Não Agora






Dessa vez era sério. Gina e Harry haviam realmente brigado, a ponto de não se falarem havia então três semanas. A ruiva conseguira fazer o piercing, vísivel no irrisório – porque se fosse maior, McGonnagall certamente proibiria – espaço entre a saia e a camisa da escola, e o rapaz sequer parecia ligar. Estava pregando uma atitude de “se ela quer se matar, que vá em frente, e eu nem vou chorar no enterro” em relação a Gina, e podia-se dizer o mesmo dela. Draco já estava havia tanto tempo sendo usado, que Hermione começava a pensar se ele não teria sido promovido a titular, pegando para si o cargo que era do moreno. E, apesar de todas essas atitudes-problema, Hermione ainda achava um estímulo para sorrir: Ray. Era a mais pura verdade que ela estava nas nuvens com seu relacionamento. O “tempo”, ao invés de afastá-los, aproximara-os, e a garota não sentia remorso algum naquele momento.

Uma pessoa não podia se dizer feliz com aquela repentina volta do casalzinho. Rony andava bufando, resmungando e implicando com quem pudesse, em especial se esse alguém fosse Hermione. Era uma atitude quase repulsiva, mas inevitável.

A realidade era que o ruivo nunca se dera conta de quanto a amiga havia crescido até vê-la nos trajes da festa. Não percebera a gradual e sensível mudança que ocorria ano após ano, e, quando a percebeu, o fez de uma vez só, numa avalanche descontrolada de “Merlin do céu, essa é a Mione? A pequena e sabe-tudo Mione?”. E, como uma pontinha de um iceberg, o ruivo sabia que ela mexera tremendamente com ele; não pelo que havia na superfície, mas por todas as mudanças e mistérios que ele não percebera. O ciúme já fazia parte de si, porejando de quando em vez, aflorando, engolfando-o, por vezes, e quase o sufocando.

Gina sabia. Ela era uma curiosa implacável, e parecia ler mentes, às vezes. Ela sabia que Rony estava se digerindo de ciúmes de Hermione, e que a garota também sentia muitos ciúmes da relação próxima entre o ruivo e Susan, mas era a única. Ninguém mais sequer pensava em perceber isso. Harry e ela própria eram assuntos mais rentáveis no quesito fofocas. O que, para os amigos, era um alívio considerável.

Certo dia, quando McGonnagall decidiu remanejar as escalas de patrulhamento de corredores, Hermione ocasionalmente não lembrou da reunião, sendo deixada para um par qualquer. Quando ela soube e foi atrás de quem poderia ser seu par de patrulha, encontrou Rony. Menos mal; podia ter sido Mariah. E ela até então não conseguia entender por que odiava tanto a loira.

— Espero que não se importe – disse o ruivo, sorrindo.

— Ah, não. – Ela deu de ombros. – Indifere.

— Nossa, muito obrigado pela parte que me toca – replicou o rapaz, sarcástico.

— Rony, você sabe que eu não me importo com quem faz ronda comigo, desde que seja um ser humano competente – brincou ela, com um sensível tom de censura.

— O que quer dizer que você admite que ao menos um ser humano competente eu sou – concluiu Rony, rindo. – Você é impagável, Mione. Totalmente.

— Bem, eu convivi com a sua querida irmãzinha, lembra? – Ela riu também. – Falando de trabalho, agora, nosso primeiro turno é hoje, amanhã, semana que vem...?

— Amanhã – respondeu ele, sério. – Mas eu fiz um trato com Suzie e um monitor da Lufa-Lufa: eles pegam o nosso turno se pegarmos o deles, na sexta da semana que vem.

— Por que eu concordaria com isso? – perguntou Hermione, sem ver lógica alguma em pegar um turno de sexta-feira. Sexta-feira era o pior dia da semana para se fazer ronda, perdendo, no máximo, para as noites em que Gina efervescia a Escola.

— Eu preciso estudar – replicou o ruivo, dando de ombros. – Pensei que você podia me ajudar. É para a primeira fase do pré-exame de admissão de aurores. Como minhas notas em Poções não são a oitava maravilha do mundo, precisarei fazê-lo.

— Hum... – Ela pareceu considerar, mas, por fim, acabou cedendo à sinceridade do amigo. – Bem, tudo bem, então. Eu te ajudo.

Rony agradeceu, e pairou entre eles um silêncio incômodo. Estavam no meio de um corredor quase deserto, apenas conversando, mas parecia que algo estava um pouquinho errado. Alguma coisa. Qualquer coisa.

— Você mudou seu estilo de roupas – comentou o ruivo, mais para quebrar o silêncio que por outra razão.

— Gina mudou para mim – replicou ela, num movimento displicente. Trajava o uniforme reformado, com um cinto de cetim preto e uma ècharpe cintilante que parecia gaze prateada sobre esse. Como a ruiva dissera, o efeito era consideravelmente legal. As meias haviam sido substituídas por meia-calça, e o sapato ganhara alguns centímetros de salto. – Ela assassinou meu uniforme, meus sapatos, e tudo o mais.

— Eu gostei – confessou ele, desviando os olhos por um momento. – Parece que tira aquela sua aparência de criança.

— É mais trabalho para você – riu-se ela. – Como meu amigo, é sua função me proteger, e sua irmã não está colaborando com isso.

— Ela nunca colaborou comigo; não o faria agora.

Uma rajada de vento passou pelo corredor, e Hermione sentiu todos os seus pêlos se arrepiarem. Estremeceu. Rony foi para junto dela e passou o braço ao redor de seus ombros. Ela sentiu o calor irradiando-se por seu corpo, e não pôde evitar perceber que o ruivo realmente era cheiroso. Não houvera uma vez sequer que a garota tivesse sentido nele o cheiro torpe de suor ou sujeira. Ele sempre cheirava a sabonete. O tempo inteiro.

— Vamos para um lugar com menos correntes de ar – murmurou ele, envolvendo-lhe a cintura de uma maneira confortável como ela nunca pensara ser possível com o braço livre e caminhando em direção ao Salão Principal.

— Obrigada – disse ela, num sussurro quase inaudível.

Ele a fitou, e a garota sorriu, mas, quando ele perguntou o que fizera para merecer o agradecimento, ela manteve-se calada. Não se pode agradecer alguém por simplesmente nascer.

Chegaram às escadas e Hermione avistou Ray. Era hora do jantar, e o rapaz foi até ela imediatamente, tirando-a dos braços de Rony e beijando-a com ardor. O ruivo sentiu que uma crise de ciúmes estava prestes a despontar, então decidiu sair de perto dos amigos e refugiar-se ao lado de Harry na mesa de jantar. Hermione jantaria com Ray; Gina, com Draco.

— Alô – saudou-o o moreno.

— Fala, Harry. – O ruivo sentou-se. – Algo novo?

— Uma garota nova e bonitinha do quarto ano – respondeu ele. – Tirando isso, nadinha.

Rony serviu-se e não pôde evitar resvalar os olhos pelas mesas em que se sentavam a irmã e a amiga. Virou-se para o moreno novamente, mexendo apaticamente no purê de batatas.

— No quesito amor, a gente só se ferra – disse, levando o garfo à boca.

— Fazer o quê? – retrucou o outro, resignado. – Mulheres difíceis mais concorrência pesada é igual a chifre ou, no caso mais otimista, um coração esmigalhado.

Era visível que ambos estavam completamente destituídos de sentido em qualquer empreendimento que envolvesse garotas. Na realidade, tinham as chances de ter as duas que queriam, mas eram orgulhosos demais para admitir que precisavam delas.

Naquela mesma noite, após o jantar, Gina contrabandeou Draco para dentro da Sala Comunal da Grifinória, como ela fazia de vez em quando. Ray ficara com Hermione perambulando pela Escola. Harry estava irritado. Precisava, de alguma maneira, qualquer que fosse, menosprezar Draco ou Gina de modo que os dois se sentissem terrrivelmente mal.

Teve a oportunidade quando Draco sentou-se a seu lado, esperando Gina subir as escadas e trocar de roupa.

— Você deve estar se sentindo um lixo – disse o moreno, sarcástico.

— Por que estaria? – perguntou o outro em resposta.

— Você foi rebaixado, oras. De garoto mais cobiçado a estepe de uma patricinha. – Ele riu. – Que grande passo.

— Ao menos o estepe nunca leva chifre – retrucou o outro, cáustico.

— Mas nunca vai ter a garota – emendou Harry. – Olha, Malfoy, você sabe que o meu problema não é com você...

— Então você deveria tratar dele com a pessoa que realmente importa, e não com um mero coadjuvante. – Ele se ergueu ao avistar a ruiva que descia as escadas. – Eu só faço o meu trabalho.

— Que legal... Agora amante se chama estepe. E virou trabalho. – O moreno desviou os olhos, seco e sarcástico. – Vá f...

Não pôde prosseguir quando notou a roupa da namorada. Era a sua roupa. A roupa que ele dera a ela, e que ela prometera que nunca usaria num encontro que não envolvesse os dois. Ela prometera. Harry fraquejou. Merda. Gina mentira. Não era novidade, mas doía bastante.

— Venha – disse a ruiva, chamando-o com a mão. – Quero que você veja uma coisa.

Sim, ela se dirigia ao moreno, mas ele preferiu fingir que não a notava. Ele não percebeu também que Gina pretendia que aquele encontro envolvesse os dois. Foi apenas estúpido demais para entender a garota, e galgou as escadas rumo ao dormitório. Não viu quando Gina subiu novamente, colocou outra roupa e desceu para encontrar Hermione e Ray para um passeio noturno nos corredores.

A Mulher Gorda estava de péssimo humor quando deixou que os dois passassem para se unir ao outro casal, que os esperava do lado de fora. Gina pareceu um pouquinho desapontada aos olhos perceptíveis e doces de Hermione, como se algo houvesse dado tremendamente errado. Com um gesto cauteloso, ela pegou a amiga pelo braço e perguntou-lhe baixinho:

— É o Harry, ainda?

Ela concordou com a cabeça. Suspirou fundo e explicou brevemente à amiga:

— Ele não quis vir comigo. Não quis sequer me ouvir. Estou acabada, Mione. Eu realmente o amo, independente do que eu faço para tirá-lo do sério. Não vou suportar se ele me deixar. Você sabe que não.

— Ginny... – Ela aconchegou a ruiva contra si e afagou-lhe os cabelos com carinho, como ela fizera tempos antes. – Oh, Gi, você sabe que ele vai voltar para você...

— É fácil para você dizer – replicou ela, sentida. – Você tem o Ray. Você sempre vai ter o Ray.

E, naquele momento, e não pôde saber o porquê, Hermione não acreditou inteiramente nas palavras da amiga.

— Gina, volte para a Sala Comunal – pediu Draco, solícito, um pouco amargurado. – Você não está bem.

— Estou ótima, Draco – respondeu ela, malcriada, sorrindo lascivamente. Não parecia que estivera se lamentando nos braços da amiga segundos antes. – Eu disse a você o que eu queria se não funcionasse, e você disse que me daria.

Hermione preferiu não tomar partido, e deixou que o casal se fosse. Mais tarde, viria a saber que os dois haviam inundado o banheiro dos monitores de espuma e bolhas coloridas. Nunca perguntou a Gina o motivo.

— Já que eles ficarão perambulando por aí, o que faremos? – perguntou Ray, sorrindo e puxando-a para junto de si. – Seguiremos o exemplo deles ou seremos mais criativos?

— Na realidade, Ray, acho que seremos mais racionais – tolheu-o ela, tocando as mãos que envolviam sua cintura. – Quer dormir lá em cima comigo?

— Você diz na mesma cama, naquele espacinho irrisório, na sua Sala Comunal, tendo que passar por todos aqueles feitiços e coisas do gênero? – Hermione concordou com a cabeça, temendo que ele dissesse não. – Claro! Não seja por isso.

A Mulher Gorda girou sem se dar conta de que Raymond não era da Grifinória; o rapaz estava sempre por perto, mesmo.

Os dois sentaram-se em frente à lareira para se aquecer um pouco antes de subir. Hermione descobrira um jeito de inibir o feitiço da escada do dormitório feminino, embora fosse um pouquinho complicado e chato. Ela aproximou-se o máximo que pôde do namorado e murmurou:

— Nós sempre ficaremos juntos no final, não ficaremos?

— Sempre, Mione. – Ele beijou-a fervorosamente, afagando os cabelos da namorada com amor. – Sempre.

Acabaram subindo já de madrugada. Conversar com Ray era muito simples; ele não era daqueles que só sabiam falar de Quadribol e garotas. As conversas com ele sempre adquiriam um caráter sério e cômico ao mesmo tempo. Era bom.

Após um esquema complicadíssimo e inconceituável para conseguir galgar as escadas-escorregador para o dormitório feminino, eles conseguiram finalmente alcançar o aposento. Hermione tomou banho e vestiu um pijama de malha, bem simples, mas muito bonitinho. Raymond tomou banho também e, como não tivesse roupa para vestir, deixou que a namorada conjurasse um pijama curto para ele. Depois, deitaram-se lado a lado e ele passou o braço pela cintura da garota, puxando-a para si e aquecendo-a. Adormeceram naquela posição e sequer se importaram com a possibilidade de alguém vê-los de manhã cedo.

Deveriam ter se importado. Quando acordaram, perceberam que realmente deviam ter se importado. A cara de Parvati era de quem conseguira finalmente pegar alguém em flagrante. A seu lado, Lilá dava risinhos irritantes. Hermione tratou de esconder o rosto de Ray, para que não reconhecessem o rapaz – isso seria mais complicado do que lidar apenas com o fato de que ela dormira ao lado de um garoto.

— Como ele entrou aqui? – perguntou Parvati, histérica e triunfante. Ela às vezes tinha alguns... problemas com Hermione. Só às vezes.

— Vamos conversar lá fora, okay? – pediu a outra, se erguendo, pegando o robe e saindo com as duas fofoqueiras do dormitório. – O que há de errado?

— Você sabe melhor que qualquer um que não são permitidos garotos no dormitório feminino! – exclamou Lilá, espantada. – Como é que você levou um para lá, antes de tudo?

— Olha, não houve nada, não precisam se preocupar – disse a garota.

— Diga quem era, e nós prometemos que ficaremos caladas – replicou Parvati.

Hermione negou com a cabeça. Era óbvio que elas queriam uma fofoca em primeira mão. O caso de Gina e Harry já estava ficando manjado, e elas não suportariam não ter um assunto novinho em folha para comentar. A garota, no entanto, não sabia o que fazer. Não podia dizer que era Ray, estava fora de cogitação. Harry? Bem, o moreno entenderia, mas Gina não, com toda a certeza, e demoraria um bocado para que ela acreditasse que era apenas uma mentirinha. Além do mais, renovaria todo o drama da separação dos amigos, e ela não queria isso.

Enquanto ela sentia a pressão aumentar e as duas garotas à frente pareciam completamente impacientes, um abraço envolveu-a por trás. Era muito cedo, ela podia perceber, e as pessoas ainda não haviam começado a acordar. Sentiu um beijo estalar em seu pescoço e uma voz rouca de sono e provocante dirigiu-se a ela:

— Dormiu bem, amor?

Ela boquiabriu-se quase imperceptivelmente e voltou a cabeça para ver se realmente reconhecera a voz ou estava apenas surtando. Reconhecera. Atrás dela, nu da cintura para cima e com os cabelos completamente despenteados, estava Rony. Voltou-se para as garotas.

Rony?! – Elas não acreditavam. – Vocês dois são monitores, pelo amor de Merlin!

— Menos escrúpulos, meninas – disse o rapaz, sorrindo. – Seus namorados também grudam em vocês em locais proibidos, e eu nunca as denunciei.

— Mas... – Parvati perdeu a fala. Estava estupefata. Hermione não tinha um namorado? Como raios, então, ela estava dormindo com outro cara? – Bem, eu vou... Nós vamos descer para o café... Vistam-se, por favor, antes que os primeiranistas os vejam.

As duas desapareceram pelo buraco do retrato. Hermione voltou-se para Rony. Não precisou perguntar.

— Ray me viu passando – disse o rapaz. – Explicou a situação.

Rony nunca admitiria que a sugestão fora dele. Não seria certo. De alguma maneira, não seria certo.

Parvati e Lilá tinham, com certeza, uma rede muito experiente em difundir notícias quentes. Ray, Rony e Mione tornaram-se o assunto do dia e, a despeito do falatório, continuavam irrepressivelmente amigos. Ninguém entendia, mas, afinal de contas, ninguém mais sabia da verdade.

Naquela noite, após muitos comentários e perguntas constrangedoras, Hermione finalmente conseguiu um pouco de sossego ao entrar na biblioteca para estudar com Rony. Encontrou o ruivo sentado, escrevendo feito um condenado em um pedaço de pergaminho comprido. Trancou a porta ao passar, como ele lhe pedira, e sentou-se a seu lado. O rapaz demorou a perceber que ela se encontrava ali, mas, quando o fez, foi fervorosamente, com um abraço apertado e um beijo estalado na bochecha da amiga.

— Está conseguindo? – perguntou ela, sorrindo e olhando a letra do amigo.

— Preciso de um livro – disse ele. – Um livro bom, muito bom, sobre Conversão de Feitiços em Poções.

— Bem, eu conheço um... – Ela hesitou. – Mas vou precisar de ajuda para pegá-lo. Ele fica muito no alto, e você sabe que não podemos usar magia na biblioteca.

— Não seja por isso. – Ele se ergueu. – Se importa se eu tirar essa camisa? Está um calor desgraçado aqui nessa biblioteca fechada.

— Ahm... Não, fique... Fique à vontade.

Rony tirou a camisa e deixou-a nas costas da cadeira, seguindo então Hermione ao local em que o livro estava.

Irmão da sua melhor amiga, irmão da sua melhor amiga, repetia ela para si mesma sempre que se virava para checar se o ruivo a estava seguindo.

Ela não sabia que, sempre que olhava para ele, os pensamentos do rapaz se fundiam e se tornavam uma única súplica de sua consciência: Ela é a namorada de seu amigo, fruto proibido, finja que não a vê, por Merlin, finja que ela é só uma menininha boba...

Era complicado. Muito complicado, para os dois. Quando chegaram à estante, ele percebeu que Hermione não exagerara. O livro estava na prateleira mais alta, e nem pulando ela o alcançaria.

— Você tem alguma idéia? – perguntou ela.

— Suba em meus ombros – sugeriu o rapaz, prático. – Você é bem leve e, de qualquer forma, eu sou alto o bastante para suprir a altura que lhe falta para alcançar o livro.

— Ei, você está me chamando de baixinha? – A garota boquiabriu-se, mas riu em seguida. – Tudo bem, abaixe-se para eu subir.

O ruivo sentou-se sobre os calcanhares e ela tirou os sapatos de salto. Subiu nos joelhos dele e depois em seus ombros. Ele segurou-a pelos tornozelos para sustentá-la melhor, mas ela ainda tremia, então ele subiu as mãos mais um pouco, chegando pouco abaixo dos joelhos.

— Não olhe para cima! – exclamou ela, procurando se equilibrar e pegar o livro.

Ele riu. Se olhasse para cima, veria até a alma da amiga, e ela com certeza ficaria muito constrangida. Esperou pacientemente que ela pousasse o livro em uma prateleira mais baixa – era um volume gigantesco e pesado. Quando ela o fez, ao invés de ele se abaixar para que ela pudesse descer, o rapaz pediu que ela flexionasse os joelhos e, segura por ele, ela pulou. As mãos do ruivo escorregaram pelo corpo da garota, indo para em sua cintura e levantando saia e blusa por onde passavam. Assim que chegou ao chão, Hermione quis desvencilhar-se dele, mas ela descera tão rente ao corpo do amigo que sua meia calça desfiou e prendeu no botão da calça dele.

— Ah, meleca! – exclamou ela, suspirando.

— Puxe – disse ele, sem soltá-la.

— Eu acabarei voltando sem meia-calça, se fizer isso, e, se alguém estiver acordado na Sala Comunal, teremos muito o que explicar, principalmente depois dos boatos de hoje. – Hermione revirou os olhos. – Como eu tenho sorte, hein?

Rony sorriu. Ela ameaçou brigar com ele, mas não pôde. Por algum motivo, não pôde. Ficou apenas ali, fitando-o por muitos momentos, aquele olhar recíproco, culpado, de quem precisa de algo que lhe é proibido e nunca vai admitir. Ele segurou-lhe a mão, enquanto o sorriso esmaecia, preservado apenas nos olhos claros. Guiou-a até seu rosto, sentiu a mão da garota tocar-lhe a face com carinho. Segurou-lhe o queixo com cuidado e beijou-a, um beijo lento e fundo, com o sabor de proibição que Hermione nunca antes experimentara.

— Rony... – murmurou ela, de olhos fechados e lábios ainda tocando os do ruivo. – Não faça isso comigo...

Se ele atendesse, seria a pior traição de sua vida, e ela sabia disso. De alguma maneira, ela sabia disso muito bem. O rapaz comprimiu contra os seus os lábios da garota, apoiando-lhe as costas sob a camisa, sentindo a tez macia estremecer a cada toque de seus dedos gelados e sequiosos. Era uma oportunidade, provavelmente a única, e ele não a desperdiçaria. Explorando cada centímetro de pele que podia da garota, ele foi seduzindo-a, de uma maneira passional, amante acima de tudo. Hermione não resistiu. Resistir valeria tão a pena quanto pedir a um trouxa que invocasse Merlin. Ela espalmou as mãos quentes nas costas do ruivo, querendo manter-se o mais perto possível dele. Os dedos do rapaz desviaram-se para os botões da blusa da garota, abrindo-os um por um e tocando o ventre então nu com leveza. Ela estremeceu de tal forma que cravou as unhas nas costas do ruivo e arranhou-o, e ele inspirou sofregamente, ferido. Com cuidado, desvencilhou a meia-calça de Hermione de sua calça e removeu-a num movimento rápido e quase imperceptível. Ela não objetou. Ele tirou a camisa já aberta da garota e encostou as costas macias e nuas na parede gelada, beijando com paixão o colo exposto de Hermione, percebendo nela as mais diversas reações.

— Rony, Mione, é hora de assinar a lista de ronda! – exclamou uma voz feminina do lado de fora da biblioteca.

Os dois se desvencilharam prontamente. Hermione, ágil, vestiu novamente a camisa e gritou um “obrigada” para as pessoas do lado de fora do local. Depois, ofegante, voltou-se para Rony. O rapaz parecia tranqüilo. Ela fez um gesto impaciente de negação com a cabeça e olhou para o chão em busca da meia-calça. Não a avistou.

— Cadê?! – exasperou-se ela.

— O quê? – perguntou ele, com as mãos enfiadas no bolso do jeans, sereno.

— Cadê a minha meia-calça? Ronald Weasley, devolve a minha meia-calça!

— Ei, nem fui eu que tirei!

— Claro, ela saiu sozinha! – Ela suspirou. – Rony, por Merlin...

Ele revirou os olhos e tirou uma das mãos do bolso, estendendo a Hermione a meia-calça quase completamente intacta. Ela vestiu-a rapidamente e calçou os sapatos. Depois, sem olhar para trás e escarlate de vergonha, a garota deixou a biblioteca e assinou o pergaminho da ronda no Salão Principal. Não quis saber de Rony. Mal queria saber de si mesma. Culpa.

*♥ ~* ♥ * Ron/Hermione 4 Ever * ♥ *~ ♥ *

— Frio, querida? – perguntou Ray, aconchegando-a mais contra ele.

— É, talvez um pouco. – Ela relanceou os olhos para Rony, mas voltou a atenção à comida em seguida, murmurando quase inaudivelmente. – Talvez um pouco.

Ela sabia que nunca poderia contar a Ray. Ele morreria. Ele gostava dela. De verdade.

*♥ ~* ♥ * Ron/Hermione 4 Ever * ♥ *~ ♥ *

Agradecimentos a:

Naty, que resolveu comentar, depois de algum tempo, né, dona Naty? Thak you, girl, por tudo.

Raysa, que continua lendo *.* Que empenho o seu, moça... Muito obrigada.

E quem não comenta, por favor, comente...

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