In my life



N/A: Aviso – A fic não é N/C (não se empolguem), mas algumas insinuações mais adultas ocorrerão porque, afinal, preciso ser fiel à idade e ao momento emocional das personagens. Espero não chocar, nem decepcionar ninguém. Boa leitura!


Capítulo 14




In my life



O fato de eles terem voltado a investigar um mistério deu à semana seguinte um ar bem familiar, embora com a nada sutil diferença de que, agora, “eles” eram seis. Harry pensou que havia muitas coisas que poderiam ter tornado aquela uma situação agradável. Estava em companhia de seus melhores amigos e fazendo uma coisa que ele considerava realmente importante. Ainda se recriminava por tanto tempo de inação, por ter perdido um ano precioso achando que seu cansaço de toda a luta dos últimos anos, era desculpa suficiente para simplesmente desejar ficar quieto. Deveria estar se sentindo muito bem em voltar à ativa, em estar finalmente fazendo algo objetivo pela sua própria paz de espírito. Mas não era bem assim. Até onde podia perceber, ele contava apenas com o apoio irrestrito de Neville e Luna.

– Se você acha que a ameaça é verdadeira, Harry – disse Neville certa noite – estaríamos sendo negligentes se ficássemos apenas esperando as coisas acontecerem, não é mesmo? E eu confio totalmente no seu instinto.

– É – concordou Luna – se alguém tivesse dado ouvidos às denúncias do meu pai sobre vampiros e assassinos de duendes no Ministério – Hermione engasgou involuntariamente com o chá e Luna se arrumou na cadeira, olhando-a com grande dignidade. – Bem, talvez um pouco mais de atenção ao que o Ministro e os funcionários faziam, não deixasse que as coisas chegassem no ponto em que chegaram, não é?

Com algum prazer, Harry viu Hermione, um pouco sem graça, ser obrigada a concordar. Entretanto, seu apoio acabava aí. Era bastante óbvio que Rony e Mione achavam que aquilo era um exagero da parte dele. Os três haviam discutido algumas vezes sobre o assunto e Harry e a garota tinham se estranhado feio quando ela dissera que, no fundo, ele tinha era “dificuldade em lidar com uma vida normal”. Furioso, Harry ficara sem falar com ela por quase um dia inteiro. Era como se Hermione achasse que ele estava inventando aquilo, como se o culpasse por não estar feliz e despreocupado. E mesmo depois, quando eles voltaram às boas, a discussão, sem vencedor, permanecera entre os dois, latente em cada conversa. Rony tinha uma posição muito semelhante a da namorada. Harry sabia disso. Contudo, ele se abstinha de bater de frente com o amigo, o que não queria dizer que suas trocas de olhares com Hermione não contribuíssem para deixar Harry indignado com a atitude dos dois.

E ainda havia Gina.

Harry gostaria realmente de saber por que havia vezes em que ela se tornava um mistério para ele, como naquele momento. Lá estava ela, todas as noites no Largo Grimmauld, ouvindo os debates deles, pesquisando, dando palpites inteligentes, soltando piadinhas dosadas para desanuviar o ambiente, mas Harry daria o que lhe pedissem para saber o que ela estava verdadeiramente pensando. Será que ela o apoiava como Neville e Luna? Ou concordava com Rony e Hermione em achar que ele estava inventando um problema por não saber levar uma vida normal depois de tantos anos? Quem sabe ela também acreditasse que, enquanto houvesse uma sombra de Voldemort, esta seria sempre um obstáculo para que Harry pudesse ser feliz, com ela. Só que toda a vez em que ele procurava os olhos de Gina, tentando francamente lê-los, encontrava-os impenetráveis. Mas, mais que tudo isso. Pela primeira vez na vida Harry sabia o que era estar sofrendo de verdade por não estar com alguém que ele queria muito. Aquilo nem se comparava com seu primeiro namoro com a garota, ainda cheio de restrições infantis (mesmo que ele tivesse certeza de que, mais dia menos dia, elas sumiriam). Da primeira vez, fosse a sensação do primeiro beijo, fosse a dificuldade de se separar dela, em tudo, tinha sido só uma prévia do inferno em que estava vivendo. Algo no seu peito rosnou frustrado, como se houvessem lhe arrancado um pedaço, enquanto ele observava Gina quebrar pedaços de chocolate e colocar no centro da mesa para o grupo se servir.

– O que você acha Harry? – Hermione tinha erguido a voz para lhe chamar à atenção, deixando claro que não era a primeira vez que ela perguntava e o arzinho presunçoso informava que ela sabia exatamente onde a sua mente andara vagando.

– Desculpe Mione. Acho que perdi o que você disse.

Ela deu um sorrisinho.

– Eu estava dizendo que, no final, das contas, talvez a pista do Prof. Slughorn não tenha sido tão boa assim.

Os seis estavam a umas duas horas discutindo as possibilidades do nome de poder e chegavam sempre ao mesmo beco sem saída. Tinham se reunido todas as noites daquela semana aproveitando a liberdade que a residência no Largo Grimmauld dava a Harry e pesquisado livros, mapas, lendas; traçado os caminhos conhecidos por onde Voldemort passara em vida e até agora não haviam encontrado nenhuma pista concreta. De acordo com o que conseguiram, sabiam que o nome de poder era uma magia antiga, quase sempre usada por bruxos maus em busca de extraordinária longevidade e poderes quase incalculáveis.

Hermione leu em um dos livros consultados por eles – Ascensão e queda das Forças das Trevas – a história lendária de um feiticeiro árabe, chamado Wa’el, que teria conseguido se tornar praticamente imortal. Ele foi derrotado por um príncipe que conseguiu destruir a parte dele que estava escondida com o seu nome de poder (“Mas isso é uma Horcrux!” “Foi o que eu achei também, Neville”). A lenda falava que o nome tinha sido escondido no meio de uma pedra inquebrável, que ficava dentro de uma pomba mágica, que morava numa montanha no fim do mundo. (“Qual é? Isso não faz sentido algum.” “É uma lenda Rony! Não precisa necessariamente fazer sentido para você.”). Havia outras histórias ainda mais inverossímeis – até para quem conhecia as possibilidades da magia – como as que traziam o nome de poder ligado ao controle de animais ferozes e almas do outro mundo por bruxos africanos e das Antilhas.

– As habilidades mágicas fornecidas por aqueles que têm um nome de poder combinam com o que sabemos que Voldemort podia fazer – prosseguiu ela ao terminar a leitura. – Mas não há nada que indique que ele o tenha usado também como um caminho para a imortalidade. Provavelmente ele achava que as Horcrux eram poderosas o suficiente.

– Pelo que diz o livro – disse Neville, agora consultando o volume que Hermione largara sobre o centro da mesa – as tentativas de não morrer destes bruxos dão quase sempre a entender que eles fizeram Horcruxes junto com os nomes de poder. Partes de si mesmo... é o que diz aqui.

– Exato. Olhem – Hermione se inclinou sobre a mesa com a atenção em Harry – se ele tivesse realmente feito um nome de poder ligado a uma Horcrux ou nós já o teríamos destruído ou ele não teria morrido.

– Ele morreu – afirmou Harry com frieza.

– Então não há mesmo sentido em seguirmos a pista de Slughorn, porque se Voldemort morreu mesmo (e eu também acredito nisso Harry), o nome de poder não teria nenhum valor.

Hermione encarou um a um dos cinco esperando concordância, mas esta não veio tão rápida.

– Mas aqui – Rony apontou um trecho em um livro intitulado Vampiros, Zumbis e Inferis: os mortos-vivos antes e depois – diz que mesmo que um bruxo tenha morrido, se ele tiver feito os rituais certos (é claro que não diz nada sobre que rituais seriam) junto com o nome de poder, ele poderia voltar como alma de outro mundo se fosse invocado...

– E quem o invocaria? – questionou Mione. – É, porque eu duvido que ele tivesse revelado o nome ou onde o escondeu para algum dos Comensais. Voldemort nunca confiou tanto assim em ninguém. Ele gostava de agir sozinho, lembram?

– Ele seria uma alma do outro mundo bem incômoda – comentou Luna com a atenção presa em um pedaço de chocolate, que ela limpava cuidadosamente de outros minúsculos caquinhos. – Todos os que voltaram fizeram um enorme estrago.

Os outros a olharam, mas a garota não pareceu perceber que eles tinham prestado atenção no que ela tinha dito. Depois de um silêncio, ela finalmente parou de polir o chocolate que tinha pegado e sorriu para eles.

– Ah, vocês sabem, não é? Todos os outros que voltaram. E no caso dele seria pior porque provavelmente ele saberia como conseguir um corpo, não é?

Respirando fundo, Harry se ergueu da cadeira e começou a andar pela sala. Afinal, tinha chegado de novo ao ponto cego de toda a discussão. Tirando as palavras de Luna que tanto podiam ter sentido quando não ter, o fato é que nada o convencia de que a ameaça de Voldemort fora apenas uma última tentativa de torturá-lo. Assim, como havia ainda uma certa resistência dos amigos em acreditarem em algo que tinha acontecido apenas dentro da cabeça dele.

– Acho que a gente encerra por hoje – disse Gina abruptamente e Harry teve um leve sobressalto ao ouvir a voz dela soando calma e firme. – Estamos cansados e não sairemos do lugar se continuarmos. Além disso, amanhã teremos o tal jogo contra os veteranos do Ministério. Devíamos estar indo dormir, não é mesmo capitão?

Nenhum deles contestou a sugestão e, após uma rápida despedida (não tão rápida no tocante a Rony e Hermione), Neville e as garotas partiram. Harry achou que Gina encontraria uma forma de provocá-lo antes de ir embora e, secretamente, ele ansiava por esses mínimos contatos físicos que lhe diziam que ela ainda gostava dele. Mas uma das melhores coisas em Gina, e que na atual situação se convertia numa das piores e mais irritantes, é que ela não era exatamente uma garota previsível. Quase nunca fazia o que Harry queria ou esperava. Assim, ele foi dormir amargando a frustração de que ela sequer encostara nele antes de partir e, por algum estranho motivo, chegou mesmo a conjeturar se ela não havia azarado a sua cama, transformando-a em algo duro, desconfortável e insípido. Foi uma noite bem longa, aquela.

Acordou subitamente no dia seguinte com a incômoda impressão de estar sendo observado. Dois olhos enormes e enrugados o encaravam.

– Arre!!!!

A cara feia e flácida de Monstro o olhava atentamente. Por que os elfos não o acordavam simplesmente cutucando, como qualquer outra pessoa?

– Monstro sente muito tê-lo assustado, meu senhor. Mas o jovem mestre Weasley o aguarda. Ele disse que o senhor está atrasado.

Harry estirou-se na cama com a sensação de não ter dormido mais que um par de horas. Seus músculos reclamaram prontamente e parecia haver areia sob suas pálpebras, porque seus olhos resistiam em permanecerem abertos.

– Que horas são? – perguntou com um bocejo.

– Quase nove, meu senhor.

Com um palavrão, Harry jogou longe as cobertas e saltou da cama, seguindo direto para o banheiro. Só muita água gelada poderia deixá-lo acordado e alerta para o dia que viria.

O jogo de Quadribol com os veteranos da seção de Aurores do Ministério da Magia estava marcado para as onze da manhã. Tratava-se de uma ocasião festiva, como das muitas com que se vinha querendo marcar o fim da guerra. Harry realmente não achara a idéia nada ruim e ele tomara para si a responsabilidade de, em uma semana, fazer dos novatos um time que não fosse completamente risível para jogar o amistoso. O jogo seria assistido pelas famílias, uma confraternização, o qual marcaria o final do verão e o início da fase mais pesada dos treinamentos.

Dessa forma, todo o fim de tarde, na última semana, tinha sido usado para treinos num velho campo de Quadribol – disfarçado magicamente pelos altos muros de uma siderúrgica desativada – nos arredores de Londres. Felizmente, o curso estava numa fase teórica, o que não lhes exigia tanto, ao menos fisicamente, pois para ele, Rony e Gina a jornada não terminava após os treinos. Os três iam do campo direto para o número doze do largo Grimmauld se afundar em pesquisas e discussões que não raro iam além da meia-noite. Não era de admirar que estivesse cansado, embora, o fato de passar metade da noite sem dormir e a outra lutando contra os sonhos com Gina, não o estivessem ajudando em nada. Seria bom se, ao fim de tudo, tanto esforço valesse à pena.

No geral, o time que ele armara ficara, com boa vontade, organizadinho. Rony, claro, tinha ficado no gol, ele era o apanhador e Gina comandava a artilharia, mas apesar das posições já conhecidas, apenas Gina tinha jogado alguma coisa nos últimos dois anos. Com ela estava uma garota admitida um ano antes deles no Ministério, Melinda Bobbin, que Harry lembrava ter sido uma das favoritas do Slugh. Era bonita, mas nada excepcional no quadribol, correta no máximo. Tinha jogado para a Corvinal por dois anos na escola. O terceiro artilheiro era um sujeito metido, chamado Carl Munford, que fazia jus ao título de melhor amigo de Zacharias Smith e já tinha feito ele e Rony perderem a paciência mais de uma vez. Como não foi possível encontrar batedores dignos no Ministério, Harry conseguiu a permissão para recrutá-los nas famílias dos Aurores. Isso realmente deu um salto de qualidade no time, pois apesar de ambos estarem sem jogar seriamente há quatro anos, Harry tinha agora à sua disposição todo o gênio e toda a maldade dos gêmeos Weasley. A ajuda daria certamente algumas vantagens ao time, mesmo que a vitória não fosse o objetivo principal de Harry.

Menos de dez minutos depois de levantar, ele descia as escadas e entrava como um furacão na cozinha.

– Por que não me chamou quando acordou?

Rony, que estava sentado à mesa olhando atentamente para a xícara parecendo esperar ela dançar ou algo inédito acontecer, se limitou a dar de ombros.

– Cheguei aqui bem cedo – disse.

Monstro agora se movia rapidamente pela cozinha servindo Harry, que tinha sentado à mesa e passara a engolir com avidez tudo o que via pela frente.

– Cedo, que horas? – Rony fez uma careta e resmungou algo ininteligível. – Ah, qual é Rony? É só um amistoso. Não tem porque você ficar desse jeito.

– Não estou assim por causa do jogo – murmurou.

– Bem, eu não conheço nada mais que te deixe neste interessante tom de verde.

Rony ergueu a cabeça o suficiente para Harry perceber que brincadeiras não seriam bem-vindas no estado em que ele se encontrava.

– Você não brigou com a Mione, brigou? Quando ela saiu daqui ontem vocês estavam na boa. O que aconteceu?

– Nada.

– Deixa de ser ridículo. Você não está com cara de nada.

Sem se dar ao trabalho de responder, Rony levantou e foi até a pia, onde derramou de uma vez só todo o chá, já frio, que tinha na sua xícara. Monstro o olhou desgostoso e depois saiu da cozinha, dizendo que iria arrumar os quartos se seus senhores já estavam servidos. Talvez Harry não devesse se meter, já que a relação entre Rony e Hermione tinha mudado substancialmente nas últimas semanas e ele sabia que, de agora em diante, o melhor a fazer era ficar de fora das brigas dos dois. Porém, algo lhe disse que não se tratava de uma briga. Conhecia Rony o suficiente para saber que ele estava preocupado e não chateado. Levantou da cadeira e parou em frente ao amigo antes que ele saísse pela porta da cozinha.

– Olha cara, sei que isso não estava exatamente nos seus planos e, mais do que ninguém, eu sei que você e a Mione merecem ter um pouco de paz. Se dependesse de mim, eu nunca voltaria a colocar vocês dois dentro de outra caçada maluca e...

– De que diabos você está falando?

– Eu... – Harry o encarou, confuso – não é por causa da história do nome de poder que você está assim?

– Ah, por favor... Sabe Harry, tem vezes em que me pergunto se você é egoísta, ingênuo ou apenas tolo o suficiente para achar que tudo no mundo é culpa sua ou diz respeito a você.

Certamente Harry não esperava aquela explosão, mas não arredou o pé da frente de Rony.

– Ok, se não é isso, o que é? Deve ser realmente importante para você me xingar quando só estou tentando ajudar. – Rony rezingou alguma coisa, parecendo um pouco arrependido. – Vai me contar ou vou ter de arrancar de você?

Por alguns segundos, Harry achou que o amigo ou o empurraria e sairia pela porta, ou bateria nele e sairia pela porta, ou, pior, o azararia e sairia pela porta. Ao invés disso, Rony sentou novamente parecendo completamente desalentado. Puxando uma cadeira para se sentar em frente a ele, Harry tentou mais uma vez.

– Sou seu melhor amigo, Rony. Eu não vou deixar você subir numa vassoura com essa disposição, fará o pior vôo da sua vida. – Ele observou Rony curvar-se para frente e apertar os nós dos dedos até ficarem brancos. – Então?

– Não sei se conseguirei fazer qualquer coisa direito hoje.

– Provavelmente não.

Rony ergueu a cabeça e o olhou em pânico.

– Você acha?

– Como vou achar ou “desachar”, Rony? Eu não tenho a menor idéia do que você pretende fazer hoje, já que Quadribol não parece estar nas suas prioridades!

– Eu... – ele mordeu um canto da boca como se fosse algo muito horrível para falar – é... hoje...

Mas aquilo saiu num tom tão baixo que Harry teve de se inclinar para frente para poder ouvir.

É hoje o quê, criatura?

– É... bem – ele engasgou e Harry começou a ter ganas de sacudi-lo – Mione e eu, sabe... nós... você sabe. – Completou com uma nota de pavor aguardando que Harry descobrisse logo do que ele estava falando.

– Você e a Mione o quê?

– Você sabe – implorou Rony, mas Harry continuava sem alcançar do que o amigo falava.

– Não, eu não sei.

Rony apertou ainda mais as mãos que estavam agora completamente brancas já que provavelmente nenhum sangue circulava nelas.

– Nós... A Mione vem... ela vai ficar aqui hoje à noite.

– ‘Tá, e daí?

– Com-migo.

Harry descobriu para onde todo o sangue de Rony tinha ido porque o rosto dele ficou imediatamente escarlate. Então, finalmente as frases fizeram sentido na sua cabeça, como se tudo o que ocorrera nas últimas semanas: Gina, a revelação da ameaça de Voldemort, o rompimento, a busca pelo nome de poder, Gina... Tudo aquilo tivesse feito um véu que agora se abria e revelava Rony, apavorado e prestes a... De repente, Harry se perguntou se devia ter insistido tanto naquela conversa.

– Wow! – ele jogou o corpo para trás e tentou parecer natural. – Bem, er... Eu achei que vocês já...

– Não – negou Rony, depois completou – quase. Quando ficamos juntos da primeira vez, mas eu achei melhor parar.

– VOCÊ O QUÊ?

– Eu fui correto, ok? – ele se defendeu prontamente. – Queria ter certeza de que a Mione não voltaria atrás, não me culparia ou diria alguma coisa como eu tê-la forçado ou algo assim.

– A Mione não faria isso.

– Claro que não – debochou Rony – porque ela nunca me culpa por nada errado que acontece, não é?

– Certo. Então, você... humm... não quis... ir adiante naquele dia – Harry prosseguiu, mas agora a hilaridade da expressão sofrida de Rony começou a comichar fortemente os cantos da sua boca, mas ainda assim ele preferiu não forçar a barra debochando do fato do outro ter “parado”.

– É. Então... bem, não é que as coisas tenham esfriado ou algo assim, sabe.

– Tenho certeza – concordou Harry – tenho sido testemunha desavisada dos arroubos de vocês dois. Inclusive tenho tentando fazer um barulho antes de abrir qualquer porta nesta casa.

Rony aspirou algo pelo nariz como se fosse rir, mas não conseguiu.

– Já houve vezes em que parecia que ia ser, mas sempre acontecia alguma coisa. Ou estávamos na Toca e alguém podia chegar ou na casa da mãe dela, ou aqui com você e o Monstro podendo aparecer a qualquer momento e...

– Ei, bastava me avisar, ok?

– E o que eu estou fazendo? – indignou-se Rony. – É hoje!

– Certo – Harry assentiu um pouco constrangido. – Então, é só eu ficar fora do caminho e mandar o Monstro, sei lá... visitar os parentes, supondo que ele os tenha. – O rosto contraído de Rony mostrava que não era só isso. – Olha Rony, você já me disse uma vez que não queria a minha ajuda e sinceramente eu não quero...

– E se eu for uma droga? – o outro o interrompeu com os olhos alucinados.

Por alguns segundos Harry não soube bem o que dizer. Rir estava fora de questão porque provavelmente levaria um soco. Optou pelo que parecia ser a saída mais fácil: tentar fingir que aquela podia ser uma conversa racional e não completamente constrangedora.

– Você não parecia preocupado com isso antes.

– E não estava. Quero dizer, quando a coisa é... sabe, no momento, a gente não pensa muito.

– Não pensa nada – suspirou Harry. Rony o olhou inquisitivamente e ele se apressou em manter o foco da conversa. – Bem, vai haver um... momento hoje à noite, não?

– Acho que sim. O problema é justamente esse. Por que ela tinha de marcar uma data? Quero que seja especial, Rony – ele imitou a voz da namorada. – Não podia simplesmente ser... Ela tinha que me deixar pensando nisso?

– Desculpe, mas eu imagino que você tenha pensado bastante nisso nos últimos anos, não é? E com a Mione, se não estou enganado.

– Nisso sim – retrucou ele. – O problema é... Ah Harry, e se ela odiar? Se ela achar que sou patético, desajeitado, ruim mesmo?

– É um risco – Harry precisou recuar e erguer as mãos em sinal de rendição. – Ok, calma. Pense assim: a Mione te ama. Ela já aceitou casar com você. O que mais você quer?

– Você falou isso e sabe o que eu ouvi? “A Mione te ama”, então não se preocupe porque ela terá pena de você. E “ela já aceitou casar com você”, está conformada e sendo uma garota legal como ela é, não vai voltar atrás mesmo que você seja um perfeito retardado que a faça cogitar seriamente dormir em quartos separados pelo resto da vida!

– Rony, você não acha que está exagerando? Só um pouquinho? Não há nada, nada mesmo que indique que a Mione não vá gostar. Vocês se adoram, pombas.

– Eu não quero que a Mione goste! Quero que ela ache fantástico, maravilhoso, que ela jamais volte a pensar em fazer isso com qualquer outro homem na vida dela!

Harry bateu sonoramente com as mãos espalmadas nos joelhos e se ergueu da cadeira com a clara intenção de sair dali.

– Ok! Isso é algo com que realmente não posso te ajudar – falou enquanto analisava possíveis rotas de fuga daquela conversa. Qualquer uma que aparecesse.

– Acho bom! – Os olhos de Rony agora estavam nele e faziam uma linha fina. – Se pudesse me ajudar isso significaria que eu teria de te bater, não é?

– Hei! Eu não saí apenas com a sua irmã! – Rony arqueou a sobrancelha com ceticismo. – Rony, o assunto não é sobre eu e Gina, certo? Além disso, cara seria bom que você se acostumasse porque um dia...

– É melhor você não completar isso – disse o outro.

Houve uma pausa enquanto Rony jogava o corpo para trás e olhava o teto da cozinha, parecendo esperar que dali surgisse alguma dica ou idéia mágica. Harry tentou de novo, mas mantendo cuidadosamente o foco em Rony.

– Eu achei que você já...

– Não vem ao caso – resmungou Rony. – Estamos falando da Mione agora!

– Certo. – Ele não saberia exatamente o que dizer. Mesmo que fosse capaz, Hermione era como uma irmã para ele, dar dicas ao Rony sobre uma coisa assim lhe parecia completamente inapropriado, sem falar no que era de constrangedor. – Então... por que você não procura alguém, sabe, mais velho... com... é... experiência maior. Tipo, que possa te dar umas dicas ou algo assim. Seu pai, talvez?

– Eu morreria de vergonha antes disso. Papai é muito... meu pai, sabe? Eu até pensei no Fred e no Jorge, mas eles acabariam comigo. Eu terminaria tendo de pintar o cabelo, mudar de nome e talvez até sair do país.

– E o Gui? – sugeriu Harry achando que aquela deveria ter sido a escolha óbvia.

– O Gui? – Os olhos de Rony se iluminaram.

– É, ele é casado com uma meio-veela, não é? Acho que só isso já o recomenda.

Rony começou a rir como um bobo.

– Claro! Gui. Claro. É perfeito! Excelente idéia. Eu vou lá agora.

E já ia saindo porta a fora, quando o Harry o segurou pelo braço.

– Rony! Que diabos deu em você, cara? Quadribol, lembra?

– Ah é – os ombros dele murcharam e Harry teria tido novamente vontade de rir se os destemperos de Rony não estivessem ameaçando-o duplamente: quadribol (isso tem importância em si) e seus tão cuidadosos planos para aquele jogo.

– Além disso – falou seco – o Gui certamente vai estar lá.

A notícia fez Rony voltar a sorrir tolamente e ficar mais controlado, o que permitiu que pudessem se aprontar e sair, contando com o fato de que estavam atrasados.

O lugar escolhido para o jogo foi o estádio pertencente às Ligas Britânica e Irlandesa de Quadribol. O Departamento de Manutenção Mágica reclamara um pouco em ter de organizar um evento no lugar – próximo a uma área residencial de subúrbio, infestada de trouxas – durante as férias do Campeonato do Reino Unido. Ainda mais que o jogo seria durante o dia e não noturno como costumavam ser os da Liga, o que dificultava a sua dissimulação. Por conta disso, o Departamento de Execução das Leis da Magia passou a semana toda recomendando aos jogadores que não fizessem vôos muito altos para não se chocarem com nenhum avião (o caso Wetherby, ocorrido em 1965, ainda não havia sido completamente esquecido pelos funcionários mais antigos). Harry, por ser o apanhador e o capitão do time dos novatos, recebera pelo menos três memorandos com recomendações adicionais. Além disso, uma tropa inteira de obliviadores tinha sido destacada para ficar de serviço em caso de qualquer emergência.

Nada disso, porém, foi capaz de diminuir a festa dos bruxos que se dirigiram para o campo naquela ensolarada manhã de agosto. O dia quente prenunciava ótimas condições para quadribol. Havia pouco vento e bastante luz, mas Harry esperava ainda que aparecessem algumas nuvens, o que ajudaria a diminuir o brilho ofuscante do sol (quem sofria com excesso de dourado era, em geral, o apanhador que tinha dificuldades em localizar o pomo). Quando ele e Rony chegaram ao estádio, foram saldados por uma alegre e multicolorida multidão dos bruxos, os mais óbvios que Harry já vira em toda a sua vida, tal era a coleção de roupas e chapéus espalhafatosos que usavam. Àquela altura da manhã, vendedores de doces circulavam pelas arquibancadas montados em vassouras, carregando grandes cestas abarrotadas de Feijõezinhos de Todos os Sabores, Algodões de Caramelo, bolos de caldeirão, drops de bolhas coloridas, sapos de chocolate... Umas quatro vassouras tinham o emblema das Gemialidades Weasley e Harry conseguiu localizar vários bruxos, especialmente os mais jovens, com buzinas de atordoar e apitos que gritavam o nome dos jogadores. Produtos que tinham, sem dúvida, a marca dos gêmeos. Ele sorriu. Realmente não queria estar em nenhum dos departamentos de controle do Ministério num dia como aquele.

Havia muita gente que Harry conhecia e ele e Rony precisaram acenar muitas vezes. Algumas vezes, pessoas que eles nunca tinham visto também mandavam adeusinhos e os dois correspondiam, afinal, mesmo que Harry não quisesse aquela notoriedade, ele a tinha e, agora, Rony também. Mesmo assim, ele ainda sentia fisgadas incômodas ao cumprimentar gente como Dennis Crevey, Ana Abbot e tantos outros ex-colegas com quem ele convivera por tanto tempo e que ele sabia terem perdido pessoas preciosas durante a guerra. Mesmo com o estádio cheio, Harry podia ver ali muitos e muitos lugares vazios.

De longe, seguindo pela arquibancada lateral, Neville acenou para eles. Estava acompanhado pela sua avó, que também os cumprimentou com um movimento de cabeça. Harry não pode deixar de se espantar em ver Augusta Longbotton ali, mas desde o fim da guerra, ela parecia fazer questão em desfilar, muito orgulhosa, com o neto herói de guerra. Rony deu um cutucão nas costelas de Harry e mostrou um grupinho de garotas que parecia ter ficado muito excitada com a presença de Neville, ainda mais agora que circulava a notícia de que ele estava sendo preparado pela Prof. Sprout para ser seu sucessor em Hogwarts.

– Quem sabe assim, ele esqueça a queda dele pela Mione – disse Rony, com um risinho de lado.

– Você não tem ciúmes do Neville? – perguntou Harry com incredulidade.

– Claro que não, mas vou gostar bem mais quando ele tiver uma garota e parar de lançar olhares para a minha. Ah! Lá está o Gui!

– Rony, você não pode fazer isso depois? Temos de nos trocar e...

– Está bem, está bem... saco! – Ele entrou nos vestiários e deixou Harry, que voltou a analisar as condições do tempo para dar as últimas dicas antes do jogo enquanto a multidão se deslocava barulhenta para as arquibancadas.

Um beijo estalado na bochecha o chamou de volta a terra, mas foram os olhos azuis e risonhos de Luna que ele encontrou. Hermione vinha com ela e também ria bastante, o que denunciava a expressao de decepção que ele fizera ao ver a autora do cumprimento.

– Sei – debochou Mione – esperava outro beijo de outra pessoa. Ela já entrou no vestiário, se quer saber.

– Obrigada pela informação – disse Harry. – Hei, você trouxe o seu chapéu de leão! – falou apontando para Luna.

– Ora, o time é quase todo da Grifinória, não é?

Ele ia perguntar onde elas pretendiam se sentar, mas viu alguém que ele estava esperando passar pelos portões. Horácio Slughorn vinha acompanhado de uma mulher alta, de nariz empinado, com um pontudo chapéu cor de beterraba, combinando com as vestes, e óculos escuros. O ex-professor acenou alegre para Harry, mas conforme o combinado não se dirigiu até ele e sim, diretamente para as arquibancadas. Claro que a movimentação dele foi lenta, cumprimentava muita gente, conversava aqui e ali. Harry preferia que ele fosse mais rápido e que ninguém reconhecesse a mulher com ele.

– Quem é a bruxa? – Perguntou Hermione com perspicácia, seguindo o seu olhar.

Luna fixou imediatamente a acompanhante de Slughorn, erguendo-se na pontinha dos pés para vê-la melhor. Harry sabia que o interesse delas colocaria seu pequeno segredo em perigo. Tinha duas alternativas. Ou dissimulava e rezava, ou as envolvia e implorava que não o delatassem, pois poriam tudo a perder.

– Vocês a conhecem, você pessoalmente Mione – a garota o encarou erguendo a sobrancelha. – E eu ficaria muito grato se ao invés de espalharem por aí quem ela é, vocês duas sentassem perto dela e Slughorn e me mantivessem informado de tudo o que ela disser sobre o jogo.

– O que você está tramando, Harry?

– Para mim parece bem óbvio – disse Luna enquanto ajustava o chapéu na cabeça com um ar aéreo. – Você está pensando em seguir outra carreira, Harry?

– Ele não – falou Mione estreitando os olhos. – Ah Harry, isso pode dar o maior...

– Só vai dar confusão se você abrir a boca!

– Eu não sei, Harry... – ela disse incerta.

– Mione, por favor... Você é ou não é minha amiga?

Com um profundo suspiro, Hermione fez que sim com a cabeça e Luna concordou enfática quando Harry também a consultou com o olhar.

– Então por que vocês não agem como as bruxas lindas e maravilhosas que são e me ajudam? – pediu (mas imploraria se fosse necessário).

– Ok – concordou Mione – mas é por sua conta e risco.

– Eu sei.

– Isso vai ser divertido – riu Luna. – Que tal se ela estiver gostando meu leão urrar duas vezes seguidas?

– E não estiver, uma – disse Harry animado. Conformada, Hermione concordou.

– O que fará se ela não gostar do que vir?

– Darei um jeito – ele sorriu largo. – Adoro vocês duas! – disse dando um beijo na bochecha de cada uma. Hermione pegou a mão de Luna e começou a puxá-la para a arquibancada. Foi algo no ar superior dela que fez Harry atacar. – Mione! – chamou sério. – Sobre mais tarde – ela o olhou interrogativamente – seja gentil com o Rony, ok?

A garota abriu várias vezes a boca buscando o que dizer, mas pelo visto não encontrou nada e Harry ficou muito satisfeito em vê-la ficar roxa de vergonha.

– É, você entendeu – ele saiu dali antes que ela se recuperasse e jogasse algo pesado nele. Mas não a deixaria ir embora achando que só ela possuía um segredinho dele.

Entrou como um furacão no vestiário e, enquanto trocava de roupas, abafou as reclamações do time de que ele estava atrasado com uma torrente de recomendações sobre o tempo e as táticas de jogo. Carl Munford foi o único que continuou a reclamar mesmo enquanto Harry falava e só parou quando Jorge comentou que seria um recorde um jogador perder todos os dentes mesmo antes de entrar em campo. Com estudada displicência, Harry não olhou muito para Gina e tentou disfarçar a ansiedade com uma verborrágica atitude de incentivo ao time.

Quando eles adentraram no gramado, um urro de ovação subiu das arquibancadas e Harry se perguntou se o Ministério conseguiria disfarçar o som dos berros somados aos das buzinas atordoantes e apitos. O grupo caminhou até o centro do campo acenando como se fossem astros em um jogo decisivo, sob uma chuva incessante de palmas. Harry estava tão atordoado que quase não notou Fred encostar-se ao seu lado direito.

– Caso não seja possível desviar os balaços para os adversários, temos permissão de mandá-los no Munford, capitão?

Harry apertou firmemente os lábios e precisou de um segundo para responder.

– Só se estivermos ganhando.

– Era o que eu queria ouvir – disse Jorge maldosamente ao seu lado esquerdo.

– Se estão tão animados, me façam um favor – disse entre os dentes e já sorrindo para Quim, capitão dos veteranos que vinha do lado oposto do campo – deixem a Gina o mais livre possível.

– Você é um namoradinho preocupado, hein?

– É – concordou Jorge – faríamos isso de qualquer jeito. Ela é nossa irmã, não é?

Harry não respondeu, tinham chegado a frente ao outro time e estavam ouvindo as recomendações do árbitro. Ele e Quim apertaram as mãos, os times montaram nas vassouras e, num segundo, circulavam o campo sob uma saraivada ainda mais entusiasmada de palmas. Harry nunca jogara assim. O barulho era suficiente para estontear, mas tinha certeza de há muito não se divertir tanto. Talvez, se ele tivesse tido outra vida, com seus pais e tudo mais, aquela fosse uma vida que ele gostaria de abraçar. Ser jogador profissional. Ele até tinha esquecido o quanto amava voar. Mas não era apenas voar, afinal, continuara fazendo isso pelo menos no último ano. O que tinha lhe feito falta era aquilo tudo: o frio na barriga, os arrepios em torno do pescoço, a excitação de uma partida de verdade, o público berrando alucinado a cada ponto, cada manobra, cada balaço errado ou acertado.

Foi quando o jogo fechou meia hora que Harry teve de admitir que daquele jeito seus planos não dariam certo. Embora houvesse um razoável empenho dos jogadores de ambos os lados, ninguém parecia estar realmente levando a partida a sério. Havia um inegável tom de brincadeira e cordialidade que não combinava nem com quadribol, nem com a idéia que Harry fizera daquela partida. Ele não conseguia acreditar no que via, especialmente tendo quatro irmãos Weasley – que sempre levaram quadribol tão a sério – no seu time. Até o público tinha esfriado com o jogo “festivo” em demasia. Não que estivessem desgostando, mas Harry já vira muitas cabeças se voltando para os lados para conversar. A gota d’água foi quando ele sobrevoou a arquibancada e ouviu o leão de Luna dar um rugido solitário. Pediu tempo.

– O que vocês pensam que estão fazendo lá em cima? – Vociferou furioso assim que todos pousaram na sua frente.

– Jogando quadribol, oras – disse Gina, levemente ofendida.

– Não mesmo! Aquilo é qualquer coisa menos quadribol!

– Ah Harry – conciliou Melinda Bobbin – é uma festa. Estamos brincando e até nos saímos bem, não é? Estamos vencendo por vinte pontos.

Harry rolou os olhos se segurando para não partir para cima da garota.

– Nós não treinamos para brincar! Vocês são um ótimo time, o mínimo que poderiam fazer pelas pessoas que vieram assisti-los era um jogo emocionante.

– É um amistoso, Harry – contemporizou Jorge e ganhou em troca a expressão menos amistosa que Harry pode lhe devolver.

– Certo – retrucou azedo – então vamos pedir para o narrador começar a entoar canções de ninar, porque é tudo o que esse pessoal – apontou para o público – está precisando para cair no ronco! Eu já perdi a conta dos bocejos.

O grupo pareceu um pouco constrangido, finalmente percebendo que não estavam dando nem um décimo de si. Apenas Rony não mudara de expressão com tudo o que Harry tinha falado. O rapaz tinha os olhos nas arquibancadas e parecia querer medir a distância entre o lugar que Gui estava sentado com Fleur e o lugar onde Hermione estava.

– Você não acha que está exagerando? – perguntou Gina. – Com você como apanhador, vamos ganhar de qualquer jeito. Por que estragar a festa com uma lavada?

– Que tal porque isso é quadribol? Olhem – falou buscando paciência e ignorando as faíscas dos olhos de Gina – o pessoal veio pela festa, veio sim. Mas também para ver um jogo, pelo menos, decente e não essa meleca morna que estamos oferecendo.

– Acho que o Harry tem razão, pessoal. Podemos dar mais do que isso.

Muito obrigado, Fred!

– Você quer que a gente jogue para valer? – Gina tinha os braços cruzados.

– Que eu me lembre você só jogava assim – provocou.

Os gêmeos trocaram um olhar malvado.

– Se você quer show, patrão? É o que vai ter – afirmou Jorge. – Está conosco, irmãzinha?

Gina deu de ombros, ainda olhava Harry um pouco indignada pela dura. Mas os dois irmãos a ergueram e passaram a jogá-la para cima pedindo “diz que sim, diz que sim” até que ela concordasse entusiástica e às gargalhadas. Jorge ainda deu um tapa no topo da cabeça de Rony que se limitou a resmungar, ajeitar o cabelo e voltar a olhar para a arquibancada. Harry, porém, deu-se por satisfeito e voltou a reforçar o esquema.

– Melinda e Munford, vocês dois sirvam a Gina com a goles; ela é mais rápida e quase nunca erra os aros. Gina, você já notou que o goleiro deles, Templenton, tem uma esquerda...

– Que é um fiasco... Já notei sim.

– Ok, então use isso, se a marcação ficar muito forte sobre você, recue e lance para o Munford, ele é mais forte para agüentar trancos e balaços. Nesse caso, você e a Melinda façam a jogada ensaiada e tentem confundi-los para que eles não saibam para quem o Munford vai lançar. Fred e Jorge eu não preciso nem dizer o que têm de fazer, certo?

Vários acenos de concordância, os dois batedores davam sorrisos de todos os dentes enquanto golpeavam suavemente os bastões nas mãos.

– Rony?

– Hã...? – Os gêmeos o olharam com grande desagrado. – Eu ouvi, ok? Artilharia com foco na Gina, balaços nos batedores e artilheiros deles, Munford servindo de isca. Eu só tenho de proteger os aros, não é? Ah, vamos subir e jogar para acabar de uma vez com isso.

Rony passou a perna pela vassoura e subiu rápido.

– O que deu nele? – quis saber Jorge.

– Não me pergunte – pediu Harry.

– Mas você sabe – insistiu Fred.

– Eu pedi para não me perguntar.

O resto do grupo alçou vôo e Harry fez uma anotação mental de ficar longe de Fred e Jorge. Se eles sequer desconfiassem, Rony estaria no inferno e ele seria um homem morto. Rony o mataria.

Na hora e meia seguinte, o time dos novatos, apesar da heróica resistência dos veteranos, arrasou. Os gêmeos Weasley pareciam estar em um playground. Rony, mesmo querendo acabar logo a partida, estava inspirado e disposto a provar que faria “tudo” direito naquele dia. Só não esteve perfeito porque se distraiu algumas vezes, daí vieram todos os gols que eles tomaram; felizmente, bem poucos. E Gina simplesmente brilhou. Livre e disposta, ela fez o goleiro adversário chegar às lágrimas engolindo gol atrás de gol. Em pouco tempo, a platéia, completamente acordada, só gritava o nome dela.

Sentindo-se realizado, Harry só se empenhou em procurar o pomo ao ouvir o leão de Luna rugir várias vezes seguidas. Quando ele finalmente fechou a mão sobre a bolinha dourada, os novatos acabavam de vencer pelo impressionante placar de quatrocentos e noventa a oitenta. Um marco para um jogo amador.

– Espero que isso signifique que o trabalho de vocês será mais eficiente que o nosso – disse Quim bem-humorado ao cumprimentá-lo mais tarde. – Mas acho que também ficaria contente se algum de vocês estivesse na seleção da Inglaterra.

Harry sorriu largo com a última frase.

– Quem sabe? Desejos se realizam, não é? – disse enigmático.

A sua direita, não muito distante, Slughorn e sua acompanhante, a capitã do Harpias de Holyhead, Gwenog Jones, estavam cumprimentando Gina com grande entusiasmo. Harry achou mesmo que a bruxa estava se desmanchando em elogios para a garota.

– Pelo visto, você conseguiu o que queria.

Harry se virou. O público ainda estava muito agitado à volta deles e as pessoas não paravam de dar palmadinhas no ombro dele. O resto time estava cercado de admiradores e familiares, mas já era possível ver focos de dispersão.

– Não entendi o tom de crítica, Hermione.

– Você está fazendo de novo, caso não tenha notado.

Ele acenou em aceitação a um cumprimento e tornou a encará-la cruzando os braços.

– Fazendo o quê?

– Decidindo pela Gina.

– Não, não estou. Não a estou obrigando a aceitar o que quer que aquela mulher proponha para ela, estou? De agora em diante é com a Gina, se ela não quiser...

Hermione deu uma espécie de bufinho descrente.

– Se você ouvisse o que aquela Jones falou que estava disposta a fazer para ter Gina no time dela...

– ‘Tá falando sério? – perguntou ansioso e Hermione sorriu resignada.

– Estou. Mas lembre e uma coisa Harry, não é apenas o quadribol que vai fazer a Gina feliz, você sabe disso. De qualquer forma, tenho de admitir que você se tornou um cara...

Mas ela não pode acabar de dizer e Harry nunca soube se era um elogio ou outra recriminação. Rony tinha chegado e abraçando-a pela cintura deu-lhe um beijo no pescoço.

– Certo, eu sei quando estou sobrando – disse Harry. – Vou desaparecer por aí e não se preocupem comigo, viu? – falou já se afastando rápido.

Hermione se virou de frente para Rony sem se afastar do abraço.

– Fiquei com a estranha sensação de que ele está sabendo alguma coisa. O que disse a ele Rony?

– Pedi para ele liberar a casa para gente. Vai brigar comigo?

– Não. Vou apenas retirar o que eu estava pensando a respeito de vocês dois.

– Que era?

– Que vocês tinham superado a insensibilidade típica dos meninos. Sabe quando poderei olhar para o Harry de novo? Sem ficar embaraçada?

Embora Hermione quisesse ver Rony perceber que os dois deveriam ter alguns segredos, mesmo para o Harry, não conseguiu continuar a repreendê-lo. Havia algo muito intenso no olhar do namorado, algo sério, urgente, determinado.

– Está tudo bem? – ela perguntou incerta. – Quando fui cumprimentá-lo, você disse que precisava falar com o Gui. Conseguiu? O que queria falar com ele?

– Não consegui falar com ele – disse Rony lentamente como se acompanhasse algum filme passando dentro dos olhos dela. – Ele estava com o Fred e o Jorge. Mas eu também percebi que não precisava falar realmente com ele.

– É? – Hermione não sabia se estava intrigada ou assustada com o jeito de Rony olhar para ela, segurando-a firme, sem se mexer, sem nem notar que havia centenas de pessoas em torno deles.

– É, descobri que preciso te dizer uma coisa e tem que ser agora.

– Certo. E o que é?

– Eu te amo.

A garota sorriu, mas antes que ela retornasse, Rony a beijou. Se alguém lançou piadinhas ou algum bruxo mais velho passou resmungando “esses jovens”, nenhum dos dois ouviu porque, afinal, não havia mais ninguém além dos dois no planeta inteiro. Talvez nem mesmo neste universo.

– Vamos para o Largo Grimmauld – ele disse ao se afastar dos lábios dela.

Hermione abriu a boca um pouco chocada.

– Agora, Rony? Mas... mas e a festa? – O rapaz se limitou a dar de ombros. – Mas eu tinha planejado tudo para hoje à noite. Jantar, velas, música...

– Você precisa disso?

Ela piscou várias vezes.

– Acho que não – olhou-o pelo tempo que duraram três batidas de seu coração acelerado. – Não, definitivamente não.

Rony terminou o sorriso nos lábios da namorada e os dois desapareceram do meio da multidão. Talvez não se devesse aparatar beijando alguém daquele jeito. Certamente Wilkie Twycrooss, o instrutor de aparatação do Ministério, não recomendaria. Mas Rony sabia que não tinha como errar. Nunca, em toda a sua vida, estivera tão concentrado no seu destino: Hermione.



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N/B Sônia:(È!É! É!)- O que??????????????????)- (muito justamente)- (hiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii...aí pega!) – (Affffff!) - (Òi o Harry!Vixe!;D) - (A Mione ta na tpm???=D rsrsrsrsrsrs... Amo essa bechenha, mas ela sabe ser irritante!) – (é, mas é Voldemort, né? E se ele deu um jeito de aprimorar o raio do feitiço??????) - (Aeeee Luna! Garota esperta!) - (Górgonas galopantes! E não é que eu gosto do Monstro!) - EEEEEEEEEEEEEEEE FREDGEORGE!FREDGEORGE!FREDGEORGE! Qual deles vai acertar um balaço nos países baixos do tal Munford???? Risada maligna aqui!) - (kikikikikikikikikikikikikiki, não pude deixar de visualizar a cena!) - EEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE É HOJE!!! HERMIONE SORTUDA!) - (Como é que ele pode pensar isso????? Com tanto amor envolvido...) – “Sobre mais tarde – ela o olhou interrogativamente – seja gentil com o Rony, ok?” (+O Kikikikikikikikikikikikikikiki...)- “...seria um recorde um jogador perder todos os dentes mesmo antes de entrar em campo.” (EEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE!!!) - (Eu ADORO esses dois!!!! Eles desopilam meu fígado! ) - (KKKKKk baloço nele! Goles para ela!) - Viu? Como não amá-los?) - É a chefona das Harpias? Vai dar o emprego pra Gina, não é?Assim, ela larga de ser auror... Acertei????)- “...Gwenog Jone,” (acertei!) - (Também acho!) – (uuuuiiiiiiiiii) - (Arrasou aqui, Anam! Ficou... arrepiante!) – Um comentário maluco de Beta? Não, essa foi a transcrição de alguns dos comentários descontrolados que disparo enquanto leio cada capítulo da minha Anam! Alguns, porque se fosse colocar todos... Aff! ;D – Minha estimada e talentosa Sally, você colocou cores na minha segunda feira chuvosa! Grandes tiradas cômicas, (os gêmeos arrasaram!), e toda a insinuação do que aconteceria entre Ron e Hermione me fazendo suspirar... E por falar em Ron... MISERICÓRDIA MULHER!!!! Tive três tipos diferentes de treco por aqui!!!! HERMIONE SORTUDA!!!! Rsrsrsrsrs... Opa! No próximo capítulo tem festa, é???? Posso fazer um pedido encarecido de Fã/amiga/beta? Põe um pouco dessa luz que você irradia na vida do nosso herói? Deixa ele restabelecer as energias com um pouco de felicidade, (leia-se: mais provocações, e algumas ações, da ruiva ;D), antes de encarar o sabugão ofídico outra vez???? Poooor Faaavooor???? =D – Pedidos feitos, resta aplaudir! E muito! Uma vez mais e sempre eu agradeço esse privilégio que me concedeu, Anam! CAPÍTULO ESTRONDOSAMENTE EXCELENTE! Risonho, quente e ensolarado, em uma modesta tentativa de defini-lo... Beijos muitos! Adoro você! Até o próximo!!!!!!!! =D



N/A: Eu sei que tenho demorado gente, mas como sempre explico, sou uma pessoa trabalhadora e das que se não trabalha não come. E eu ainda preservo esse luxo horroroso, sorry. Por outro lado, sou também muito cuidadosa e enquanto o capítulo não me satisfaz, não adianta, eu não posto! Espero que tenham curtido este.

A música é um clássico, como são todas as músicas dos Beattles: In my life, como sempre a letra está na comu das fics no orkut e vcs podem acessar a música no meu multiply (o link lá em baixo).

Agradecimentos e respostas pessoais!



Suzana Barrocas (beijo direto do tio Sam? Fiquei curiosa. Museu? Mais ainda!! Que bom que gostou. Bjs); Sônia Sag (Minha Anam querida, vc sabe o quanto gosto da Gina, exatamente por isso, acho maravilhoso nunca revelar tudo sobre o que ela é capaz. Pobre Harry, hihi); Drika Granger (eu sei, querida, já tirei os 4 e fico feliz de ter ajudado um pouco, mas essa de imprimir a fi me deixou completamente maravilhada. Muito obrigada mesmo!!); Gina W. Potter (Desculpe a demora, querida. Tb amo muito a Gina, vc sabe! Que bom que gostou das novidades); Naty L. Potter (Vc parece o Harry, hihi, medo que aconteça algo com a Gi. Olha, eu tinha pensado na fic ter uns 15, depois passou para 16, agora não sei mais...); Doug Potter (Valeu, querido!); Charlotte Ravenclaw (Uma coisa de cada vez, hehe. Perigoso? É, de um jeito bem Rony, hihi); Luciana Martins (Muito obrigada, Luciana, por todos os elogios. Acho que este é o esforço dos ficwritters, não? Manter a magia. Um beijo grande! Tem outra resposta para vc lá em baixo.); Thais Domingos dos Santos Rodrigues (como eu disse, a fic continua sendo romance, o resto é apenas tempero. Que bom que gosta da Gina e o lado pimentinha dela. Acho ela e a Mione grandes mulheres!); Priscila Louredo (Pelo visto o Rony dispensou as suas dicas amiga, rsrs, ou aconteceu algo que eu não sei? Hehe Tb te amo!); Patrícia Ribeiro (Valeu, querida! Espero que tenha gostado deste também); Hellzita (Obrigada, obrigada!!! Escrever H/G é a minha paixão, pq acho os dois maravilhosos! Fico feliz que vc ache isso tão bom assim. Bjs!); Bernardo Cardoso (Ele não é retardado, oras... é só... um garoto rsrsrs, deixa estar, amigo, de bobo ele não tem nada, nem a Gininha dele. Bjão!); Rafaela Coelho Iukezon (eu não sei se no fundo o Harry quer algum respeito com o espaço dele, rsrs, espero que esteja gostando do rumo das coisas, bjs!); Eleonora (Meus spoilers são bem fraquinhos e disseminados, espero que já tenha lido o 7 e gostado tanto quanto eu. Obrigada pelos elogios, beijos!) Daina Braga Pereira (Valeu, Dai! Sim, um pouco de aventura, mistério e muito romance ainda hehe); Carol Lee, Ana Potter (obrigada meninas!); Lica Martins (Respondendo: não é uma ponte para o Retorno, hehe e só digo isso! Bjão! Amo vcs duas!); Liih Black (Hahaha! Se eu morasse naChina seria terrível, já pensou escrever ou ler naqueles caracteres? Hehe! Desculpe não poder matar sua curiosidade de uma vez só, mas aí não teria fic. Bjs querida e obrigada); Pamela Black (Valeu, Pam!); Ana Eulina Carvalho (Hihi, obrigada!); Sara_Lins (Atualizada!); Danielle C. Pereira (Muito obrigada, mesmo!); Mirella Silveira (Bem, a Gina sempre disse que mentia bem, não é? Hihi); Tonks Butterfly (Eu agradeço a vc e a Luna, pelos comentários, então. Beijo grande!); Tammie (Amei o bichinho roxo de bolinhas amarelas da curiosidade, hehe, vou adotar. Beijão); Guta Weasley Potter (Valeu!!!! Mas do Rony tem fila hahaha E logo vai ter para o Harry tb, rsrs); Pandora Potter ( Muito obrigada, espero que continue gostando); Alessandra Amorim (Valeu querida! Adorei o que vc disse sobre os meu spoillerzinhos, pois significa que ficaram na medida. Saudades. Bjs!); Débora Miranda de Barros (H/G terá seu percurso, mas as coisas se resolvem, pode deixar. Obrigada por comentar e estar gostando. Bjs!); Mari Granger (Tudo a seu tempo, hehe. Aguarde, beijos!) Amanda Carvalho Izidoro (Muito, mas muito obrigada mesmo. Fico feliz em corresponder à propaganda. Um beijo grande!); Ceci Barbosa (Valeu mesmo, querida!! Espero que continue gostando e me dizendo o que achou. Beijos!); Paulo Borges (Puxa, obrigada!); Cici (é um show, não é? Parece que agora publicaram o livro no Brasil, estou atrás); Cris Potter (Logo, vem o próximo do Retorno. Bjs!); Belle Sarmanho (querida, eu agradeço demais o seu comentário; é sempre complicado colocar algo inesperado em uma fic e isso não ficar fake. E eu tb não esqueci da música, hehe Beijão!); Luana Karen de Almeida ( Muito, mas muito obrigada mesmo, eu adorei o que vc escreveu, é muito bom receber um elogio assim. Bjs!); And GW (Muito obrigada pela compreensão querida, saiba que continuar escrevendo é uma das minhas prioridades, sempre. Beijão!); Mila Weasley (Muito obrigada, beijos!); Ana Carol (Hahaha! Fico feliz que tenha curtido essa fic tb, brigadão e beijos!); Luisa Lima (Tb acho o Slugh engraçado, claro, ele lá e eu aqui, detesto gente desse jeito na vida real, mas é para mostrar que o Harry quando quer algo, tb não poupa esforços. Ele e a Gina não querem abrir mão um do outro, mas cada um vai agir à sua maneira. Eles não são perfeitos um para o outro? Obrigada sempre, amiga!).

Duas respostas em especial:
Alguém cujo nome a FeB apagou: Sim, o título vem da própria música. Se vc leu minhas N/As, tem tudo explicadinho. Cada música para a fic ou capítulo, cada inspiração. Se quiser ouvir é só acessar o meu Multiply no link abaixo.

Luciana Martins – O projeto 19 anos vai sair sim. E eu quero muito escrever esta cena. Agora, minha meta é ler o livro todo em português, começo hj e depois, com ele fresquinho na cabeça escrever. Assim, que estiver pronto eu aviso aqui ou no orkut, ok?
Beijão!


Gente, escrever é para mim uma necessidade cada vez maior, mas contar com leitura e a aprovação de vcs é uma honra e um privilégio. Muito, mas muito obrigada, mesmo.

Um beijo bem grandão e até o próximo!
Sally



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