A Caverna do Fogo Branco



Viajar com aquele tempo frio não era muito fácil. Ainda mais tendo que manter uma razoável distância dos olhos trouxas. A caravana, formada por Harry, Rony, Hermione, Tonks, Lupin e Gui, voava sempre muito próxima às nuvens. Com essa estratégia, eles tinham que fazer paradas a cada duas horas para secarem as roupas.
Nesses intervalos eles aproveitavam para conferir o mapa e ter certeza de que estavam seguindo o trajeto escolhido. Pouco falavam além dos assuntos referentes à viagem.
A noite caiu ligeiro, um sinal claro de aquele inverno seria devastador. Eles encontraram uma boa clareira afastada de qualquer movimentação e montaram acampamento. Seria menos arriscado dormir em pousadas ou hospedarias. Não havia tantos estabelecimentos bruxos naquela região, e os poucos que ainda mantinham suas portas abertas certamente os reconheceriam.
Tomando um pouco de sopa em canecas de latão, eles combinaram de se revezarem em turnos de duas horas de vigília. Harry, que estava agitado demais com toda a expectativa da viagem, se ofereceu para ser o primeiro.
Os outros logo se deitaram e ele ficou ali, sozinho e atento a qualquer sinal de aproximação. Mas não havia motivos para se preocupar. Nenhum inimigo sabia onde eles estavam e até que notassem que tinham partido em alguma viagem, eles já estariam de volta. Era esse pensamento que mantinha Harry acordado e firme em seu propósito.
Cada um manteve o pensamento firme em alguma lembrança boa ou algum plano para o futuro, como um combustível para não abandonarem a missão. Saíram de casa há menos de um dia e já sentiam falta de tudo o que o Largo Grimmauld representou naquelas semanas.
Partiram novamente assim que a primeira linha avermelhada despontou no horizonte indicando que o sol não tardaria a aparecer. Desmontaram tudo, esconderam os sinais e sua estada no local e quando alçaram vôo, algumas estrelas ainda insistam em permanecer no céu.
A viagem correu tranqüila nos dias seguintes. Eles atravessaram o Canal Inglês, passaram pela Bélgica, Holanda, pela Alemanha e atravessar quase toda Polônia. Quando notavam alguma facilidade, cuidavam de aparatar, para não perderem muito tempo. Assim, antes da tarde do oitavo dia a contar da partida do Largo Grimmauld, eles pousaram aos pés de uma escarpa rochosa e sem vida. Era o ponto de encontro com Vitor Krum.
Sentaram-se no chão para descansar do vôo e ficaram observando o céu na esperança de avistarem Vitor. Meia hora se passou sem nenhum sinal do apanhador búlgaro.
Já estavam impacientes, quando sentiram um leve tremor de terra. Alarmados, subiram rapidamente de volta às vassouras e subiram alguns metros. Aquela não era uma região que tivesse terremotos, mas os comensais a serviço de Voldemort se divertiam em provocar catástrofes “aparentemente” naturais.
A escarpa trincou no ponto exato em que eles estavam encostados e foi de lá, para surpresa de todos, que Krum saiu seguido por mais dois rapazes e uma moça.
Hermione pousou rápido e foi abarcar efusivamente o amigo. Ele se mostrou bastante feliz ao vê-la bem e logo cumprimentou todos os outros, apresentando seus companheiros. Seu primo Anddriev e seu amigo Ivalo.
- E esta – disse puxando a moça para perto de si – é Anna. Minha noiva! Todos eles também querem ajudar.
Anna Polkris tinha uma beleza dura, os olhos e cabelos muito negros. O nariz proeminente, os lábios bem contornados e a pele de um tom moreno claro, muito natural. Era alta e esguia e Rony não entendeu como Vitor se apaixonara por ela. Não chegava nem aos pés de Hermione, pensou o ruivo.
- Como vocês vieram? – perguntou Harry.
A primeira vez que se encontraram com Vitor Krum, há três anos, ele apareceu junto com os colegas, emergindo com um barco imenso no meio do lado de Hogwarts. Agora aparecia trincando uma escarpa inteira.
- Nós aprender em Durmstrang a arte de andar pela natureza. Nós andar dentro da terra, da água e das plantas. Não ser uma coisa fácil, mas depois de um tempo, nós acostumamos.
O sotaque de Vitor estava bem melhor e eles seguiram conversando com uma nova animação. Decidiram que era arriscado seguir viagem aquele dia e combinaram de prosseguir na manhã seguinte, quando Gui, Tonks e Lupin voltariam para Londres.
Os três bruxos que escoltaram Harry e os outros partiram ligeiros, aparatando longe dali. O resto do grupo seguiu mais um tempo voando e começaram novamente a aparatar a distâncias combinadas e estabelecidas pelo mapa.
Viajar assim permitia que eles atravessassem quase um país em menos de dois dias. E foi nesse ritmo que eles alcançaram a divisa entra a Rússia e a Estônia.
- É por este parte que temos que seguir – explicou Anddriev.
- Hermini – chamou Krum – Você poder explicar exatamente o que teremos que fazer?
Ela deu um olhar significativo a Harry, pedindo autorização para falar. O rapaz fez um meneio com a cabeça que significava sim.
A jovem bruxa explicou que tinham encontrado uma pista de algo que poderia tornar Voldemort mais fraco. Acreditavam que ele esteve próximo a Durmstrang já que a escola parecia ter sido fundada por um antepassado do Lorde das Trevas.
As noites vinham e traziam cada vez o ar gelado do inverno. Ainda mais agora que eles se aproximavam das montanhas geladas do norte.
O acampamento era sempre armado próximo a uma grande fogueira e ainda assim eles precisavam ficar muito próximos uns dos outros para o frio não vencer.
Quando alcançaram uma montanha particularmente alta, após uma semana de viagem, Krum informou:
- A partir daqui é terreno de Durmstrang. Todo o percurso terá que ser feito a pé ou voando baixo, há menos de 1 metro do solo. Não se aparata aqui e as vassouras não oficiais são detectadas. Mas Anna descobriu quando estudou aqui que a vigilância só detecta vassouras altas.
- Falta muito para chegar à escola? – perguntou Harry.
- Falta! – respondeu Ivalo – Aqui ser apenas entrada de Durmstrang. Escola de verdade fica para lá do mar.
- O quê? – exclamaram os três amigos ao mesmo tempo.
- Sim, para além do mar. Estamos quase na beirada do país. Isso ser outra medida de segurança. Por isso tão complicado encontrar Durmstrang – ajuntou Anna.
- Agora venham por aqui – chamou Krum enquanto virava para a direita e descia um caminho íngreme e escorregadio coberto de neve.
Eles encontraram um grande bloco de gelo que parecia como outro qualquer na região. Mas quando observaram com mais atenção, notaram que o bloco tinha um brasão gravado em seu interior.
Vitor esticou o braço, colocando a mão sobre o brasão. O símbolo de Durmstrang brilhou com um colorido vivo e o bloco se ergueu revelando uma passagem escura, de pedras negras, iluminada por tochas medievais.
Os passos ecoavam pelos corredores sombrios e a todo instante eles se viravam para ter certeza de que não estavam sendo seguidos.
- Ficam tranqüilos – falou Anna – Durmstrang não ser ruim. Não costumamos convidar pessoas, mas quando elas vêm, sabemos ser bons anfitriões.
Foram horas de caminhada pontuada algumas vezes pelo eco dos passos, outras pela ausência total de barulho, apenas estalos secos do contato dos calçados com a rocha. No final do túnel eles se depararam com um rio muito estreito que entrava na montanha por uma passagem baixa.
- Agora – explicou Krum – temos que ir de barco. É muito longe para irmos sem ajuda deles.
Ele indicou uma grande parede de pedra mais lisa que as demais atrás de Rony. Foi até lá e do mesmo jeito que a entrada da caverna se fez visível, um grande armário contendo barquinho individuais apareceu.
- Cada um de vocês pega um desses e coloca na água. Senta quieto, arruma coisas e depois deita. O barco sabe o caminho sozinho. Olha, eu vou primeiro para ensinar como fazer.
Ele fez exatamente como havia explicado e logo o barco começou a se movimentar e quando entrou pela passagem, ganhou uma velocidade impressionante.
Só então Harry se sentiu apreensivo. Mais apreensivo do que esteve o tempo todo. Estava dentro de uma caverna que ele não conhecia seguindo um jovem cujo professor havia sido um comensal da morte.
Mas não teve tempo de pensar em outra coisa a não ser seguir com o plano, porque Rony e Hermione já haviam partido com seus barcos. Ele foi em seguida e não conseguiu pensar em mais nada.
O riacho fazia voltas e mais voltas como uma montanha russa, sempre numa velocidade que superava a sua Firebolt. Ele sentia o estômago embrulhar e tentou levar as mãos a boca numa tentativa de impedir qualquer coisa de sair dela. Mas não conseguiu mexer os braços. Fechou os olhos para ver se a sensação diminuía. Vendo que não ia adiantar, abriu os olhos novamente e torceu para que tudo acabasse logo.
Quando o barco diminuiu a velocidade, Harry pensou que havia se passado quase um século. A luz amarela das tochas voltou a brilhar intensamente e ele avistou a uma curta distância Rony e Hermione, de pé ao lado de Krum.
Tentou saltar do barco, mas acabou caindo de joelhos e esfolando a calça nas pedras. Hermione correu e o ajudou a se levantar, oferecendo um pouco de água para que bebesse.
Ele aceitou e depois de alguns goles da água gelada do riacho, sentiu a cabeça parar de rodar e o estômago chegar no lugar. Rony ainda estava meio esverdeado, e fazia força para ficar de pé.
Quando os outros chegaram, Vitor deu as boas vindas:
- Aqui estamos, em minha Durmstrang!
Só então eles divisaram o colossal portão de metal forjado e brilhante que estava mais à frente. O brasão da Durmstrang se dividia entre as duas folhas que formavam a passagem de quase seis metros de altura. Os portões se abriram quando Vitor falou alguma coisa e eles o seguiram para fora da caverna.
Aquelas terras tinham uma aura completamente diferente de Hogwarts. A escola foi construída como um antigo feudo, com pedras escuras retiradas da caverna por onde eles passaram.
Seus cômodos eram espalhados ao longo de 7 andares básicos e uma torre central que se elevava muito além disso. O alto da torre era encimado por um sino de prata que tocava avisando os horários das aulas e das atividades diárias.
O caminho até o castelo era ornamentado por esculturas feitas da mesma pedra negra que tudo o mais. Retratavam os primeiros bruxos formados pela escola, todos apontando as varinhas para quem entrasse na escola.
Duas árvores secas eram as únicas coisas que se destacavam na paisagem além do castelo e das estátuas. Naquela época do ano ficava difícil divisar onde terminava o chão e onde começava o céu.
Hermione tentou dar a volta em uma das estátuas, mas mal seu pé afundou, Krum a agarrou pelos ombros.
- Não! Se for aí, você cai. Isso é só neve e gelo, sem chão. No verão, aí fica um grande lago. Nós só temos terra mesmo embaixo do castelo.
Eles andaram mais alguns metros e Anddirev perguntou:
- Onde vocês precisam ir?
Harry sentiu que todos os olhares se voltaram para ele. Era ele quem conseguiria encontrar o local exato da horcrux. Mas por alguma razão, Harry não sentira nada de diferente.
- Acho que precisamos descansar – respondeu tentando ganhar tempo.
Eles se acercaram da imensa construção enquanto Vitor foi procurar o novo diretor de Durmstrang. Conversou com ele pedindo abrigo para os amigos que vieram de tão longe. O bruxo lhes concedeu duas noites na propriedade e arranjou-lhes um dormitório conjunto, equipado apenas com camas de armar e poucas cobertas. Os tempos estavam difíceis demais para oferecer abrigo de bom grado a qualquer estranho. Mesmo que esses estranhos fossem amigos de Vitor Krum.
Harry não se importou. Jogou-se em sua cama e tentou se concentrar na possível localização da horcrux. Adormeceu logo, mas nenhum sonho veio para lhe ajudar. Acordou irritado e esperou os amigos despertarem.
Quando estavam os três reunidos, perguntaram a Vitor se poderiam conhecer o resto da escola.
- Ainda não sei qual é o lugar que eu procuro. Acho que uma volta pode ajudar...
- Tudo bem! Eu mostro os lugares de acesso livre a vocês.
Os três pegaram as mochilas e acompanhar o búlgaro. A comitiva caminhou pelo salão de festas, muito sóbrio coberto com mosaicos de madeiras com cores diferentes, formando desenhos geométricos no assoalho. Um lustre de ouro pendia do teto e iluminava o salão com pequenas chamas flutuantes.
Eles caminhavam pelos corredores e diferentemente de Hogwarts, a presença de estranhos não causava nenhum rebuliço entre os alunos. Todos seguiam uma disciplina rigorosa.
- Eles estam em horário de estudo. Hora de estudo não se conversa – explicou Anna em voz baixa.
Entraram numa biblioteca ainda maior que a de Hogwarts e Hermione não pode conter uma exclamação admirada. Uma das paredes da biblioteca estava coberta por inúmeros quadros de antigos professores e diretores.
Harry olhou o quadro que seria do fundador da escola. Nem de longe ele se parecia com Voldemort. Cutucou Hermione e Rony e apontou para o quadro.
- Acham que ele se parece com “ele”?
- Nem de longe! – respondeu Rony.
- Fica difícil encontrar alguém que se pareça com ele longe da seção de répteis, Harry – retrucou Hermione.
- Lógico... – disse Harry mais alto do que pretendia – Esse seria o lado da família bruxa dele. Esse cara, seja lá quem for, pode muito bem ser parente de Slytherin. Tem os mesmo olhos embotados, os mesmo cabelos negros e o olhar doentio que Morfino. E ele só se parecia com os Riddle.
Continuaram observando os professores quando avistaram um nome muito conhecido e que figurava nos principais livros de História da Magia Contemporânea. Entre os muitos professores e diretores que já passaram por Durmstrang, o que eles não esperavam encontrar era o nome de Oliver Grindewald numa placa de ouro presa à parede.
- Grindewald deu aulas aqui – murmurou Hermione irritada consigo mesmo por não ter dado a devida importância a essa informação.
- Não só deu aulas como foi diretor durante 12 anos – esclareceu Krum.
- E livrou a escola do temido Gigante da Neve – informou Hermione lembrando do que tinha lido.
- Exato! – falou Anna admirada da estrangeira conhecer a história de um dos diretores tão bem – Isso lhe rendeu uma homenagem especial quando ele se afastou do colégio.
- E que homenagem foi essa? – perguntou Harry interessado.
- Uma condecoração dada pela Ordem do Dragão. Estar na Sala de Honra, querem ver? – explicou Ivalo.
Harry assentiu imediatamente. Sabia que Voldemort havia estado em Durmstrang, recolhendo os dados para a biografia de Grindewald. E com certeza, a Sala de Honra teriam chamado sua atenção.
Ele caminhou em silêncio, pensando que enfim a sua viagem até ali não tinha sido inútil. Descobrira que Voldemort ingressara em Durmstrang mesmo por um curto período tempo. Mas teria sido tempo suficiente para preparar um esconderijo para uma das horcruxes?
Eles chegaram até a Sala de Honra que lembrava e muito a Sala dos Troféus em Hogwarts. No entanto era mais organizada e as prateleiras não ficavam protegidas por estantes de vidro.
- Ninguém põe as mãos nos troféus? – perguntou Rony imaginando a quantidade de peças que seus irmãos, Fred e George, pregariam se os troféus de Hogwarts fossem tão “livres” assim.
- Não! Aqui, troféu pertence apenas a seu dono. E tudo se limpa com magia – explicou Anddriev indignado com a pergunta do ruivo.
Harry viu a condecoração que Grindewald recebeu por livrar a escola de uma horda de gigantes do gelo.
Gelo? – pensou Harry – Em suas visões, ele estava deitado numa espécie de plataforma de gelo... Seria assim tão simples?
Inconscientemente, suas mãos se ergueram e ele retirou a medalha da caixa. Um grande tremor sacudiu a sala, fazendo os outros prêmios despencarem da prateleira e a medalha voar da mão do rapaz. Um poço fundo se abriu no meio da Sala de Honra e o rapaz se lembrou de Dumbledore falando o quanto Voldemort era previsível. E apesar disso, era surpreendente pensar que o bruxo conseguira interferir na construção de uma escola tão antiga sem que ninguém percebesse o que ele tinha feito.
Vendo o que se formou a sua frente, Harry nem se preocupou em procurar a medalha que voou de sua mão. Aquela era uma óbvia imitação da Câmara Secreta. E como da outra vez, ele sabia que a única alternativa era pular.
- Vamos descer – informou aos outros.
- Descer? Aí? – perguntou Hermione.
- A gente já fez isso uma vez – lembrou-se Rony – quando o basilisco foi solto no castelo.
- Se não tem outro jeito – disse a garota tomando a frente e assustando o grupo.
- Espere – chamou Anna – precisamos saber se paredes não estar enfeitiçadas
Ela conjurou um feitiço que todos conheceram como sendo um patrono e o fez descer pelo buraco aberto no meio da sala. O grande urso branco desceu sem sofrer nenhum dano.
Quando se viraram para decidir qual o melhor jeito de descerem sem se machucar, ouviram passos e logo muitos guardiões da escola apareceram para detê-los.
- Vocês não ter tempo! Vão agora e a gente distrai o resto. Depois, enviar notícia – falou Krum empurrando Harry para dentro do buraco.
A sensação de pavor sumiu de repente da mente de todos. Finalmente, depois de tantos dias, Harry se sentiu quente e confortável. Seus olhos começaram a fechar, num sono gostoso e acolhedor. Logo começou a sonhar com Gina, com as partidas de quadribol, com A Toca.
Poderia ficar assim para sempre que ele não se importaria. Há tempos ele não se sentia assim, tão em paz e seguro.
Ele ouviu um murmúrio ao longe e um jato de luz violeta passou raspando pelo seu ombro. Então ele despertou. Olhou para baixo em tempo de dar de cara com uma enorme almofada azul que amorteceu a queda. O barulho e encontro com a almofada fofa fizeram os outros despertarem.
- O que aconteceu? – perguntou se levantando assustado com o coração querendo sair pela boca enquanto fazia a varinha brilhar para iluminar o local.
Era uma grande câmara subterrânea escura e fria. Os outros imitaram o rapaz fazendo as varinhas brilharem e iluminaram bem o local.
- Vocês estavam desmaiados ou o quê? – perguntou Rony.
- Como assim? – falou Harry ainda sem entender.
- Vocês não perceberam a altura da qual estávamos caindo... Quando eu entendi que estavam todos adormecidos, conjurei a almofada. Foi bem em tempo. Sem isso todos vocês estariam... machucados demais para prosseguir.
Então era isso. - refletiu Harry – Ele encantou a queda e todos estavam enfeitiçados. Mas por que Rony não sofreu os efeitos da magia?
Pensaria nisso depois. O que eles precisavam agora era encontrar a passagem que os levaria até a horcrux.
- Obrigado, Rony! – falou o rapaz – Mas agora temos que ir...
- Olhem! – exclamou Hermione apontando para um suntuoso S talhado na pedra bruta acima da cabeça deles.
Era um sinal visível que Voldemort passara por ali e deixara registrado que aquele se tratava de um território dele.
Harry não pode deixar de pensar o quanto seria mais fácil se Dumbledore estivesse em condições de viajar. Ele se lembrou do quanto foi fácil para o ex-diretor encontrar a passagem certa só sentindo a magia presente.
Mas ele não tinha esse dom, e acreditava que nem Rony e nem Hermione também pudessem fazer isso. Olhou apreensivo para os amigos que seguiam em silêncio e parou.
- Algum problema? – perguntou o ruivo?
- Não, é que na minha visão, a caverna era de gelo e não de pedra como esta...
- Talvez esteja escondida... – refletiu Hermione – só precisamos descobrir onde.
Ela puxou a varinha, apontou para a parede e murmurou um feitiço para revelar magia oculta. Tentou em todos os lados. Os feitiços apenas rebatiam nas pedras e sumiam no ar.
Numa última tentativa ela apontou para uma pedra atrás de onde Harry e Rony estavam parados. O feitiço desta vez ricocheteou na parede mas não sumiu como os outros. Ele foi em direção às costas de Rony e atingiu o rapaz bem próximo da nuca, lançando-o metros a frente.
Ele berrou de dor e Harry e Hermione correram para ajudá-lo. Por muito pouco, Rony não bateu de cabeça contra as rochas. O local que o feitiço acertou brilhava e eles perceberam que havia uma medalha de ouro colada à pele do rapaz.
- É a medalha de Tom Riddle – falou para Hermione – por isso ele não foi afetado pelo feitiço do poço. Ela deve ter caído aqui quando a sala tremeu.
Mas a garota não estava ouvindo uma só palavra do que ele dizia. Continuava a chacoalhar Rony, com lágrimas nos olhos, murmurando o tempo todo:
- Minha culpa... fui eu.... desculpa, vai? Acorda, por favor...
- Hermione, calma! Ele está bem. Está respirando... Vamos tirar essa medalha daí do pescoço dele e colocá-lo deitado direito.
Quando eles forçaram a medalha para soltar da pele do amigo notaram uma queimadura provocada pelo metal aquecido com o feitiço. Estranhamente não eram os dizeres da medalha.
- Que desenho é esse? – perguntou Hermione.
- Acho que é... um mapa!
- Vamos segui-lo?
- Sim, mas primeiro, tente revigorar o Rony.
- Não! Não faço mais nenhum feitiço perto dele hoje.
Harry deu um sorriso e apontou a varinha para o rapaz dizendo:
- Ennervate!
Rony estremeceu e abriu os olhos. Passou a mão na nuca que ainda ardia e gemeu.
- Que raios aconteceu aqui?
- Fica quieto e abaixa a cabeça – falou Harry – Hermione vai te explicar enquanto eu acabo de ler uma coisa aqui.
Logo os três estavam seguindo o mapa que os levava cada vez mais fundo na caverna. À medida que andavam, o frio se intensificava. Os três bruxos já tinham as faces queimadas pelo frio e naquele lugar parecia que as capas não mais os protegiam.
Chegaram ao fim da caverna e não havia passagem nenhuma.
- Da outra vez – disse Harry – Dumbledore pingou um pouco de sangue na parede e ela se abriu.
- Eu faço isso – falou Hermione se adiantando.
- Não precisa! – retrucou Harry.
- Precisa sim, já pensou se essas paredes detectam de quem é sangue? É melhor que Voldemort não saiba que você esteve aqui.
Ela puxou uma pequena faca da mochila e, respirando fundo, fez um corte no braço. Passou o sangue na parede e já ia fechar o corte quando Harry viu que não havia adiantado.
- Devo tentar passar em outro lugar? – perguntou com a varinha apontada para o machucado.
- Tenta na medalha – falou Rony – Ela já arrancou um pedaço da minha pele, quem sabe ela faz alguma outra coisa útil com um pouco de sangue.
Era uma idéia. Harry segurou a medalha enquanto Hermione passava os dedos no corte que ainda sangrava muito e tocava a medalha.
Magicamente, o mapa desapareceu e seu lugar foi ocupado por uma frase.
- Um encantamento, como uma senha – falou o rapaz.
- Então leia – disse Hermione cujo braço já estava curado.
Harry deu alguns passos para trás e leu, em voz alta, os dizeres contidos na medalha.
Um novo tremor chacoalhou a caverna, algumas pedras caíram do teto e uma enorme porta se abriu. O clarão que entrou daquela sala imensa toda coberta de gelo cegou-os momentaneamente.
Os três andaram lentamente, pé ante pé, até atravessar a passagem, que se fechou sem nenhum ruído. Havia uma longa ponte de gelo que eles precisariam atravessar para alcançar o altar onde brilhava uma caixa de cristal. O teto era exatamente como Harry viu: coberto por longas e afiadas estalactites de gelo.
- Agora é só atravessar a ponte – falou Rony.
Mas eles mal pisaram sobre a ponte um estrondo diferente ecoou na sala, ao mesmo tempo em que uma chuva de gelo afiado despencou em cima deles.
- Ai! – berrou Hermione – Dois cortes seguidos no mesmo braço...
- Você está bem? – precipitou-se Rony.
- Estou, foi só um corte, mas eu cuido disso.
Ela puxou a varinha, fez o mesmo feitiço de antes e o corte se fechou.
- Que estrondo foi esse, Harry? – perguntou o ruivo.
- Eu não sei... Mas são passos, disso eu tenho certeza. Vamos continuar. Quem sabe alcançamos a horcrux antes dessa coisa chegar mais perto.
Ele se adiantou, mas Hermione pediu que esperasse. Logo um grande disco metálico pairou sobre eles, evitando que novas estalactites os acertassem.
A caminhada continuou, mas a cada passo dado sobre a ponte, novos passos monstruosos se faziam ouvir. Cada vez mais próximos, até que uma sombra proporcional ao tamanho do barulho se projetou na parede em frente.
Os três amigos se viraram e depararam com um enorme dragão branco, com as asas abertas ameaçadoramente. Os olhos pareciam duas safiras, enquanto as garras transparentes, cortavam os blocos de gelo como se fossem feitos de água.
Harry já enfrentara um dragão durante o Torneio Tribruxo. Mas este lhe inspirava muito mais medo. Por um instante temeu estar petrificado. Testou mexer as mãos e como elas lhe obedeceram, ele conseguiu pular sobre Hermione e Rony antes que o Dragão Branco lhes desse um bote.
Os três rolaram embolados até a parte inferior à ponte, enquanto o bicho soltava baforadas de um fogo branco, que poderia queimar e congelar ao mesmo tempo.
- O que vamos fazer? – murmurou Hermione assustadíssima.
- Harry, você já destruiu um dragão antes... – lembrou Rony.
- Mas foi diferente... Daquela vez eu tinha espaço, tinha minha vassoura e tinha um bando de gente para me proteger se eu não desse conta.
- Sua vassoura está dentro da mochila encantada – lembrou-lhe Hermione, impaciente, olhando a todo instante para os lados.
O Dragão fez uma nova investida, desta vez passando as garras bem próximas aos três.
- Harry! – falou Rony decidido – No Torneio você teve ajuda e aqui você também tem. O que a gente precisa é distrair o dragão.
- Eu sei disso, mas como vamos fazer? – falou aflito, correndo mais uma vez e puxando os outros.
O disco conjurado por Hermione os acompanhava protegendo da chuva de estalactites, mas já estava bem avariado devido às patadas do monstro.
- Só tem um jeito – falou o ruivo puxando a vassoura de dentro de sua mochila encantada.
- O que você vai fazer? – perguntou Hermione com os olhos arregalados já imaginando a resposta.
Aquela não seria a primeira vez que Rony se sacrificava para deixar o caminho livre para Harry.
- Acho que consigo distrair ele por pelo menos uns 20 minutos. Espero que você chegue lá antes disso – falou Rony sem dar margens para discussões.
Ele já ia montar na vassoura quando se lembrou das palavras de Lupin no cemitério em Godric’s Hollow. Virou para Hermione com um sorriso terno e falou, em tom de quem se despedia:
- E quanto a você, só não esquece que eu te amo, ta?
A jovem ficou perplexa com a declaração do ruivo. Mas antes que pudesse falar qualquer coisa, ele já havia dado um impulso e voava para cima do Dragão Branco.
- Você está louca? – perguntou o Harry quando viu que a garota também puxava a vassoura de dentro da mochila.
- Se eu for também, ele terá mais chance de sobreviver. Ele não saberá qual dos dois atacar.
- Eu não vou deixar você ir.
- Não adianta falar nada! Eu vou! Não vou deixar o Rony... Não depois disso!
E antes que Harry pudesse fazer alguma coisa, a garota deu um impulso com os pés e sobrevoou o lugar. Mantendo o pensamento firme em distrair o dragão sem deixar que ele se aproximasse de Harry, diminuindo os riscos para Rony.
- Nenhum livro vai nos ajudar agora – dizia para si mesma – Só preciso me concentrar e não cair da vassoura.
Ela se aproximou muito do bicho que logo voou para cima da nova presa. Mas assim que viu a cena, Rony deu uma rasante passando sob as asas do bicho que se distraiu e foi atrás do garoto.
Harry ainda olhou algum tempo a perseguição aérea que se desenrolava na câmara de gelo.
- Anda, Harry! – gritou Hermione passando veloz atrás do garoto, escapando de um dos jatos de fogo branco – Ele não é tão burro para ser enganado tanto tempo!
Ele despertou novamente para o que tinha ido fazer. Tirou a vassoura da mochila e montou. Assim chegaria mais rápido até a horcrux.
Irritado, o dragão acertou a cauda na parede. Sem proteção, Harry foi atingido por vários estilhaços de gelo pontiagudo. Nem sentiu o sangue escorrer dos machucados, tão concentrado estava em alcançar o objeto.
Às suas costas, ele ouviu um berro. Um dos amigos havia sido atingido. Mas ele não tinha tempo para olhar. Não podia pensar em nada naquele momento. Faltava apenas três, dois, um metro... Ele alcançou o altar estreito onde a caixa de cristal guardava a horcrux. Não era uma jóia, uma taça ou uma arma. Era um pedaço de papel velho e amarelado.
Pousou e esticou a mão para suspender a tampa da caixa. No instante que sua mão tocou a proteção do objeto, ele percebeu que não era cristal simplesmente. Era magia. Os estilhaços de gelo que continuavam a cair do teto, encostavam na caixa mágica e se desfaziam evaporando.
Harry fechou os olhos e tocou a caixa com as pontas dos dedos. Sentiu arder e logo observou bolhas formarem em sua mão. Queria tirar a mão e repousá-la no bloco de gelo mais próximo, mas alguma coisa falava dentro dele. Dizia para não desistir. Pedia que ele tivesse a mesma coragem que Dumbledore teve.
Ele continuou, cada vez mais, sentindo as queimaduras tomarem conta de sua mão. Até no último momento, Voldemort queria se certificar que alguém que alcançasse sua preciosa horcrux não teria condições de tocar em mais nada, a ponto de não conseguir segurá-la.
Mas Harry já sentira dores piores ao longo de seus 17 anos. Respirando fundo, e já com os olhos cheios de lágrima, ele amassou o papel e o puxou para fora da proteção. A caixa mágica estourou, chamando a atenção do dragão que agora partiu para cima do rapaz.
Mesmo com a mão em carne viva, Harry montou a vassoura, guardou o papel no bolso interno do blusão e procurou os amigos.
Avistou Hermione ajoelhada sobre Rony a um canto pequeno demais para o dragão alcançar. Ela tremia descontrolada quando Harry se aproximou. Rony estava muito machucado. Aparentemente, o dragão conseguiu agarrá-lo e arremessá-lo longe. As feridas abertas tinham um aspecto arroxeado e a respiração do rapaz parecia difícil e pesada.
Harry se encolheu, mas não cabia no espaço encontrado pela amiga. O dragão continuava a investir, e ele teve que fazer uma manobra muito arriscada para não ser pego.
Era difícil voar com a mão daquele jeito, ainda mais carregando a mochila nas costas. Pensando nisso, ele tirou a mochila e jogou-a ao chão.
Continuou voando o mais rápido que podia. Aproximou-se do portal e repetiu as palavras ditas antes. Não funcionou. Eles continuavam trancados com o dragão.
- Pensa, Harry! Pensa! – falava sozinho – Se você não soubesse voar, o que faria?
Então ele se lembrou do feitiço que Sirius mencionara. Puxando a varinha com a mão machucada, virou o corpo para trás e mirou bem nos olhos do dragão.
Acelerou mais e esperou. Se aquilo não funcionasse, poderia ser o fim de tudo. Mas era a única idéia que ele teve.
Quando faltou dois metros para colidir com uma das paredes, ele berrou:
- Conjuntivictus!
O bicho urrou, os olhos ficando profundamente inchados e cheios de pus, impedindo que ele enxergasse qualquer coisa. Harry guinou a vassoura para o alto, subiu fazendo uma curva, ficando quase de cabeça para baixo, se endireitou e acelerou a vassoura no instante em que o dragão colidia com a parede e era soterrado por blocos de gelo e uma estalactite do tamanho de um homem, atravessava-lhe o pescoço.
Harry respirou aliviado e pousou perto de Hermione que chorava muito. De qualquer jeito eles estavam presos ali. A esperança era de que Krum tivesse ouvido a batalha e viesse ajudá-los. Mas sem o medalhão como ele poderia entrar?
Os pensamentos de Harry ferviam e ele nem sentia mais a mão arder. Queria, não, precisava encontrar uma saída para salvar a vida de Rony.
- Não morre agora... não faz isso... não e deixe! – murmurava Hermione.
- Já tentou – começou Harry.
- Já tentei todo tipo de feitiço que conheço. Nada funciona! – a garota estava histérica.
- Na mochila tem remédios – informou ele.
- Já revirei a minha e não achei nada útil – exasperou-se ela.
- Vou ver se os meus são diferentes.
Harry despejou o conteúdo da mochila no chão. Ia checando e guardando tudo de novo. Até que encontrou um pacotinho que não tinha na mochila dos outros. Ele desembrulhou e viu um bule de chá amassado. No papel do embrulho estava escrito:

Diga Porttus, jogue no chão e conte até três! Depois diga Abinitio

- Porttus – falou baixinho enquanto deixava a chaleira cair.
O objeto tremeu e uma suave luz azul o envolveu por alguns instantes.
- Hermione – chamou esperançoso.
- O quê? – respondeu sem forças a menina.
- Veja, temos uma... uma chave de portal! Rápido, guarde tudo e vamos embora daqui!
Hermione deu um sorriso aliviado, enquanto algumas lágrimas ainda escorriam do rosto da garota. Guardaram tudo de qualquer jeito, e quando estavam prontos, Harry pediu que a amiga colocasse a mão de Rony na chave quando ele dissesse.
- Muito bem – falou o rapaz – Agora! Abinitio
Pela primeira vez, Harry ficou feliz de viajar de chave de portal. Onde parariam era ainda um mistério. Mas qualquer lugar fora daquela caverna seria bem visto.
Os três caíram de qualquer jeito sobre um gramado congelado pela neve. Por instantes, Harry chegou a temer que não tivessem sequer saído da caverna. Mas uma voz conhecida o chamou e ele soube que estavam em casa.
- O que aconteceu? – perguntava Tonks.
- O Rony, ele precisa de ajuda, rápido! – foi só o que conseguiu dizer.
- Todos vocês precisam de ajuda – disse a auror – Lupin, venha, me ajude aqui!
Mas quando a porta da casa se abriu quem veio ajudar Tonks foram Gui e Fleur.
- Vamos rápido. Precisamos aparatar no St Mungus agora.
Gui pegou Rony no colo e foi para o hospital. Tonks seguiu com Harry enquanto Fleur acompanhou Hermione.
Os três foram atendidos com agilidade apesar do aumento no número de doentes e acidentados, todos atacados por comensais, lobisomens, gigantes e até vampiros.
Rony foi o mais sério dos casos, tendo que sofrer inúmeros procedimentos dolorosos, enquanto os médicos interrogavam Harry e Hermione a todo instante para dizerem qual a espécie de dragão, a cor das garras, dos olhos e o tipo de labareda que ele lançava.
A mão de Harry ficaria boa, mas demoraria ainda umas duas semanas para a pele crescer por completo.
- Você teve sorte, rapaz – falou um médico muito simpático – mais dois segundos e a carne poderia ter soltado dos ossos. E isso é mais difícil de tratar.
Rony foi levado para a mesma ala em que o Sr° Weasley ficou quando foi atacado por Nagini. Mas diferente do pai, ele não estava acordado. Na verdade os médicos o manteriam assim por mais uns dias.
Todos os funcionários do St. Mungus eram treinados para serem discretos e não fazer perguntas as quais sabiam que não obteriam respostas. Isso poupou Harry e Hermione de explicações por um período.
Só quando voltaram para casa é que tiveram que explicar tudo o que aconteceu. E foi quando Hermione começou a contar a sua parte é que Harry realmente soube o que aconteceu com seu melhor amigo.

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