Capítulo 1
A escuridão tomava conta do local, era impossível ver alguma coisa ao redor. Há alguns metros havia luz e algumas pessoas conversando, mas eu não queria estar lá, na verdade não queria estar perto de nenhum ser humano. A única coisa que me acalmava era o som das folhas fustigando e a brisa batendo no meu rosto. Tudo parecia estúpido, tudo parecia ridículo. As pessoas se tornavam triviais, todas elas. Era repugnante, eu simplesmente queria ficar o mais longe possível. Sentada embaixo de uma árvore estava eu, pensando em como alguém poderia ser tão cruel e sádico. A cena passava pela minha cabeça diversas vezes e isso fazia eu me sentir cada vez pior. Minha imaginação estava à tona e eu estava pensando em coisas absurdas. Algumas frases faziam mais sentido, algumas desculpas, algumas falhas... Tudo se encaixava. Ou talvez eu apenas estivesse fantasiando. Nunca saberei. Aquela imoderação de beijos me deixava tonta, as lágrimas começavam a deixar minha roupa incrivelmente molhada. As luzes iam ficando mais fracas e eu não conseguia manter minha respiração normalmente.
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Abri os olhos com um pouco de dificuldade, eles estavam inchados e o sol estava forte. Quando finalmente consegui, notei a imagem embaçada da enfermaria. Estava deitada em uma cama, sentia frio e minha garganta doía muito. Ao notar que eu estava consciente, Madame Pomfrey veio andando em minha direção com um sorriso impaciente.
-Que bom que você já acordou! Agora a senhorita pode me explicar o que fazia nos jardins ontem a noite sozinha. – falou sem se alterar.
-Eu preciso mesmo?-perguntei embaraçada. Não queria falar dos meus problemas com a enfermeira da escola. Ela ficou ali imóvel esperando a explicação como se eu não tivesse feito pergunta alguma.
-Eu não estava me sentindo bem, fui dar uma volta, não sei o que aconteceu depois. Acordei na cama. A Senhora poderia me contar o que houve? – tentei.
-Olha, a senhorita desmaiou, provavelmente ontem à noite, isso explica o fato de estar com febre e a garganta inflamada. Ontem de madrugada choveu e hoje pela manhã felizmente um dos alunos da Sonserina te encontrou desmaiada no jardim. – falou a mulher calmamente entregando-me uma taça. – Tome isso, vai se sentir bem melhor.
-Um aluno da Sonserina?- repeti levantando a sobrancelha esquerda.
-Draco Malfoy. –respondeu indo até uma outra cama.
Eu arregalei os olhos e a chamei.
-Madame Pomfrey, a senhora tem certeza?
-Sim. –respondeu.
Eu demorei um pouco pra pensar, fiquei ali parada esperando ela voltar e dizer que estava brincando. Mas ela não voltou. Virei o remédio e percebi que não era um sonho, aquele gosto amargo realmente provava que eu estava acordada.
Quando saí da enfermaria, desci as escadas em direção ao jardim. A maioria dos alunos estava em aula. Sentado a frente ao lago da Lula Gigante, estava o loiro olhando fixamente para a água. Aproximei-me. Sabia que me arrependeria profundamente depois disso, mas o fiz.
-Malfoy...-chamei.
-O que você quer Granger? - perguntou sem olhar pra trás.
-É... A Madame Pomfrey falou que você me ajudou...
-Eu não te ajudei, Granger. Eu fiz isso pra poderem descontar seus pontos por você estar fora do seu quarto. – falou rapidamente.
-Enfim, você acabou me ajudando, mesmo que não tenha sido a sua intenção. Obrigada. -agradeci virando-me em direção ao castelo.
-O que você estava fazendo sozinha de noite no jardim, Granger? –perguntou ainda sem mexer a cabeça.
-Porque o repentino interesse, Malfoy?- quis saber um pouco espantada.
-Curiosidade. Sabe, você devia tomar mais cuidado ao sair assim, sozinha, à noite. – comentou sarcasticamente.
-Obrigada pela preocupação, Malfoy. Eu sei me cuidar, de qualquer forma, eu não esqueci como se soca a cara de alguém. –respondi sorrindo.
-Você descobriu sobre o Potter e a Cho não foi? –perguntou secamente olhando para mim.
-O que? Do que? Do? Cala a boca, Malfoy! -gritei com raiva.
Como ele sabia?Será que todos sabiam menos eu? Todos sabiam que meu namorado me traia e ficaram rindo de mim?
-É... Definitivamente foi isso. Eu sempre te disse que ele era um canalha, mas você nunca me ouviu, não é sangue-ruim? –lamentou-se com um sorriso nos lábios.
-Você não sabe nada, seu babaca.
-Eu sei mais do que você imagina. - respondeu me deixando sem palavras.
Fiquei apenas olhando para ele se divertindo com a minha cara de espanto. Ele levantou e parou em frente a mim.
-O que você quer dizer com isso? –perguntei.
-O Potter sempre ficou com a Cho. Todo esse tempo que vocês namoraram ou sei lá o que vocês tinham. A amante do seu namorado tem a boca um pouco grande. Uma hora você iria descobrir, não fique triste.
Senti uma pontada no coração, meus olhos se encheram de lágrima e eu não sabia o que falar. Sentei no chão e abracei meus joelhos chorando ainda mais.
-Você vai chorar agora, sangue-ruim? Você é uma idiota mesmo! Por isso ele te traiu! Bem feito. Até que enfim aquele estúpido do Potter fez alguma coisa direito. Olha pra você. Seu estado é lamentável. Ainda dá moral pro garoto que te botou um par de chifres. Vocês dois se merecem! –disse o loiro com raiva.
Eu havia parado de chorar e estava olhando para ele com o rosto todo vermelho e molhado.
-Você acha que é fácil não é? Você é um egocêntrico, você não gosta de ninguém Malfoy. É por isso que ninguém gosta de você!
-Eu não preciso que ninguém goste de mim. –afirmou ele.
-Você me dá nojo. -retruquei.
-Que coincidência! Você também me dá nojo. Querendo mostrar pra todo mundo que é frágil e se fazendo de idiota. Acha que é esperta só porque decorou metade da biblioteca. Você não é Granger. Você não é.
Eu parti pra cima dele. Queria lembrar da sensação do meu punho entrando em seu nariz, mas o loiro segurou minhas mãos, puxando-me para bem perto.
-Você não vai me bater de novo, sangue-ruim. –avisou ele com a boca a cinco centímetros da minha.
Meu joelho entrou pelo meio das pernas dele, fazendo-o gemer de dor e me soltar.
-Sua estúpida!-berrou ele caído no chão, se contorcendo e segurando suas partes íntimas.
-Você é um babaca. –balbuciei olhando-o com desprezo e deixando o local.
Segui para o Salão Principal com a cabeça levantada. Ninguém mais ia me fazer de idiota. Sentado a mesa da Grifinória estava Harry e Rony.
-Mione! Você ta bem?-perguntou Rony vindo até mim correndo.
-É, eu to. Preciso que você me diga uma coisa. –avisei.
-O que?
-Você sabia do Harry e da Cho?-perguntei amarga olhando-o diretamente nos olhos.
-Uhum. -murmurou o ruivo olhando para o chão.
-E você não me disse nada? Como você pôde fazer isso comigo também, Rony?
-Vocês estavam bem, eu tentei falar com o Harry, mas ele tinha medo de te machucar.
-Ele é um idiota. Quer saber? Vocês dois são idiotas! Eu achei que podia contar com você. -disse lacrimejando.
-Mione, desculpe-me. Não... eu...-ele não tinha o que falar.
Deixando-o parado no meio do Salão Principal, rumei para as masmorras. Aquela aula só me deixaria com mais raiva do mundo. Não estava certo. Como aquele babaca com cicatriz na testa podia ter me traído? Ainda mais com a japonesa imbecil.
-Se ele pensa que vai ficar por isso mesmo, ele ta muito enganado. -sussurrei pra mim mesma.
-Agora deu pra falar sozinha, coisa horrorosa?-perguntou Malfoy, parado em frente à porta da sala de Snape.
-Você quer outro chute, loiro de farmácia?
-Sabe porque ele te traiu?
-Você não sabe nada. Eu não preciso que você me diga nada. Cuida da sua vida, Malfoy. -mandei aumentando o tom de voz.
-Pra que? É mais divertido te ver sofrendo. -respondeu abrindo aquele sorriso que só ele sabe dar. O maldito sorriso que me deixa com mais raiva ainda. Aquele que me deixa completamente sem respostas.
-Olha, cabeça de ovo, vai encher o saco de outro. Falta só um pouquinho pra minha paciência acabar. -lançei-lhe um olhar ameaçador.
-Você acha mesmo que me coloca medo? Olha pra você, vassoura ambulante. -disse dando mais uma vez mostrando os dentes dentro daquele sorriso insuportável.
Ele estava querendo um soco. Agora eu tinha certeza. Subitamente corri pra cima dele, empurrando-o contra a parede. Ele soltou um gemido quando seu corpo se chocou com o concreto. Segurou meus pulsos com força e deu a volta, ficando atrás de mim, para que eu não o chutasse. Eu tentava me soltar, mas ele realmente era forte.
-E agora, Granger? Pra quem você vai pedir ajuda?-sussurrou o loiro pertinho do meu ouvido fazendo os pêlos da minha nuca se arrepiarem.
-Idiota!-gritei tentando socá-lo com o cotovelo.
- O que está acontecendo aqui?-interrompeu Snape olhando para nós dois com desaprovação.
-Ele ta me batendo!-tentei.
-Aposto que a senhorita o provocou. -falou Snape.
Malfoy sorriu triunfante e me soltou. Ótimo, agora o babaca com cabelos sebosos ia me descontar pontos e me deixar na detenção.
-40 pontos a menos para a Grifinória. Os dois vão pegar detenção por ficarem gritando em meu corredor. Hoje às 8 da noite na sala do Filch. Entrem e sentem-se em seus lugares sem falar uma palavra. -mandou o professor ríspido.
Era só o que me faltava. Detenção com o Malfoy e menos 40 pontos pra minha casa. Pelo visto só estavam acontecendo coisas boas na minha vida. Malfoy me fuzilou com o olhar enquanto entravamos na sala. Uns dois minutos depois, Rony e Harry chegaram com os demais alunos e sentaram-se nas carteiras do fundo. Neville pediu para sentar comigo e eu concordei.
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