INSTABILIDADE



Dia estranho. Eu odeio dias estranhos. Eles lhe fazer pensar muito. Quer dizer, um dia estranho eu posso agüentar, mas quase uma semana estranha é muito para a minha frágil saúde mental.


As vezes eu queria que tudo não tivesse passado apenas de um sonho ruim. Quem se importa se eu sonho ou não com Tiago Potter? O que eu realmente não queria era estar assim. Certas vezes, eu me pego sonhando acordada com coisas muito terríveis. Ontem mesmo, depois da conversa com o Potter, eu simplesmente comecei a me imaginar namorando ele. Eu sorria. Eu devia ser banida da face da terra.


Sinceramente. Quem em sã consciência sonharia em namorar Tiago Potter? Isso é sem dúvida um bom motivo para uma das minhas risadas mais debochadas. O único problema é, eu não consigo rir. Eu começo a levar esses sonhos estúpidos em consideração. E definitivamente isso faz muito mal para mim.


Agatha vem me perguntando há uma semana se eu tenho dormido bem. O que ela quer que eu responda afinal de contas? Toda a vez que eu fecho os meus olhos, por entre as nuvens de pensamentos que não deviam existir, surge a imagem de Tiago Potter. Ele rindo, ele preocupado, ele apenas sorrindo, ele pensativo, ele, ele, ele.


Eu estou tristemente sentada na poltrona do salão comunal, olhando a fogueira crepitar e fingindo que não estou ouvindo a Agatha comentar o meu estado de humor anormal com o Remo. Eles fazem suposições muitas vezes absurdas. Cogitaram a possibilidade de eu estar chateada por Petúnia ter arrumado um namorado. Francamente! Quem liga para a Petúnia? Recebi uma carta da minha mãe a dois dias. Eu queria ser que nem ela em certos aspectos. Disse muito zombeteira, "Sei, que como mãe, não deveria fazer esse tipo de comentário, mas sinceramente nunca pensei que isso fosse acontecer. Além do mais, Lily minha filha, se você visse o namorado dela, não iria agüentar. Seu pai ficou tão chocado que mal conseguia fazer um comentário no dia que conhecemos o cidadão.". Foi a única coisa que me fez rir em cinco dias. Acho que Petúnia achou seu igual.


Isso me faz entrar em assuntos muito delicados. Eu sinceramente nunca acreditei em cara metade ou qualquer coisa do tipo. Infelizmente, acreditar ou não, parece ser irrelevante, porque eu vivo sonhando com a minha. O mais aterrorizante foi ver a figura de Tiago Potter surgir no momento em que eu pensava sobre o assunto. Como se ele pudesse ser a cara metade de alguém.


Falando, pensando, escrevendo sobre ele, acabou de chegar no salão comunal. Eu estou me matando mentalmente por estar fingindo que não estou o espiando pelo rabo do olho. Sinceramente? A quem eu quero enganar? Ele notou! Sorriu! Socorro!


Isso tudo é muito confuso. Dias atrás eu simplesmente estava planejando a morte dele, o chamando de ribacil e mandei ele queimar no inferno dos mal feitores. Agora, eu estou encarando Tiago Potter. Eu sou impossível! Eu devia dar um prêmio para as pessoas que me agüentam!


Tudo começou dois dias depois ao desastroso do diário. Eu estava sentada na mesa do salão principal para o almoço. Estava realmente de bom humor, apesar da explosão que tivera no dia que descobri a ousadia daquele ser.


Entretanto, eu não esperava que fosse continuar a me trair. Afinal, disse a mim mesma que o meu subconsciente iria parar com aquelas gracinhas. Quem disse que ele escutou? Não tem mais jeito. Eu sou um caso perdido!


Os marotos não estavam sentando com a gente desde o dia que o Potter invadiu o meu diário. Ele deve ter imaginado, que se chegasse perto corria um grande risco. Agatha não gostou disso, mas o que ela podia fazer?


Eu me sentia muito estranha naquele dia. Estava feliz e nem sabia porque. É claro que se você está feliz, não importa o porque. De qualquer forma, eu sentei no meu lado da mesa, e Agatha se acomodou à minha frente.


Eu sinceramente não me lembro o que conversávamos. Eu não estava prestando atenção. Murmurava um 'aham', ou 'concordo' de vez em quando, mas nunca sinceramente sabia com o que exatamente eu estava concordando. Só fui perceber que dizer sim para tudo que Agatha me dizia não era seguro quando ela se irritou por eu não estar respondendo decentemente.


"Você ama Tiago Potter.". Ela disse para confirmar o seu pensamento, de que eu não estava realmente ligando para o que ela estava falando. Ela teve o que queria, porque eu murmurei um "concordo". Quando eu concordaria com um absurdo desses?


"Então você concorda que AMA o POTTER?!". Ela se exaltou para me tirar do estado alfa em que me encontrava.


"O que?". Eu berrei ainda mais do que ela. Eu duvido que Tiago não tenha escutado o berro de Agatha, mas o meu deve ter feito os tímpanos dele latejarem. O pior disso tudo é que ele escutou o que Agatha falou, eu quase a matei por isso.


Percebendo em que situação ela havia me colocado, tratou de apaziguar as ferozes orelhas curiosas da mesa da Grifinória. Não falou por uns bons cinco minutos. Eu estava entrando estado de estresse mor quando ela decidiu que já era seguro voltar a falar. Tiago, do outro lado da mesa, ainda prestava atenção. Graças a Merlin ele não tinha como ouvir.


"Você não estava dando a mínima atenção ao que eu estava lhe falando.". Ela começou ainda brava.


"Desculpe Agatha, eu estava desconcentrada.".


"Eu vou ter que competir por um minuto da sua atenção com o Potter?". Ela não estava realmente brava. Para falar a verdade, Agatha parecia muito satisfeita.


"Do que você está falando?". Eu perguntei muito pausadamente. Como faço toda a vez que quero negar alguma coisa inegável. Patético.


"Eu quase não notei os seus olhares discretíssimos para aquele lado da mesa.". Ela indicou com a cabeça o lugar dos marotos, e eu cruzei o meu braço, muito ofendida.


"Eu não estava olhando para aquele lado da mesa.".


Agatha me lançou um olhar, 'Lily, você realmente não acha que eu sou estúpida de acreditar numa birra sua.'. Eu tinha que admitir. Eu realmente estava olhando para aquele lado da mesa.


"Talvez eu estivesse olhando para aquele lado da mesa, mas isso não significa que eu estivesse olhando para ele.".É claro que ela sabia quem é ele, porém ela é má! Ela me fez falar.


"Ele?". Perguntou muito inconfundivelmente falsa. Eu a lancei o olhar 'Eu não vou te perdoar por isso', mas respondi.


"Potter". Ela sorriu satisfeita.


"Bem...". Foi a vez de Agatha cruzar o braço. "Então, eu sinceramente espero que você não estivesse olhando para o Remo, Belle espera que você não estivesse olhando para o Black, e eu não vou nem comentar sobre o Pedro.".


"Ok!". Eu respondi muito irritada. "Eu estava olhando para o Potter.". Eu não berrei isso por razões muito óbvias, mas vontade é o que não faltava. Então, eu levante abruptamente, e berrei muito brava por ela ter me feito admitir que estava vagamente reparando no Potter. "SATISFEITA AGATHA CLIVERLAND?".


Eu sou tão estúpida. Eu me arrependi tanto disso. Na mesma hora partiu o meu coração de ver a cara de culpa de Agatha. Ela não queria aquilo, eu tenho certeza. Só estava tentando me fazer enxergar o óbvio, e que só agora eu vejo.


Ela sinceramente fez menção de me seguir, mas desistiu. Eu só fui entender essa atitude dois minutos depois, quando alguém me puxou pelo braço. Eu ouvi a voz um tanto quanto furiosa de Tiago Potter.


"Qual é o seu problema?". Ele me perguntou ainda sem ar. Provavelmente havia corrido para me alcançar. "Eu estou acostumado com você gritando no meu ouvido, mas a Agatha?".


Eu nunca esperei por aquilo. Eu estava em choque. Potter gritando comigo? Potter furioso comigo? Eu havia acabado de brigar com a Agatha? Tudo tão confuso. Tudo tão instável. Dois segundos atrás eu estava saltitando de alegria, e agora tudo estava tão sombrio. Eu não consegui frear as minhas reações terríveis de dois segundos depois.


Eu abri a minha boca para proferir um dos meus inúmeros berros histéricos, mas notei que a minha voz não saia. Entretanto, dessa vez, não era a minha voz quem havia me traído, e sim a minha glândula lacrimal. Eu estava chorando. Eu chorei soluçantemente em frente ao Potter. A minha voz saiu embargada, desgostosa.


"Eu sei Potter. Eu sou terrível. Não precisa me dizer, eu tenho consciência da minha repugnância.". Eu admito que estava sendo um tanto quanto dramática de mais, mas eu estava mesmo me sentindo daquela forma. Estava odiando cada parte do meu ser.


Eu observei por entre um mar de lagrimas as diferentes reações de Tiago. No começo, ele realmente não parecia querer se comover. Porém dois segundos depois ele já estava me envolvendo num abraço carinhoso.


"Você não é repugnante Lily, mas às vezes se supera.". Ele tentou me reconfortar. Temos de convir que o Potter tentou, mas ao invés de me chamar de repugnante, eu havia sido considerada quase isso. Quem pode o culpar?


"Muito reconfortante.". Eu respondi não fazendo questão de me mostrar mesmo reconfortada. Idiotamente, ele riu.


"Você é engraçada até quando está deprimida. Isso é interessante.".


"Você e essa mania de 'Lily a palhaça'.". Eu respondi tão mais animada que me matei por isso. Quero dizer, eu me sentia mal quando estava triste, e quando estava animada. Qual é o meu problema, afinal?


Ele me soltou do abraço eu procurei limpar as lagrimas. "Bem...". Ele disse voltando ao normal, passando a mão pelo cabelo e fazendo perguntas arrogantes. "Então, você concorda que me ama, é?".


"Ow, cale a boa Potter.". Eu respondi isso em tom zombeteiro, o que confirma a pergunta, que já era praticamente retórica. Me Mate!


A minha briga com Agatha não durou mais de meia hora. Eu mal entrei no salão comunal, e a vi sentada ao lado de Remo tristemente. Dois segundos depois eu a estava abraçando implorando por desculpas. Ela, imbecilmente, fazia o mesmo. Eu fui à culpada de tudo aquilo. Será que Agatha não podia simplesmente aceitar as minhas desculpas?


De qualquer forma, o que estava mesmo me aborrecendo não era o fato de Agatha estar se desculpando por uma coisa que não fez. E sim, um pequeno detalhe que eu havia percebido.


Como eu havia esquecido tão rapidamente a atrocidade que Potter tinha feito roubando o meu diário? Como eu havia respondido zombeteiramente a uma pergunta terrível? Porque eu estava me sentindo bem por estar em paz com o Tiago? Porque eu há dois segundos atrás simplesmente o encarei carinhosamente?


Simples. Terrivelmente, abominavelmente, indiscutivelmente simples.


Eu amo ele. Contrariando a todos os meus ataques histéricos, os meus antigos conceitos, eu amo ele. A porcaria do meu coração me traiu antes de qualquer outra parte traidora, e eu fui cega de mais para perceber esse pequeno detalhe.


Eu estou sentindo o meu estômago revirar, e a minha glândula lacrimal querendo me trair novamente (eu não perco o antigo hábito), e para variar, estou péssima por isso. Mas pior do que ter finalmente admitido que eu amo aquele imbecil do Potter, é não saber o que fazer com essa nova informação.


O que adiantou todo esse meu estresse emocional? Eu não sei o que fazer. Como eu posso amar alguém que passa a mão irritantemente pelo cabelo, que ri escandalosamente e sorri perturbadoramente?

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