Uma ferida aberta no senhor We
No acampamento dos bruxos da Ordem o caos reinava completamente. Os gigantes que Voldemort tinha mandado arrasavam sem piedade qualquer coisa que encontravam pela frente. A maior parte das barracas já tinham sido destruídas, algumas, incendiadas pelos comensais, que vinham logo atrás dos gigantes, ainda tinham bruxos dentro.
Arthur Wealey como sempre tentava proteger os filhos, mas, Carlinhos, que tinha trabalhado durante anos com os dragões na Romênia, não se sentia nem um pouco amendrotado pela presença dos gigantes, muito pelo contrário, era ele quem tomava a iniciativa para enfrentá –los. Conduzindo um grupo de oito bruxos, ele conseguiu derrubar uns três através de armadilhas estratégicas, porém, quando já estava de frente para seu quarto gigante, pronto para atacá –lo, um dos comensais conseguiu atingir um feitiço em suas costas, que o fez levantar do chão por alguns segundos para depois cair a alguns metros do local. E então o filho mais velho do clã dos Weasleys sentiu a dor mais lacerante de toda sua vida. Um dos gigantes, que estava entretido em rasgar o pano de uma barraca, assistiu a queda de Carlinhos e, em questão de segundos, se apossou do primeiro bastão de madeira que encontrou na frente para triturar o corpo cansado do rapaz. Na primeira vez que abaixou o bastão, o gigante acertou justamente a cabeça do ruivo, e Carlinhos, que ainda estava consciente, não conseguiu perceber de onde tinha vindo aquele líquido vermelho e quente que escorria por seu pescoço e encharcava sua roupa. Quando o grosso bastão de madeira do gigante atingiu o corpo do rapaz pela quarta vez, ele já estava irreconhecível. Um dos bruxos que estava próximo, duelando bravamente com Rodolfo Lestrange, olhou para aquela pasta sangrenta de carne pendurada nos ossos, a cabeça amassada e os olhos quase saltando das órbitas, e não conseguiu identificar o filho do senhor Weasley. Na verdade, a única coisa que conseguiu fazer foi se controlar para não vomitar e deixar que o marido de Bellatrix levasse a melhor no duelo.
No entanto, Arhur Weasley reconheria qualquer um dos filhos que criou em qualquer situação em que eles estivessem, por isso, logo que viu Carlinhos amontoado num canto, com o que restava do corpo fragmentado, ele correu sem hesitar na direção do filho, escapando milagrosamente dos feitiços que voavam para todos os lados. Carlinhos ainda mantinha um dos olhos abertos e a cabeça, embora estivesse confusa por causa da dor delirante, estava clara o suficiente para reconhecer o homem que se ajoelhara a sua frente, ainda praguejando a criatura cruel que tinha feito aquilo com seu filho, e que, naquele momento se divertia em pisotear um grupo de bruxos que tentavam fugir para a floresta. Carlinhos não conseguiu dizer nada devido a condição em que seus dentes e maxilar se encontravam, mas, o senhor Weasley, conseguiu entender duas palavras que saíram balbuciadas da boca do filho. As palavras “mãe”e “adeus”. Arthur Weasley fechou os olhos um segundo depois de que Carlinhos fechou o seu, com a cabeça pendida para o lado, e o patriarca da família Weasley se deixou levar por sorrateiras e dolorosas lembranças em que via seu primeiro filho embarcando no trem vermelho de Hogwarts, com o cabelo flamejante se destacando de todos os outros alunos, assim como ele se lembrava de um almoço de domingo em que Carlinhos tinha virado a panela de ensopado em cima de si e depois correra para se esconder no quartinho de vassouras pelo medo da bronca de Molly, que estava grávida de Gui na época, e com um humor péssimo. Arthur hoje podia rir daqueles momentos, mas, quando viu o filho mais velho cheio de queimaduras por todo o corpo, cheio de teias de aranha e batendo o queixo por causa da febre, ele sentiu que iria perder o garoto, e passou pelas noites mais terríveis de toda a sua vida. Bem, agora ele tinha perdido definitivamente o filho, e isso era mais do que poderia suportar. Se entregando a um desespero sem igual, Arthur se abraçou ao corpo de Carlinhos e ali se deixou ficar, chorando a plenos pulmões. Ele não percebia nada do que estava acontecendo ao seu redor, não viu que os gigantes comandados por Hagrid já tinham chegado e lutavam corpo a corpo com os outros de sua espécie, deixando os bruxos da Ordem livres para rechaçar os comensais da morte.
Em algum momento, alheio a toda a batalha sangrenta que se desenrolava à sua volta, Arthur Weasley sentiu um vulto em cima de si, e a voz arrastada de um velho inimigo seu fez com que a ferida aberta pela morte do filho doesse ainda mais.
- Arthur Weasley! O amante dos trouxas e suas quinquilharias, a vergonha do mundo bruxo! O que temos aqui? Não me diga que essa coisa aí é um dos seus imprestáveis filhos?
Aquelas palavras proferidas por Lúcio Malfoy despertaram em Arthur um ódio que ele sempre tentara amenizar nos filhos mais novos em relação a Draco Malfoy. Ele se levantou agilmente, movido apenas pela dor e pela raiva cega e com o dedo indicador, ao invés de uma varinha, apontado para o peito do louro platinado.
- Escute aqui Malfoy, a minha paciência com você já se esgotou, você pode dizer o que quiser de mim, que eu não me sinto atingido, porém, eu não admito que você fale qualquer coisa de algum dos meus filhos entendeu?
Acontece que Lúcio Malfoy sempre detestara aquela família de ruivos que, em sua opinião manchara a honra das famílias de sangue puro, e aquele momento era perfeito para ele se vingar de todo o ódio que sentia pelos Weasleys, ódio que transmitira ao filho Draco.
- Arthur, meu caro, porque você não economiza suas lágrimas para seus outros filhos hein? Todos merecem que o pai chore um pouquinho por eles não é mesmo? E em quanto eles são mesmo? Nove? Oito? – Malfoy se divertiu muito dizendo isso e soltou uma gargalhada de deboche.
O marido de Molly tinha o rosto contorcido pela raiva e suas rugas se acentuavam, fazendo com que envelhecesse dez anos, as mãos jogadas do lado do corpo estavam crispadas e os olhos fixos em Lúcio soltavam faíscas, mas, ainda assim, o loiro não parou com as provocações, acreditando que o espírito naturalmente pacífico do senhor Weasley não iria se rebelar nem naquele instante.
- Se você já está sofrendo com a morte deste, eu imagino como se sentirá quando receber o corpo do filho mais novo, aquele fedelho intrometido, e a namoradinha sangue ruim dele...já o Potter, não sei se vai sobrar alguma coisa dele para mandar de volta! – novamente a gargalhada debochada.
- Limpe sua boca para falar do meu filho Malfoy, e dos amigos dele, porque Harry e Hermione sozinhos já são melhores do que toda essa corja que está aqui com você hoje!
Lúcio não se deixara intimidar com aquelas frases:
- Melhores ou piores Weasley, o que os espera é a morte, nada mais. E eu vou cuidar pessoalmente para que o seu filho ridículo tenha a mais dolorosa possível, assim como esse imbecil aí, que teve o fim que merec...
Malfoy não pôde terminar o que estava dizendo, porque ele tinha conseguido despertar o lado mais sombrio e feroz de Arthur Weasley e este tinha pulado em cima da garganta do loiro, fazendo com que os dois saíssem a rolar pelo chão, brigando feito dois garotos. Enquanto eles estavam entretidos nessa luta silenciosa, vários bruxos de ambos os lados caíam estatelados no chão, muitos deles mortos. E as barracas incendiadas faziam com que a fumaça cobrisse tudo, e assim ninguém mais sabia quem era amigo ou inimigo e lançavam seus feitiços a esmo. Alguns bruxos, que tinham seu corpo em frangalhos no chão, ou rolavam de dor, agradeceram em seu íntimo a pesada nuvem de fumaça que aumentava a cada instante, porque assim não eram mais obrigados a assistir seus colegas serem despedaçados pelos poucos gigantes que restavam, tampouco conseguiam ver seus amigos serem mortos pelos comensais. E vários outros bruxos, que estavam de pé, firmes e fortes, também viram a fumaça como uma benção, pois, assim poderiam fugir para longe dali sem serem reconhecidos, e assim muitos o fizeram.
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