A VOZ DA FLORESTA



CAPÍTULO 10


A VOZ DA FLORESTA


- Eles têm de ser punidos, Salazar, e com rigor! Aliás, continuo achando que o que fizeram é digno de expulsão sumária.

Salazar afastou os cabelos escuros para trás e não conteve um girar de olhos para cima, demonstrando sua impaciência com o tema discutido entre ele, Helga e Lady Ravenclaw. Depois, apoiou o peso do corpo no braço esculpido de sua cadeira, aproximando-se mais de sua revoltada amiga, e declarou em tom pretensamente conciliatório.

- Concordo com isto, Helga! Tanto é, que já os puni assim que a história chegou aos meus ouvidos.

- Podemos saber qual foi o castigo, então?

Os frios olhos cinzentos voltaram-se para Rowena, que o encarou de volta sem titubear. Salazar pousou seu cálice na mesa com um pouco mais de força que o normal, enquanto suspirava de forma claramente exasperada.

- Se eu disse que já cuidei do assunto, não deveria minha palavra ser suficiente? Eles alegaram apenas terem “agido como homens agem”. Então, eu os castiguei como homens são castigados. E por minha vontade, este assunto encerraria agora.

Helga estudou-o detidamente com o olhar.

- Eu e Rowena estamos preocupadas com a ordem em nossa escola, Salazar, nada mais. Não leve para o lado pessoal. Além do que, Cecille...

- A menina está bem, pelo que ambas me contaram.

- Graças a Deusa, mas...

- Ótimo! Vamos deixar esse problema para trás e nos entregar a esta lauta refeição que nos preparaste, querida Helga. Concorda, Rowena?

As faces até então coradas de Helga empalideceram sensivelmente, ao mesmo tempo em que Rowena sobressaltava-se. Desde o ‘duelo’ no hall de entrada, Lord Slytherin aparentara perder o interesse em sua pessoa, limitando-se a cumprimentos educados. Agora, a encarava sobre a borda de sua taça com olhos brilhantes e interessados, chamando-a pelo nome de forma íntima. O inusitado da situação a fez erguer as sobrancelhas inquisidoramente para Salazar. O bruxo percebeu a reação das duas mulheres e sorriu, manso.

- Ora, somos colegas e, eu prevejo em breve, bons amigos. Suponho que eu possa chamá-la de Rowena, então? E dar-me-ia imenso prazer escutar meu nome dito pela senhora, igualmente...

Rowena observou-o atentamente por um momento, os olhos azuis ainda francamente intrigados, e então sentenciou.

- Nada tenho contra a que me chames pelo meu primeiro nome, Lord Slytherin.

Ele alargou o sorriso, erguendo-lhe a taça em silencioso brinde.

- Porém, não fará o mesmo...

- Não por enquanto, ao menos.

Salazar assentiu com a cabeça, sem prolongar o assunto. Todos voltaram a atenção para seus pratos, embora Rowena quase conseguisse ouvir os pensamentos agitados na cabeça de sua amiga. Tanto o assunto de Cecille e seus atacantes quanto o da investida discreta de Salazar para uma intimidade maior com Rowena, não morreriam ali, certamente.

- E então, Rowena, que me contas de teu dia?

- Na verdade, Milord, passei o dia ajudando Helga com o menino enviado por Lord Gryffindor e com Cecille. Como milord acabou de declarar que este assunto não mais lhe interessa...

Helga engasgou-se com seu hidromel, enquanto o olhar cinzento de Salazar perdia um pouco de seu entusiasmo.

- Na verdade, o recém chegado me interessa, sim. Ele já consegue falar algo com sentido?

- Delira a maior parte do tempo. – Respondeu Helga, a preocupação com seu paciente varrendo qualquer outra emoção de seu semblante. – Posso curá-lo com a ajuda de suas poções, Salazar, mas levará algum tempo. Ele foi exposto à magia negra da pior espécie, e sendo um comum...

Salazar retesou-se na cadeira como se lhe tivessem esbofeteado.

- Que dizes?

Helga e Rowena trocaram olhares e foi Rowena que respondeu.

- Ele é um comum. Eu mesma verifiquei se havia magia nele e não...

Salazar cortou suas explicações com voz cortante.

- O que Godric tem na cabeça? Por que nos mandou este... este...
- Esta criança ferida, que viu todos que conhecia morrerem diante de seus olhos? – Vociferou Helga, antes de ela mesma responder. – O que Godric sempre tem em mente: fazer o que é correto.

Salazar cruzou os braços, encarando a amiga ironicamente.

- Correto? Trazer um comum para Hogwarts? Pensei que este lugar fosse para proteger nossas crianças deles...

- Hogwarts não é só isso, como tu bem sabes!

- Vê, Rowena, como sempre podemos contar com Lady Hufflepuff para defender os desatinos de Godric?

Rowena assistiu a mágoa descer sobre o semblante da amiga, e alguma coisa borbulhou em suas vísceras.

- Helga o defendeu com o mesmo empenho e lealdade, milord, quando resolvestes me dar as boas vindas na forma de uma cobra. Posso afirmar, inclusive, que ela ainda não acredita que o senhor realmente tenha feito isto. Então... Não são apenas os possíveis desatinos de Lord Gryffindor que ela defende, são?

Surpreendentemente, Salazar não negou, e pareceu achar a lembrança até divertida.

- Ah! Aquilo... Jamais pensei que uma simples aparição de Phobos fosse render tanta repercussão. Muito bem, - atalhou, com um tom de leve pilhéria – se eu as incomodei tanto, devo me desculpar! Gosto de exercitar minha animagia, e era isso que fazia naquela ocasião, nada mais. Milady Rowena é capaz de perdoar-me e esquecer o infeliz incidente?

Ele havia estendido a mão para a de Rowena sobre a mesa, e segurou seus dedos de maneira firme, enquanto falava.

- Eu mesma cheguei aqui sob disfarce. Acho que não haverá problemas se todos nós mantivermos nossas verdadeiras faces, daqui por diante.

Salazar beijou-lhe a mão que segurava e soltou-a.

- De minha parte é um compromisso! E você, minha querida Helga... – disse, voltando-se para a bruxa, que deixara já há algum tempo os longos cabelos loiros caírem pelos lados do rosto, escondendo-lhe as reações diante da conversa. – Antes de afirmar que Godric só tem o que é correto na cabeça, pergunte-se por onde ele anda, se os problemas que o levaram já foram resolvidos? Com Darlene, talvez? O quão correto seria isto?

Sem dar tempo para respostas, Salazar ergueu-se, curvando-se em breve reverência.

- Agora, se miladies me permitem, tenho de terminar uma poção de sangue de kelpies e figos selvagens que deixei macerando. Tenham uma boa noite!

E foi-se, saindo do salão principal a passos largos, enfunando as vestes às suas costas. Helga acompanhou-o com o cenho franzido e o olhar preocupado, enquanto Rowena encarava seu prato praticamente intocado, perdida em pensamentos. Depois de brincar com os pedaços de ensopado e de suportar o silêncio cheio de significados da amiga por vários minutos, Rowena rendeu-se à sua causticante curiosidade.

- Quem é Darlene?

A pergunta fez Helga sorrir, desanuviando-lhe a expressão. Bebendo mais um gole de hidromel, ela recostou-se na cadeira, lançando a Rowena um olhar sagaz.

- Ah, com efeito, tu não deves conhecê-la, já que vem de outro reino. A princesa Darlene é sobrinha do rei Donald II, e irmã do sucessor direto, príncipe Douglas. – pendeu a cabeça para um lado e pensou um pouco, antes de completar - Nossa Jezebel real, na minha opinião.

E então se calou, divertindo-se ao observar Rowena atirar a maior das coxas de ganso assado para Hérocles, limpar as mãos, tomar vários goles de sua taça, passar os olhos pelos aprendizes próximos, acenar para Tyl, sentada entre os jovens Caled e Cecille, e brincar mais um pouco com sua comida. Como previra, a curiosidade venceu Rowena novamente.

- Ela e Lord Gryffindor...

- São velhos conhecidos.

- Hum... Entendo.

O bom coração de Helga não a permitiu continuar com a proposital economia de informações.

- Não. Não entende. Entretanto, vou te contar o que realmente se passa entre Godric e a Messalina loura.

Rowena ameaçou uma argumentação, porém, calou-se diante da mão erguida de Helga.

- É bom você saber. Este assunto pode deixar Godric bem irritado se mencionado sem o devido conhecimento de causa.

Rowena concordou com a cabeça, puxando a cadeira mais para frente e cruzando os braços sobre a mesa, toda a atenção pousada em Helga.

- Darlene não é só a sobrinha do rei, é sua maior fraqueza, também. Ele sempre a amou cegamente, e a pequena Dalila escocesa aprendeu a manipular essa afeição desde cedo. É também muito bela, para quem aprecia a beleza superficial de uma flor venenosa, por exemplo. Bom, é bela e muito mimada, e a junção dessas duas situações a acostumou a obter sempre o que quer. E ela quis Godric desde o primeiro momento em que lhe pôs os olhos.

- E ele?

- Godric sempre foi...voluntarioso. E era um pouco mais jovem e bem mais inconseqüente do que é agora. Durante algum tempo eles conviveram... intimamente. Até Darlene cometer seu maior erro.

Rowena ergueu uma sobrancelha, divertida.

- E qual foi? Ela quis se casar?

Helga brindou à esperteza da amiga, antes de continuar.

- Porém, não foi só isso. Darlene sempre se achou melhor que o irmão para herdar o trono, e pasme, nisso eu concordo com ela. É mais inteligente e muito mais corajosa. Entretanto, nasceu mulher com um inconveniente irmão mais velho a atravancar sua vida. Quando conheceu Godric, bem quisto pelo rei, famoso e influente entre bruxos e comuns, guardador da lealdade dos soldados...

- Imaginou-o como o braço armado e mágico que a tornaria rainha.

Helga assentiu, com um ar levemente nauseado.

- O rei sabe que Douglas é muito fraco para ocupar o trono. Isto, e o amor pela sobrinha, o deixaram bem inclinado a aceitar a troca.

- E o que aconteceria ao príncipe Douglas?

Helga apenas ergueu as sobrancelhas.

- Pela varinha de Merlin! – Rowena sussurrou, chocada.

- O plano poderia ter dado certo, já que Douglas não é amado, seja pela família ou por seus súditos.

- Poderia?...

Helga deu um meio sorriso cheio de triunfo.

- Godric. Eles não imaginaram que aquela seria a reação dele. Afinal, quem rejeitaria um reino entregue em uma bandeja? Mas, meu amigo não só negou, como terminou o que quer que houvesse entre ele e Darlene, bem como ausentou-se em definitivo do convívio na corte. O rei aceitou, ainda que a contragosto, e passou a tratar a questão como se fosse mais um delírio paranóico de Douglas...

- Eu ia perguntar, e os príncipes?

Helga remexeu-se, revoltada.

- A imitação real de Salomé ainda não desistiu. Está sempre rondando Godric, certa de que ele virá a ceder. Douglas descobriu tudo, ninguém sabe como, e agora odeia Godric com toda a pouca força que possui. Fez questão de esquecer a participação da irmã e do tio, e pôs toda a culpa da conspiração em meu amigo.

Rowena recostou-se, perplexa.

- Em resumo, Lord Gryffindor terá problemas quando o atual rei se for.

- Exato – concordou Helga, sombriamente.

Rowena acariciou a juba de Hérocles, sentado a seu lado, observando-lhe o porte garboso por algum tempo. Depois, voltou os olhos para a amiga.

- Ele poderia ter aceitado. Não a parte referente ao fim do príncipe, é claro! – Atalhou rapidamente, ao ver a reação de Helga – Entretanto, com o casamento se tornaria ainda mais poderoso...

Helga primeiro assentiu, séria, para então, em uma surpreendente imitação da voz retumbante de Lord Gryffindor, concluir:

- Mas, isso não seria correto, seria?


==*==

- Lady Ravenclaw está incomodada com algo.

- Por favor, Tyl! És aia dela há três dias e já queres conhecê-la tanto assim?

A garota cutucou Caled nas costelas em retribuição à clara provocação em sua voz.

- Conheço o suficiente para afirmar que Salazar tem culpa em sua inquietação.

- Agora estás dando voz à tua implicância com Lord Slytherin... – Argumentou Kay, baixando o tom de voz e indicando com a mão para que ela fizesse o mesmo. Tyl bufou, furiosa.

- Certo, ele é realmente um exemplo como pessoa. Andando por aí às escondidas, rastejando no chão como uma cobra!

- Tyl! Você não sabe se...

- Sei sim. E Lady Ravenclaw sabe também. Apenas Lady Helga não admite...

- Eu acho, - cortou Cecille com sua voz suave – que Tyl tem razão quanto à inquietação das ladies. A vibração está agitada naquela mesa.

Tyl lhes lançou um olhar vitorioso, ao que os dois amigos trocaram olhares complacentes entre si. Desde que os três haviam decidido tomar Cecille sob sua proteção, ela desenvolvera com Tyl uma cumplicidade intuitiva e instantânea, e agora uma sustentava os argumentos da outra.

- As duas damas de companhia de lady Ravenclaw concordam quando digo que ela é perfeitamente capaz de lidar com Lord Slytherin, não? – Questionou Kay.

As duas concordaram, enquanto Tyl acenava animadamente para Rowena, que a avistara da mesa dos mestres.

- Eu diria, - acrescentou ela - que ela é páreo inclusive para Lord Gryffindor!

- Excelente! Então, que tal mudarmos o assunto para algo que realmente seja dúvida?

- O que, por exemplo? – Quis saber Caled, de olho comprido no pudim de caramelo de Tyl.

- Aonde andam Cygni e Malfin? Qual foi a punição que receberam, se realmente a receberam?

Á menção daqueles nomes, Cecille estremeceu visivelmente, e Tyl admoestou o amigo por gestos. Caled ergueu os olhos para os céus estrelados acima deles e Kay corou levemente.

- Desculpe, Cecille! Eu só... Eu não...

- Está tudo bem! – Ela acalmou-o – Eu também preferia saber onde eles estão, já que esta é a melhor maneira de poder evitá-los. Desculpe, Tyl!

- Já disse que não precisa se desculpar por achar meu irmão um escarro de Pesadelo. Eu mesmo não o julgo muito melhor! E ele deve estar bem, escondido até passar o escândalo. Ou vocês acham que Salazar fez algo... grave a Cygni e ao outro? – Indagou Tyl, descrente.

- Por causa de uma mestiça cega como eu? Não acho. – Resumiu Cecille, com a naturalidade de quem comentava o clima.

- Realmente não. Vejam os amigos mais chegados deles: continuam arrogantes como pavões. Se algo tivesse realmente acontecido a seu irmão, Tyl, eles estariam cabisbaixos e apreensivos. – Argumentou Kay.

- O que eu realmente quero saber, - engrolou Caled, terminando em uma colherada o pudim de Tyl – é por que eles estão se sentindo confiantes o bastante para atacar Cecille em plena luz do dia, a vinte braças das cozinhas do castelo. Cygni sempre foi um idiota pustulento, (desculpe Tyl), mas um idiota pustulento acintosamente cumpridor de regras. E agora isto?

- Não se desculpe, já disse. E os motivos são óbvios: a ausência de Lord Gryffindor e a proteção de Salazar a acobertá-los.

- Não acho que Lord Slytherin agiria assim. E não estou defendendo-o, se é assim que parece. – Explicou Kay, antes que Tyl lhe avançasse – Ele é apenas esperto demais para comprar essa briga com os outros três mestres, assim escancaradamente...

- Quem está comprando briga com quem? – Indagou Mutombo, que bateu amigavelmente nas costas de Kay, antes de sentar-se ao lado deles. Os jovens sorriram, desviando da pergunta e disfarçadamente rumando a conversa para as aulas que logo iniciariam. Cecille, entretanto, permaneceu com os olhos sem vida pregados em Mutombo.

- Posso ajudá-la em algo, Cecille? – Quis saber ele, pressuroso, quando percebeu.

- Você sabe quando seu pai e Bram voltam?- Perguntou a garota melancolicamente, e os rapazes a olharam compreensivamente, lembrando do ataque recente que a moça sofrera. A presença de Godric Gryffindor era sempre um alento para qualquer um de seus “pequenos perdidos”. Já Tyl rasgou um sorriso de orelha a orelha, aparentemente sendo a única a perceber as duas pessoas buscadas na pergunta simples.


==*==


Almançor tremia visivelmente, o antes todo poderoso senhor dos andaluzes agora reduzido a uma patética figura balofa e balbuciante ladeada por MacNamara e Ian.

- Não sei do bruxo! Não sei do bruxo!

Godric encheu os pulmões de ar, sentando-se para encarar o prisioneiro. De alguma forma, toda aquela calma era mais enervante para Almançor, do que se o gigante de cabelos avermelhados estivesse aos berros. Nem a franca animosidade dos guardas que o ladeavam era tão aterradora quanto os frios olhos castanhos do tal Leão.

- Você o trouxe aqui sob sua proteção e agora nega? Vai pagar sozinho pelos crimes em Moray e deixá-lo escapar impune?

Almançor pestanejou diante da palavra ‘crimes’, caindo de joelhos, e desatou a repetir uma só frase, com seu sotaque carregado.

- Falar com seu rei! Falar com seu rei!

Godric levantou-se, caminhou até onde o homem tremelicava de joelhos e o ergueu pelas vestes acetinadas, até os pés de Almançor agitarem-se no ar, sem encontrar o chão.

- O rei vai demorar a chegar e muito pode acontecer até lá... Para onde foi Herpo? Qual era o plano se precisassem fugir? Ele entrou na floresta? – Rugiu Gryffindor, sacudindo a presa em suas mãos. – Fale!

O medo destravou a língua de Almançor, o Invencível.

- Abandonou-me! Fugiu! Antes da luta! Sumiu! Sumiu! Falar com seu rei! Falar com seu rei!

Godric soltou o homem no chão, enojado. Fez um gesto curto a MacNamara, que voltou a acorrentar o lamuriante Almançor, levando-o em seguida de volta a seu cárcere. Godric permanecera quieto, de costas, até que os dois sumissem pela abertura da tenda, e então começou a preparar-se.

- Senhor, aonde vais?

Ian continuava ali, e assistia apreensivo aos gestos de seu comandante. O término infrutífero do interrogatório do estrangeiro trouxera de volta a eletricidade furiosa e obstinada aos ares de Lord Gryffindor. Godric jogou a capa rubra às costas, atando-a sob o queixo.

- Vou entrar em Celidon.

- Então, permita aos teus homens irem com o senhor!

- Não. Tu e os outros ficarão aqui, e com as vistas sobre os estrangeiros até que Douglas e Renfrew cheguem.

- Mas, milord...

- MacNamara e Bram o ajudarão. – continuou Godric, não dando atenção ao provável protesto de seu tenente. – Prestem atenção no príncipe, se ele resolver dar o ar da graça. Sabe-se lá que problema criará... – concluiu, terminando de se armar. – Obrigado por sua espada, Ian! É muito melhor que a do estrangeiro.

Dito isso, pendurou o escudo vermelho e dourado no braço esquerdo e saiu da tenda, tendo em seus calcanhares o teimoso Ian.

- Milord, por que ir sozinho? E se o tal Herpo entrou na floresta com um batalhão de estrangeiros bem armados e está a sua espera?

Godric continuou sem parar até a beira da colina, e de lá observou por alguns minutos as copas das árvores centenárias que brilhavam esmeraldinas na luz do nascente. Só então respondeu ao leal soldado.

- Eu não sei dizer se ele realmente entrou ali, ou se está ou não sozinho. Porém, sei que eu sim devo ir só. Eu apenas sei, Ian. – Explicou, diante da inevitável reclamação de seu tenente. – Apenas sei! – Colocou a mão no ombro do rapaz, orientando. – Cuide de tudo! Continuem a tratar dos feridos e a sepultar os mortos de ambos os lados com dignidade. Não deixe Bram vir atrás de mim.

Sem opção, Ian ficou olhando enquanto seu mentor descia o terreno e, com passos decididos, sumia nas sombras da floresta de Celidon. Depois disto, colocou-se a seguir suas ordens.

Godric caminhou sob as grandes árvores sem empunhar espada nem varinha. Conforme andava, copas, galhos e troncos se fecharam no alto, formando uma colossal abóbada verde escura sobre seus passos. O som do capim amassado pelos seus pés era acompanhado do canto ocasional de pássaros, do estalo de um ou outro graveto quebrado por pequenos animais em fuga e pelos sussurros trinados de múltiplas espécies de insetos. Em nada o local lembrava uma floresta amaldiçoada, mas sim um lugar protegido das agruras da vida externa, quieto e cálido em sua plácida existência.

Tal quietude não tranqüilizou completamente a Godric, todavia. O lugar todo rescindia a magia poderosa e o marasmo ali era expectante e não calmo. Quando já havia caminhado por bem mais que uma hora, sentiu que era observado por algo mais que assustados bichinhos. Puxou lentamente a varinha e segurou-a oculta sob a capa, continuando em seu caminho, e o que quer que o observasse o acompanhou, sem se manifestar. Andou até ficar sob a sombra de um olmo excepcionalmente alto e, a certeza que o trouxera até ali, o fez parar.

Cravando a espada no chão, encarou as árvores solenes ao redor e clamou, fazendo sua voz trovejar entre galhos e folhas.

- Cá estou! Lailoken, Herpo, ou quem quer que seja, apareça! Venha falar comigo!

Uma brisa suave varreu o espaço circular, fazendo as folhas no chão dançarem em redemoinhos. Ao chegar a Godric o murmúrio do vento transformou-se em límpida voz, que a Godric pareceu partir de seu próprio peito e de toda a floresta em volta, ao mesmo tempo.

- “Este lugar está seguro, e assim ficará por algum tempo. Volte para casa, Protetor. Termina teu santuário. Estabeleça a tríade. Encontre a sentinela voluntária. Quando essas árvores e aquilo que elas guardam estiverem em perigo novamente, serás chamado”.

Quis duvidar, quis questionar e exigir explicações. Porém, uma parte sua mais racional que a mente e mais forte que o instinto lhe dava a certeza de estar lidando com algo muito melhor e maior que ele mesmo, ou qualquer mortal.

- Quem és? – questionou atônito. – De que falas?

O murmúrio alterou-se novamente e, num átimo de insensatez, Godric pensou que a voz da floresta ria-se dele.

- “Sempre perguntas o que já sabes em teu coração. Vá, teus problemas te aguardam lá fora”.

- O caldeirão...

- “O que chamas assim está seguro, por hora”.

- Então, ele existe mesmo?

A voz mudou, voltando a ser solene.

- “Está guardado aqui, e aqui ficará, até que um jovem com muitos tesouros e um bruxo de alma trincada venham buscá-lo. Quando isto acontecer, serás chamado para defender Celidon novamente”.

- Por que eu?

- “Porque és o Protetor, foi assim que o universo o planejou. Vá! Nada mais tenho a revelar-te agora”.

- E a tal tríade? E a sentinela? O que são? Como as encontro?

A voz não respondeu imediatamente e o vento soprou forte e gelado sobre Godric.

- Protetor, Curandeiro, Oráculo. O voluntário por sentinela.

- E onde os encontrarei? – Repetiu, aflito por manter a voz ali e conseguir mais respostas, apesar da certeza absoluta que se instalara em seu íntimo. De alguma maneira... mágica, não tinha dúvidas sobre a veracidade daquela voz e do que ela o orientava a fazer.

Desta vez, o vento girou ao seu redor até deixá-lo tonto. Quando recuperou o equilíbrio, assistiu surpreso ao vôo inexplicável de seu escudo, retirado de seu braço sem que sentisse, até várias braças acima de sua cabeça. Ali ele ficou, planando, por algum tempo. Depois desceu, ereto e leve como um pássaro, até pousar em seus pés. Acima do leão dourado, bonitas palavras escritas no idioma antigo agora brilhavam sobre o fundo rubro. A voz não só lhe respondera, como certificara-se de que ele não esquecesse de sua resposta.

Amicitias tibi junge pares

Escolhe amigos entre os teus iguais.

O vento sumiu e a voz não mais falou com Godric. Conformando-se, ele voltou por onde viera, com a mente girando em torno do que ouvira e do que sabia. Tinha muito o que conversar com Helga e Salazar quando voltasse. E com Lady Ravenclaw também. Ela era estudada, pelo que dizia Helga, e com certeza teria alguma idéia...



Uma das charadas lançadas pela voz resolveu-se assim que colocou os pés fora dos limites da floresta. - “Teus problemas o aguardam lá fora” - Ian e Bram o esperavam, com rostos cheios de aflição e revolta. Godric suspirou.

- Qual foi o problema?

- Douglas, senhor. Ele libertou Almançor.

Soltando algo muito próximo a um rugido, Godric lançou-se colina acima, tendo em seu encalço os dois soldados que contavam aos trancos o que ocorrera.

- Ele chegou logo que o senhor entrou na floresta, milord. Quando ficou sabendo tudo que ocorrera, alegou ter permissão do rei para lidar com o assunto. Libertou Almançor dizendo que isto é normal entre soberanos, um tipo de diplomacia ou coisa assim... – disse Bram, entrecortadamente. – Nós íamos impedi-lo...

- E então Renfrew chegou e avalizou o que o príncipe dissera. Ainda que não parecesse aprovar. – Ruminou Ian, desgostoso. – MacNamara nos disse para ficarmos quietos, e que fossemos buscar o senhor. Acho que não quis expor os homens. Falou que seríamos condenados por traição. Cadogan também nos mandou atrás de milord, disse que era o único a quem o príncipe temeria.

Godric rugiu algo, alargando suas passadas. Agora já chegavam às tendas e, onde antes houvera um espaço livre para circulação dos homens, agora havia uma nova tenda que se destacava das outras, tanto pelo tamanho quanto pela opulência.

- Mas o próprio MacNamara enfrentou o príncipe, quando ele resolveu açoitar os soldados estrangeiros até que implorassem perdão ou morressem... – Contou Ian sombriamente. Godric estacou os passos, encarando-o. - Acho que a tal diplomacia não desce até os simples soldados, não é?

Godric virou o pescoço de um lado para o outro vagarosamente, e então rosnou:

- O que ele fez a Edo?

- Ordenou a sua guarda pessoal que o prendesse, senhor. Disse que vai açoitá-lo após terminar com os estrangeiros.

Godric voltou a andar tirando de seu caminho, com um gesto de cada uma das mãos, uma tenda e uma fogueira respectivamente. Quando chegou ao largo semicírculo de homens que cercavam a grande tenda, sua presença logo foi notada, e eles lhe abriram caminho, gritando seu nome e batendo as espadas em seus escudos. Obviamente apenas a lealdade ao rei os mantivera inertes diante do desmando do príncipe e viam em Godric a esperança de terminar com aquilo. Godric olhou por sobre o ombro e decretou:


- Não se metam. Deixem Douglas comigo. Não interfiram!

Diante da tenda, a visão era grotesca. Dez palanques haviam sido erguidos, e em cada um deles estava preso um oriental, sem as túnicas e os turbantes. À esquerda, ajoelhados e acorrentados uns aos outros, seus compatriotas assistiam à cena, silenciosos, enquanto à direita, aqueles que já haviam sido castigados encostavam-se uns aos outros no chão, com a carne exposta ardendo e sangrando. Todos eles encaravam com a mesma dignidade quieta nos olhos amendoados o homem magro, que sacudia um açoite pelo ar. Urrando furioso, Godric avançou.

A visão de Godric vindo em sua direção como um leão caçando um pavão fez Douglas recuar vários passos e chamar em voz alta, olhando para os lados alucinadamente.

- Renfrew! Veja quem chega para juntar-se a nós em nossa celebração! O passeio foi bom, Gryffindor? Achou o tal caldeirão que trouxe estes idiotas sujos até aqui? Tolos, vocês todos! Adoradores do demônio mentirosos!

E brandiu o açoite, estalando-o nas costas do homem preso a sua frente. Na segunda vez que ergueu o braço, dedos como garras seguraram seu punho, e o açoite foi tirado de sua mão.

- O que?... Solte-me!

- Como te atreves a bulir em prisioneiros de guerra? Tu, que nem homem é, que dirá um soldado? – Vociferou Godric, acertando a primeira chibatada abaixo da base da coluna de Douglas, que caiu de joelhos berrando, surpreso pela dor.

- Como te atreves a açoitar homens indefesos e acorrentados, que só obedeceram a ordens... – Nova chibatada, que acertou a mesma região – quando soltaste o verdadeiro culpado com honras de soberano?

Quando a terceira chibatada soou pelo pátio tomado por um silêncio abismado, a guarda do príncipe finalmente sacudiu-se do choque e tentou avançar até Godric. Cada um dos homens parou, entretanto, ao sentirem sobre as costelas as lâminas afiadas de muitas espadas.

- Não nego que vocês tenham valor, companheiro. – anunciou Ian ao subjugado capitão da guarda. – Mas, há um exército inteiro leal a Lord Gryffindor aqui. Aquieta-te e aproveite o divertimento.

A surra real continuava, e agora Douglas não mais se defendia com gritos, tratando apenas de proteger a região mais atingida com as mãos espalmadas.

- Gryffindor!

A voz chocada de Renfrew ecoou por entre a balbúrdia que se instalara. Godric, que já aplicara as dez chibatadas que estipulara como limite a si mesmo, voltou-se calmamente para o ultrajado marquês, ministro da guerra.

- Como? ... Isto é insubordinação, homem!

- Estou em meu direito. Os prisioneiros eram meus. Douglas não deveria ter tocado neles, e muito menos soltado Almançor, o verdadeiro culpado. – Godric cumprimentou o satisfeito Cadogan que veio atrás do marquês com um aceno de cabeça. – Resolvi que a punição por este deslize ético deveria ser a mesma que ele estava aplicando nos meus prisioneiros. Nada mais.

- Você o estava humilhando, isto sim! – Contrapôs Renfrew, ajudando o choroso Douglas a se levantar. O príncipe ergueu os olhos para Godric, o rosto muito vermelho e manchado de lágrimas vibrando de impotente ira. – Desta vez tu passaste de qualquer limite, Gryffindor, e terei de reportar ao rei.

Como uma revoada de zangões enraivecidos, um rumor subiu dentre os homens, chegando até a tenda em ondas contínuas de ameaça. Cadogan colocou-se ao lado do marquês e cochichou-lhe urgentemente aos ouvidos. Renfrew pestanejou e negou com a cabeça várias vezes, enquanto Cadogan continuava argumentando, até erguer os olhos para os céus e assentir, amuado. Douglas olhou para o ministro de seu tio, ainda maior em autoridade que ele mesmo, sem acreditar, e saiu correndo para dentro da tenda aos soluços. Cadogan piscou para Godric.

Renfrew deu alguns passos, até ficar de frente para todo o exército e falou em voz alta e desgostosa, dirigindo-se a Godric e a seus homens.

- Vou levar em conta seus muitos serviços prestados a esta coroa e as tantas vezes que salvou-me a vida e a do rei e relevar, por enquanto, o que aconteceu aqui hoje. Da sua parte, e das de seus homens, Gryffindor. Aviso, entretanto, que o rei será avisado, e serão comunicados de sua decisão. Aqui e agora, vocês não serão mais necessários, já que Almançor assinou um documento onde empenha sua palavra que não invadirá mais nosso reino. Podem ir para suas casas e vamos todos esquecer este dia lamentável, por enquanto.

Os soldados deram vivas e o batalhão de Ian liberou a guarda pessoal do príncipe, que se retirou silenciosamente. Godric, no entanto, não arredou pé.

- Um de meus homens encontra-se preso.

Renfrew jogou as mãos para o alto, impaciente.

- Que seja. Ele será libertado.

Novos vivas, e novamente Godric não se mexeu.

- E os estrangeiros?

O marquês arquejou.

- Eles não são mais problema teu. Eu os levarei para o rei.

Godric olhou-o nos olhos, adivinhando que quem acabaria tomando conta dos prisioneiros seria Douglas, afinal. Entretanto, não respondeu. Girou sobre os pés e afastou-se, ainda sob os festejos tanto de seus homens, quanto dos de Cadogan. Apenas os diretamente ligados ao rei e a Renfrew o observaram marchar altivamente para fora do pátio de tendas em silêncio.

- Senhor, acreditastes nessa história de compromisso do oriental? – Questionou Ian a seu lado, enquanto Bram partia para libertar MacNamara.

- Não. Almançor não respeita Donald, logo não respeitará qualquer contrato com ele. E Herpo também não desistirá. Teremos de vigiar...

Chegavam agora à tenda de Godric, e ele entrou tirando a capa e jogando-se na primeira cadeira em seu caminho. Segurou a cabeça com as mãos, a fúria finalmente cedendo. Ian parou a sua frente, balançando-se de um pé para outro, mas Godric exigiu silêncio, ficando imóvel por um bom tempo. Finalmente, abriu os olhos, relaxando a postura contra o espaldar da cadeira, e fez sinal para que Ian falasse.

- Posso dar uma sugestão, senhor?

- Claro, Ian!

- A morte não deve vencer em Moray. A vila deve ser reconstruída. E seria um ponto de vigia perfeito.

Agora ele ganhara a total atenção de seu comandante.

- Estive falando com meu batalhão, senhor. Eles não se incomodariam de construir aqui um lar, já que muitos, eu mesmo entre eles, não tem tal coisa em canto algum... E se qualquer coisa estranha acontecesse naquela floresta ou próximo a ela, milord seria o primeiro a saber.

Godric levantou-se e pousou as mãos nos ombros de Ian.

- Eu acho a idéia fantástica, meu amigo. E ajudarei vocês o quanto eu puder. Veja se convence MacNamara a ficar também! Ele é um bruxo, e nós sabemos ser úteis quando queremos...

- Obrigado, milord.

- Agora, vá! Tome as providências de sempre. E não esqueça de mandar ajuda às famílias dos mortos, o mais rápido possível.

- Imediatamente, senhor.

Godric encostou-se novamente no espaldar com os olhos fechados, exausto. Aqueles foram dias estranhos, e ele nem queria pensar no sermão de Salazar quando ele ficasse sabendo que batera no príncipe, ou exatamente em que parte de Douglas acertara a maior parte das chibatadas... O zunido de muitas vozes surpresas e algumas furiosas chegou aos seus ouvidos e ele sorriu, aguardando o estouro. De fato, logo passos rápidos e abafados entraram em sua tenda, e a voz geralmente seca de Bram anunciou com nítido entusiasmo:

- Milord, os prisioneiros sumiram. Todos eles.

- Ah, é? Estranho... – disse Godric calmamente, sem se mexer.

- Lord Renfrew quer saber para onde os mandou, senhor. – Bram quase sorria, podia-se adivinhar.

- Diga a Renfrew que eu não estava lá, portanto, nada tenho com isso. Diga-lhe para pôr a culpa em Herpo. Provavelmente, ele voltou para buscar seus comparsas. E lembre-o de que ele nos dispensou do serviço agora a pouco, então, o problema não é nosso e estamos de partida.


- Sim, senhor!... Posso fazer uma pergunta antes, milord?

- Vá em frente.

- Para onde os mandou?

Godric suspirou.

- Para perto de seus lares. – Ergueu uma das sobrancelhas escuras. – Eu acho.

Bram, então, partiu para entregar o recado. Foi substituído imediatamente por MacNamara.

- Edo, meu bom amigo, não te atrevas a trazer mais algum problema. Nós vamos para casa e fim. Só consigo pensar em um enorme pedaço da torta de rins de Helga e um bom banho. – Concluiu com voz firme, levantando-se para encarar o velho soldado. Quando fez isto pode ver os vários ‘problemas’ o espiando por detrás de MacNamara, cheios de temor e apreensão.

- Pelas estátuas de Circe!


==*==


Rowena observou as aprendizes, a maioria da mesma idade de Tyl e Cecille, e algumas mais novas, chegarem risonhas e aos grupinhos para o encontro que marcara, às margens do lago iluminado pela luz da lua e por vários archotes que espalhara entre as árvores. A amizade bonita que nascia entre a fortaleza de Tyl e a suavidade de Cecille a fizera ter uma idéia para entrosar ainda mais a menina cega entre suas colegas. Conversara com suas aias e Helga, e elas haviam concordado entusiasticamente.

Quando todas haviam chegado, Rowena ergueu a voz, chamado-lhes a atenção, enquanto elas naturalmente se colocavam em círculo ao seu redor.

- Meninas! Meninas! Sejam bem vindas à primeira aula prática oficial da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts!


Um aplauso prolongado acompanhou suas palavras e Rowena sorriu, feliz. Depois ergueu as mãos para silenciar as garotas novamente.

- Porém, a mestra não serei eu e sim uma colega de vocês. Cecille, por favor, ao centro da roda.

Cecille avançou alguns passos, sem dar mostras de estranhar o silêncio surpreso das outras aprendizes.

- Olá! Eu sou Cecille – declarou com voz suave e firme, e Rowena e Tyl trocaram um olhar satisfeito. – Lady Ravenclaw teve a idéia de que eu contasse a vocês como utilizo minha magia e meus outros sentidos para me movimentar, caminhar, estudar e até mesmo dançar, sem enxergar...

E assim a aula prosseguiu com Cecille orientando, explicando e demonstrando como fazia, e conseguindo a colaboração plena de suas colegas. A parte realmente prática tomou forma em uma brincadeira costumeira entre as crianças comuns, em que uma das meninas era vendada por Rowena, e depois disso seguia as dicas de Cecille para encontras as pessoas no escuro e descobrir quem eram.

O único desvio da noite foi quando Rowena, que circulava, velando pela segurança das garotas que se divertiam, surpreendeu Caled, Kay, Mutombo e alguns outros rapazes escondidos atrás de um espinheiro cuspidor, espiando. Achando que eles já haviam pago o preço pela indiscrição ao serem acertados pelos espinhos finos e compridos que a planta lhes lançou, Rowena permitiu que eles também entrassem na brincadeira. Logo, Caled e Tyl se sagravam campeões, usando a intuição, o tato e a audição com muita desenvoltura, e acertando com rapidez a identidade de suas ‘presas’.

Foi o jovem Kay que parou a brincadeira de repente, batendo palmas.

- E lady Ravenclaw, - entoou alegremente – não vai participar?

Rowena riu diante do coro expectante que se ergueu. Fazendo uma reverência, aquiesceu e dirigiu-se para a última aprendiz que estivera vendada, deixando que Tyl amarrasse a faixa de tecido escuro sobre seus olhos. Depois, a moça a fez girar no mesmo lugar várias vezes, deixando-a em seguida, só, cega e tonta, em meio às muitas risadinhas abafadas dos jovens e ao farfalhar de tecidos.

- Bom minha intuição me diz que vocês dificultarão ao máximo para a mestra novata... – Declarou, estendo os braços para frente e dando poucos passos incertos sem direção definida. Algumas risadas altas atrás de si a viraram naquela direção e ela foi lentamente para lá, continuando a brincadeira. – E meu olfato avisa que aqui está a maioria dos nossos rapazes, e que eles não se banharam após o treino de justas, hoje à tarde.

Novas risadas espocaram aqui e ali. Subitamente um silêncio quase completo, quebrado apenas pelo segurar coletivo das respirações femininas a sua volta, desceu sobre o gramado e fez Rowena estacar, em meio a um gesto de agarrar alguém.

- Ah, meninas, nem preciso ouvi-las e vê-las para saber que estão escondendo alguma traquinagem. Rapazes, devo lhes avisar que minha magia lhes tomará o tato por vários dias, se vocês atravessem-se a me jogar no lago ou algo assim...

Rumando na direção que sua intuição indicava, Rowena estendeu novamente as mãos à frente, e desta vez, elas tocaram o aço frio. O susto a fez perder totalmente o equilíbrio, e duas mãos enluvadas a seguraram pelos cotovelos, aproximando-a da fonte de magia que a fez sentir um já conhecido calafrio a percorrer-lhe a espinha.

Gryffindor.

- E qual foi o sentido, milady... – Trovejou baixinho a voz grave, acima de sua cabeça – que na ausência da visão a traz direto para meus braços?










N/B Sally: Oh my God! Tanto para comentar e tão pouco espaço. Primeiro, as primeiras coisas. Anam, finalmente um capítulo com o tamanho que quase, eu disse quase, mata a vontade da gente de ler o que vc escreve. Ficou simplesmente DI-VI-NO e vc não tem nada, nada a temer a não ser o sucesso absoluto!! Agora, sujeitinho nojento é esse Salazar. Culpa sua! Eu o vejo asqueroso, oleoso, nauseante, ughhh! Depois, a cena da floresta ficou um show! E ahhhh como eu amei aquela surra no Douglas (só dez?? que econômica vc, rsrs). Gosto muito dos seus jovens alunos, mas Cecille e Bram me conquistaram para sempre, eu os amo, muito, muito, muito!! Amei o “sumiço” dos orientais, kkkkkk Perfeição, Sô, não tenho o que dizer! Por fim: OH-MY-GOD!! Falo sério. Oh my God, oh my God, OH-MY-GOD!!!! Fiquei sem ar!!! E vc diz que não se dá bem escrevendo romance? Ahh, Anam!! Não fala mais isso. É um privilégio poder ler isso em primeira mão. É um privilégio participar da construção dessa obra. Porque é isso. Uma obra!! Parabéns, palmas e reverências, minha Anam Cara.

N/A: Eu demoro, mas quando apareço é com um capítulo gropesco! ;D Levem em consideração na hora de me desculpar pela ausência prolongada, ok? – Este deixou muita coisa no ar, mas, prometo que as explicações virão. =D – Às minhas duas irmãs/betas, declaro meu amor e gratidão incondicionais: Anam e Imensurável, Imensurável e Anam, amo vocês! ;D – A última cena do capítulo eu dedico às GGetes, que inclusive raptaram o Hérocles na tentativa de conseguir uma atualização da minha parte... Podem devolver meu bichano, garotas! Eis o capítulo aí! – A todos que acompanham a fic, e também aos que estão chegando agora, um grande beijo em seus corações! – O próximo capítulo não demora. Muito! =D =D =D Até lá!






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