Despedida



Capítulo 21 - Despedida


02 de Agosto de 1996.
Anna era obliviadora no Departamento de Acidentes e Catástrofes Mágicas, do Ministério da Magia. Possuía longos cabelos castanhos cacheados, e olhos azuis que muitas de suas amigas invejavam. Havia algum tempo que não ia ao Quartel-General dos aurores, onde tinha duas amigas trabalhando. Apesar de que queria falar com uma em particular.
Ela foi atravessando o Departamento, passando por vários cubículos e vários aurores, cumprimentando alguns, mas sem achar o cubículo da amiga; talvez ela tenha mudado...
Estava passando por um corredor quando parou em um cubículo onde Kingsley Shacklebolt estava. Ela conhecia Kingsley há algum tempo, e sabia que este se dava muito bem com quem procurava. Ele parecia estar arrumando o cubículo; aparentemente, alguém ia sair dali.
- Olá, Kingsley – cumprimentou ela, sorrindo. – Muito trabalho?
- O suficiente para fazer disto um caos – comentou ele, sorrindo. – Mas você não trabalha aqui, trabalha, Anna?
- Você sabe que não – respondeu ela. – O que está fazendo?
- Fui transferido temporariamente – respondeu ele. – Estou arrumando as coisas por aqui, só voltarei ao quartel uma vez por semana, entregar relatórios.
- Entendo.
- Mas não foi para me perguntar isso que você está aqui – falou ele.
- Não – respondeu, com sinceridade. – Vim falar com a Tonks. Ando preocupada com ela, mal nos falamos mais.
- Ela mudou de cubículo há algumas semanas – comentou ele, apontando a varinha para uma caixa, fazendo-a desaparecer. – Posso levá-la até lá, se quiser. Preciso falar com ela também.
O auror saiu à frente, Anna seguindo-o. Era particularmente estranho ter que procurar Tonks; elas costumavam almoçar juntas, mas havia meses que Tonks não aparecia. Ela vivia dizendo estar ocupada, desculpando-se por não poder estar junto às amigas. Apesar de trabalharem no mesmo lugar, a última vez que Anna a vira fora quando Tonks estava no St. Mungus, pois participara de uma batalha no Ministério.
Kingsley parou, de repente, na frente de um cubículo, aparentemente surpreso com alguma coisa.
- O que houve? – quis saber a jovem.
- Tonks não está mais aqui – respondeu ele, afastando-se para Anna olhar o cubículo. Estava vazio, não havia fotografias nas paredes, como tinha em todo o Departamento; havia apenas um armário e uma escrivaninha, que continha o escrito: Nymphadora Tonks. – Imaginei que ela iria logo, mas não hoje.
- Ir aonde? – perguntou Anna, sem entender.
- Você não soube? – perguntou ele, com expressão preocupada. – Tonks se ofereceu para fazer parte da Guarda de Aurores em Hogsmeade. Achei que ela iria logo, mas, pelo visto, ela se antecipou.
- Hogsmeade? – repetiu a moça, sem entender. – Por que Tonks iria para Hogsmeade? Ela nunca gostou muito de lá! Teve, inclusive, suas visitas proibidas quando estudávamos em Hogwarts!
- Nem me pergunte – respondeu ele. – Ela não tem estado muito bem. Estranho não ter nem se despedido.
- Será que ela foi há muito tempo?
- Não, deve ter sido hoje a tarde. Estive aqui hoje de manhã – respondeu Kingsley. – Deve estar em casa arrumando as coisas para ir para lá.
- Então é para lá que eu vou – ela olhou para o relógio, vendo que logo já poderia ir embora. – Obrigada, Kingsley.

*~*

Anna subia apressadamente as escadas de um edifício no subúrbio de Londres. Tomara que ela esteja em casa, pensava. Ela antes queria apenas ver a amiga, sentia saudades dela; agora, ela já estava ficando preocupada. Kingsley disse que ela não estava muito bem, e Penélope havia comentado que Tonks parecia estar em outro mundo. Segundo a amiga, que trabalhava com Tonks, ela não falava com quase ninguém, e estava sempre em alguma missão para o Ministério.
Ela bateu à porta do apartamento e esperou, impaciente. Ela pôde ouvir um barulho vindo de dentro do apartamento, e bateu a porta novamente.
- Tonks, sou eu, Anna! – falou ela, impaciente.
Ela ouviu a chave abrindo a porta e estranhou que fosse sem o uso da magia. Tonks abrira a porta, com uma aparência péssima. Seus cabelos estavam castanhos e opacos, a julgar pelos seus olhos, ela parecia ter chorado há pouco tempo.
- Oi, Anna – cumprimentou Tonks, com um sorriso forçado.
- Oi, Tonks – falou Anna, entrando no apartamento. Tudo estava em perfeita desordem, como sempre estivera. Tonks adiantara-se para seu quarto, onde estava, aparentemente, arrumando as roupas para a mudança. – Como é que você está?
- Não muito bem, como você pode ver – respondeu a auror, colocando algumas roupas numa mala, enquanto Anna sentava-se na cama. – Por que está aqui?
- Estive preocupada com você – respondeu ela, séria, embora Tonks revirasse os olhos.
- Isso é o que mais tenho escutado ultimamente.
- Que bom que não fui só eu – comentou a jovem, sarcástica. - Você tem estado muito distante, Tonks. Não almoçar conosco, tudo bem, mas Hogsmeade? Desde quando você gosta de Hogsmeade?
- Achei que seria bom mudar um pouco – falou Tonks, agitando a varinha para fazer as roupas irem sozinhas para a mala. Tudo foi de forma desordenada, o que fez a auror soltar um suspiro de impaciência e começar a colocar tudo à mão, mesmo.
- Mudar um pouco? – repetiu a amiga. – Tonks, o que aconteceu com você? Nos últimos meses, mal nos falamos, você vivia tendo coisas a fazer... Penélope também está preocupada com você. Você está tão distante... Nem parece que somos amigas há tanto tempo, pelo modo que temos agido.
Ela tentou não parecer muito chateada, vendo que Tonks não estava muito bem emocionalmente; só essa podia ser a razão de estar com sua aparência normal.
- Eu sei – falou Tonks, quieta, ainda arrumando as coisas. – E eu sinto muito. Os últimos meses foram péssimos para mim, ainda estão sendo.
- Devem ter sido, mesmo – afirmou Anna, fazendo Tonks se virar diante do cinismo em sua voz. – Você está muito mudada, Tonks. Talvez... Se me contar o que aconteceu...
- Não há nada para contar, Anna – a voz da auror estremeceu um pouco. – Agradeço a preocupação, mas eu vou ficar bem.
- Vai? – perguntou Anna, com incerteza. – Caramba, Tonks, se olhe no espelho! Qualquer um pode ver que você não está bem, inclusive você! Não parece mais a garota que eu conheci, anos atrás!
- É porque ela se foi, Anna – respondeu Tonks, calmamente, olhando para a amiga. – As pessoas mudam, crescem. Talvez eu tenha demorado tempo demais para isso, foi só.
- Então o que a fez mudar tanto assim? – questionou Anna, elevando o tom de voz; havia muito tempo que não discutia com Tonks. – Porque, sinto muito, ninguém muda tanto assim em tão pouco tempo! Parece até que é um motivo bobo, Tonks, do jeito que você tem se comportado...
- Bobo? – repetiu a auror. – Bobo! Não fale das coisas como se soubesse delas, Anna, você não tem idéia de como estou me sentindo!
- Por que não fala, então? – perguntou Anna, cruzando os braços.

*~*

Tonks pôde ver como Anna estava se sentindo ao ver a amiga sem se abrir; se sentiu como Remus, negando qualquer coisa, e resolveu falar para a amiga como estava se sentindo. Mas... Como?
- Anna, você não tem noção – começou ela, de repente – de como é horrível sentir-se rejeitada. Eu sinto muito não ter-lhe contado isso, somos amigas há tantos anos, mas eu... Simplesmente não quis... não quero encarar mais alguém com pena de mim.
- Pena de você? – perguntou ela, sem se conter. – Tonks, você está começando a me assustar.
- Já que você quer tanto saber o que aconteceu, eu conto – ela parecia estar à beira das lágrimas agora. – Eu me apaixonei, foi isso que aconteceu! Eu amo alguém que não me quer! Pode parecer idiota, mas...
Tonks sentou-se na cama, e começou a chorar. Ela sempre foi forte quanto às emoções; poucas vezes Anna a vira chorar, Tonks estava ciente disso, e, nunca, em momento algum, fora por causa de alguma paixão dela.
Apesar da surpresa, Anna levantou-se e abraçou a amiga.
- Tonks, fique calma – falou Anna, enquanto Tonks soluçava. – Tenho que certeza que esse cara gosta de você...
- Você nem o conhece para saber disso – murmurou ela.
- Está bem, eu não sei – admitiu ela. – Mas ele deve ter um motivo.
- T-tem, mas é tão ridículo... – ela levantou a cabeça e enxugou as lágrimas, embora elas teimassem em cair. – Ele é um teimoso, Anna... Não quer admitir que está errado, e eu certa...
- Certa em relação à quê, Tonks? – perguntou Anna, desconfiada.
- Nada que importe de verdade, Anna – respondeu ela, com as lágrimas agora controladas.
- Você não pode ficar assim, Tonks! – falou a amiga, de expressão preocupada. – Desde quando você se deixa levar assim por causa de um homem?
- Eu não sei, eu não sei! – repetiu Tonks, voltando a chorar. – Eu nunca pensei que fosse assim... Amor, ou como quiser chamá-lo...
- Eu não entendo como você pode ficar assim – comentou Anna, pensando.
- Você não entende porque você tem que a ama do seu lado todos os dias – disse Tonks. – Você o vê todos os dias, todas as manhãs a primeira pessoa que você é ele... Não sabe como a invejo agora, Anna...
- Eu devia dar mais valor à isso – falou a amiga, sorrindo. – Mas o que eu estou querendo dizer, é: tem certeza de que você o ama, Tonks?
- É óbvio! – respondeu ela, em tom incrivelmente baixo. – Não consigo imaginar minha vida sem ele, Anna... Não consigo me imaginar sem ver aqueles olhos...
- Olhos?! – repetiu Anna, rindo. – O que tem os olhos dele?
- Eu não sei – respondeu ela, francamente, soltando uma risada entre as lágrimas. – Eles me fascinam, aqueles olhos...
- É, talvez você esteja apaixonada – falou Anna.
- E talvez eu devesse desistir – disse a auror. Aquelas palavras caminhavam em sua mente há alguns dias, mas ela nunca as havia dito em voz alta. – Talvez ele esteja certo. Talvez ele simplesmente não me ame.
- Como assim? – perguntou Anna, se levantando. – Você vai desistir?
- Talvez seja o melhor a ser feito.
- O melhor a ser feito? – repetiu ela, indignada. – Tonks, desde quando você desiste, assim, tão fácil?
- Desde que eu acho que não há mais esperanças – respondeu ela, enxugando as lágrimas.
- Lembra-se de quando estávamos no quinto ano, e você foi proibida de ir à Hogsmeade porque a McGonagall pegou você com uma garrafa de Uísque de Fogo? – perguntou Anna, de repente.
- Lembro – respondeu Tonks, rindo. – Você e a Penélope nunca me acompanhavam nessas situações.
- Você simplesmente invocou que estava mais do que na hora de experimentar esse tipo de bebida, e nem no Cabeça de Javali quiseram vender – continuou Anna. – Aí você foi tentando, até que conseguiu pegar uma do Três Vassouras, e ainda deixou o dinheiro onde a garrafa estava. Nem deu tempo de você provar, a McGonagall a viu antes.
- É verdade.
- Mas você não desistiu, apesar de todos os riscos, e apesar de que você criou aversão à Hogsmeade depois do incidente – continuou a amiga. – Ou talvez a aversão fosse causada pela punição de não poder mais ir até lá.
- Provavelmente.
- Você tem razão, Tonks – ela se encaminhou para a porta. – Aquela garota se foi. Se ela estivesse aqui, certamente que não desistiria. De qualquer maneira, eu preciso ir, o Adam já deve estar em casa, e eu não quero deixá-lo esperando. Vê se não esquece que eu existo e me visita, hein?
- C-claro – respondeu Tonks, meio atordoada pelo comentário da amiga.
- Se cuida – falou Anna, já saindo. – E não desista!
Tonks ouviu a porta fechando-se, e, enquanto se encaminhava para o banheiro para lavar o rosto, murmurou para si mesma:
- Eu não irei.

*~*

Remus Lupin andava calmamente pelas ruas do subúrbio londrino. Ele não sabia exatamente onde estava indo, apenas deixava suas pernas o levarem aonde queriam ir. Aquelas últimas semanas estavam sendo realmente atribuladas. Ele acabara de sair de uma reunião da Ordem, na casa dos Weasleys, e Molly não perdeu a chance de falar sobre Nymphadora Tonks.
Ela não apareceu nas três últimas reuniões, e a verdade é que ele estava preocupado com ela. Ele simplesmente não podia admitir que tudo o que ele queria naquele momento era estar junto dela.
Por que ela tinha que tornar tudo mais difícil? Ele nunca teria imaginado que se encaixaria numa situação daquelas. Ela o amava, ela o queria. Mesmo sabendo dos riscos que ele trazia, ela o queria. Mesmo sabendo que junto dele ela poderia se machucar, ela o amava. E ele não podia deixar que ela se machucasse por causa dele. Mesmo a amando, ele não podia deixar que nada de mal acontecesse a ela. Mesmo que isso significasse abdicar de uma vida com ela, a pessoa que ele mais amava no mundo. Será que ninguém entendia que ele fazia aquilo tudo apenas para deixá-la bem e feliz? Porque, com ele, ela jamais ficaria bem e feliz. Com ele, ela teria uma vida marcada pelo preconceito. O mundo não precisava de mais preconceito do que já tinha.
Naquela noite ele devia ir para os lobisomens, e logo ela iria para Hogsmeade. Talvez nunca mais se vissem novamente. Era provável que nunca mais se vissem. E, assim, ele subitamente lembrou do olhar dela, aquele olhar cintilante, que parecia penetrar em sua mente, aquele olhar cheio de vida que o contagiava tanto.
Ele riu ao lembrar de como ela caía sobre as coisas, às vezes por uma simples discordância de passos. Lembrou-se das tantas vezes que ele a segurara para não cair, das tantas vezes que riram de alguma trapalhada dela. Merlin, como ela é desastrada.
E talvez fosse esse tipo de coisa que a fazia tão especial: a espontaneidade daquele olhar, a sinceridade daqueles tombos. E talvez fosse isso que o fizera ficar tão apaixonado por ela. De um modo tão repentino que ele não tivera nem tempo de parar aquele amor. E nem ela. Mas ela encontraria outra pessoa, tinha que encontrar; com ele, ela jamais seria feliz...
Seu pensamento foi interrompido ao ver justamente a mulher dos seus pensamentos fechando a porta de um prédio um pouco à sua frente. Ele não havia se dado conta de que estava na rua onde Nymphadora morava. Ele ficou atrás de uma parede, aonde ela não iria vê-lo. Naquelas horas, o melhor era evitá-la.
- Algum problema com a chave, Srta. Tonks? – perguntou uma senhora que se aproximava da jovem que, pelo visto, não conseguia fechar a porta.
- A porta não está fechando, Sra. Rowland – falou a jovem, em tom de desânimo.
Ultimamente era sempre aquele tom. E ele não pôde deixar de sentir-se culpado por aquilo; era por causa dele que ela não podia mais se metamorfosear, era por causa dele que ela não ria mais com vontade, que ela não era mais a mesma.
- Talvez seja a sua chave, querida – falou a senhora, bondosamente. – Acho que você devia falar com o porteiro.
- Não será mais necessário – comentou a auror, ainda naquele tom. Ela passou os olhos pelo lugar onde Remus estava, mas não o viu. – Fui transferida do trabalho, duvido muito que voltarei aqui em breve. De qualquer maneira, eu tenho que ir. Foi bom vê-la, Sra. Rowland.
- Igualmente, querida – a senhora fechou a porta, e Tonks desceu calmamente os degraus do Hall.
Olhando para o edifício onde morava, ela atravessou a rua e seguiu andando para o lado contrário de Remus. A rua estava deserta. Ele sentiu o desejo de ir até lá falar com ela, de abraçá-la, de beijá-la, de dizer o quanto a amava. Mas não podia. Não, ele devia zelar pela segurança dela, e a segurança dela não seria com ele. Ele devia ter ido para casa. Não devia ter ficado lá, observando-a. Ele não devia nem ter ido até aquela rua, para começar.
Ele havia acabado de decidir voltar para casa quando ouviu dois estalos altos. Tonks rapidamente virou-se, na mesma hora em que Remus o fizera, ambos com as varinhas em punho.
- Remus, o que está fazendo aqui? – perguntou ela, sem entender.
Mas duas figuras encapuzadas apareceram atrás do lobisomem, obrigando-o a não responder à moça. Os dois Comensais disparavam feitiços por todos os lados, e não havia tempo para revidá-los; precisavam sair dali o mais rápido possível.
Remus correu até Tonks, disparando alguns feitiços para os Comensais, assim como ela fazia. Por que, afinal, aqueles Comensais estavam ali?
- Precisamos sair daqui! – falou Remus, quando finalmente alcançou Tonks. Ele puxou a mão dela, e ambos saíram correndo.
Um dos Comensais ficou à frente deles, mas o feitiço-escudo que os protegia não permitiu aos feitiços atingi-los. Eles seguiram para um beco, correndo, mas um feitiço atingiu Tonks, que corria mais à frente.
- Nymphadora, consegue andar? – perguntou Remus, enquanto os Comensais ainda não os viram.
- A-acho qu... – respondeu ela, com voz de choro, mas sem lágrimas. O feitiço atingira sua perna direita.
- Vamos, não largue a minha mão – pediu ele, levando-a para trás de algumas caixas onde não podiam ser vistos. – Vamos aparatar antes que eles nos vejam.
Ela apertou a mão dele com força e, assim, desapareceram.

*~*

- Onde estamos? – perguntou Tonks, quando se viu no que parecia o corredor de um edifício.
- Vamos, entre aqui, rápido.
Remus abriu a porta que estava à frente deles, e já ia entrando quando percebeu que a jovem não se mexera, apenas apoiou-se na parede para não cair, pois, aparentemente, havia torcido o tornozelo.
- T-talvez seja melhor e-eu carregá-la até o sofá – falou ele, um tanto nervoso.
- É-é, talvez seja melhor – disse ela, simplesmente.
Ele colocou um braço em volta dos ombros da jovem, e o outro pelo joelho, segurando-a. Aquela cena era como um sonho para Tonks; a única diferença é que ela provavelmente estaria usando um vestido branco e ela certamente que não teria um ferimento sangrando na perna.
Entraram em uma sala simples, ainda que maior do que a do apartamento da auror, com algumas malas e caixas a um canto. Ela não estava entendendo nada. Primeiro, Remus na rua onde ela morava, depois Comensais da Morte? Aquilo não podia estar certo.
Ele a levou até o sofá mais próximo, e perguntou:
- O que houve com a sua perna? – ele foi em direção a uma das caixas e procurando alguma coisa entre o que pareciam frascos de poções.
- O que houve com o seu ombro? – perguntou ela, olhando para o ombro dele, que também sangrava. Ele, pelo visto, ficara surpreso com a pergunta, como se nem tivesse sentido a dor do feitiço que passou por ali. – Remus, onde estamos?
- Estamos em meu apartamento – respondeu ele, de costas para ela.
Desde quando Remus tem um apartamento?
- Não sabia que você tinha um apartamento – comentou ela, tentando manter uma conversa, apesar da dor que sentia.
- Tenho há algum tempo, estava alugado, por isso morava com Sirius. Eu tinha que ter algum dinheiro, eu suponho – respondeu ele, voltando para ela, com dois frascos em uma mão e um rolo de esparadrapos em outra. – Posso dar uma olhada?
- Claro – respondeu ela, olhando em volta. Havia sinais inconfundíveis de que Remus não morava ali, de fato; não havia nenhum único livro nas prateleiras, ou qualquer outro objeto pela sala.
Tonks levantou a barra da calça, que já estava enfaixada antes, onde sangrava muito.
- Pelo visto já estava machucada antes – comentou ele, desenfaixando.
- É a mesma perna que quebrou quando tivemos aquele encontro com Bellatrix, antes do Ministério – respondeu Tonks, calmamente. Sua perna podia estar doendo, mas ela não queria estar em outro lugar senão ali. – E é a mesma perna que foi cortada na semana passada, em um acidente no trabalho.
- Mais um dos seus tombos? – perguntou ele, sorrindo.
- Pode-se dizer que sim – falou ela, sem sorrir. – Eu estou acostumada com isso, e você sabe disso, Remus.
- Ainda assim está sangrando muito – continuou ele. – Essas maldições estão cada vez piores...
- E o seu ombro? – perguntou a jovem, olhando para a camisa rasgada na altura do ombro.
- Depois eu vejo isso – desconversou o lobisomem, enquanto enfaixava novamente a perna dela.
Silêncio. Merlin sabe como Remus ama o silêncio. E também deve saber o quanto Tonks odeia. Mas, ultimamente, ela até preferia o silêncio. Era melhor do que ser rejeitada novamente.
- Então, vai para Hogsmeade? – perguntou ele, apontando a varinha para a perna dela e parando o sangramento. Desde quando Remus Lupin puxa assunto?
- Era para lá que eu estava indo – respondeu ela. – Agora, me deixa ver esse ombro.
- Não precisa, eu...
- É o mínimo que eu posso fazer – falou ela, com um pequeno sorriso. – Você não é o único que sabe um pouco de primeiros-socorros, sabia?
Ele sentou-se ao lado dela, um tanto receoso.
- Vamos, tire a camisa – pediu ela, calmamente. – Eu não vou abusar de você, se é isso que está pensando – o tom dela não foi de brincadeira, o que o fez tirar a camisa do mesmo instante.
Ela sentiu pena ao ver que ele tinha algumas cicatrizes, fruto dos tantos anos convivendo com a licantropia; talvez ele tivesse reparado nisso, pois logo disse:
- Eu posso fazer isso, se você quiser.
- Deixe de ser bobo – falou ela, focando-se no ombro dele. – Se isso serve de consolo, seu ombro não está pior do que a minha perna.
- É, serve de consolo – respondeu ele. Havia algum tempo que não ficavam tão próximos um do outro. Desde que Tonks revelou seus verdadeiros sentimentos, eles quase não se falavam direito, procuravam se evitar.
- O que você estava fazendo lá àquela hora? – perguntou Tonks, sem rodeios.
- Eu estava apenas... dando uma caminhada – respondeu Remus. – Nem vi por onde estava indo, só reparei onde estava quando a vi.
- Entendo.
- Imagino que não esteja muito contente com a missão que lhe foi designada – comentou ele.
- Que me foi designada? – repetiu ela, séria. – Nós dois sabemos que fomos quase forçados a aceitarmos as missões. Nunca pensei que Dumbledore faria esse tipo de coisa. De qualquer maneira – ela apontou a varinha para o ombro dele, como ele fizera há pouco –, eu não fiquei com a pior missão.
- Seria egoísmo de minha parte recusar – disse ele, também sério.
- Se tem alguém nesse mundo que não é egoísta é você – retrucou a auror, o olhando nos olhos. – Por que não ser um pouco egoísta ao menos uma vez?
- A minha decisão já foi tomada, Nymphadora.
- Meu nome é Tonks - falou ela, desviando o olhar. – Céus, Remus, você p-pode morrer!
- Eu sei disso, mas também sei me cuidar.
- Quando se está em minoria como você vai estar, apenas “saber se cuidar” não vai adiantar! – exclamou ela, com os olhos marejados de lágrimas. – Quando você vai para lá?
- Hoje à noite – respondeu ele, levantando-se para pegar outra camisa.
Ela encostou-se ao sofá, sem saber o que fazer.
- Remus, acho que já vou – falou ela, levantando-se; a perna já não doía.
- Vou com você – falou ele, chegando mais perto.
- Não precisa, você já tem muito que fazer – falou ela, indo para a porta.
- Tem certeza?
- Absoluta – falou Tonks, com convicção. – Você vai mesmo fazer isso, não vai?
- Vou – ele continuou na frente dela, sem abrir a porta.
- E a sua opinião sobre nós continua a mesma, certo?
- Continua – disse ele, depois de um longo suspiro.
- Então, acho que isso é um adeus – falou ela, enquanto ele abria a porta.
Ela virou-se para sair, mas depois de um passo voltou e o abraçou forte, chorando.
- Você disse que jamais me deixaria – falou ela, perto do ouvido dele. – Mas você está me deixando. Você não cumpriu a sua promessa, Remus.
- Tonks, eu...
- Não precisa dizer mais nada – falou ela, ainda o abraçando. – Só... Não se esqueça de mim, está bem? Não se esqueça de que eu vou estar aqui, esperando por você. Você pode não acreditar que nós podemos dar certo, mas eu acredito.
Ela largou o abraço, enxugando as lágrimas.
- Eu sou tão teimosa quanto você, sabia? E olha que isso é uma grande coisa – acrescentou ela, sorrindo. – Então... Boa sorte.
Ela virou as costas, e já estava para descer as escadas quando...
- TONKS!
Ela se assustou e, ao virar-se, deu de cara com Remus na sua frente.
- Sim, Remus? – perguntou ela, calmamente.
- E-eu... S-só queria...
E o que ele realmente queria, Tonks jamais descobrira, pois simplesmente puxou-o pela nuca, encostando seus lábios nos dele.
Ela teve medo de que ele fosse interromper aquele momento, como já havia feito antes; dessa vez, porém, ele simplesmente a beijou, como se ela era o que ele mais queria naquele momento. Eles mal respiravam direito; logo, Remus encostou Tonks à parede, e eles se beijavam cada vez mais fervorosamente.
- Tonks, n-não podemos – falou Remus, quando finalmente pararam para respirar. – E-eu não posso...
- Ah, cala a boca – falou a jovem, puxando-o novamente para mais um beijo.
- Tonks, é sério – falou Remus, dessa vez virando o rosto. – Você sabe qu...
- Me desculpe, me esqueci das suas desculpas ridículas – disse ela, com um sorrisinho encabulado.
Ele apenas ficou em silêncio naquele momento, aborrecendo um pouco a auror.
- Eu vou esperar por você, Remus. Mande notícias, se puder – pediu ela, as lágrimas voltando aos olhos.
Ela deu um passo para trás, deu um pequeno aceno com a mão e, antes de ir, disse:
- Eu te amo.
- Eu não te esquecerei, Tonks – falou ele, olhando para o corredor vazio à sua frente, onde ela estava antes.


N/A: Então, tá aí o capítulo! ^^
Agradecimentos à Ana Lupin, que conseguiu me suportar, enquanto eu dizia que não tinha idéia alguma. xD
Comentem, se possível.
Beijos,
Ju Tonks

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