Sonhos...




O clima permanecia o mesmo ao redor dos terrenos de Hogwarts. A neve ainda caía tranqüilamente salpicando tudo o que não permanecia coberto. O vento finalmente parara de soprar e o silêncio de mais um final de tarde nem de longe mostravam toda a trama que havia ocorrido horas antes.


Não havia sequer um sinal de batalha, uma mancha de sangue na neve, um único inimigo à vista. Tudo havia sumido num passe de mágica. A última coisa que pôde ser vista naquela paisagem foi uma garota. Primeiro ajoelhada na neve abraçada a alguém, a seguir, ajoelhada sozinha e, instantes depois, a mesma garota corria rapidamente em direção ao castelo. E tudo ficou novamente em silêncio.


...x....


Todos haviam voltado para o interior do castelo. Os comensais que não haviam fugido, foram levados pela rede de flú por Lupim e Snape, que resolvera ajudar, até o ministério onde seriam interrogados e presos. Tonks que havia ficado, agora acompanhava McGonagal nos cuidados com Harry.


Os alunos, após o grande susto pelo qual haviam passado, pareciam agora mais calmos e muitos voltavam a vagar pelos corredores, mesmo que um certo receio. Era possível ouvir comentários de todos os tipos:


– "Foi por pouco, logo eles entrariam no castelo!"


– "Será que você-sabe-quem também estava lá fora?"


– "Eu vi alguns alunos no meio dos professores!"


– "Eles com certeza serão expulsos por se arriscarem daquela maneira!"


Mas quando alguns alunos tiveram a sorte, ou o azar, de ver os professores retornarem para o castelo, notaram algo que com certeza iria se tornar o maior dos comentários...


– "Vejam, um aluno ferido!"


- "Eu sabia que isso ia acontecer!"


– "Será que está morto? Quem é?"


– "Não, não está morto, vejam como cuidam dele!"


– "Ele é... nossa é o...!"


– "Harry! O Harry Potter foi ferido!"


E logo, praticamente todos os alunos sabiam da notícia sobre Harry Potter, e boatos de todos os tipos começaram a circular entre todas as casas.


Hermione entrou no castelo e foi a passos rápidos em direção à enfermaria. Harry com certeza estaria lá e então ela poderia se certificar de que ele ficaria realmente bem. Enquanto caminhava, ela ouvia muitos murmúrios nos corredores. Comentários de todos os tipos passavam por seus ouvidos ao mesmo tempo em que muitos alunos a olhavam com reprovação e curiosidade, e não era para menos, pois haviam grandes manchas de sangue em suas roupas e arranhões em seu rosto. Ela decidiu porém, que seria prudente não dar atenção a eles nem aos olhares que recebia, pois tinha algo mais importante a fazer.


As portas da enfermaria estavam escancaradas, e logo ao entrar ela viu Neville, Gina, Luna e Rony, que fazia caretas de dor enquanto Madame Pomfrey limpava seus ferimentos. Ao ver a garota, Gina correu em sua direção:


- Hermione! Onde você estava? – disse abraçando-a – Estávamos tão preocupados e...


- Giny! Oh Giny... vocês estão todos bem? – disse Hermione sem deixar a amiga continuar


– O Harry! Por favor, onde ele foi levado?


Ela então se soltou dos braços de Gina e começou a andar entre os leitos, seguida de perto pela amiga, mas não havia sinal do rapaz em nenhum deles. Ao ver Hermione, Madame Pomfrey deixou Rony com suas caretas e foi logo ver o estado da garota.


- Srtª Granger, deixe-me cuidar desses ferimentos! – Disse a enfermeira se aproximando e mirando assustada as roupas da garota – Minha nossa! Todo esse sangue em suas vestes... é seu?


- Não senhora, é do Harry - respondeu Hermione.


Só então ela olhou para si própria e se assustou com o que viu. Não conseguiu novamente controlar as lágrimas que teimavam em querer sair. "Minha nossa, o Harry está muito ferido!" pensou. E de repente, ela teve receio de que as palavras do Diretor, dizendo que Harry se recuperaria, fossem apenas para consolá-la. Um arrepio de medo passou por seu corpo.


- Por favor Madame Pomfrey, onde está Harry? – perguntou Hermione chorosa, tentando se desvencilhar das mãos da enfermeira.


- Hermione, ele foi levado ao St. Mungus! – disse Rony levantando de seu leito e se aproximando da amiga. – Ouvi a Profª McGonagal dizer que ele estava correndo sérios riscos. Estamos todos muito preocupados com o que vimos.


- Volte para seu leito Sr. Weasley ou lhe darei uma poção do sono extremamente forte! – ralhou a enfermeira – Não se preocupe querida! Tudo vai ficar bem, agora venha, precisamos cuidar desses ferimentos.


- Não! – disse a garota se desviando das mãos de M. Pomfrey – Eu... eu estou bem. É que preciso ver como Harry está.


- Mione, ele foi levado ao St. Mungus, você não pode simplesmente sair de Hogwarts. – disse Gina.


- Exatamente! – concluiu M. Pomfrey – Agora, pelo amor de Merlim, me deixe cuidar de você!


Hermione começou a recuar em direção á saída visivelmente nervosa preocupando a todos os seus amigos na enfermaria. Nem mesmo Luna, que até aquele momento só admirava as ataduras em suas mãos deixou de notar a apreensão da garota, e falando pela primeira vez desde que tinham voltado ao castelo surpreendeu a todos... principalmente a Hermione.


- Você sabe Mione, e já lhe disseram isso lá fora, na neve...ele vai ficar bem! – disse ainda olhando as próprias mãos.


- Como... como você sabe, Luna? – Disse Hermione olhando atônita a garota sonhadora no leito.


- Não sei... – respondeu encarando Hermione.


- Já chega todos vocês! – Hermione esbravejou – Não preciso de cuidados e não vou ficar aqui esperando por notícias. Desculpem-me, mas darei um jeito de ir até o Hospital nem que tenha que superar meu medo de vassouras!


Mas a garota mal se virou dos olhares de todos para a saída foi barrada pelo professor Dumbledore que ao que parecia já estava ali a alguns minutos sem chamar a atenção. Ele observou a todos na sala e a seguir seu olhar sereno pousou sobre a garota que chorava à sua frente.


- Aonde vai, senhorita? - Vou ao St. Mungus... vou tentar ir até lá. – disse sem encarar o diretor.


- Professor, essa garota precisa de cuidados! – interveio a enfermeira – e ela está crente de que conseguirá sair de Hogwarts sozinha.


- Mione venha – disse Gina – logo teremos notícias, todos ficaremos com você até que isso aconteça.


- Sim Mione, você não pode simplesmente sair nesse estado – concluiu Rony.


- Vocês não entendem não é?- A garota começou a gritar pela enfermaria assustando a todos – Nem mesmo o senhor, professor?


"O senhor que sabe exatamente de tudo o que aconteceu, tudo pelo que passamos, pelo que o senhor também passou! Só quero vê-lo! Só quero acreditar no que o senhor sabe quem me disse antes de desaparecer! Por favor, não me prive de tentar retribuir o que me foi feito!"


- Do que você está falando, Hermione? – disse Gina


- Não tente entender Gini, desculpe! – disse a garota frustrada..


- Srtª Granger – disse o professor entre um suspiro – acho que precisamos conversar, venha comigo.


- Mas professor – interrompeu M. Pomfrey – preciso cuidar dela e...


- Não se preocupe Papoula! Ela está visivelmente bem. – disse o diretor observando a garota por cima dos óculos – encaminhe os amigos dela, eles nos ajudaram muito e merecem descanso.


- Sim Senhor. Vamos Srtª Weasley, a Srtª Granger ficará bem.


- Até mais Gini – disse Hermione dando as costas para seus amigos confusos se retirando em seguida atrás do Diretor.


...x....


Ambos andavam em silêncio pelos corredores ainda movimentados e sob os olhares atentos do outros alunos. Mas ao invés de irem a sala de Dumbledore como Hermione previra, o diretor seguiu até a entrada do salão da Grifnória e parou diante da garota colocando a mão sobre seu ombro.


- Ouça senhorita... Como eu havia previsto e como a senhorita mesma acabou de me confirmar, meu Eu futuro a colocou a par de tudo o que aconteceu. Bem na verdade eu também o teria feito, é justo que depois de tudo, a senhorita queira retribuir o que foi feito...


- E eu quero por que...


- Deixe-me terminar...


- Desculpe!


- É natural que queira compensar o sr Potter, e a admiro por sua atitude nobre e pelo sentimento que a move a querer retribuir.


"Mas devo dizer que precisa ser mais cautelosa. O que ocorreu esta tarde pode nos trazer sérias complicações, e não digo só pela entrada dos comensais, pois graças à Harry e a meu Eu futuro, muitos acontecimentos ruins foram evitados e as conseqüências foram bem menos desastrosas. Digo isso pelo fato de eles terem mudado o curso dos acontecimentos, dos riscos aos que se exporam e aos quais nos exporam, foram realmente corajosos e por isso, nada deve vir à tona, para o bem de todos nós. Entendeu?


- Sim senhor. – disse a garota constrangida pela atitude infantil que teve na enfermaria – Desculpe-me, jamais foi minha intensão colocar tudo a perder.


- Eu sei disso. E sei que está muito preocupada com Harry. – O diretor então de um pequeno sorriso – Por isso, vá até seu dormitório, troque suas vestes e prepare algumas roupas, pois irei levá-la até o hospital e mais tarde até a sede da ordem. A senhorita ficará lá até Harry se recuperar.


"A não ser que sua vontade em não faltar às aulas fale mais alto, se for o caso pode ficar na escola."


- Não me importo nenhum pouco em faltar algumas aulas, Senhor! – Disse Hermione dando um largo sorriso – Obrigado... muito obrigado!


- Não há de que senhorita. Mas ande logo, pegue o que precisa e venha até minha sala. Até mais tarde – disse o diretor se retirando.


- Até...


A garota então entrou no salão e correu até seu dormitório. Arrumou rapidamente o que precisava, tomou um banho tentando não ligar para a dorzinha chata que a água causava ao cair sobre os arranhões em seu rosto, colocou vestes limpas e rumou rapidamente até a sala do diretor.


Ao chegar, já era esperada por Dumbledore que havia preparado uma chave de portal usando um dos muitos objetos prateados de sua sala, objeto que Hermione não conseguiu identificar.


- Pronta Hermione? – perguntou o diretor – Segure aqui... – disse apontando uma haste do estranho objeto, a garota obedeceu prontamente. – vamos...um... dois e três...


Instantes depois, após se sentir puxada e girar em um campo de luz, ela e o diretor aterrisam em um corredor extremamente branco e iluminado. Estavam no St. Mungus e pelo que Hermione pôde notar, Dumbledore já havia estado ali antes, acompanhando tudo de perto.


- Tomei o cuidado de cairmos bem próximos do local onde está Harry, e também longe do movimento do hospital, ou assustaríamos muita gente. – Disse o Diretor começando a andar pelo corredor – Siga-me senhorita.


Hermione começou a segui-lo apreensiva. Não sabia como veria Harry, como ele estaria, nem se poderia vê-lo, todos os acontecimentos ainda estavam muito recentes, e ele devia estar sob cuidados extremos. Ambos chegaram em uma sala com algumas poltronas, era uma sala de espera, e em uma daquelas poltronas encontrava-se Tonks, sozinha e com o rosto entre as mãos. Hermione ao vê-la arrepiou-se como que tendo um pressentimento.


- Ninfadora? – Dumbledore quebrou o silêncio – Está tudo bem?


- Oh, professor e... Mione? – a Auror levantou e veio em direção aos dois. – Harry ainda está inconsciente. – ela olhou Hermione com um certo receio de prosseguir – Ainda corre sério risco. Minerva está acompanhando tudo lá dentro.


- Posso vê-lo? – pediu a garota


- Receio que talvez tenhamos que esperar um pouco mais Mione! – disse Tonks olhando a garota penalizada.


- Vamos nos sentar então, só nos resta aguardar apenas. - Disse Dumbledore – Venha senhorita Granger.


Hermione então se sentou mais afastada de seus dois acompanhantes, assim evitava quaisquer perguntas sobre o que acontecera. Enterrou seu rosto nas mãos e começou a derramar lágrimas silenciosas, angustiadas, não tinha idéia do quanto iria ter que esperar. Mas fosse o tempo que fosse, ela esperaria.


"Hermione acordou desajeitada sobre a poltrona, havia cochilado. Olhou pela janela, já era noite, e estranhamente a sala de espera estava iluminada apenas pela luz do luar, e sombras fantasmagóricas preenchiam o ambiente. Não havia mais ninguém ali além dela.


O quarto onde Harry fora levado estava de portas abertas, mas lá, pelo que ela podia ver também estava escuro. (Acho que o professor e Tonks já entraram. Mas porque não me chamaram para ir junto?) pensou. Ela então se levantou e foi até o quarto, da porta pôde ver um leito e sobre ele havia alguém repousando. Era Harry, mesmo com a luz fraca que vinha da janela ela podia reconhecê-lo.


Ela se aproximou silenciosamente do leito, não queria acordá-lo. Se não fosse pelo ferimento em seu peito, ela poderia dizer que ele estava apenas dormindo, pois ele estava com uma aparência muito tranqüila. Hermione se aproximou ainda mais e tocou o rosto do rapaz com cuidado. Ao senti-lo porém, ela o soltou e recuou, ele estava gelado...muito gelado. Apavorada e trêmula, Hermione se aproximou novamente e colocou seu rosto próximo ao dele tentando sentir sua respiração. Como ninguém havia notado o quão frio ele estava? Onde estavam todos? Ela se abaixou mais e sem querer tocou o peito do rapaz, onde não havia ferimento algum, ou pelo menos, não deveria haver...ela sentiu algo frio e viscoso sob seus dedos.


Ele não respirava, não mais... em seu peito havia um novo ferimento tão grave quanto o primeiro...e muito mais profundo... Harry estava morto. Ela não conseguiu nem gritar tamanho era o pavor que sentia, se afastou do leito sem acreditar em seus olhos, olhou sua mão e viu o sangue... Tentou recuperar o fôlego para pedir socorro, mas antes que abrisse a boca para gritar, uma voz cheia de entusiasmo contido ecoou atrás de si, fazendo-a virar e dar de frente com o assassino, ou melhor, com a assassina de seu namorado.


- Pensei que não viria vê-lo, Sangue-ruim! – Belatriz sorria próxima à janela, a luz da lua projetava um ar sinistro ao sorriso triunfante da comensal. – Sabe... praticamente nem teve graça acabar de matar o bebezinho ali... ele estava tão quietinho... nem gemeu... – concluiu fingindo-se desapontada.


- O... o que você fez?- conseguiu falar finalmente Hermione.


Suas pernas não se moviam. Ela viu a comensal vir em sua direção brandindo um punhal. Ela queria, mas não conseguia fugir dali, a comensal vinha veloz ...


– Sua covarde... - Foi tudo o que a garota conseguiu dizer.


- Covarde? Ora queridinha, você acha que eu iria voltar para meu Lorde sem cumprir minha missão? Bellatriz então se colocou atrás da garota paralizada mirando o punhal contra seu peito.


– Mas sabe... apesar da morte do bebezinho ter sido tão sem graça, fui compensada e muito só de ver todo o teatro que você fez ao se dar conta de tudo o que aconteceu... A comensal apertou o punhal em sua mão e antes de acertar a garota disse: - ... É, mas infelizmente o show terminou...prá você!


- ...Não!!"


...x....


- Mione, acorda! – Disse Tonks sacudindo a garota na poltrona.


- Não... por favor, não! – disse Hermione abrindo os olhos e agarrando o pulso da auror.


- Calma, você teve um pesadelo – Hermione a abraçou chorando assustada. – Hei!? Como você que ver o Harry nesse estado? Se quiser podemos vir mais tarde.


- Não... eu preciso vê-lo agora, por favor. – disse levantando e secando os olhos. – Onde está o profº Dumbledore?


- Ele já entrou, foi difícil convencer os medibruxos a deixarem você entrar, mas ele conseguiu.


A auror então segura a mão da garota e ambas se dirigem até o quarto. Diante da porta, Hermione pôde ver o leito... a imagem do sonho lhe voltou à mente com uma velocidade assustadora.


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