Decisões Tomadas
Harry e Hermione estavam sentados na cozinha, em silêncio. Harry girava um garfo entre os dedos e a menina estava com a cara enfiada num livrão da biblioteca dos Black.
De repente o fogo da lareira acendeu e Rony saiu voando cozinha adentro.
- Harry, você está bem? - disse ele esbaforido.
Harry e Hermione fixaram os olhos nele. Ele sentiu uma certa tensão no ar e se calou.
A Sra. Weasley aparatou ao lado do filho. Gina saiu voando pela lareira também.
- Oh, Harry querido! Venha aqui!
A mulher abraçou-o fortemente, Harry se sentiu desconfortável com todo mundo olhando para ele.
Gina permaneceu quieta onde estava, apenas observando.
- Bem, cara. O que que aconteceu com você?
Hermione virou-se para olhar também.
O garoto respirou forte e começou a narrar o que havia ocorrido na noite, ocultando certas partes que não se sentia confortável de dizer ali em frente a todos. Eles, já acostumados às narrativas, ouviram em silêncio para não atrapalhar a linha de raciocínio de Harry.
Ele terminou a narrativa e os outros permaneceram olhando-o perplexamente.
- Acho que Dumbledore terá que rever os seus conceitos de admissão de membros da Ordem, vai ter que admitir você.
Todos viraram-se para Rony e ele calou-se novamente, encabulado.
- Snape fez tudo isso? Por você? - perguntou Gina, que até ali não havia dito uma palavra sequer.
- Fez - disse ele secamente.
- Então creio que os motivos que vocês tinham para desconfiar do Prof. Snape acabaram infundados, não é mesmo? - perguntou a Sra. Weasley.
- É, creio que sim. Eu não… não imaginava que ele fosse capaz de… disso.
- Logo Snape - continuou Rony.
Percebendo o clima no ar, a Sra. Weasley levantou-se de súbito.
- Então, vamos fazer o jantar que logo outros membros da Ordem chegarão aqui, não é mesmo? Garotos, vocês podem me ajudar?
- Claro, mamãe - disse Gina prontamente, percebendo a intenção da mãe.
- Harry, querido. Se quiser pode ir descansar.
- É, eu… acho que vou.
O garoto levantou e saiu da cozinha sob os olhares dos amigos.
Ele passou pela sala onde a Sra. Black ficava escondida por trás de uma cortina e seguiu para os andares superiores. Mas não parou quando chegou ao corredor onde os quartos dos garotos ficavam. Subiu mais e foi parar em frente a um corredor, à sua frente uma porta, a porta do quarto do de Sirius.
Ele aproximou-se dela, e a ficou ali, examinando-a. Olhou o trinco em forma de grifo, e passou a mão por cima dele.
- Harry?
Ele virou-se e deu de cara com Gina.
- Imaginei que estivesse aqui - disse ela sorrindo. Harry não pôde deixar de reparar em como estava mais bonita desde a última vez em que a vira. Seus cabelos estavam menos volumosos e mais lisos, e intensamente vivos.
- Harry?
Ela olhou-a de repente, como se tivesse saído de um transe.
- Tudo bem com você, Harry?
- Está! Está tudo… bem.
Ela olhou-o como se desacreditasse.
- Harry, por muito tempo eu gostei muito de você… - o garoto surpreendeu-se com o que a garota dissera, até o ano passado ela mal podia olhar para a cara dele sem ficar extremamente vermelha. - Mas vendo que eu não tinha chance eu resolvi investir em outra.
Harry quis dizer que não era bem assim, que não era que ela não tivesse chance, mas viu que ela apenas colocou tudo de uma forma mais pesada do que o normal, mas que não deixava de ser a mais pura verdade. Então apenas abaixou a cabeça, encabulado.
- Não precisa ficar assim, eu já me acostumei a idéia.
- Não, eu não…
Ela apenas lançou-lhe um olhar de “por acaso não estou falando a verdade?”, e ele calou-se novamente.
- Então, mas por todo esse tempo eu estive sempre reparando em você, Harry. E te conheço quase tão bem quanto seus amigos. Portanto não foi novidade nenhuma para mim encontrar-te aqui, ou mesmo achar que você viria para cá, só me surpreende que ainda não tivesse vindo, antes de a gente chegar.
- Eu ia, mas…
- Mas simplesmente não foi.
- É.
- Hum.
Harry sentiu-se mal pelo que havia feito à Gina, mesmo sabendo que não tinha culpa por não gostar dela, e que nem ela achava isso. Ele chegou mais perto dela para ficar longe da porta e desviar o assunto de Sirius.
- Olha, Gina…
- Você se sente mal por minha causa.
- Bem… - mas sem ter mais o que falar apenas disse: - É.
- Harry, você não precisa se sentir desconfortável por minha causa, não é culpa sua se eu fiquei fomentando esperanças como uma boba, você nunca demonstrou ter nada por mim, se houve culpa da parte de alguém seria minha, portanto não há motivo para sentir-se mal.
Era incrível, era quase como se Gina lesse os seus pensamentos, tudo que ela falava parecia se encaixar no que ele sentia e queria dizer à ela, mas que faltava-lhe coragem.
Agora que estavam mais próximos um do outro, Harry viu de perto como Gina estava bonita. Ela, percebendo que ele a olhava, ficou meio desconcertada.
- Então, Harry, eu acho que vou descer…
Mas as palavras entravam pelos seus ouvidos de Harry mas não era compreendidas. Os seus olhos percorriam o pescoço branco de Gina, as suas orelhas, o seu rosto.
- Harry? É a segunda vez que você se distrai assim, no que estava pensando?
- Hum?
- Viu, sequer prestou atenção no que eu disse, eu disse que é melhor eu descer para ajudar a mamãe com a comida, está bem?
- Ah, sim, tudo bem! - confirmou ele com a cabeça.
Ela virou-se olhando-o desconfiada e começou a descer as escadas.
Harry ficou ali observando os seus cabelos longos e lisos, e o seu corpo enquanto descia a escada, era incrível como ela crescera, e ele nem se dera conta.
Harry estava deitado na cama olhando para o teto e Rony entrou.
- Oi, cara.
- Oi, Rony.
- Você esteve com Gina aqui encima? Ela subiu sem ninguém ver e depois apareceu descendo as escadas?
- É.
- Hum, estranho! Gina começou a falar com você desde o ano passado, mas não achava que ela conseguiria ter uma conversa com você, ainda não.
- Rony, você sabe se Gina está com alguém?
- Por que você quer saber? - perguntou Rony em tom de riso - Não me diga que agora você…
- Agora nada, Rony. É só para saber se você ainda tem com quem implicar.
- Hum, sei. Olha, pelo que sei está sozinha, resolveu terminar com o Thomas. Mas… ah, vamos Harry, admita, você está interessado na Gina?
- Eu já disse que não, Rony. Só perguntei por perguntar. Depois de Cho não quero me interessar por alguém tão cedo.
- Hum! - fez ele balançando a cabeça desacreditando.
- Hermione me contou sobre Monstro.
- Ah, ela te contou que tentei matá-lo, foi?
- Olha, cara, sei que aquele filho da mãe bem que merece, mas você não pode sair se descontrolando assim.
- Bem, eu ainda acho que deveria ter matado ele, e ainda acho que se o encontrar pela frente ainda vou matá-lo. É por causa dele que… - Mas ele não terminou a frase.
- Bem, eu acho que já está quase na hora do jantar, é bom a gente já descer, não é?
- Eu acho que não quero comer nada, não!
- Ah não, nem vem, você vai descer comigo e nem que não coma nada vai me acompanhar, eu não quero ter que ficar ouvindo a Hermione discutindo sobre a matéria do ano letivo, vamos!
Harry levantou a contragosto e seguiu Rony para os andares inferiores. Na cozinha ele encontrou as três terminando de arrumar a mesa para o jantar. De repente Elifas e Héstia chegaram para o jantar.
- Oh, Elifas e Héstia, que bom que alguém veio para o jantar! Não sabia se alguém viria, tudo deve estar um caos com a invasão à Azkaban.
- Ah, nem fale, Molly! - respondeu Héstia. - O Ministério está virado de cabeça para baixo, todos os funcionários parecem estar trabalhando ao mesmo tempo, está uma zona! São funcionários em Azkaban, trabalhando nos destroços, tem funcionários cuidando dos feridos, o St. Mungus está entupido de gente ferida do ataque à fortaleza, tem gente cuidando da imprensa, tem gente que já está atrás de pistas de Você-Sabe-Quem, tem gente fazendo tanta coisa que chega a faltar funcionários no Ministério, e em outros órgãos também. Ninguém está trabalhando realmente no que lhe cabe, estão todos voltados para o que aconteceu na prisão. Ninguém nunca imaginou que Você-Sabe-Quem fosse capaz de fazer o que fez.
- E pra variar o Profeta Diário já saiu com edição especial “O Ataque à Prisão de Azkaban” - disse Elifas jogando o jornal sobre a mesa.
- Quem escreveu o artigo? - perguntou Hermione prontamente.
- Um bruxo aqui, deixa eu ver… William Fordshell.
- Hum! - disse Hermione balançando a cabeça positivamente.
- Fudge teve que interferir para que encobrissem falhas no sistema.
Harry pegou o jornal, onde se lia um grande título: “Escândalo! Você-Sabe-Quem ataca Azkaban e liberta seus Comensais!”
Abaixo a matéria informava sobre o ataque bem sucedido mas não trazia maiores detalhes sobre o ocorrido.
- E a Ordem? - perguntou Harry.
- Ah, foi de grande ajuda o seu aviso antecipado, ficamos sabendo quase imediatamente, e pudemos evitar muita coisa.
- Como o que? - perguntou Hermione.
- Como mortes - Elifas olhou-o nos olhos. - Graças ao nosso Harry aqui. Que se arriscou para nos avisar do que ocorreu, muitas pessoas, muitos deles aurores, conseguiram resistir o tempo suficiente para receberem cuidado médico.
Todos olharam para Harry e ele ficou vermelho.
- É isso mesmo, meu garoto. Graças a você, que correu um imenso perigo essa noite, muitas vidas foram salvas!
Harry se sentiu estranho, ao mesmo tempo sentia-se feliz por poder ter ajudado, ter salvado vidas, mas sentia esquisito, como se isso fizesse recair uma certa responsabilidade sobre seus ombros, e então lembrou da profecia e disse a si mesmo involuntariamente: “O destino deles está em seus ombros”.
Mas antes que alguém reparasse no seu devaneio ele sentou-se na mesa com os outros para jantar.
Hermione comia lendo o jornal que Elifas trouxera, Gina comia em silêncio enquanto Elifas, Héstia e a Sra. Weasley conversavam ao canto da mesa.
Harry olhou por cima do prato para Gina. Ela comia quieta prestando atenção na comida. Reparou no seu rosto, que tinha traços delicados, no movimento gracioso de suas mãos, na sua pele macia. Correu os olhos novamente pelo seu pescoço, até que ela levantou o rosto para ele e ele desviou o olhar.
- Quando você acha que receberemos os resultados dos N.O.M.s? - perguntou ele a Rony para fingir para Gina que não estivera olhando para ela.
- Eu bem que gostaria de saber, você deveria ter perguntado a Minerva quando conversou com ela.
- Hum, é verdade!
Ele olhou novamente para a garota e ela conversava com Hermione, comentando a notícia do Profeta Diário.
- Você tem idéia se foi bem? - perguntou a Rony.
- Não sei, cara. Trágico mesmo acho que só em Poções, nas outras devo só ter ido mal mesmo, haha!
Harry sorriu, e mesmo sem olhar para a garota, percebeu que Gina estava o observando, assim como ele a observara há pouco, continuou conversando com Rony.
- Sem a presença de Snape creio ter ido bem melhor na hora do preparo da poção durante o teste.
Gina levantou-se e foi à pia tomar um copo d’água, o que era bem desproposital já que tinha suco sobre a mesa. Sem saber o porquê Harry levantou-se e foi à pia também.
Ainda perguntando-se por que estava fazendo aquilo ele encheu um copo com água da jarra ao lado de Gina, que bebia a água do seu copo concentrada. Ele começou a beber do seu copo enquanto a garota enxaguava o copo em que bebera água. Mas por que ela enxaguava o copo se daqui a pouco eles teriam que lavar a louça toda?
Harry estava terminando o copo de água e Gina ainda estava enxaguando o seu copo. Ele terminou o copo e olhou-a de perto. Ela, ainda enxaguando o copo, como uma desculpa para permanecer ali, retribuiu o olhar, o rosto dos dois estavam muitos próximos, ele olhava cada centímetro do belo rosto de Gina. Até que ela finalmente terminou de enxaguar o copo e voltou à mesa.
Ele enxaguou o seu copo também para que não ficasse estranho e voltou à mesa.
Quando sentou-se Rony falou baixinho perto do seu ouvido:
- Não está havendo nada entre você e Gina, claro!
Harry olhou-o irritado.
- Não está havendo nada - disse firmemente, como se a idéia fosse sem cabimento.
- Aham, eu sei! Deu pra ver ali na pia.
- O que que tem? Eu só fui beber água.
- E vocês precisam praticamente colar os rostos para tomar água?
- Eu já disse que não houve nada ali, você interpretou errado! Não está havendo nada! - Encerrou Harry ainda sussurrando.
- Olha, cara. Você sabe que você é o melhor cara pra Gina, se tiver que ser alguém tem que ser você. E você sabe que a Gina sempre se amarrou em você!
- Ela pode já ter gostado de mim, mas agora ela não gosta mais, ela já deixou isso bem claro!
- Quando? Ali na pia? - perguntou ele rindo.
- E você e Hermione?
- Eu e a Hermione o quê?
- Ora, Rony, é tão claro que você é doido pela Hermione quanto é claro que a Gina gostava de mim!
- Não, não é! - respondeu ele indignado. - Eu nunca gostaria da Hermione!
- Por que não?
- Porque ela é nossa amiga, só a nossa amiga!
- Você não a vê como uma simples amiga há muito tempo, Rony. Só que só no quarto ano você parece ter se tocado disso, que ela era uma garota, porque que você já era apaixonado por ela você já sabia há muito tempo, mas não a via como uma garota para se namorar, para beijar e tal.
- De onde você tirou isso tudo? - cochichou Rony corando furiosamente.
- É a mais pura verdade, então, por que você não pára de manter-se atrás das cortinas e diz o que realmente sente por ela?
- O Veritaserum por acaso causa algum efeito colateral?
- Deixe de fingir, é claro que você gosta dela. É sim! Não é para encostar os outros na parede aqui? Pois bem, eu realmente me senti atraído pela sua irmã, satisfeito? Agora, você trate de parar de fingir e admitir que realmente gosta de Hermione!
Rony estava mais vermelho do que um tomatão maduro. Ele tentou responder mas gaguejava incessantemente.
Harry olhou para os outros para ver se ninguém havia ouvido o que eles disseram. Todos pareciam concentrados em suas conversas.
- E então? - disse Harry encostando Rony na parede.
Mas a boca de Rony parecia estar afetada por algum feitiço, ela estava meio frouxa, e ele só gaguejava uma coisa ou outra, ininteligíveis.
- Só espero que não ache que ninguém percebia, porque era óbvio!
Rony parecia ainda mais aterrorizado ainda com a idéia de que a sua paixão por Hermione pudesse ter sido tão clara como Harry estava dizendo.
Harry começou a ouvir a conversa entre Elifas, Héstia e a Sra. Weasley.
- Mas não há de que se preocupar, Molly. Arthur está cuidando para que nada seja percebido pelos trouxas, mesmo com os feitiços que protegem a ilhota, ainda tem todo o impacto da implosão de metade da fortaleza, não é? Mas por um lado a poeira não subiu devido à chuva e o departamento que está cuidando dos destroços também está se preocupando com o que caiu na água marinha. Então o trabalho de Arthur não está tão relacionado ao local da fortaleza, e sim em enganar os trouxas um pouco mais do que o comum. Sabe, fazer com que tudo passe despercebido por eles! - disse Héstia.
- Ah, que bom, isso já me deixa um pouquinho mais reconfortada! Saber que ele não está mexendo com todos os destroços de pedra. Está mais envolvido com o parte das outras pessoas.
- Não há com o que se preocupar! - complementou Elifas. - E além do mais ele está trabalhando com o que mais gosta, com os trouxas!
- E os feridos? Quem está cuidando deles?
A essa altura todos da mesa estavam concentrados na conversa dos três. E quem respondeu foi Héstia.
- Bem, na verdade o Ministério está um caos também por falta de gente, tem muitos voluntários lá. Um monte de gente conhecida do meio bruxo, mas que não trabalham por lá. E nos destroços também tem muitos voluntários, muita gente auxiliando tanto na remoção dos destroços, quanto na hora de achar os corpos dos mortos, e encontrar possíveis sobreviventes, na locomoção para St. Mungus. Realmente falta gente!
- E no próprio St. Mungus a coisa também está feia, muitos funcionários têm que cuidar de certas alas sem poder se deslocar para a emergência, que está precisando de uma certa atenção, já que muitos aurores necessitam de atendimento médico porque estão seriamente machucados - complemente Elifas.
Todos ficaram em silêncio.
- Eu vou para o St. Mungus me voluntariar para ajudar no tratamento dos feridos - disparou Hermione de repente.
Todos olharam para ela surpresos.
- Hermione, eu não creio que seja uma decisão muito apropriada… - começou Elifas.
- Não, você não vai de maneira alguma, eu não vou te deixar sair daqui - disparou a Sra. Weasley.
- Sinto ter que desobedecer a uma ordem sua, Sra. Weasley. Afinal de contas a senhora sempre me trata tão bem, mas eu realmente vou - disse ela firmemente. - Têm muita gente lá que precisa de voluntariado, precisa de ajuda, eles podem morrer a qualquer momento e eu não vou ficar aqui parada, sentada, esperando eles morrerem!
- Mas Hermione, eu não creio que… - começou Elifas novamente.
- Não me importa a minha idade nem nada! Eu vou ser útil, eu sei que vou ser útil. Eu sinto que preciso ir pra lá, eu preciso ajudar aquela gente!
Os adultos trocaram olhares indecisos.
- Olha, minha querida - disse a Sra. Weasley -, eu não sou a sua mãe para lhe proibir de nada. Mas quero que compreenda, não há como você ir sem a permissão dos seus pais, e o perigo que deve estar aquilo de lá, e você sozinha, no meio de tudo aquilo e você é tão jovem!
- Sra. Weasley, eu consideraria uma decisão da senhora como uma decisão dos meus próprios pais, mas eu não irei ficar aqui parada. Quanto aos meus pais, não se preocupe com eles, eles sabem muito bem que eu sou capaz disso, e não estranhariam nada. E não me importo em estar sozinha, eu não precisarei de conhecidos lá para ajudar aquela gente, eu vou porque me sinto na obrigação de fazer alguma coisa. E já disse, não me vejam como apenas uma adolescente que não poderá fazer muita coisa, aquela gente precisa de ajuda, e qualquer que seja já é uma grande ajuda, e é por isso que eu vou.
A Sra. Weasley parecia atordoada, querendo fazer qualquer coisa para que a menina mudasse de idéia, mas viu no seu rosto que estava realmente determinada, e que seria quase impossível fazê-la desistir, era tão teimosa quanto ela mesma.
Ela olhou para Elifas e Héstia, que também pareciam confusos em deixá-la ir ou não.
- De qualquer jeito não há como você chegar lá portanto você não vai! - disparou a Sra. Weasley sem conseguir se controlar.
- Não será o caminho que irá me impedir, Sra. Weasley. Nem que eu vá de trem trouxa até lá!
- Bem… - mas a Sra. Weasley ficou sem palavras. - Elifas, Héstia, vocês não podem fazer nada para ao menos levá-la?
Ambos olharam com uma cara de que tinham mais o que fazer.
- Bem, o meu horário está bem apertado, Molly - disse Héstia, balançando a cabeça.
- O meu também!
- Mas eu não pedi para ninguém me levar! - argumentou Hermione indignada. - Eu estarei lá, sozinha, não fará diferença alguma ir sozinha.
Novamente os adultos olharam-se confusos.
Harry levantou-se e contornou a mesa para o outro lado dela e puxou Hermione pelo braço levemente para falar com ela separadamente.
- Você não vai!
- Como assim não vou, Harry? Claro que vou!
- Hermione, lembre-se da nossa conversa hoje!
- Harry, eu só vou ajudar alguns feridos no hospital. O que de mal poderia acontecer a mim?
Mas o garoto continuou contrariado.
- Hermione, você tem que ficar aqui, comigo!
Ela olhou-o nos olhos.
- Gina está aqui com você!
Ele retribuiu um olhar surpreso, não esperava que a amiga fosse dizer aquilo.
- Hermione, não se faça de desentendida! Eu já lhe disse hoje mesmo, que temo por você, e por Rony.
- Harry, e eu já lhe disse, eu só vou ajudar alguns feridos no hospital, não há porque se preocupar.
O garoto ainda não se convencera de que aquilo era o certo, mas voltou à mesa com Hermione. Viu que todos os olhavam enquanto conversavam, apesar de ter certeza de que não os ouviram, já que haviam conversado baixo demais para que conseguissem.
Quando sentaram-se Elifas continuou o assunto.
- Bem, olha, Hermione. Eu não posso negar que estamos realmente precisando de ajuda, de voluntariado, e principalmente em dias como esses tudo é muito difícil, principalmente voluntariado. Então a sua presença seria realmente útil. Mas não nos sentimos seguros em soltá-la pela rua e deixá-la chegar sozinha à St. Mungus!
- Chegar sozinha aonde?
Lupin acabara de chegar, com o rosto mais cansado do que o normal.
- Ah, Remo, sente-se, sente-se e jante, nós já comemos, mas é só dar uma esquentadinha na comida…
- Não, obrigado, Molly, estou sem fome. Estava em Azkaban e acho que não comerei por um tempo ainda.
Ela pareceu desanimada com a idéia de que não teria mais alguém para comer.
- Mas vocês diziam que Hermione iria para onde? Para St. Mungus?
- Sim, Lupin, eu vou trabalhar como voluntária.
Ele já ia dizer que a idéia era absurda, mas viu no rosto da garota uma determinação incrível. Olhou para os olhos dos amigos, e eles olharam-no com cara de quem também não gostavam da idéia mas que não poderiam fazer nada para obrigá-la a ficar ali.
- Olha, Hermione. Creio que a medida correta de tentar persuadir-te do contrário não é esta, mas eu estive em Azkaban e vi mais mortos do que já vi em toda a minha vida. Eu vi corpos como nunca imaginei ver em toda a minha vida, e saiba, não é nada agradável. Ao contrário, é muito frustrante, e muito chocante. Eu ainda estou meio perdido com tudo aquilo, e não creio que ficar vendo gente com membros pela metade num hospital seja a maneira mais correta de ajudar.
- Bem, eu também não concordo que ficar aqui parada, sentada, enquanto têm gente lá fora morrendo seja a melhor maneira de ajudar.
- Então por que você não vai ao Ministério? Eu estou mesmo indo para lá, você poderá ajudar sem ter que ficar vendo gente morrendo na sua frente.
- Olha, Lupin. Eu creio que até seria o melhor, eu ir para o Ministério ajudar. Mas não é esse tipo de ajuda que eu quero oferecer, eu quero ajudar aquela gente que está morrendo no hospital, independe do quão destruídos eles estejam, se estiverem mortos, com membros faltando, mas eu quero fazer alguma coisa por eles.
Lupin viu que ela estava realmente determinada, era visível em seus olhos.
- Tudo bem! Você vai para o St. Mungus, mas já quero deixá-la de sobreaviso sobre o que encontrará lá. Pode crer que será o suficiente para que você nunca mais tenha que viajar num Testrálio sem conseguir vê-lo.
Isso mexeu com Hermione, mas ela fez um sinal de sim com a cabeça.
- Bem, eu só passei aqui para ver se estava tudo correndo normalmente, e pelo visto terei que ir um pouco mais cedo, já que terei que levar Hermione antes ao St. Mungus.
De repente Gina falou:
- Eu também iria, mas, não creio que suportaria aquele ritmo todo do hospital, com todos aqueles feridos…
- E até porque eu nunca deixaria você ir, não é? - disparou a Sra. Weasley.
Gina olhou-a.
- A senhora ficaria aqui, parada, sabendo que pode ajudar, e mesmo assim não faria nada!
- Sim, se eu tivesse que ficar eu ficaria sim.
Gina olhou-a mais profundamente ainda.
- Eu não.
- Bem, realmente precisamos muito de ajuda externa, mas não creio que vocês poderiam ajudar muito. Bem, é melhor já irmos, Hermione, arrume as suas coisas - cortou Lupin percebendo o perigo no ar.
Harry viu Hermione levantar-se para pegar as suas coisas, e pela primeira vez pensou nos outros que Hermione tanta falara agora há pouco, e que Gina acabara de mencionar. Então se lembrou daqueles comensais caindo sob o poder de Lorde Voldemort, sendo mortos, e imaginou seus corpos sendo lançados aos ares com a explosão da fortaleza, imaginou-os agonizando, esperando por ele, e ele ali, sentado.
A voz de Harry cortou o ar como uma lança.
- Eu vou!
Todos olharam para ele, Hermione, parou ao solado da porta, e voltou.
- Como? - perguntou Lupin.
- Eu vou para o Ministério. Vou ajudar!
- Isso está fora de questão, Harry. Não há chances de você sair daqui, pode ir tirando essa idéia sem cabimento da cabeça.
- Não, Lupin, eu vou. Algo que realmente mexeu comigo foi o que Doge disse agora a pouco, eu ajudei a salvar vidas hoje, mesmo me arriscando. Mas eu as salvei, e não dá para ficar aqui, sentado, enquanto eu sei que tem gente morrendo e eu posso salvar a vida delas. Eu já perdi gente demais na minha vida, eu sei melhor do que ninguém como é perder alguém que você ama, e a idéia de que eu poderei estar salvando a vida de um pai de família, que já não deixará um filho órfão é mais forte do que o meu bom senso.
- Harry, aquilo de lá está um caos, cheio de gente, você não pode se expor assim, de maneira alguma!
- Lupin, Voldemort (todos arrepiam-se ao ouvir o nome!) já tentou me atacar essa noite, ele foi traído, e eu escapei novamente entre os dedos dele, ele está furioso e sequer passa pela cabeça dele que eu poderei fazer isso, expor-me dessa maneira! E além do mais aquilo lá, como você mesmo disse, está cheio de gente, ele não vai tentar nada no meio de tanta gente e dentro do próprio Ministério da Magia, onde eu estarei sendo vigiado por uma multidão de gente. Não estou nem querendo ir ao St. Mungus, já vi gente demais morrendo na minha vida, você sabe muito bem disso, mas vou ajudar de qualquer maneira, e serei muito útil no Ministério, tenho certeza disso!
- Harry, tem um monte de gente lá dentro que não é de lá, é quase certeza de que há algum espião de Voldemort (mais arrepios) no meio de tudo aquilo!
- Antes de tudo, Voldemort concentrou todos os seus ataques em Azkaban! Já é difícil que algum comensal esteja lá. E se estiver, dane-se! Ele não se atreveria em me atacar em meio àquilo, e o máximo que acontecerá é que Voldemort ficará sabendo que estive lá! E o que ele fará? Nada! Primeiro, porque não poderá fazer nada, segundo porque eu já não estarei lá quando ele ficar sabendo. Então por que a preocupação?
- Harry, nós temos que manter-te seguro. Nós te trouxemos para cá para que você estivesse seguro! A nossa prioridade é a sua segurança.
- Lupin, não adiantará nada, você sabe muito bem disso, você sabe que no fim de tudo, nada disso adiantará…
- Agora chega, Harry! Você já está indo longe demais. Você não vai e pronto! - Lupin aumentou a voz e falou com Harry com uma firmeza que nunca utilizara antes.
Ele virou-se para sair da cozinha.
- Sirius morreu em parte por causa disso! - gritou Harry.
Lupin estancou, e virou-se olhando-o.
- Isso mesmo! Sirius não estaria ávido para sair desse lugar, em que vocês o mantinham prisioneiro, se vocês o deixassem agir, o deixassem fazer algo pela Ordem. Mas não, ele ficou doze anos trancafiado em Azkaban, para fugir e ficar trancafiado aqui. Tudo em nome da segurança dele, como se ele fosse ser pego com muita facilidade, vocês não achavam que ele já era bem crescidinho para saber o que queria? Portanto, quando eu fiz a maior burrice da minha vida, o que ele mais queria era ajudar, afinal de contas, era o afilhado dele, vocês novamente tentaram impedi-lo, isso só fomentou o desejo dele de fazer alguma coisa, e não de ficar aqui, trancado, inutilizado. E agora o que vocês querem fazer comigo é o mesmo, em nome da minha segurança, fazer com que eu pare de viver, e me impedir de ajudar os outros quando acontecer alguma coisa, querem me trancar aqui, inutilizar-me, prender-me aqui como numa prisão e depois em Hogwarts.
Lupin olhava-o perplexo. Só então pareceu a Harry perceber tudo o que havia despejado sem querer, todos olhavam para ele.
Ele abaixou a cabeça envergonhado.
- Des… desculpem-me! Eu não… não quis dizer isso. Não… não acho que seja culpa de vocês… eu…
Mas Lupin interrompeu-o com a voz mais fraca do que o normal.
- Ar… arrume as suas coisas também, nós… nós vamos para o Ministério!
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