Ele vem com a noite

Ele vem com a noite



Capítulo 1 – Ele vem com a noite


“They stood in the door and stood between

My great wood lectern and the fire

Till I could hear their hearts beating:

One is a harlot, and one a child

That never looked upon man with desire,

And one, it may be, a queen. “
(Presences , W.B.Yeats)

“Continuava a analisá-lo quando ele se voltou para sorrir ao homem que o acompanhava, depois de deitar um olhar à casa.
Continuava a lê-lo quando conseguir vislumbrar os olhos dele. Verdes. Espantosamente verdes.
E ainda não conseguira descolar o olhar quando os seus olhos encontraram os dele pela primeira vez, provocando-lhe um desequilíbrio e uma queda aparatosa.”


Certo, isso doera. Tentando recompor-se o mais rápido possível, Ginny levantou-se de um salto e compôs as dobras do vestido cinzento puído. Alinhou de forma descuidada os cabelos vermelhos, mais curtos do que o normal, e motivou-se a si própria a entrar em casa sem sequer olhar para trás.


Mas como estranhamente já previa, os seus olhos não resistiram a procurar uma fenda entre as tábuas da vedação para encontrar de novo aqueles olhos verdes. Corou até à raiz dos cabelos quando notou que ele ainda olhava para o ponto onde ela estivera momentos antes.


Forçou-se a mostrar alguma dignidade e a ignorar aquele desconhecido tão perturbante. Então teriam novos vizinhos, alguém suficientemente temerário para ir viver numa mansão que não só tinha uma história aparentemente sombria, como ainda ficava colada à casa da família maldita ao regime de Voldemort. Coragem era coisa que não faltava naqueles olhos verdes…tão profundos…tão sofridos...


Abanou a cabeça, tentando calar aqueles pensamentos. Tinha coisas mais urgentes a fazer, como levar de uma vez aqueles gravetos de lenha para dentro de casa e preparar o jantar.
Voltou costas de forma decidida e dedicou-se a recolher os pedaços raquíticos de madeira, cantarolando baixinho uma canção triste sobre as almas que cruzavam o rio Severn nas gotas de orvalho.


“…E tudo o que eu nunca vi

Está agora perdido para mim

Na margem do rio Severn”


Mordeu o lábio pelo peso que carregava. Desde a súbita mudança que ocorrera nas suas vidas, era ela quem se encarregava de muitas tarefas relacionadas com o lar. Os seus irmãos tentavam ajudar, mas ela estava certa de que aquilo só a ajudava. Carregar um grande peso nos braços de certa forma diminuía o enorme peso que se avolumava constantemente no seu peito.


Alguns momentos depois, a água já fervilhava numa panela escura e coberta de fuligem e ela descascava com gosto alguns legumes para a sopa. Aquilo ajudaria os seus irmãos a conseguirem restaurar as suas forças. O seu cabelo fora um preço pequeno pela salvação daqueles que amava, os últimos que ainda sobravam daquilo que antes fora uma família feliz e sempre rodeada de amigos.


Sem querer a sua mente se esquivou daquela cozinha e vagueou pelo passado. Pelas festas no grande salão, agora quase sempre com as portas fechadas e as cortinas corridas. A música era uma constante, todos cantavam e dançavam em grandes rodas, trocando pares entre risos e tropeços.


E lá estavam eles, os seus pais, dançando amorosamente de mãos dadas, sorrindo de forma plena ao contemplarem a família que haviam formado. Perto deles o casal Longbottom, um homem e uma mulher de feições ternas; do outro lado do salão os Lovegood e perto deles os Patil, os Thomas…todos tão felizes, com tanta certeza de que poderiam dançar para sempre no grande salão da mansão Weasley…


Com um baque voltou ao presente, o coração com um tipo de dor que ela já não sentia há muito tempo. Demasiado tempo. Largou a faca na bancada e abraçou o peito, baixando a cabeça e respirando fundo.


Mortos. Durante a tomada de posse de Voldemort a maioria daquelas pessoas fora morta ou encarcerada nas prisões do Sudeste, o que de certa forma equivalia a uma morte cruel e prolongada. O sorriso terno de Alice Longbottom veio-lhe com uma força brutal à memória e ela sentiu algo quebrar dentro de si quando recordou que ela fora afogada num riacho, negando-se a revelar onde se havia escondido o seu filho, Neville.


Era raro o momento em que se podia permitir fazer aquilo. Sentir. Era tão difícil sobreviver que ela aprendera que precisava de manter todas as suas forças concentradas apenas nisso, na acção seguinte que lhes permitiria lutar pela vida, calando bem fundo os pensamentos sobre se os seus pais ainda estariam vivos. Tentava também não dedicar muito tempo a pensar se algum diria poderiam se livrar daquela situação penosa, se apareceria alguma vez um salvador que os livrasse a todos daquele tirano; pois isso seria alimentar uma esperança que só tornava a situação ainda mais desesperada, o Inverno ainda mais frio, a fome ainda mais agreste, o peito ainda mais vazio de todas as emoções.


Mexia agora o caldo perto do fogo, aquele calor bom que se escoava e que a aquecia, não por dentro, nunca por dentro. Cinco moedas. Sobravam cinco moedas do trato que fizera com Kate pelos seus cabelos, o que deveria ser suficiente para os manter por uns dias mas não por muitos. O Inverno trazia exigências que sugavam o pouco que ela e os seus irmãos ganhavam mais rapidamente do que em qualquer outra altura do ano.


A sua testa franziu-se numa expressão de concentração, enquanto tentava pensar no próximo passo que daria.


- Desculpe… - uma voz grave surgiu da porta e ela rapidamente voltou-se, empunhando a faca que usara para cortar os legumes.


Parado na porta estava ele, o misterioso jovem dos olhos verdes. Sem sequer pensar porquê, a sua mão baixou-se automaticamente, depositando a arma improvisada no lugar onde antes estivera. “Ginny, seja razoável! Você nem o conhece, ele pode ser perigoso.” Mas ela sabia, apenas sabia, que ele não lhe faria mal.


- Não pretendia assustá-la – ele falou devagar, parecendo meio sem jeito. Ainda envergava a capa negra, mas o capuz estava caído pelas suas costas – Mas eu creio que me viu chegar, eu vim para viver na casa ao lado da sua.


Ginny mordiscou o lábio, torcendo as mãos. Ele tinha que a ter lembrado da figura ridícula que fizera, empoleirada naquela cerca que nem um galo cantando o sol nascente.


- Eu…bem, sim. – respondeu o mais seca que conseguiu. Ele já a tomava por uma garota tonta, ela certamente não lhe iria facilitar a tarefa.


Ele olhou-a bem de frente, muito mais sério, como se a medisse. Ela odiou aquela análise, aquele olhar era simplesmente desconcertante.


- Você veio até aqui só para ficar me olhando? – atirou, já zangada. O brilho no olhar dele modificou-se, como se tivesse acabado de acordar.


- Na verdade, o poço no terreno da minha casa está seco. Eu gostaria de pedir um pouco de água do seu e, se não for inconveniente, conhecer os proprietários desta casa. Afinal vamos ser vizinhos, não? – o tom era polido, como se houvesse um sorriso por trás daquela expressão que se apresentava tão compenetrada. Mas arriscando um olhar mais directo para as íris daquele estranho, ela certamente saberia dizer que o sorriso não se estendia até elas.


- Eu sou a proprietária. – atalhou a ruiva – Bom, e os meus irmãos mas eles…hm…não estão nesse momento. – parecia-lhe arriscado dar demasiada informação, ser completamente honesta com um completo desconhecido que poderia até achar que ela seria um alvo fácil, com os seus irmãos convalescendo em camas do andar superior, trabalhando longe ou desaparecidos na frente de combate da revolta.


- Desculpe se sou indelicado, mas você não é um pouco nova para ser a dona de tudo isso? – forçou ele, com um sorriso desenhando-se pela primeira vez no seu rosto cansado. Ah, claro! Ele realmente estava no bom caminho para a tirar do sério.


- Não. – rosnou a ruiva – Não o desculpo, isso é realmente rude! Vem aqui fazer um pedido, a que eu poderia aceder por bondade, e começa com um interrogatório? A novidade aqui é você e nem se apresentou.


- Isso quer dizer que posso retirar água do seu poço? – retorquiu, ignorando directo os restantes reparos da ruiva. Nos ouvidos de Ginny tiniram campainhas e ela soube que o seu humor Weasley estava prestes a ter uma das suas explosões clássicas.


Ela precisava se acalmar, afinal nem o conhecia. Ele parecia ser uma pessoa de alta linhagem, talvez fosse até um partidário de Voldemort que fora enviado para terminar com os Weasley que ainda restavam, ou um espião. Era uma manobra recorrente desses tempos negros: muitas pessoas ligadas à revolta ou ao antigo governo haviam sido presas ou capturadas, muitas vezes sob falsas acusações, devido às acções de espiões que se haviam infiltrado no seu círculo de amigos ou no papel de vizinhos amáveis e participativos.
Respirou fundo e procurou dar a conversa por encerrada.


- Sim e por favor se atire nele de caminho. – virou-lhe costas, recomeçando a mexer a sopa que já borbulhava, um aroma acolhedor escorrendo de dentro da panela.


Passados alguns segundos arriscou um olhar por cima do ombro. O jovem continuava plantado diante da porta, olhando para ela como se houvesse algo de fascinante para absorver, algo que se quebraria se ele fosse embora naquele momento.


- Mais alguma coisa? – resmungou ela, entredentes. Ele inclinou a cabeça, sorrindo de novo.


- Você também não se apresentou. Eu gostaria de saber o seu nome para poder agradecer ou te denunciar caso venha a sofrer um acidente misterioso no poço.


- Denunciar-me para quem? Seu amiguinho Voldemort? – a ruiva gargalhou friamente, antes de a magnitude do que dissera a atingir completamente. Isso fora um erro muito grave, uma completa falta de bom-senso…apertou as mãos, observando enquanto a expressão dele parecia ter ficado petrificada. Ele estava lívido como mármore branco, os olhos verdes sobressaindo ainda mais em tanta alvura, olhos esses que estavam frios mas com uma vida que ela até então ainda não notara.


Encolheu-se interiormente, esperando que a qualquer segundo ele fosse confirmar que faria isso mesmo ou bater-lhe por ter ousado pronunciar o nome do seu mestre com tamanha displicência.


- Nunca…nunca mais diga uma coisa assim. – ela notou que os punhos dele estavam apertados, de tal forma que os nós dos dedos estavam brancos como cal pura. – Você estaria realmente se colocando em perigo se eu estivesse do lado dele. Mas não estou.


- Então de que lado você está? – arriscou a ruiva, surpreendendo-se de novo com a forma como a sua boca parecia incapaz de permanecer fechada.


Ele estava agora muito mais frio e parecia distante, como se um qualquer encanto se tivesse quebrado ou como se uma visão terrível estivesse bem diante deles. Alguns segundos de hesitação, o jovem homem parecia ponderar que resposta daria.


- Do meu.


Os olhos de Ginny arregalaram-se em incompreensão, mas de algum jeito ela soube que ele estava sendo sincero com ela.


- Não vou tomar mais o seu tempo. Fico grato pela água e pela…conversa. – e ao pronunciar as últimas palavras, uma parte da frieza que se apoderara dele passou para ela, fazendo-a tremer levemente.


Os joelhos dela fraquejaram quando ele se virou para abandonar a cozinha, a tensão que se acumulara no seu corpo finalmente abandonando-a. Prendeu os olhos nas chamas que crepitavam, sentindo que aquela fora a conversa mais surreal que jamais tivera.


- Harry. – os seus olhos voaram novamente para a porta, onde ele ainda estava parado, se bem que já do lado de fora. Os flocos de neve amontoavam-se no seu cabelo asa de corvo e na sua capa negra, formando um contraste encantador, como uma grande montanha sólida com um cume fofo de brancura nevada – O meu nome é Harry.


A ruiva parou, olhando aquele quadro. Seria capaz de jurar que nunca esqueceria aquela imagem, aquela conversa, aquele nome.


- Ginevra Weasley. Ginny. – respondeu baixinho, tão suavemente que seria capaz de jurar que ele não a ouviria. Mas a sua suposição deveria estar errada, porque ele assentiu com a cabeça, deu meia volta e começou a andar na direcção do portão das traseiras.


Tentando esquecer o que acabara de acontecer, Ginny terminou de preparar o jantar e subiu para levar os alimentos a Charlie e aos gémeos. Mas enquanto vislumbrava pela vidraça um vulto que recolhia o balde de água do poço, algo dentro de si pareceu acordar para nunca mais adormecer.




10 Dezembro de 1816


Ron voltara finalmente do trabalho no vapor, trazendo umas poucas moedas no bolso. Entretanto o dinheiro que a ruiva conseguira com a venda do seu cabelo ruivo já havia acabado e ela voltara à rotina diária de pedir esmola, trabalhar clandestinamente e umas poucas vezes, quando a situação a conduzia a um trilho perto do desespero, roubar.


Charlie, Fred e George tinham conseguido curar-se da pneumonia grave que se abatera sobre eles, em grande parte graças aos esforços continuados da ruiva para que nada lhes faltasse naquele momento, em que pareciam garotinhos frágeis precisando de um carinho e cuidado maternos.


Ginny voltava para casa naquele final de tarde, estando já no carreiro que conduzia à porta principal da mansão, quando um correio a cavalo passou velozmente por ela em sentido contrário. Saltou do caminho, evitando que o animal se assustasse com a sua presença e o correio saudou-a com um aceno de cabeça severo. Reconheceu as cores da casaca que ele envergava: era o correio da resistência e certamente viera para entregar uma mensagem de Bill, que embora não voltasse a casa há mais de três anos tentava mandar notícias pelo menos de três em três meses.


Quando o cavaleiro já estava fora da sua vista começou a correr, entrando pela porta como um raio. Os seus irmãos estavam reunidos na sala de entrada e, tal como suspeitara, Charlie tinha um rolo de papel na mão. Eles olharam para ela e sorriram divertidos perante a visão da irmã completamente descabelada, entrando em debandada pela porta.


- Sempre em cima do acontecimento, maninha – observou Fred – Se continuar correndo desse jeito, eu diria que você iria acabar literalmente em cima da carta.


- É uma mensagem dele não é? – soprou a ruiva, respirando pesado e lutando para recuperar o fôlego.


- Sim, parece tudo certo. – Charlie passou o rolo de papel à irmã que observou o lacre selado com um W. Bill, como filho mais velho, tinha um anel com o brasão da família e marcava sempre as suas mensagens, de forma a assegurar que estas não eram interceptadas; por outro lado, o selo servia como garantia de que a mensagem viera realmente dele e que não representava nenhum tipo de armadilha.


George, já impaciente, arrancou o rolo das mãos da irmã, que bufou em protesto, e rebentou o lacre com um piparote.


- Bom, parece que é o momento de sabermos as novidades sempre fascinantes e alegres que o nosso caro irmão tem para partilhar. – o divertimento que emprestava às suas palavras não se estendia totalmente à sua expressão e Ginny viu que o irmão estava realmente preocupado. Pela máscara compenetrada de Ron, a ruiva poderia garantir que todos eles estavam.


Desenrolando a mensagem, George aclarou a voz e leu:


“Charlie, Fred, George, Ron e Ginny (espero que estejam todos aí)


Não podem imaginar as saudades que sinto de casa. Da minha cama, do cheiro bom de alfazema que vem do jardim nas noites de Verão, das vossas vozes e risos, do companheirismo que sempre tivemos. Mais do que irmãos somos amigos e companheiros, por isso sinto obrigação de contar toda a verdade, por mais dolorosa e preocupante que ela possa ser.


As novidades não são nada boas. A resistência estava aumentando até há algumas semanas, todos os dias nós recebíamos novos combatentes, muitos deles jovens desejosos de vingar a morte das suas famílias e de recuperar aquilo que lhes pertence por direito. Parecia que finalmente teríamos uma hipótese real de combater o tirano.


As estratégias que conseguimos desenvolver eram valorosas e empurrámos as tropas de Voldemort que guardam os seus domínios no Sudeste para o interior das suas terras. Estávamos mais próximos do que nunca.


Mas alguém se vendeu do nosso lado. Não sei se por medo, ganância ou pura maldade, mas alguém contou a Voldemort todos os nossos planos, inclusivamente a localização exacta dos nossos acampamentos e o nome da maioria dos nossos cabecilhas. O meu nome estava entre eles, não que isso seja uma surpresa para o tirano, tenho certeza.


Uma noite, há alguns dias apenas, as tropas inimigas fizeram ataques impiedosos a todas as nossas bases e refúgios, em simultâneo. Perdemos planos, armas, mantimentos. Mas sobretudo perdemos vidas, muitas vidas. Chorei a morte de mais de metade dos meus amigos e companheiros de armas.


Eu e alguns outros conseguimos escapar depois de muita luta e batemos em retirada para longe dos domínios do monstro enquanto nos reagrupamos e pensamos o que fazer a seguir. Mas sofremos um rude golpe, não há como negar essa verdade. O nome do traidor ainda não foi descoberto, mas estamos esperançados que ele já não esteja mais entre nós.


Não fui gravemente ferido, apenas alguns raspões que o tempo e as habilidades curandeiras de mãos caridosas irão certamente curar. Charlie, Fred, George e Ron, escrevo agora explicitamente para vocês: não tentem juntar-se nesse momento à revolta, seria suicida. Voldemort tem a nossa família debaixo de olho, talvez mais perto do que imaginam, e de qualquer forma eu sinto que um dia o conflito chegará até ao coração de Fletcher Hall. É só uma questão de tempo. Além disso, a Gin precisa de vocês (sim, eu sei que você é forte e não precisa que a defendam, mas acredite que estamos numa época em que todos precisamos do máximo de protecção que possamos ter).


Papai e Mamãe continuam vivos, ainda que vivendo em condições miseráveis. Sei disso de fonte segura, afinal nós também temos os nossos espiões.


Alguns dos homens mais eminentes que estão do nosso lado têm falado muito de um homem que teria o poder para nos tirar dessa situação. Um herdeiro por direito de Dupont Riverside e Fletcher Hall, uma família antiga que Voldemort retirou há muito tempo do poder por meio do assassínio. Diz-se que um deles sobreviveu e que só ele poderia parar essa guerra, pois todos os homens dos dois lados da fronteira lhe devem a sua lealdade. Um velho homem garante que ele regressou do exílio para reclamar aquilo que é seu por direito, mas eu estou certo de que deve ser uma lenda. Um raio de esperança nesse mar negro que atravessamos.


Volto a escrever quando tiver um tempo ou caso aconteça algo relevante. Sabem o que fazer assim que terminarem de ler isso.


Mantenham-se unidos e seguros. Mantenham-se vivos.


Envio o meu amor,


William Weasley, o vosso Bill”



Assim que terminou a leitura da, George aproximou-se de uma vela do castiçal que estava sob a mesa e encostou a carta ao fogo. Esta começou a arder e ele depositou-a numa bacia de cobre que estava ali perto. Em breve restavam apenas as cinzas, que nunca revelariam o segredo das suas palavras.


Durante uns momentos ninguém falou, cada um deles embrenhado nos seus próprios pensamentos. Ron foi o primeiro a verbalizar algo que todos pensavam no seu íntimo.


- Pelo menos ele está bem. Papai e Mamãe. Vivos. – olhou para Ginny, que estava sentada numa poltrona, as pernas encolhidas e envoltas pelos seus braços. Ela acenou e sorriu levemente.


- Eu nunca ouvi falar de Dupont Riverside – essa parte da carta em particular chamara a atenção da ruiva. Tal como o irmão dissera, era um raio de esperança, ainda que fosse um sentimento que ela raramente se dava ao luxo de desfrutar. – Onde fica?


Foi Fred quem lhe respondeu, estirado no sofá.


- Esse é o nome original da terra onde ficam os domínios de Voldemort e mais além. Você sabe, o Sudeste. Ele meio que apagou esse nome antigo, acho que tentando ocultar precisamente a lenda de que o Bill falou na carta.


- Então você acha que é uma lenda? – a ruiva enrolou uma madeixa na ponta do dedo.


- Não. – interviu Charlie. A ruiva e os restantes irmãos voltaram-se para ele. – Essa história…ela não é nova para mim. Eu realmente já ouvi falar disso. Acho que foi o pai quem me contou um dia, em jeito de história de ninar. Quando Voldemort era jovem ainda ele matou essa família, que governava por direito de sangue e de eleição em Fletcher Hall e no Sudeste, unindo a fronteira. Um pouco à semelhança do que ele fez, mas para o bem. – Charlie torceu o nariz – Mas nessa altura ele ainda não tinha o tipo de poder que tem hoje e não conseguiu tomar o governo. A história diz que alguém sobreviveu dessa família, mas que Voldemort o aprisionou e forçou a partir. Infelizmente o papai acreditava que o tirano, preparando esse segundo golpe ao longo dos anos, perseguiu os descendentes do sobrevivente e os chacinou. O resto da história é conhecida… - prosseguiu – Na falta de uma família que governasse, a união se dissolveu e cada lado construiu a sua Casa dos Representantes. A nossa família, em conjunto com outras, ocupou a de Fletcher Hall e os Malfoy ocuparam Dupont Riverside


- …E os Malfoy se venderam a Voldemort e permitiram que ele construísse a sua base lá, com os resultados que todos podemos observar. – completou placidamente Fred.


- Mas existem pessoas que acreditam que alguém sobreviveu dessa família, não é? – retorquiu Ginny, com uma nota de expectativa na voz – Um herdeiro.


- Talvez. – murmurou Charlie. O seu espírito prático exigia que voltassem ao presente e aos problemas substanciais com que se debatiam no momento. – Mas enquanto ele não se revelar a vida prossegue como o habitual. Gin, como estamos de comida…? – perguntou, temendo a resposta.


A irmã abanou a cabeça e nenhum deles precisou de perguntar mais nada. Não existia mais nada para cozinhar, aquela seria mais uma das noites em que se deitariam tentando a todo o custo silenciar os resmungos dos seus estômagos vazios.


- Alguém conseguiu alguma coisa hoje? Alguma moeda escondida debaixo do colchão? É que esse seria o momento certo para revelar. – George tentou aligeirar o ambiente, mas olhando para o rosto de cada um dos irmãos viu que falhara. O seu gémeo colocou-lhe uma mão solidária no ombro.


- Não, nenhum de nós tem nada. – respondeu Ron, apertando as mãos – Um dia tudo vai melhorar, eu sei disso…


- Um dia?! – Charlie repetiu, praticamente gritando – Um dia…Quando é que esse maldito dia vai chegar Ron, você tem ideia? – a face dele estava destorcida pela dor e pela revolta – NUNCA!


- Charlie… - a ruiva admoestou-o, procurando que ele se acalmasse. Compreendia que para ele devia ser excepcionalmente difícil ver-se assim: estava impedido de ir para a frente de guerra, lutar pela libertação; mas também falhava em conseguir manter os irmãos mais novos. A sensação de falhanço e de responsabilidade deveria ser sufocante.


Ele voltou a falar e dessa vez não gritava. A voz dele estava tão crua e desolada que ela quase preferiria que ele tivesse rugido de dor ou esmurrado um deles.


- Já não existe nada aqui para nenhum de nós. Nem comida, nem trabalho, nem esperança. Apenas a morte e a desonra.


Ginny olhou para Charlie e uma lágrima solitária, que nenhum deles ousou notar, precipitou-se dos seus olhos castanhos. Ele saiu da sala e galgou as escadas, indo para os quartos no piso superior.


Mais desesperante do que todas as dificuldades que já enfrentavam era aquela desesperança que vira no olhar do irmão, sempre tão ponderado e centrado. Ela daria tudo para tirar dali aquele olhar.


Naquela noite, quando os irmãos já dormiam, Ginny saiu do quarto. Caminhava de camisola de noite vestida, de um linho grosseiro e envolvera-se num xaile negro como carvão. Desceu as escadas silenciosamente, como uma gata habituada a trepar a telhados sem acordar os donos da casa. Saiu para o pátio iluminado apenas pela luz das estrelas e da lua alta, que resolvera aparecer após tantos dias escondida atrás das nuvens negras.


Precisava de colocar todos os seus pensamentos em ordem, pensar no passo seguinte que iria dar. O passo que sempre evitara mas que agora se lhe afigurava incontornável.


Sentada no banco de pedra cinza, debaixo de um grande carvalho coberto de neve, pensando em toda a sua vida e até onde ela a levara, fez uma jura. Jurou que Voldemort iria perecer e se mais ninguém o ousasse, seria pelas suas próprias mãos. Aprendera a não confiar na vida para que lhe trouxesse brandamente as coisas que desejava, por isso confiaria apenas nos insondáveis desígnios da sua capacidade, da força que um dia subitamente aparecera para nunca mais a abandonar.


Isso sim era algo só dela, que nunca ninguém poderia lhe tirar. Tudo o resto era efémero, passageiro, mas os seus dons e capacidades seriam sempre seus.


Ali na plenitude daquela noite fria, em que a sua respiração saía numa onda de vapor condensado pelo ar gélido, ela sentiu que poderia alcançar inúmeras revelações. Era só esticar a mão e alcançá-las, elas estavam bem ali diante de si.


Por um momento tudo fazia sentido, imagens do passado se entrelaçando com coisas que ela ainda não vira, o futuro. Fechou ou olhos e deixou-se preencher por aquelas imagens dispersas de uma vida que ela ainda não vivera, pessoas, luzes, tiros, lágrimas, risos, ela correndo por um corredor e entrando numa sala mal iluminada, um homem num quarto escuro diante dela e quando ele se voltou ela apenas viu a imensidão de uns olhos verdes antes de uma boca explodir na sua…


A sensação da visão foi tão forte que ela abriu os olhos, ofegando, disposta a jurar que quando os abrisse estaria mesmo uma boca colada à sua, bem ali, no presente.


A sua mãe dissera-lhe para confiar nos seus instintos, para acreditar que todos somos capazes de coisas excepcionais se nos deixarmos preencher pela emoção certa, e ela por um momento estava disposta a acreditar nisso. Estava certa, embora nunca o fosse revelar a ninguém, de que acabara de ter uma prévia do que seria o seu futuro.


Passou as mãos pelo rosto, lutando contra uma escuridão profunda que ameaçava agora invadi-la, um sono profundo e sem sonhos, um sono que viria para que ela esquecesse tudo o que vira. Mas ela queria lembrar…ele estava bem ali na casa ao lado…ele…


Quando acordou a lua ainda estava alta no céu, agora coberto de algumas nuvens, portanto não passara muito tempo. Ridículo ter-se deixado adormecer ali na rua, corria o sério perigo de ter entrado em hipotermia. Sacudiu os cristais de gelo que estavam presos no seu cabelo e esfregou vigorosamente o corpo com as mãos para se aquecer. Tinha a vaga sensação de que tinha percebido alguma coisa importante antes de dormir, mas não conseguia se lembrar.


Mordeu o lábio e os seus olhos castanhos dardejaram em volta, indo parar numa varanda da casa ao lado. Inspirou mais pesadamente ao ver que um vulto estava ali parado, contemplado o céu estrelado. Pelo contorno da figura ela diria que era Harry. Notou quando a cabeça do vulto se voltou para o lado da sua própria casa.


Uma nuvem moveu-se no céu e um raio lunar iluminou a figura masculina que, tal como ela julgara, era Harry. Os olhos dele percorriam a fachada da mansão Weasley e ela reparou que ele parecia estar procurando alguma coisa, tentando adivinhar a quem pertencia alguma daquelas varandas.


Tentou mover-se discretamente de forma a entrar em casa sem que ele a visse, ou provavelmente julgaria que ela era uma louca. “E desde quando você se preocupa com as opiniões de um completo desconhecido?”, bichanou uma vozinha sapiente dentro da sua cabeça.


“Desde nunca, afinal eu nem gostei dele. Provavelmente é um garoto rico e mimado, que veio passar uma temporada longe dos pais igualmente ricos e insuportáveis.”


Foi sem verdadeira surpresa, no entanto, que sentiu uma estranha sensação na nuca que ela aprendera a associar a alguém olhando-a fixamente. Voltou-se e ergueu o rosto na direcção dele e, tal como previra, ele olhava-a agora com descarado interesse.


Ele fez um gesto com a mão e ela demorou alguns instantes a perceber que ele estava pedindo para que ela ficasse onde estava. “Será que ele vai descer até aqui?”, perguntou-se alarmada, ocupando-se a cobrir o corpo franzino com o xaile da melhor forma possível.


A sua pergunta foi satisfatoriamente respondida pelo aparecimento dele na porta da sua casa. Ele atravessou o pátio da frente e foi até ao muro que separava os dois jardins, que ele saltou agilmente com um só impulso. Quando Ginny absorveu o facto de que ele estava realmente indo falar com ela, ele já estava parado a três passos de distância.


- Olá. – cumprimentou-a e ela notou que ele tremia um pouco debaixo do capa que usava.


- Oi. – saudou de volta, sem entender muito bem o que ele teria para lhe dizer, nem conseguindo pensar em nada mais inteligente para dizer.


- Insónias? – questionou ele, olhando para o céu em vez de a fixar.


- Não. – respondeu secamente.


- Percevejos no colchão da cama? – ela notou que ele sorria, ainda contemplando o céu. A simples ideia de que a abóbada cristalina estaria agora completamente reflectida naqueles olhos verdes pareceu-lhe fascinante.


Pena que ele fosse tão idiota.


- Mesmo que fossem, aparentemente os jardins não andam melhor frequentados. – lançou-lhe um olhar rude – Muita bicharada à solta também, trepando muros e entrando na propriedade alheia.


Ele fungou de riso e desceu os olhos sobre ela.


- Você é uma criança adorável, Ginevra.


A palavra “criança” soou-lhe como o pior insulto do mundo.


- Criança?! Eu?! Perdoe-me, mas isso dito por alguém que deve ser um ou dois anos mais velho do que eu apenas, não me merece muita simpatia ou credibilidade.


- Lamento que tenha tomado como um insulto. – retrucou ele, apanhando um monte de neve nas palmas das mãos – Era um elogio. Normalmente só as crianças têm esse tipo de inocência que você tem. E são igualmente francas.


Ele lançou-lhe um olhar e ela notou que ele falava sério agora. Isso deixou-a sem jeito, pelo que resolveu optar por uma mudança táctica no assunto.


- E você? Porque está fora da cama a essa hora?


- Pensamentos. São animais quase tão sedentos de sangue quanto os percevejos. – ele largou a neve e acariciou a casca grossa do carvalho, como que sentindo a pulsação da árvore – Não concorda?


-Creio que sim. – balbuciou ela – Também era o que eu estava fazendo…pensar. – acabou por confessar. Ficaram um silêncio por uns instantes, até que Harry voltou a falar e dessa vez sobre o assunto que o levara a atravessar a noite escura até ela.


- Lamento pelos seus pais. Eu realmente não sabia ou não teria falado daquele jeito. – a voz dele era grave e cheia de sinceridade.


Ela fitou-o e olharam-se nos olhos demoradamente.


- Como soube? – perguntou a ruiva. Ele olhou-a mais profundamente, como se avaliasse a necessidade de responder.


- Eu perguntei numa loja e eles me disseram. Mas me aconselharam a ser cauteloso com as perguntas que fazia. Acho que o seu nome não foi agradável de ouvir, sabe…Weasley. É como se todos vocês tivessem uma doença contagiosa.


- É, a doença anti-Voldemort. – respondeu Ginny entredentes, tendo certeza que Harry ouvira uma vez que ele fizera um sorriso fraco – Porque fez isso? Porque saiu fazendo perguntas sobre nós?


- Eu gosto de conhecer as pessoas de quem me rodeio, Ginevra. São tempos negros, cuidado nunca é demais. – pela primeira vez ela teve a sensação de que ocultara deliberadamente alguma coisa na resposta.


- Quando pretende ir embora agora que sabe que está falando com uma perigosa traidora do regime? – provocou-o, apertando mais o xaile sobre os braços.


- Qualquer perigo que você represente para mim, não será certamente esse o motivo. – declarou ele, fazendo-a erguer uma sobrancelha em desconfiança.


- O que quer dizer com isso?


- Como já disse, eu não tomo o lado de Voldemort nessa disputa. O meu nome é, aliás, tão ou mais odiado que o seu. – deixou escapar o jovem, arrependendo-se em seguida.


- E qual seria o seu nome? – puxou ela, lembrando-se que ele apenas se apresentara como Harry.


Ele hesitou claramente dessa vez, o olhar meio desfocado. Optou por uma meia verdade.

- James. Harry James.


- Não soou nenhum alarme na minha cabeça, portanto você não deve ser assim tão conhecido. – troçou ela.


- É, eu não devo. – respondeu ele, subitamente seco. Ficaram a contemplar a escuridão da noite durante largos minutos, em silêncio.


- Eu não gosto de você, Harry James. Todos os seus modos são muito misteriosos. – disparou subitamente a ruiva, como se tivesse acabado de tomar uma decisão sobre o que fazer para jantar.


- Eu não vim à procura da sua aceitação, Ginevra Weasley. – disse ele, em voz dura. E aquilo magoou-a, sem mesmo entender porquê.


- Veio à procura do quê, então? - queria descobrir, queria chegar ao fundo daquele assunto. Não saber, não o conhecer, aquilo a estava incomodando.


- Neve. Eu cresci no Sul, sempre quis ver neve. – ele começou a afastar-se da garota e ela quis dizer algo, qualquer coisa, que o mantivesse ali um pouco mais.


- Você é um mentiroso! – acusou-o, furiosa por ele estar troçando dela. Ele parou e voltou-se para ela uma última vez, fixando-a bem nos olhos.


- Sim. E é por isso que os seus segredos estarão sempre seguros comigo.




15 de Dezembro de 1816

Entrou no estabelecimento um pouco a medo. Era final da tarde, mas no Inverno isso significava que já era noite escura. O fumo de cigarettes e charutos invadiu as suas narinas, fazendo-a tossir um pouco. Havia luz, mas tinha um tom avermelhado devido aos panos acetinados que cobriam os pontos onde esta existia.


Grandes divãs onde se sentavam homens de todas as idades, todos bem vestidos e de aspecto ilustre. As moças circulavam pela sala, com vestidos coloridos e cheios de folhos, grandes decotes e lábios carregados de batom vermelho.


Madame Rubidoux era fácil de identificar no meio de toda aquela agitação, música, águas-de-colónia, jogos de cartas. Estava sentada no colo de um senhor de aspecto venerável…ou pelo menos teria, se não tivesse a mão generosamente enfiada por debaixo da saia dela.


Ginny observou por momentos como mesmo dedicando-se a um cliente (provavelmente um muito importante), ela comandava as moças à sua volta, indicando-lhes quem agradar, quando agir, quando servir mais bebida, quando subir para os quartos para momentos de maior privacidade.


Aproximou-se do campo de visão da cortesã-mestra e fez-lhe sinal ao longe. Esta viu-a quase de imediato, como se tivesse uma antena plantada sobre os caracóis loiros. Bichanou ao ouvido do homem que estava servindo e este gargalhou, deixando-a levantar-se e dando-lhe uma palmada amistosa no traseiro.


Madame Rubi andou no seu passo rebolado até Ginny, sorrindo de forma gulosa. Sempre soubera que era uma questão de tempo até que aquela ruiva a viesse procurar, implorando pela protecção e moedas que aquele trabalho podia proporcionar.


Rubi mediu a ruiva de alto a baixo e esta não baixou o olhar. Era a sua única saída, a última, a mais desesperada de todas. A loira acenou com a cabeça e Ginny soube que tinha sido aceite, e com muito gosto.


-Acha que irá causar problemas? – retirou a boina e apontou para o cabelo – Todos vão saber quem eu sou e aqui não devem faltar partidários dele.


- Ficará surpreendida com a quantidade deles que vai querer a sua companhia. Um misto de vontade de humilhar uma inimiga do seu mestre e de desejo pelo fruto proibido. Oh sim, você fará sucesso. – sorriu sem demonstrar nenhuma pena ou pudor por palavras tão duras – É virgem, estou certa?


- Sim. – a garota tremeu por dentro, imaginando o que iria acontecer dentro de alguns momentos. Só desejava não sentir, ausentar-se do seu corpo como já tantas vezes fizera quando a fome apertara e se tornara insuportável, devorando-a viva.


- Hm…eu gosto de você. Eu poderia lucrar muito dando-a pela primeira vez a um destes homens – apontou com o queixo para o grupo que estava numa mesa jogando uma partida de poker. O estômago da ruiva apertou-se de repulsa – Mas como disse…gosto de você. Há pouco chegou um moço jovem, acho que lhe custará menos se for com ele.


Ginny acenou com a cabeça, embora não visse onde estaria a benesse dessa situação.


- Bom, vamos aprontá-la. – sorriu-lhe e chamou uma das moças – Helen, ajude a sua nova companheira a se arrumar. Aquele vestido negro que eu separei, vai ficar lindo nela. Quanto estiver pronta, ele está lá em cima esperando-a.


Ginny seguiu a garota que viera, também ainda muito nova, talvez mesmo da sua idade. Era morena e tinha uns belos olhos negros, como carvão em brasa, mas muito baços como se tivesse visto a sua alma ser tragada. E provavelmente tinha.


Quando terminou de se vestir, olhando-se ao espelho da sala para onde fora levada, teve que admitir que quase se sentia bonita. O vestido era de um tecido rico, ornado por minúsculas pedrinhas negras no busto e barra da saia. Era bem rodado e o decote deixava os seus ombros alvos descobertos, permitindo uma visão das minúsculas sardas que pontilhavam a sua pele. Mas o mais espectacular era, sem dúvida, o magnífico contraste do seu cabelo rubro no tecido negro, como noite em chamas.


Helen levou-a até umas escadas.


- Bom, é a última porta à esquerda. Não esqueça dos truques que lhe falei lá em baixo para evitar ficar de esperanças. – Ginny assentiu, todo o corpo tremendo. Uma parte de si estava já longe dali, na casa onde embora miserável sempre se sentira segura. – E Ginny…tudo vai correr bem. Você tem sorte, ele é um dos jovens homens mais bonitos que passaram por aqui.


Olhou para Helen que lhe sorriu e foi embora pelo corredor, provavelmente rumo à sala e aos braços de um velho endinheirado.


Subiu as escadas em passos hesitantes e atravessou o longo corredor cheio de portas, aqui e ali estacando ao ouvir um gemido ou uma palavra mais forte.


Parou diante da porta indicada e respirou fundo. Era preciso. Um pouco de coragem e logo tudo estaria acabado, ela sairia dali com as moedas que precisava e demoraria a ter que regressar.


A sua dignidade, honra e bom-senso gritavam que fosse embora…que ainda estava a tempo…


Levantou a mão e rodou a maçaneta. O quarto era grande e tinha uma janela com cortinas brancas. No meio estava uma grande cama, com almofadas coloridas e uma colcha de seda. Avançou para dentro do quarto e foi então que o viu. Estava sentado numa cadeira no canto do quarto, as mãos amparando a cabeça como se estivesse em sofrimento. Ouviu quando ele respirou fundo e ergueu a cabeça.


Ao encontrar aqueles olhos verdes, Ginny compreendeu que dependeria de Harry para guardar, pelo menos, aquele segredo.


N/A –Eu poderia dizer imensas coisas para explicar a longa ausência. Mas não vou fazer isso, acho que o que realmente importa é que eu consegui voltar a escrever a coloquei mais um pedacinho de mim aqui para vocês lerem.


Coisas que eu queria dizer…ah sim! O poema inicial é um excerto de um poema de Yeats, ele foi um poeta irlandês que viveu entre os séculos XIX e XX e ele realmente era um homem cheio de talento. Provavelmente ele voltará a aparecer mais vezes por aqui, porque muito do que eu já li dele se enquadra bem no tom da fic.


Dupont Riverside saiu do mesmo sítio que Fletcher Hall, ou seja, da minha cabeça ahah. O rio Severn realmente existe e é o maior rio da Grã-Bretanha, estendendo-se por mais de 300 Km.


Em relação a actualizações…como eu já disse, eu estou no primeiro ano da faculdade de medicina. Isso consome praticamente todo o tempo que eu tenho, o pouco que resta é para me manter viva XD. Até a família tem se ressentido da ausência, portanto dá para ter ideia de como está sendo. A Noiva Potter vai entrar em Hiatus e a Estranho eu estarei terminando, espero, em breve.

Não posso deixar de agradecer a todas as pessoas que deixaram review, mas queria agradecer especialmente à Sally Owens e à Georgea. Ler as vossas fics sempre me faz querer voltar e sair um pouco do turbilhão que a minha vida tem sido. Beijos repenicados para todos*

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