Introdução



Feliz agora, cara? Pronto, foi embora. Acabou. Tá feliz?
Você acha que agora eu nunca mais vou esquecer de você e toda aquela bobagem que todas as meninas fazem, não é mesmo? Novidade pra você, querido: Já superei. Entenda, eu venho de uma longa experiência de levar foras, dar foras e esse tipo de coisa. Posso ser sincera? Você não foi nenhum pouquinho criativo... Não tenho razão nenhuma para te incluir nos meus Top 5.
Agora, quando eu acabar de te esclarecer tudo que deixei subentendido e você nunca entendeu, eu vou fechar essa pagina da minha vida que já está cheia de traças e manchas de café ou de qualquer coisa pegajosa e nojenta que seja, porque você a deixou assim e nem pediu desculpas. Ok. Eu vou te esquecer. Eu não vou chorar por você. Eu não vou pedir pra você voltar. Eu não vou sentir sua falta.
Eu não te amo mais.

Mas eu sei que tem um bocado de coisas sobre mim que você deveria entender. Pra começar, acho que não tenho mais motivo nenhum pra te esconder meu obscuro e repulsivo passado, então... Lá vai.

1-Harry Potter:
Harry, como você provavelmente ficou sabendo na época, foi o primeiro garoto de quem realmente gostei. Ele era um panaca, fato. Mas na idade que eu estava, não era necessário ser ou não um panaca para não gostar de algum garoto. Eu devia ter uns treze ou catorze anos, por ai. E tudo que eu gostava sobre Harry era o fato de que ele estava por perto quase o tempo inteiro. Ele era o melhor amigo do meu irmão mais velho... Isso é algo importante para uma garota. A gente sempre admira o melhor amigo do irmão mais velho. E ele até que era bonitinho, não é mesmo? Fazia parte do time da escola, não era um retardado completo, era simpático, educado e tinha a cicatriz mais sexy de todos os tempos, mas isso não vem ao caso.
A questão é que, em parte, eu gostava dele porque eu sabia que ele nunca poderia gostar de mim. Já que, como mencionado, eu era a irmãzinha do melhor amigo dele, esta é uma posição que sofre freqüentes comentários de menosprezo. Acontece que, um belo dia... Eu, Harry, Hermione Granger e meu irmão estávamos no campo de Quadribol depois de um jogo qualquer. Não tinha mais ninguém lá. Estava frio. Granger e meu irmão estavam naquele previsível “lenga-lenga” insuportável. Harry perguntou se eu queria dar uma volta como quem não queria nada e eu (a boba) fui. Todo mundo fala que toda garota lembra de todos os detalhes do primeiro beijo e tudo mais, acontece... Que eu não lembro de nada. Só lembro que foi horrível. Lembro do pré e do pós. O durante eu fiz questão de esquecer. Tudo que posso dizer é que, de repente, sem mais nem menos (até onde me lembro) o mané achou que minha boca era terreno pra escavação arqueológica e a língua dele devia ser uma britadeira.
Feliz como eu estava de “ter beijado Harry Potter” eu nem liguei pra qualidade, ou, melhor dizendo, falta de qualidade, só agora me ocorre o quão desesperada pareci. Continuamos naquela “coisa” por cerca de seis ou sete dias, nada oficial. Era sempre a mesma coisa. Sem mais nem menos. Até que, um belo dia, fui até o campo e encontrei o infeliz com a tal da Cho Chang no colo. Isso foi algo que me irritou profundamente. E desde então eu comecei a fazer o máximo pra sempre fingir estar menos inconformada do que estava, na verdade. Eu estava bastante inconformada. Bastante mesmo. Pode ser que aquele colo não significasse nada de mais e eu era uma criancinha ingênua que exagerou as coisas, mas... Pouco importa, só sei que depois do ocorrido nunca mais participei de projetos arqueológicos com Harry Potter.

2- Ernest McMillan:

Sinceramente, não lembro de nada sobre esse indivíduo. Não lembro de que cor era o cabelo dele... Talvez castanho. Não me lembro do sorriso adorável que podia ter. Não me lembro dos lábios ridiculamente atraentes que devia ter. Eu tinha lá pra uns quinze anos. Era aquela insuportável fase quando tudo que os garotos querem é enfiar, de qualquer forma, a mão deles por baixo do nosso sutiã e tudo que nós queremos é tirar a mão deles de qualquer lugar impróprio que estejam. A questão é que... Eu ainda não sei o que houve. Isso se tornava cada vez mais comum nos meus relacionamentos, por mais superficiais que fossem. Eu nunca sabia o que estava acontecendo. Eu era a pessoa mais perdida (no tempo e espaço) do mundo e todos aqueles com quem eu saía concordavam comigo, por isso tentavam, sempre discretamente, arrastar suas mãos para de baixo da minha blusa.
Nós ficamos quase um mês juntos. Pra mim foi uma verdadeira vitória. A gente deu uns malhos no meu dormitório. A gente deu uns malhos no dormitório dele. A gente deu uns malhos nos dormitórios dos monitores. A gente deu bastante malho, no fim das contas. Mas conversar que não é tão bom... Pf... Deixava a desejar.
Eu sei lá. Só sei que ainda me sinto culpada pela dispensada que dei nesse guri. Eu nunca soube se ele gostava de mim mesmo ou se só estava comigo pra passar a mão em mim. E foi por isso que eu terminei com ele, porque eu REALMENTE não queria ele passando a mão em mim, pelo menos não do jeito que ele passava (fato, ele não era muito bom no que tentava fazer). Homens são uma espécie muito esquisita. Eles nunca sabem o que nós queremos na hora em que queremos. Alguns anos depois fazia até falta um namorado que tivesse Aquela Pegada, mas na época tudo que eu queria era um infeliz com cara de paisagem pra exibir pela escola e ele não tinha entendido muito bem o recado.

3- Kim Leasure:

Sabe aquelas fotos da caixa de cereal que sempre tem leite e morango e tudo parece uma delicia mais quando você prova tá tudo errado?! Foi meio que isso. Só que o Kim não estava na caixa do cereal.
Ele era o namorado de uma amiga minha - Luna Lovegood. Eles eram aquele tipo de casal que quando passa, você vira e fala “P*** Q** P****” e acha que vão ficar juntos pra sempre porque são TÃO FOFOS! Ele era todo fofo e não largava dela, mas ela também não largava dele. Os dois andavam agarradinhos pra todo canto, tinha tanto mel que dava pra chamar de colméia. Todo mundo podia jurar que os dois iam acabar casados, velinhos, cheios de gatos de estimação. Era a coisa mais linda.
Eu morria de inveja. Morria.
Eu queria um daqueles pra mim só que Luna tinha se esquecido de me dar o endereço da loja. Ele parecia perfeito, no ponto. Era bonito, esperto, simpático e atrevido do jeito que era bom. E eu não era nenhuma idiota, quando eu queria um cara eu sabia muito bem o que fazer, você sabe disso. E eu fiz tudo ao meu alcance para pegá-lo todinho pra mim.
Durante algumas semanas a gente manteve um relacionamento em segredo, até que era bem divertido. Ninguém suspeitava de nada, ninguém nunca suspeitou, acho. Era ótimo. A gente ficava pensando em como seriam as coisas quando a gente não tivesse que esconder mais nada e como seria se a gente tivesse que fugir juntos pra nunca mais ver ninguém. Era perfeito, ouso dizer. Depois daquelas semanas dessa perfeição absoluta ele resolveu terminar com a Luna, sem contar o verdadeiro motivo (eu), é claro.
Tudo perdeu o sentido e eu me senti uma idiota. Não era mais perfeito, não era mais legal e nem divertido e ele não era mais um fofo e eu não queria mais fugir pra onde ninguém fosse me achar com ele. Eu acabei dando um fora nele quatro dias depois e ele nunca mais falou comigo. Depois eu acabei contando a verdade pra Luna e ela também nunca mais falou comigo. Mundinho estranho esse, não acha?

4- Josh Stumpter:

Esse foi o meu primeiro namorado sério depois de Hogwarts. Ele era uma figura! Eu era só uma menininha, recém formada, que ficou totalmente abobada pelo estilo e aparência diferentes dele. O Josh era todo estilosinho... Não tinha nada a ver comigo. Ele gostava de indi-rock ou algo do tipo e sempre tava com umas jaquetas de couro super descoladas. Eu não era descolada, eu era do mesmo jeito que eu era na escola, só ainda não sabia que jeito que era esse. Ele tinha um piercing no lábio que era muito lindo...
Bom, o que importa: A gente ficou quase dois anos juntos, e eu gostava pra caramba dele. Sabe, o Josh era meu oposto, minha cara metade. Eu era tímida, e ele era o extrovertido. Eu precisava de segurança, ele era impulsivo. Ele era, simples e objetivamente, 37% da graça que tinha no mundo pra mim e quando ele foi embora pareceu que representava 107%. Ele era tudo pra mim, ele movia meu relógio, sem ele nada mais fazia sentido.
E tudo parecia tão bem. Esse é o problema. Tudo sempre parece “tão bem”. Aí, de repente, BAM! Ele acaba dormindo com a assistente de marketing e tudo esta muito mal. Foi bem igual aqueles filmes classe “D”... Sim, eu joguei vasos, vários vasos, na cara dele... Eu gritei, chamei ele de cachorro... Todo aquele jazz.
Foi a primeira separação que deu Aquele “baque” na minha vida. Eu fiquei desiludida e desesperada por dias, dias e dias. Semanas, semanas e semanas. Meses, ouso dizer. Foi terrível. A vaca, eu acabei por descobrir, chamava-se Crystal. Quem é que vai pra cama com uma infeliz chamada Crystal?!
Eu passei uma boa parte do meu tempo planejando formas doloridas e cruéis de assassiná-la e fazer com que Josh voltasse pra mim, só que sempre aparecia uma falha. Uma maldita falha. Se quiser que eu seja totalmente honesta, te digo que eu ainda planejo um ou outro assassinato. Eu sei onde eles moram. Eu sei o que fazem. Eu planejei boa parte da minha vida pensando que um dia ele me ligaria e falaria pra eu fugir com ele pro Tibet. Teve uma época infeliz que eu parei de comprar coisas porque eu achava que não teria tempo de fazer a mala pra ir com ele pro Tibet e ele voltaria pra Crystal achando que eu o desprezara. Foi horrível. Ele nunca me chamou pra ir pro Tibet. Ele e Crystal ainda estão juntos, felizes, contentes e saltitantes. Eles me irritam profundamente. Ah, sim. Isso sim me irrita profundamente (todas as outras vezes que eu disser que algo me irrita profundamente, pode ter certeza, não é verdade. Isso é o que me irrita profundamente, é por isso que sou uma pessoa melancólica e não porque tiraram “Bewitched” do ar.). O nível decaia cada vez mais. Eu comecei a ouvir música pop (música pop de trouxa, o que é pior). Era uma onda de Celine Dion e Mariah Carey que me dava até nojo. Será que eu era realmente uma pessoa melancólica e por isso ouvia música pop ou eu tinha me tornado uma pessoa realmente melancólica porque ouvia música pop? Só Merlin sabia. A questão é que eu ouvia mil vezes a mesma música, até que a letra não fazia mais sentido nenhum, aí eu mudava de CD, pra ouvir a mesma música numa versão pior.
Eu nunca esqueci do maldito Josh e sua Crystal. Nunca esqueci de como eu os odeio e como eu jogaria a maior e mais pesada bigorna do mundo na cabeça dos dois, sem pensar duas vezes.

5-Chris Owen:

Essa é uma boa. Isso sim é ironia, vejamos...
Logo depois do meu infortúnio e desespero causado por Josh Stumpter eu estava numa fase de negação e de completo e total ódio pelo sexo oposto e qualquer coisa que tivesse a ver com este. Foi só então que eu conheci Chris, que tinha acabado de ser trocado por um cara mais burro e mais jovem pela namorada que ele amava. Ele também estava numa fase de negação e ódio pelo sexo oposto. Começamos como bons amigos: odiávamos a tudo que nós representávamos e nos reconhecíamos um no outro pelo mesmo motivo. Nós tínhamos sido trocados e traídos. Nós tínhamos sido desapontados e desconsiderados. Nós estávamos a beira de cometer suicídio coletivo quando paramos e concluímos que podíamos obter um relacionamento inovador totalmente baseado no prático e conveniente.
Seriamos os desprezados e desconsiderados unidos que não mais sofreriam por mágoas patéticas e passadas sozinhos. Lamentaríamos delas juntos. A diferença de assumir um compromisso é que sexo sem culpa fazia parte.
Eu sei lá se gostei mesmo dele ou se ele gostava mesmo de mim, a questão é que éramos iguais. Eu não era demais pra ele e ele não era demais pra mim. Josh era demais pra mim, eu era de menos pra Josh. Eu era normal, ele era normal. Eu não tinha nada de especial, ele não tinha nada de especial. Eu ouvia música pop, ele ouvia música pop. É instinto e é destino. Nossa espécie tende a encontrar seus semelhantes para que possamos nos sentir um pouco melhor sobre nós mesmos. É patético.
Eu também estava com Chris porque, de certa forma, eu sabia que não tinha ninguém que fosse com ele do jeito que eu ia, então eu não seria traída e desapontada de novo. Totalmente horrível, eu sei. Mas é a verdade. Eu podia não dar a mínima pra esse cara, mas também foi um inigualável “baque” o dia em que tudo acabou.
Chris tinha conhecido outra pessoa.
Nós, os rejeitados anti-rejeição, tínhamos acabado. E eu tinha acabado rejeitada. Eu não dei a mínima, no fundo. Mas não conseguia entender, era o tipo de relação que poderia durar pra sempre, não tínhamos conflito nenhum. Mas ele tinha outra. Ela se chamava Tabatha. Que é um outro nome muito idiota, na minha opinião (eu lembro de um coelho de uma colega de quarto que se chamava Tabatha e desde então não me conformo).
Ele odiava o sexo oposto e tinha sido capaz de fazer exatamente o que este mesmo sexo oposto tinha feito com ele... E resolveu fazer comigo. Lá estava eu, rejeitada. Decepcionada. Abandonada. Desconsiderada. Trocada e traída, mais uma vez.
O que mais eu poderia fazer se não voltar a ouvir toneladas e toneladas de música ruim? Comecei também a alugar filmes bem bobinhos, filmes trouxas. Devo ter assistido Titanic umas quinze vezes, e chorei em todas. Comecei a construir minha lista de Top 5 melhores filmes (About a boy, Love Actually, Chocolate, Nightmare before Christmas, Edward Scissorhands) , filmes que não me faziam sentir especial nem nada. Filmes que mostravam pra mim como banalidade não é sempre ruim. Filmes que me distraíam e ponto. Já estava ótimo.
Eu não esqueci de Chris tão rápido, pelo menos não tão rapido quanto eu pretendo esquecer de você.

Viu só... Não foi tão ruim. Quer dizer, foi. Se você quiser, eu lembro exatamente como tudo aconteceu. Exatamente. Pois você não é como Harry, que não me faz lembrar de nada. Ou como Ernest que não foi nada demais pra não me deixar esquecer. Eu não fiz questão de esquecer como tudo começou porque também não foi como com Kim. Você me faz lembrar de tanta coisa quanto Josh e Chris, mas eu ainda não odeio você. É tudo uma questão de tempo para eu absorver tudo que realmente aconteceu, o que eu ainda não absorvi. Eu sei que você sempre foi um cafajeste, eu sei que me arrisquei quando fiquei junto de você, e só posso culpar a mim mesma.
Draco... O que você tem que entender é que... Eu não esqueci de você e eu não odeio você porque você foi todo esse passado e porque você foi todo meu presente. Eu queria, desejava profundamente, que você fosse meu futuro. Você me lembrou dos erros que cometi e me impediu de cometê-los de novo, mas fez com que eu cometesse novos erros, dos quais eu nunca me arrependi.
Porque eu tenho que te falar tudo isso? Porque eu quero que você saiba que não foi tão especial quanto você pensa que foi. Não mesmo. Foi só mais um... Mais um CD de música pop pra minha coleção... Mais um filme bobinho pra me fazer chorar... Mais um número nas minhas listas. Você não foi nada. Não é nada. Não vai ser nada. Quem sabe ao longo disso eu mude de idéia, mas não tenha esperanças. Foi o que você me disse, não foi? Foi sim, disso eu lembro. E você? Do que você lembra, Draco? Você já me esqueceu? Quão rápido você pretende? Eu te fiz sofrer, Draco? Eu te fiz chorar? Tudo isso tá errado... Na verdade, o que eu quero realmente saber é se, algum dia, de alguma forma, em algum momento, eu te fiz sorrir. Se eu te fiz sonhar. Se eu te fiz amar.

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Comentários (1)

  • Isis Brito

    Nossa... ela tá sofrendo... Odeio ver Gina sofrer... =( #correndopropróximocapítulo

    2011-12-20
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