Vulpes Vulpes



Uma reviravolta ocorreu no mundo bruxo. O Ministério estava sob o poder de Voldemort e muitas das pessoas se agregaram a ele por livre escolha. Também não eram poucos os que foram dominados pelas maldições e às trevas se juntaram, mas até os que não se aliaram mantinham-se calados e indiferentes ao terror que Voldemort exercia Mesmo os integrantes da Ordem de Fênix que trabalhavam no Ministério viraram reclusos e resguardados.
Os urros raivosos de Voldemort podiam ser ouvidos da sala onde Hanna era monitorada por Pryme. O mestre estava descontente por Lúcio Malfoy não conseguir roubar de um menino a esfera que continha a maldita Profecia que poderia fazer com que seus poderem desaparecessem para sempre.
— Pelo menos matamos alguns dos bastardos traidores de sangue - Belatriz Lestrange consolava o cunhado com a mão sobre o ombro enquanto entravam na sala. - Meu priminho se foi. Coitado - e a risada desprezível da Comensal fez Hanna erguer os olhos.
Lúcio sentou na poltrona ao lado de Hanna ao mesmo tempo em que Pryme ia até Belatriz para colher melhores informações.
— Sirius... Black está morto? - murmurou Hanna para Lúcio.
Ele a fitou com inexpressivos olhos acinzentados e confirmou, deixando-a se perder em pensamentos. Mais um. Mais um aliado de Dumbledore que vinha ao chão. E nada de Leon. Nada de qualquer criança na casa. As suspeitas de Hanna aumentavam casa vez mais e a vontade de cometer uma loucura quase a entregou, porque pegara o Lorde fitando-a compenetrado e de repente, em sua mente, Snape apareceu beijando-a como costumava fazer muito antes de tudo aquilo acontecer. Hanna fechou os olhos e levantou-se bruscamente, indo parar atrás de Pryme, quebrando o contato visual entre ela e Voldemort.
— Estou cansada, quero ir me deitar - falou com certa rapidez, forçando a entrada na conversa entre Pryme e Bella.
— Não pode esperar uns instantes? - perguntou Bella muito interessada no que Pryme dizia antes de ser interrompido.
— Não. Não posso - Hanna foi grossa. E então olhou para Pryme e disse: - Se não pode me acompanhar até meu quarto, pedirei a Lúcio para me... - insinuou dando as costas a Pryme, que imediatamente a puxou pelo pulso e concordou em levá-la ao quarto.
Era sempre daquele jeito: sempre alguém a escoltando até onde quer que fosse, não lhe dando tempo nem mesmo para respirar sozinha por segundos. Mas Hanna não queria ficar sozinha naquela noite. Não queria Voldemort novamente tentando ler-lhe a mente, então, surpreendendo Pryme, pediu para que ele ficasse. Ele já estava de costas quando ela arriscara o pedido e não parou de andar, apesar de pasmado. Hanna também não insistiu, talvez Pryme soubesse que Voldemort queria vê-la e por isso não mostrou o verdadeiro interesse pelo pedido. Todavia, Hanna se enganou, Voldemort não a procurou naquela noite e ela pôde dormir em paz, se é que houvesse alguma vivendo sob a pressão que vivia.
A manhã despontou com o som alegre dos pássaros, muito surreal para alguém que estava trancafiado havia dias, sem poder nem sequer abrir a janela. Hanna desceu as escadas com Pryme ao seu encalço, ele parecia inquieto, agitado, e ela sabia o porquê: Belatriz Lestrange. Bem, só poderia ser, pois desde que a mulher chegara os dois mantinham longas e divertidas conversas. Porém, nada daquele assunto a preocupava, afinal, nem era mais esposa de Pryme e sim de Snape, apesar de não tê-lo visto fazia tempo. Provavelmente ele a evitava, a verdade sobre Leon foi dura para muitos, a maioria dos Comensais, de certa forma, se afastaram de Hanna, nem ao menos a cumprimentando quando no esconderijo de Voldemort.
Voldemort entrou na sala, sentou-se à mesa e fitou Pryme.
— Estamos prontos? - sibilou com os olhos vermelhos brilhando.
— Sim, mestre - respondeu Pryme. Esperamos apenas sua ordem.
Voldemort virou-se para Hanna e sorriu malicioso, querendo saber o que se passava na mente dela, Hanna, porém, falou para quebrar o feitiço mudo.
— Prontos para que?
— Você saberá na hora certa, minha cara.
— O senhor me mantém aqui, executando seus feitiços, e ainda assim não me traz Leon...
— CALE-SE - berrou Voldemort, batendo com o punho fechado sobre a mesa de madeira. - Você - ele ergueu o dedo fino e macilento - vai fazer o feitiço que quebra a proteção de Hogwarts ou jamais verá seu filho novamente! - A ameaça pareceu surtir efeito, Hanna se calou e baixou os olhos.
Belatriz entrou com uma correspondência nas mãos.
— Aguardam sua resposta, mestre - ela disse toda melosa.
— Obrigada, Bella - e Voldemort estendeu a ela um pergaminho. Belatriz o pegou com todo o cuidado do mundo, como se o papel fosse antiqüíssimo e se partisse com seu hálito, e o amarrou na pata da coruja que antes parecia uma estatueta ao lado da janela.
A coruja piou alto. Hanna viu os olhos de Voldemort se tornarem ainda mais vermelhos e viu os olhos de Pryme piscarem seguidamente, ele estava com medo. Então, a atenção de Hanna se voltou para a janela. Belatriz a entreabriu e soltou a coruja sorrindo, depois, voltou-se a Voldemort e fez uma reverência. Ele sorriu com o canto dos lábios e apontou para a cadeira ao lado dele. Tomaram o café da manhã lentamente enquanto Voldemort tentava insistentemente entrar nos pensamentos de Hanna.
Ao fim do café, apenas Hanna e Pryme permaneceram sentados à mesa, Voldemort e Belatriz seguiram para a biblioteca, onde esperariam pelos relatos dos Comensais em missão. Estes apareceram em grupos, mas não chegaram a entrar no escritório porque um deles estava ferido. A balburdia era tamanha que Pryme dividiu sua atenção entre Hanna e os Comensais no hall de entrada, parando à porta da sala. Então, Snape surgiu logo adiante de Pryme, enquanto Voldemort se metia em meio à confusão e ouvia as explicações de seus homens.
Severo, me diga, Leon está bem? - uma voz ecoou na mente de Snape, e ele a reconheceu de imediato. - Não se vire!
Ele está em Hogwarts. Dumbledore não permite que ele...
Então não se vire - pediu Hanna. - Não me procure com o que irá acontecer. Apenas chame a atenção para si, por favor. - O pedido era simples, e se não tivesse sido feito por Hanna, talvez Snape nem o cumprisse.
Assim, Snape soltou em alto e bom som:
— Desconfio onde seja o esconderijo da Ordem.
O hall silenciou de imediato e todos os olhares se voltaram a Severo Snape. Aproveitando aquele instante, uma raposa-vermelha correu por debaixo da mesa do café e sorrateira pulou pela janela aberta, sumindo em disparada por entre a branca e ondulada neve que forrava o terreno.
— Onde? - inquiriu Voldemort fitando Snape com toda sua atenção. - ONDE?
— Em... Londres - Snape hesitou, mas ao ver o nervosismo de seu mestre, pôs mais força na voz. - Com certeza em Londres...
— Existem milhares de lugares em Londres! - a voz de Voldemort oscilou, estava prestes a punir alguém.
— Existe o feitiço Fidelius, portanto, não há como precisar.
No entanto, a raiva que emanava de Voldemort não era proveniente de uma informação irrisória como aquela, mas sim, de algo que o Lorde vira sobre o ombro de Pryme, que se mantinha parado de costas para a sala do café matinal.
Voldemort caminhou até Pryme, empurrando-o sem piedade, com um feitiço, contra a parede, e parou diante da mesa vazia. Sua respiração estava descompassada, a ira era sentida por todos.
— Aonde é que está Hanna? - quis saber Voldemort, mas sem deixar ninguém responder, especialmente Pryme, completou: - Ela está no quarto?
Ninguém respondeu, ninguém ousou, porém, todos fixaram os olhos em Pryme.
— Me... mestre... - Pryme apontava para uma das cadeiras -, Hanna estava... não tirei os olhos dela...
— Se não tivesse tirado, ela estaria aqui! - arranhou Voldemort com a voz furiosa. - Outra vez me decepcionando - ele disse erguendo a varinha e apontando-a para Pryme. - CRUCIO!
O Comensal caiu de joelhos, tamanha a fúria do feitiço que o acertou, mas Voldemort não foi piedoso, conjurou a maldição Cruciatus mais cinco vezes, impiedosamente e sem qualquer pingo de remorso em seus olhos, a não ser mais e mais cólera. Quando finalmente deixou a sala, Pryme já tinha desmaiado, com sangue saindo por seu nariz e boca. Era a vez de punir quem deixara a janela do aposento aberta. Era a vez de Belatriz Lestrange. A punição não foi tão fraca quanto a de Pryme.

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