximar os dois a todo custo. A palavra certa seria inconveniência, com certeza.
- Bom, eu vou dormir – falou ele, de repente, sabendo que o que quer que tenha acontecido, seu amigo não falaria tão cedo. – Boa noite, Aluado.
- Boa noite, Sirius.
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