Não Mais
A viagem até a estação King Cross fora pior do que imaginara. Hermione tentou ignorar Aquiles ao máximo, ainda não acreditando no que acontecera e na forma natural que o garoto agira depois do que fizera. Sentada na limusine, a garota olhava a paisagem sem prestar a menor atenção no que estava diante de seus olhos. As pessoas a sua volta conversavam, mas para ela eram apenas ruídos, não compreendia nada e nem sequer queria. Em sua cabeça apenas um pensamento: como Aquiles tivera coragem de fazer tal coisa. Realmente acreditara que a garota nada diria a Draco Malfoy? Pior que isso: acreditava de verdade que tinha direito de beijá-la, sem dar opção nem de ela se defender ou se afastar?
Um dilema prevalecia na cabeça da garota: contava ou não ao loiro sobre o beijo? De fato estava brava com Aquiles pela ousadia, porém continuava gostando do garoto e sabia que Draco não ficaria de braços cruzados, ela tinha certeza que o namorado faria algo contra Aquiles; e com razão. Doía-lhe o coração só de pensar que algo de ruim poderia acontecer com qualquer um dos dois.
Finalmente na estação, Hermione desceu do carro sem dizer nenhuma palavra e, ainda sem se dirigir a ninguém, pegou os próprios pertences no porta-malas, colocou-os em um dos carrinhos de bagagem e se encaminhou para a estação. Seguida de perto de Victor, se recusou a olhar para ele; por mais de ainda ter simpatia por ele, o garoto merecia um castigo. Pelo menos por enquanto.
Decidida, andou até o pilar que dividia o mundo trouxa do mundo mágico e atravessou, sem olhar para trás uma vez sequer. Já no mundo mágico, viu o Expresso de Hogwarts, o trem vermelho que a levaria de volta para o lugar ao qual pertencia, ao lado das pessoas que tanto amava. Ao longe, viu a pessoa mais importante para ela: o loiro favorito dela conversava com uma mulher, também loira. Por natureza, Hermione sentiria ciúmes de ver outro humano do sexo feminino tão próximo a Draco, mas algo dentro dela dizia que tal mulher loira era a mãe do garoto.
Quando o loiro finalmente se despediu da mulher com um beijo no rosto e se virou, encaminhando-se para o trem, Hermione decidiu ir complementá-lo; estava com saudades do garoto. Ela o chamou, pedindo que ele a esperasse. Draco, no entanto, ao ouvir o chamado, olhou para a direção que ela estava e como não a visse, entrou no trem. Estranhando a atitude do namorado, Hermione acelerou o passo e, chegando a porta do trem pela qual Draco havia entrado, subiu no transporte com dificuldade por causa da bagagem.
Andando o mais rápido que a bagagem que levava permitia, a garota andou pelo corredor, procurando pelo garoto, mas não o encontrou. Desistiu de procurar, pelo menos enquanto estava com as malas nas mãos. Cansada, entrou na primeira cabine que encontrou vazia e com dificuldade levantou as malas a fim de colocá-las no compartimento superior. As malas estavam muito pesadas; tentou lembrar o que de tão pesado havia em cada uma. Balançou a cabeça, não era momento de pensar em algo assim. Estava de pé no banco e o peso da mala que estava segurando estava destruindo seu braço, não conseguiria agüentar por muito tempo e não tinha de onde mais tirar força; se forçasse mais um pouco, perderia o equilíbrio. E foi o aconteceu: tamanho era o peso da mala que uma das pernas da garota cedeu. Ela fechou os olhos, com medo do choque e esperando sentir a dor quando a mala caísse em cima de seu corpo.
Manteve os olhos fechados, ainda esperando a dor, que não veio. Escutou o barulho da mala se chocando com o chão, mas não sentiu dor alguma. Devagar abriu os olhos, o local estava muito claro. Estaria ela morta? Aos poucos os olhos se acostumaram com a luminosidade e ela se viu protegida por alguém.
-Você está bem? – perguntou Aquiles. Ainda um pouco tonta, Hermione se soltou dos braços do garoto e voltou a levantar a pesada mala. O garoto se aproximou da garota e tirou as mãos de Hermione da mala. – Posso?
-Não preciso da sua ajuda! – Hermione se recusou a olhá-lo ao responder.
-Aceite como um pedido de desculpa. – Aquiles puxou o rosto de Hermione para sua direção com uma das mãos. Desviando o olhar do amigo, a garota aceitou a proposta, afastando-se dele depois. Aquiles guardou as malas da garota com uma enorme facilidade; finalizado o serviço, ele se voltou para a garota, que o fitava com o olhar mais seco. – Você pretende ficar brava comigo por muito tempo? – ela não respondeu e desviou os olhos dele. – Quer que eu vá embora?
-Faça o que quiser. – ela disse, saindo da cabine.
~~*
A mente de Hermione vagava enquanto ela andava pelo corredor do trem que já estava em movimento; em algumas horas estaria em Hogwarts. Esse pensamento, no entanto, não trazia qualquer sentimento de alegria para a garota. Seu interior lhe dizia que algo estava prestes a acontecer e esse algo não era nada bom.
Talvez fosse imaginação, mas esse aviso realmente lhe pareceu ter sentido quando seus pés pararam de andar, forçando-a a olhar para frente: a alguns metros de distância estava Draco com os colegas da Sonserina que haviam passado as festas de final de ano com a família. Nada parecia estranho, mas a proximidade do loiro com Pansy Parkinson fez o coração de Hermione dar um salto; esse já batia rápido pela visão que Hermione tinha. Ver o loiro depois do tempo que estiveram separados fez o coração dela entrar em colapso. Ela queria chamá-lo, mas o loiro foi mais rápido: mesmo que a ruiva não o tivesse chamado, ele virou o rosto para a direção que ela estava. Ambos fitaram-se por um instante, poderia ser uma cena de filme romântico se não fosse pelo fato que, logo em seguida, Draco ignorou a presença da namorada e entrou na cabine mais próxima, abraçado a Pansy e seguido pelos colegas.
O coração de Hermione, até então acelerado, parou bruscamente de bater. Lágrimas brotaram dos olhos da garota. Ser ignorada pelo namorado duas vezes no mesmo dia? Era óbvio que algo estava errado. Chorando, ela voltou para sua cabine, escondendo o rosto; não queria que ninguém a visse chorando.
Finalmente dentro da cabine, ela fechou a porta atrás de si e, encostando as costas na porta, deixou seu corpo escorregar por ela, até que estivesse sentada no chão, onde deixou todas as lágrimas escorrerem.
-Está tudo bem? – a garota escutou alguém perguntar. Não tinha percebido a presença de ninguém na cabine quando entrara; talvez fora a cabeça cheia de pensamentos que a impedira de prestar atenção em qualquer coisa que fosse. Devagar, ela levantou a cabeça, ainda sentindo as lágrimas molhando seu rosto; viu Aquiles sentado no chão ao seu lado. O olhar do garoto estava preocupado e vendo-o ali, esperando-a, Hermione esqueceu por um momento porque estava brava com ele e jogou a cabeça no colo dele, não impedindo as lágrimas de caírem.
~~*
A noite que devia ser uma das mais divertidas por ser a primeira noite de volta a Hogwarts depois do recesso de festas de final de ano, fora uma das piores para Hermione. Sem sequer cumprimentar ninguém, ela subiu correndo para o dormitório, onde encontrou seus pertences ao redor de sua cama. Mecanicamente, ela abriu uma das malas e depois trocou a roupa que usava pelo pijama. Mesmo que não estivesse chorando, algo que ela tanto temia veio aterrorizá-la.
Ao acordar na manhã seguinte, ela pediu a todos os deuses e todos os bruxos famosos possíveis que impedissem tal acontecimento e depois decidiu não pensar naquilo. Se desejasse com vontade que tudo ficasse bem, nada de ruim aconteceria. Enquanto mexia na própria mala, procurando o uniforme, encontrou uma das caixas de chocolate que trouxera do reino de seus verdadeiros pais. Lembrando-se do dia anterior, decidiu dar a caixa para Aquiles.
Já trocada, ela se encaminhou para fora da Torre da Grifinória, dirigindo-se para o Salão Principal, onde tomaria café da manhã. Sentada à mesa de sua casa, ela colocou a caixa de bombons sobre a mesa e começou a se servir. Estava cedo, por isso o Salão ainda estava vazio; apenas poucos alunos estavam comendo. Mione reconheceu a todos: os poucos alunos que estavam no Salão eram bons alunos, provavelmente estavam tomando café da manhã mais cedo, assim poderiam passar um tempo na biblioteca antes do primeiro tempo.
Aos poucos o local encheu-se, mas até Hermione terminar de se alimentar nenhuma das duas pessoas que a garota queria ver havia chegado. Sem paciência, a ruiva pegou a caixa de chocolates, se levantou e se encaminhou para o jardim. Estava uma manhã fria, o chão estava coberto de neve, mas era óbvio que alguém que limpara o local, pois a cobertura de neve estava em uma altura muito baixa.
A garota se recusou a sentar-se no chão, sua roupa ficaria molhada; acabou por dar apenas uma volta pelos jardins, a fim de passar o tempo. De volta ao hall, ela se dirigiu de volta a Torre da Grifinória. No caminho, encontrou Gina que lhe entregou o horário.
-A Professora Minerva mandou te dar. – a garota disse antes de se afastar de Hermione.
Sozinha novamente, ela continuou seguindo seu caminho até a Torre da Grifinória, onde se limitou a pegar os materiais necessários para as aulas do turno da manhã.
~~*
A ruiva apenas vira Aquiles depois do almoço, na porta da sala de Runas Antigas. O garoto estava no mesmo jeito que estava na primeira vez quer Hermione o vira, o olhar triste, a expressão fria, mas ao ver a amiga se aproximando, ele abriu um pequeno sorriso.
-Obrigada por ontem. – ela disse, sem saber por onde começar.
-Você está melhor? – Aquiles perguntou. Na verdade, o garoto não sabia o que acontecera realmente, Hermione não tivera coragem de contar, mas ele a consolou do mesmo jeito, sem se importar de não ser o confidente da garota. A ruiva balançou a cabeça afirmativamente. – Não parece, mas se você diz que está, isso é o que importa. – por impulso, o garoto a abraçou, protetoramente. Por um instante, Hermione ficou assustada, mas logo relaxou diante do calor dos braços do garoto. – Espero que um dia eu possa voltar a ser a pessoa que você mais confia. – ele disse mais para si próprio do que para Hermione e depois a soltou de seus braços. A ruiva estava prestes a perguntar o que acontecera, mas Aquiles virou-lhe a costas e entrou na sala. Hermione ficou parada no mesmo lugar, estranhando a atitude dele; ficou ali até que o garoto voltou para chamá-la. – Vai ficar ai até quando? – entendendo então o que acontecera, Hermione seguiu-o para dentro da sala.
~~*
-Você tem certeza de que está bem? – Aquiles perguntou quando ele e Hermione finalmente saíram da aula de Runas Antigas. – Não quer conversar comigo, me contar o que está acontecendo?
-Eu estou bem, obrigada. – ela disse, mesmo sabendo que não estava nada bem. Então, ela se lembrou de algo, abriu a mochila que carregava e procurou o que queria. – A propósito, isso é para agradecer por ontem. – Hermione falou ao encontrar o que procurava e entregou a caixa de bombons ao garoto.
-Hermione, não precisava. – o garoto se recusou a aceitar.
-Eu insisto! – ela pediu, olhando-o nos olhos pela primeira vez. Aquiles a olhou nos olhou também e ficaram assim por alguns instantes, em silêncio. Então, enfim, ele aceitou o presente; pegou a caixa com uma das mãos e com o braço desocupado, abraçou a garota. Hermione não esperava o abraço, mas logo fechou os olhos e retribuiu o abraço.
-Hermione! – ela escutou alguém a chamando e assim que reconheceu a voz, soltou-se do abraço de Aquiles. Ao olhar na direção de quem a chamara, ela viu Draco Malfoy se encaminhando para ela. Aquiles virou-se em direção do loiro e sua expressão mudou-se totalmente ao vê-lo ali. Já perto da garota, Malfoy perguntou – Posso falar com você?
-Pode... – a ruiva respondeu prontamente.
-Hermione, eu acho mel... – começou Aquiles, mas a garota impediu-o de terminar.
-Espere aqui, eu já volto. – ela disse, afastando-se do amigo com o namorado. A ruiva se aproximou de Draco, a fim de dar a mão para ele; o loiro, no entanto, ignorou o movimento dela. – Aconteceu alguma coisa? – ela perguntou, percebendo que ele não a olharia.
-Eu quero terminar. – fora rápido demais. Draco respondera muito rápido e muito seco, Hermione não estava preparada para escutar aquilo.
-Oi? – ela disse para ter certeza de que ouvira direito.
-Eu quero terminar com você, entendeu agora? – a voz de Draco estava mais fria do que o normal, nem parecia o mesmo garoto de quem ela se despedira semanas antes.
-Eu não estou entendendo. O que aconteceu? Foi alguma coisa que eu fiz?
-Não, é algo simples. Não nascemos para ficar juntos. – o loiro não olhava para a garota, mas sua voz era fria o suficiente para a garota não se importar com isso.
-Por que você está dizendo isso? Draco, por que você está fazendo isso?
-Eu tenho que parar de mentir para mim e para você. – o loiro então olhou fundo nos olhos da ruiva. – Eu não amo você!
-Não! Você está mentindo. – ela disse com os olhos se enchendo de lágrimas.
-Eu preciso voltar a ser o que eu era antes, voltar a ser que eu realmente sou e isso significa terminar com você. – Draco disse, desviando o olhar da garota, novamente.
-Draco... Por favor, pare. – a voz da ruiva já estava afetada, ela estava prestes a chorar.
-Eu não posso fazer nada.
-Draco! – antes de responder, Draco deu uma pequena olhada em Hermione. Sua feição pareceu até se sensibilizar um pouco, mas apenas por um momento.
-E eu acho melhor você voltar ao que você era antes também.
-O que você quer dizer com isso?
-Essa é a verdade, eu só precisava dizer isso. – ele finalizou e virou-se para ir embora. Estava começando a andar, mas Hermione o segurou, forçando-o a olhar uma última vez.
-Por favor, Draco.
-Não me chame pelo meu nome, sangue-ruim. – o loiro disse seco antes de se virar e se afastar finalmente. Mesmo vendo-o se afastando, a garota não entendeu o que estava acontecendo. Ficou esperando que Draco virasse e dissesse que era mentira, que ele a ama e que nada mudara, mas ele não voltou. Só quando ele desapareceu do seu campo de visão, Hermione compreendera o que tudo terminara; fora rápido demais para seus neurônios, por isso as lágrimas demoraram tanto a cair. Sentindo-se sem chão, ela deixou o corpo se soltar e sentou-se no chão, o rosto todo molhado.
Ela sentiu uma mão em seu ombro, mas não se atreveu a olhar, não queria saber quem era. “O que aconteceu?”, a pessoa perguntou. “Você está bem? O que ele falou?”. A ruiva não respondeu, no entanto, nenhuma das perguntas, não via nada mais, não escutava nada mais, não sentia nada mais.
N/A: Não me matem, eu sei que isso foi estranho, que foi triste, mas eu tinha que fazer isso. Quanto mais eu demorasse pior seria. Eu sei que agora, provavelmente, estão todos odiando o Draco... Pena que eu não posso fazer nada! Mas, enfim, pensem pelo lado bom, esse foi um dos maiores capítulos que eu escrevi depois do meu HIATUS enorme, certo? Porém, eu tenho uma notícia muito triste para contar a vocês. Poisé, Forças do Destino está cada vez mais próxima do final (eu já tinha dito isso, não?). O que importa é que eu acho que serão só mais dois capítulos, no máximo três, dependendo do tamanho deles. E o que é mais triste ainda, Forças do Destino 3, por mais de já ser um projeto ‘real’, ainda não está pronto, assim digamos. Ainda não tenho previsão de lançamento. O fato é que FDD vai continuar. O máximo que eu posso dizer é que, durante o processo de criação do enredo de FDD3, eu vou postar sinopses, prévias e trechos desta nas minhas outras fics. Bom, é isso pessoas! Continuem comentando! Beijão
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