Painted on my heart
Capítulo 3
Painted on my Heart
A noite estava morna e tinha um cheiro adocicado de grama misturado com flores. Quase não ventava, mas isso não era ruim. A primeira coisa que Gina registrou ao desaparatar em frente à Toca foi que os grilos pareciam enlouquecidos tal o barulho que faziam, e isso compunha bem com o resto da atmosfera.
Luc estava já ao seu lado sorrindo.
– Eu acredito que seria correto levá-la até a porta – falou num sotaque menos carregado que o de Fleur, mas ainda perceptível e bem mais bonito.
– Se você insiste... – disse Gina com simpatia. – Eu até mesmo poderia ter vindo sozinha até aqui.
– Oh non. Permitir isso seria muito deselegante da minha parte após essa noite maravilhosa ao seu lado.
Ele tinha um jeito curto de falar, a voz grave, a expressão sincera. Não havia como não achá-lo galante. Talvez de um jeito um pouco fora de moda, mas Gina tinha que admitir que o jovem fazia isso sem ficar forçado. Pelo contrário. Ainda sorrindo para a resposta dele, Gina se pôs a caminhar para casa. Luc a seguiu.
– Foi uma ótima noite – Gina comentou, achando melhor dizer logo alguma coisa. – Obrigada.
– Mais non! Você não tem que me agradecer. Foi um prrazer. Tu est belle et très charmant, Gina ! Uma companhia adorável. Eu me diverti muito esta noite. Je remercie a toi.
Luc inclinou a cabeça num gesto breve e cortêz e, pensou Gina, muito charmoso. Ela se limitou a lhe dar um sorriso maior. Estavam já à porta quando ela se voltou para ele.
– Bem, estou entregue.
O rapaz deu um passo chegando muito perto dela.
– Eu... Bien, eu poderia convidar você parra sairmos novamente?
Gina brincou fazendo cara de quem pensa muito sério antes de responder.
– Seria interessante... – relaxou o sorriso. – Claro Luc. Por que não?
O rapaz soltou o ar e se aproximou mais. Gina ainda estava com os olhos abertos quando ele ergueu suavemente o seu queixo e colou os lábios nos dela. Ela chegou a fechar os olhos por um instante, mas recuou sem deixar que Luc aprofundasse o beijo. Ele a soltou, aceitando o sinal vermelho.
– Ok – Gina não sabia bem o que dizer. Parecia estranho estar fazendo aquilo Era como se ela nunca tivesse namorado antes. Respirou fundo. – Boa noite.
– Boa noite. – O rapaz parecia encantado com o jeito dela, que ele, provavelmente, interpretara como timidez.
Uma vontade enorme de gargalhar fez com que Gina se virasse rápido e tocasse logo a fechadura com a varinha. Despediu-se ainda com um sorriso antes de fechar a porta. Mal tinha ouvido o click e ela sentiu nitidamente um movimento do seu lado esquerdo. O sorriso sumiu e ela deu um salto involuntário e apontou a varinha pronta para atacar, se fosse necessário. Um reflexo.
– Calma Gina, sou eu – a voz de Harry sussurrou saindo do ponto escuro ao seu lado. – Lumus.
A luz da varinha do jovem projetou sombras na sala dos Weasley, mas iluminou pouco. Gina baixou o braço e levou a mão ao coração aos saltos.
– Céus! Eu podia ter... Você me assustou!
– Desculpe.
– Tudo bem – respondeu voltando a respirar normalmente.
Harry pareceu sorrir ou ela achou que ele sorriu. Com a luz da varinha próxima aos seus olhos, e sendo Harry mais alto que ela, Gina via com clareza apenas a camiseta com que Harry provavelmente dormia. Pelo menos foi o que imaginou, pelo jeito amassado e por parecer mais justa do que as que ele usava normalmente.
– O que está fazendo fora da cama?
Mesmo com o tom trivial, ela acabou se arrependendo de perguntar.
– Água – disse ele com calma. – Eu senti sede e desci para pegar um copo d’água. Estava voltando da cozinha quando você entrou.
– Ah... certo.
– Como foi o seu encontro? – O tom saiu amistoso e animado.
– Hã... Bom, quero dizer, é... Foi legal. O Luc é um cara divertido.
– Uhum... Achei isso quando o conheci no baile.
– Pois é... Bem, eu vou... subir.
– Ok.
Dois passos foram o suficiente para que Gina percebesse que não conseguiria chegar até a escada com as sandálias de salto alto sem acordar a todos os que estavam na casa. Dobrou-se um pouco precipitada para desafivelar o calçado do tornozelo, mas o movimento rápido a fez inclinar-se perigosamente para frente. No instante seguinte sentiu os dedos de Harry se fecharem com força sobre o seu braço, a impedindo de desequilibrar.
– Obrigada.
– Não por isso – ele sussurrou de volta.
Gina tentou ainda achar um móvel para se apoiar, mas todos pareciam estar mais longe do que deveriam. Ela se apressou a terminar a operação. Acabou de tirar a sandália e desceu o pé descalço sobre o piso de madeira, ainda com Harry segurando-a. Já ia agradecer e liberá-lo, mas ao se curvar para o outro pé o corpo oscilou ligeiramente e ao invés de soltá-la, ele a prendeu mais firme com os dedos e a sustentou contra o corpo. Gina puxou com força a alça da sandália para que ela saísse rápido, mas apesar disso a operação pareceu ficar subitamente demorada. Intermináveis minutos se passaram antes que ela conseguisse colocar os dois pés no chão e erguer a cabeça para ele para agradecer. Harry estava muito perto. Gina respirou fundo e se afastou. Ficava ainda mais baixa perto dele sem as sandálias.
– Er... eu já estou segura agora – Harry soltou-a tão imediatamente que ela quase se desequilibrou de novo, mas conseguiu ficar firme e sorrir. – Valeu pela ajuda.
Harry não respondeu, mas Gina achou que ele tinha assentido. Com passos rápidos, a garota alcançou a escada. Já tinha subido alguns degraus, quando de novo uma daquelas perguntas que não devia ter saído da sua boca, saltou antes que ela pudesse impedir.
– Harry?
– Sim.
– Por que você não conjurou a água no seu quarto?
Harry ficou quieto por um instante. Gina via apenas a luz da varinha, caída ao longo do corpo dele, iluminando o chão e parte das pernas saindo do short e terminando nos pés descalços.
– Tem coisas que a gente tem dificuldade em largar – ele respondeu por fim. – Hábitos trouxas. – Acrescentou antes que Gina perguntasse. – Como pegar água na cozinha, por exemplo.
Gina achou melhor apenas sorrir e voltar a subir as escadas, falando boa noite por sobre o ombro.
– Boa noite, Gina...
Se Gina não estivesse com tanta pressa em entrar rápido no seu quarto, ou não estivesse tão escuro, talvez ela tivesse notado que havia outro vulto no alto da escada. Alguém escorado à parede, com os braços cruzados e uma expressão satisfeita.
– Ele disse isso? – Esganiçou Hermione ao ouvir Rony contar o que tinha visto e ouvido.
Devia ser meio-dia e a Toca se preparava para o almoço de domingo. A grande circulação de membros de família Weasley tornava, no entanto, bem difícil para Rony e Hermione conversarem sozinhos. Ele passara a última hora e meia, desde que acordara (impressionantemente cedo para um domingo), tentando contar para amiga o que ouvira, mas acabava sempre falando um pedaço e parando por causa da chegada de alguém. Estavam no pequeno corredor entre a cozinha e a sala e o tom de voz alto de Hermione fez o garoto fazer uma careta. Naquele momento alguém vinha descendo as escadas, logo acima deles. Com um movimento rápido, Rony abriu a porta do armário de vassouras, que ficava junto à cozinha, e empurrou Hermione para dentro. A garota reclamou do empurrão quando ele entrou atrás dela e fechou a porta.
– Shhhh... – murmurou o rapaz colando o ouvido na porta. Os passos se afastaram, mas Rony não fez menção de sair. Tirou a varinha do cós da calça e fez um feitiço silenciador.
Hermione não estava achando a situação muito confortável. O armário era minúsculo e atulhado, e certamente não fora feito para ter duas pessoas dentro dele, muito menos uma que tivesse o tamanho e a altura do Rony. Quando ele se virou para ela, teve de curvar o corpo e a cabeça para não raspar no teto. De fato, ele estava praticamente em cima dela.
– Rony... está muito quente aqui – reclamou.
– Aqui ninguém vai nos incomodar, Mione – ele falou baixo, mas com o mesmo jeito decidido, não parecendo notar que Hermione já estava respirando com dificuldade.
– Ok. – Ela concordou apenas para não discutir. Se fossem brigar, iam acabar ficando ainda mais tempo lá dentro.
– Não foi só o que ele disse – continuou Rony, como se não tivessem interrompido o assunto. – Mas o que ele fez.
– Rony, o Harry pode ter realmente ido pegar água. Eu mesma faço isso às vezes, ainda mais à noite, quando a gente está meio sonolento, a gente até esquece de fazer magia e...
– Mione, ele ficou mais de uma hora aqui em baixo! Teria dado tempo de tomar uns oito litros de água.
Hermione arregalou os olhos e tentou mudar de posição para responder, mas a ponta de uma prateleira a fez ficar mais perto ainda de Rony.
– Será que não tem aranhas por aqui? – Perguntou nervosa.
– Não. Mamãe faz limpezas periódicas com feitiços repulsivos. Ela sabe que eu não suporto. – Ele sorriu presunçoso. – A Molly é uma boa mãe, gosta de mim. Aranhas só entram aqui dentro de casa quando os gêmeos trazem. – Completou com uma ponta de irritação.
A garota deixou escapar um suspiro, enquanto um balde parecia empurrar seu pé deixando-a numa posição ainda mais desconfortável.
– Você ouviu o que eu disse sobre o Harry, Mione?
– Hã... Ouvi, ouvi... Harry desceu antes. Como você sabe?
– Eu estava cuidando a hora em que a Gina ia chegar.
– Rony!
Ele continuou, ignorando-a.
– Eu vi quando o Harry desceu. Me diga o que ele ficou fazendo aqui embaixo todo esse tempo, hein? Além do mais, ele subiu logo depois dela.
Hermione achou que fazia sentido, mas não estava conseguindo pensar com muita clareza. Afastou a ponta de uma vassoura de tiras de tecido moles que caíra sobre ela.
– Ele viu você?
– Claro. Você sabe como ele... Bem, aqueles poderes que ele tem e tudo.
– Ele te disse alguma coisa?
Rony fez uma careta e imitou a voz do amigo para responder.
– “Vai dormir, Weasley!”
– E você disse o quê?
– Disse que ele era um idiota.
– Aii Rony!
– Mione, eu só constatei um fato.
A garota revirou os olhos.
– Tudo bem. Parece que de alguma forma... Bem, ele ainda pode estar interessado nela.
– Mioneeee – Rony gemeu em protesto e a cabeça dele oscilou próximo a dela.
– Rony, para de se mexer! Olha, nós só temos evidências por enquanto. Tudo bem – concordou ante outro protesto dele – nós temos um pouco mais que isso. Mas Gina parece indiferente. E se ela não estiver interessada, então nem adianta.
Rony bufou.
– Aposto o que você quiser que ela continua louca por ele.
– Você não pode afirmar isso com certeza, Rony. Eu sou a melhor amiga dela e... – Hermione hesitou, mas afinal, Gina não havia lhe pedido segredo. – Faz mais de um ano agora. Gina me pediu para que não voltasse a perguntar sobre o Harry para ela. Eu respeitei. Ahh você lembra de como ela estava, não lembra? Depois disso, foi como se ela tivesse, sei lá... superado. Ela voltou a ser a mesma menina feliz com quem a gente cresceu.
– Hermione leia os meus lábios: Ela ainda gosta dele! – Rony separou as palavras para reforçar a afirmação e curvou mais a própria cabeça para se impedir de bater no teto. Hermione ofegou. – Tudo que precisamos é de um bom plano para juntar os dois.
– Ok, ok... – ela concordou, talvez assim ele a deixasse sair daquela situação ridícula naquele armário minúsculo. – Eu vou pensar em alguma coisa.
Levou a mão à maçaneta para abrir a porta, mas Rony a segurou pelo pulso.
– Por que não pensamos nisso agora?
– Rony – ela soltou um lamento desconsolado. – Eu estou quase sem ar aqui. Prometo que logo eu penso em alguma coisa, ok?
E sem dar tempo dele retrucar, Hermione se jogou contra a porta, murmurando o feitiço para abri-la e arremessando o corpo para fora. Não correu, mas andou o mais rápido que pode até o lado de fora da casa, quase como se estivesse fugindo.
Rony ainda ficou escorado à porta aberta do armário, por um bom tempo, observando a amiga através da janela logo a sua frente. Os olhos azuis luzindo ainda mais satisfeitos que na noite anterior.
“Cavaleiro ameaça rainha!”
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N/A: A música Painted on my heart é do The Cult. De novo, até tentei buscar outra, mas essa ficou tão perfeita que não houve como mudá-la. Agradeço a Nicole Evans que me apresentou a essa música. Ela tem uma fic maravilhosa que tem essa música como título. Quem ainda não leu, leia. Não vai se arrepender.
Pamela Black: Bem, vc deve ter lido com a música, não é? Espero que tenha gostado. Quanto a Mione, haja resistência hahaha. Beijão querida.
Eleonora: Nossa, eu nem sei o que dizer. Você me incluiu num time da pesada. Eu tenho a maior admiração e o maior respeito por estes autores, além de considerar os três grandes amigos. Me sinto honrada e lisonjeada com a comparação. Obrigada, mesmo!
Priscila Louredo: Céus!! Essa categoria viciante é a que eu quero, hehe. Obrigada por todos os elogios, amiga, mas o que eu mais gostei foi esse =D. Um beijo enorme!
Sônia Sag: Anam, vc me fez me dobrar dando risadas com esse comentário. Sim, Ronald é o cara, hehe. Ele não é o rei do xadrez à toa. Na verdade, o cavaleiro, que é a posição que ele mesmo escolheu =D. Siimmm... o “nosso” bebê. E espero que continue fofo. Bjs!!!
Srtáh Míííhh: Linda, obrigada por trocar seu Ipod por mim hihi, espero que ele não tenha ficado chateado. Que bom que gostou. Sim, um dos motivos dos capítulos saírem rápidos é porque são curtos, hehe. Como no Retorno eu não consigo ser razoável, aqui pelo menos o tempo compensa o tamanho e lá é o contrário. Beijão, querida!
Kakau: Obrigada, Kakau. Adorei o Mione para presidente. Ela é o máximo, não? Eu tb acho que estes são os shippers perfeitos, então, espero que continue gostando. Beijo!
Gina W. Potter: Linda... hihi amei o juramento. Você sabe que você vindo ler, já me deixa mais do que contente, né? Pode deixar que vou me esmerar muito no romance dessa fic. Vai ser lento, mas acho que vc vai gostar de acompanhar. Beijão!
Daniella Granger: Espero que o divertimento continue, Dani. =D Um beijão!
MarciaM: Amoreeee!! Obrigada querida. Fico muito feliz que vc esteja gostando da fic. Seu apoio, sempre, é fundamental. Valeu mesmo! Um beijo grande.
Bernardo: Eu fiquei deliciada com o comentário que vc me mandou por e.mail sobre o capítulo anterior. Hj não te achei on para te mostrar este antes de postar =( (ainda tenho esperanças após escrever este comentário). Fico muito feliz com as suas leituras. Suas avaliações pelo menos me indicam que estou no caminho certo para chegar onde quero. Afinal, este “filho” tb é seu. Obrigada, querido!
Lola Potter: Sim, o Rony ainda vai aprontar muito, aguarde, hehe. Beijos e obrigada.
Paty Black: Obrigada, mana. Fico muito feliz que vc esteja gostando. Quanto aos pegas, bem... isso ainda vai levar um tempinho mesmo, hehe. Que bom que vc entendeu o Harry. Eu ainda vou explorar mais isso, mas logo vcs vão entender o pq dos dois casais estarem assim. Um beijo imenso, amore.
Amanda Regina Magatti: Que bom que vc gostou Amanda. Ahh o Rony vai fazer bem mais do que empurrar um para o outro, hehe. Aguarde. Beijão!
Charlotte Ravenclaw: Aii querida... vc não sabe como eu fica feliz de não ter desistido. Essa história se tornou muito cara para mim e eu espero realmente poder demonstrar nela tudo o que eu sinto quando penso, escrevo e ouço a música que a inspirou. Obrigada por sempre cobrar por ela. Um beijão.
Lize Lupin: Que bom que vc gostou querida. Vc já está melhor? Eu fiquei preocupada. Espero que já esteja dando para dar uns saltos hehe. Beijo, lindinha.
Marcio (Rabino): Fico feliz que você tenha gostado da idéia da fic, Marcio. Acho que no fundo, todos eles encontraram o amor das suas vidas muito cedo. O problema é que às vezes se é jovem demais para reconhecer as implicações disso. Valeu pela leitura. Bjs!
Um beijo para todos os que lêem mesmo os quietinhos.
Até o próximo!
Sally
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