MORAY



CAPÍTULO 8:


MORAY.



- Apressem-se, os dois! Quero pegar o melhor degrau para assistir...

Pela animação de Tyl, podia-se dizer que o torneio de justas do rei viera realizar-se em Hogwarts. Trocando olhares divertidos, Caled e Kay a seguiram para o saguão de entrada, que já fervilhava com o zunido de algumas dezenas de aprendizes afoitos que ali se encontravam.

- Para que tanto alvoroço, eu me pergunto... – Caled murmurou, enquanto apressava com as mãos três aprendizes menores a lhes liberar os primeiros degraus da larga escadaria.

- Quantas vezes vimos alguém bater-se de frente com Lord Slytherin, que não fosse Lord Gryffindor? – Respondeu a moça, reconduzindo os três pequenos a seus lugares e empurrando os dois amigos escadas acima, até encontrarem lugares vagos.

- Estás te esquecendo de Lady Hufflepuff. – Argumentou Kay, observando Helga, que conversava com Salazar bem no meio do largo aposento. De sobrancelhas cerradas sobre os olhos claros, ela parecia bastante tensa, ao contrário de seu interlocutor. Salazar tinha os olhos cinzentos brilhantes, e quase sorria ao bater distraidamente com a varinha no bordado que cingia a lateral de suas vestes.

Tyl acompanhou seu olhar após acomodar-se entre os dois.

- Não, não esqueci. Milady com certeza não o deixa subjugá-la, mas daí a enfrentá-lo...

- Será que Slytherin não percebe o que acontece com ela?... – Começou Caled, sendo interrompido por um cutucão de Tyl diante da entrada de Lady Ravenclaw no salão. – Ei, MacNamara! Senta-te! Todos queremos ver! – Sibilou ele para um irlandês tão alto quanto largo, que ainda procurava assento nas arquibancadas improvisadas. O colega aprendiz acenou de maneira brincalhona e Caled ameaçou-o com a varinha, retribuindo. Logo o salão foi silenciando, enquanto as pessoas abriam caminho para que Rowena chegasse até Helga e Salazar. O que acontecia rapidamente, haja visto que Hérocles vinha a sua frente, com seu majestoso e intimidador andar felino.

Bem em seu íntimo, Rowena havia desejado que nem todos os moradores do castelo estivessem presentes. Não sentia insegurança ao que sabia e poderia fazer, mas tanta atenção à sua pessoa a constrangia. – Essas crianças não teriam algo melhor a fazer em um dia tão belo? – Pensou consigo, mirando os quatro cantos do salão tomados por jovens agitados. Quando seus olhos encontraram os de Lord Slytherin e ela viu seu semblante encher-se de vitoriosa antecipação, respondeu sem problemas à própria indagação. – De certo que não. Eu mesma adoraria assistir... em outras circunstâncias.

- Milady Ravenclaw! Admirável pontualidade. – Cumprimentou Salazar quando ela os alcançou, beijando-lhe a mão. – Estava agora mesmo acalmando Helga, que está por demais preocupada com sua saúde... Não há motivos para receio, estou certo? Milady com certeza me diria se nosso pequeno... encontro, a incomodasse d’alguma maneira?

- Milord pode ficar tranqüilo. – Afirmou Rowena, lançando um olhar apaziguador para Helga. - Não acho que haja como eu me ferir de qualquer modo. Acredito que nós dois saibamos usar nossas varinhas sem causar... estragos.

Foram tantas as respirações sendo suspensas que o ruído foi quase uníssono. Hérocles, sentado ao lado de sua protegida, sacudiu a juba dourada, rugindo baixinho. Salazar, entretanto, soltou uma risada curta e alta, curvando o corpo em rápida reverência. Depois se voltou para a surpresa Helga.

- Viste, querida amiga? Lady Ravenclaw é perfeitamente capaz de olhar por si mesma.

- Ah, desisto! Continuem com essa inutilidade se assim lhes aprouver. Sinceramente, não vejo que bem isso tudo trará... –E se afastou alguns passos, erguendo as mãos para o alto em sinal de rendição. Manteve-se atenta ao que acontecia, todavia. Hérocles foi deitar-se aos seus pés.

- Muito bem, Milady! Dissestes querer fazer alguns melhoramentos... Pronta para começar? – Desafiou Slytherin.

Sem responder, Rowena respirou fundo, concentrando-se. Tentou ignorar que todo o salão a observava com avidez e passou a estudar cada detalhe entre chão, paredes e teto. Desde que entrara ali pela primeira vez, achara todo o conjunto escuro demais. Bem apropriado para um castelo de senhores sombrios, mas nada aprazível para uma escola. Tirou a varinha da manga e apontou-a para a janela imediatamente à sua frente.

As linhas da janela alongaram-se na mesma proporção em que se alargavam, e surgiram caixilhos altos onde as novas proporções se assentaram. Surgiram também parapeitos largos como bancos de jardim, perfeitos para um aprendiz sentar-se confortavelmente e observar o mundo lá fora.

Rowena pendeu a cabeça para o lado, analisando os resultados. Logo sua varinha cortava o ar novamente, com gestos curtos e rápidos. As vidraças largas, mas incolores e opacas, foram tomadas por um desenho que mostrava uma bruxa cercada de flores dos mais variados tipos. Cada quadro do desenho foi preenchido por cores belas e claras e, quando pronta, a janela era o quadro perfeito de Helga trabalhando em seus jardins. A luz do Sol atravessava as diversas cores, refletindo-as em mosaicos pelo chão.

Tyl puxou os aplausos, que se elevaram em intensidade e volume, quando Rowena repetia o processo nas janelas seguintes de forma rápida, mas, igualmente eficiente. Logo as janelas encheram de luzes o aposento, representando os jardins de Helga, o lago, Hérocles dormindo perto do fogo e outras cenas corriqueiras do castelo. Salazar permaneceu calado todo o tempo, até Rowena terminar a última vidraça, que retratava Lord Gryffindor e seu leão como ela os vira no dia de sua chegada.

Tirando os olhos da imagem de Godric, ele ergueu a mão e a audiência rapidamente aquietou-se.

- Magnífico efeito visual, sem dúvida. Mas serão seguras? – Um traço de frieza instalara-se na voz masculina. Helga remexeu-se, dividida entre a admiração pela amiga e a apreensão pelo que ainda viria.

- Milord deve experimentar. – Respondeu Rowena, serenamente.

Salazar girou o corpo e mirou a varinha para a janela de Godric e Hérocles. Todos os aprendizes que estavam próximos a ela afastaram-se prontamente.

Durante longos instantes o bruxo atacou, com diversos feitiços, vidro, pedra e madeira. Não conseguiu nem mesmo um arranhão ou rachadura.

- Novamente, muito bom, Lady Ravenclaw! – Disse, quando afinal abaixou a varinha. – Seguras e belas, ainda que não possam ser abertas, eu presumo.

Sorrindo de canto, Rowena dirigiu-se à janela que representava o lago e sem dificuldade alguma ou uso da varinha, abriu-a de par em par.

- Elas são protegidas contra intenções más ou duvidosas, milord. De resto, são apenas janelas.

Nova onda de aplausos. Na escadaria, Tyl lançou um olhar satisfeito aos amigos que dizia claramente: “Eu não disse?”.

Salazar murmurou, reassumindo a postura levemente jocosa.

- Se milady me permite...

Abaixando-se com um movimento largo da capa, apoiou-se em um dos joelhos. Virou a varinha de cabeça para baixo, encostando a ponta no chão de pedras irregulares.

- Precisamos de um piso que combine com seus vitrais.

Enquanto ele falava, pequenas luzes saíram de sua varinha, irradiando-se pelo chão, como as ondas que a água faz quando se atira uma pedra em um lago pacífico. Conforme elas avançavam pelo solo e paredes, as irregularidades das pedras desapareciam, deixando-as perfeitamente polidas e bem encaixadas umas nas outras. Quando a última luz sumiu no ar, o salão poderia ser limpo com o mais puro veludo, sem que um fio sequer fosse puxado de sua trama por qualquer grosseirão no chão ou reentrância nas paredes.

Helga coçou a juba de Hérocles, enquanto dividia com o leão sua descrença divertida.

- Por que infernos ele não fez isso antes?... Começo a achar que esse desafio será útil para algo, afinal.

No centro do aposento, Rowena esperou pacientemente até que os vivas dos aprendizes a Lord Slytherin acalmassem.

- De fato, milord, fizestes tão bom trabalho, que as pedras não ficaram dignas dele. Posso?

Murmurou algumas palavras enquanto caminhava de lá para cá, movimentando a varinha em círculos pelo chão. Quando terminou de conjurar o feitiço, o tom cinzento e rude do piso sumira, e o brilho rico e claro do mármore o substituiu, subindo inclusive pelas escadas que levavam para o primeiro andar. Todos os jovens sentados nos degraus saltaram em pé, surpresos.

Salazar observou o efeito das cores incidindo sobre o novo piso por alguns instantes. Depois passou os olhos pelas faces coradas de satisfação de Helga e fixou-os nos olhos incrivelmente azuis de Rowena Ravenclaw. Sua tensão era tão clara, que todos no salão emudeceram.

- És boa em transformar, eu concordo. Mas, e a partir do nada? O que podemos esperar de ti?

Novamente o desafio. E desta feita, lançado de maneira quase rude.

- Salazar, não pensas que já chega? Ela não provou e comprovou que pode ajudar-te?

Foi a voz contrafeita de Helga que trouxe a idéia do que fazer para Rowena. Girando sobre os pés, ela tomou o caminho para o aposento onde faziam as refeições. Depois de um silêncio atônito, Helga e Salazar a seguiram, eles mesmos seguidos de perto pela turba de jovens curiosos.

De pé, em meio às compridas mesas, Rowena admirava o céu azul acima de suas cabeças. Helga queixara-se com ela, havia pouco tempo, que Slytherin havia decidido erguer um teto sobre aquela sala. Tantas vezes Gryffindor havia enfeitiçado aquele aposento para que sua grande amiga pudesse cear sob as estrelas, e agora esse prazer lhe seria tirado em nome da praticidade.

- Bem, não se eu puder evitar... – Pensou consigo, enquanto respirava profundamente e erguia a varinha.

O que Salazar, Helga e os aprendizes viram, então, por muitos anos foi contado e recontado entre as paredes do castelo. Os olhos antes do azul profundo das águas do mar, tornaram-se ainda mais claros que o céu lá fora. Silenciosa e imóvel, apenas o braço da varinha movendo-se languidamente em gestos largos, Lady Rowena Ravenclaw trouxe de fora centenas de pedras, de vários tamanhos, que voavam e alinhavam-se em harmonia e suavemente no alto, lembrando um balé de pássaros exóticos.

Em breve elas formaram espaços permeados por abóbadas e arcos, finalmente assumindo as linhas suntuosas das grandes catedrais dos comuns.

Os presentes ainda admiravam o trabalho magnífico, quando Rowena sorriu para eles e novamente ergueu a varinha ao alto. Diante dos olhos atordoados, todo o teto desapareceu, dando lugar outra vez ao céu claro e brilhante.

Helga exclamou, segurando-lhe o braço com força.

- O que fez? Estava tão bonito e bem feito...

Pousando sua mão sobre a da amiga, Rowena sugeriu alegre, já com os olhos de volta à cor habitual.

- Por que não experimenta o quão firme é o teto que coloquei sobre nós, minha amiga? Vá em frente, não receie! Faça cair lá fora aquela chuva ligeira que tão bem faz às suas plantas...

Helga sorriu largamente, finalmente compreendendo. Com alguns floreios complicados da varinha através da janela fez surgir no céu bem acima delas uma pequena nuvem escura, que imediatamente despencou um rápido e refrescante aguaceiro. Nem uma gota atravessou o teto encantado de Rowena, entretanto. Nem naquele dia, nem no futuro até onde se podia predizer.

Helga abraçou-a forte, em meio à balbúrdia dos jovens, congratulando-a e agradecendo baixinho pelo presente. Depois, virou-se para os barulhentos e admirados expectadores, incluindo nestes Hérocles.

- Salazar, não acredito que ainda possas ter qualquer... – Calou-se subitamente, quedando-se em silêncio. O que fez que tanto Rowena como todos os outros procurassem ao redor pelo motivo. Logo, um rumor subiu pelo ambiente, enquanto comentários eram disparados em voz baixa por todos os cantos.

Após ter lançado tantos desafios e vê-los habilmente vencidos, Salazar Slytherin ausentara-se, sem uma palavra sequer e sem que ninguém pudesse perceber sua saída.


==*==


O Sol já desaparecera atrás da linha do horizonte quando Godric Gryffindor pôde finalmente colocar-se, e a seus homens, em ação. Entretanto, o andar duro e o cenho franzido, que formava uma linha reta e escura sobre os olhos castanhos, demonstravam claramente que ele não estava nada satisfeito. Perigosamente raivoso, era a imagem que se formava nas mentes dos que o observavam enquanto atravessava o campo, vindo da tenda real.

A maioria de seus soldados aprendera a manter uma distância razoável de seu comandante quando o ar a sua volta parecia estalar com essa energia invisível e furiosa. Apenas Ian e Bram aventuravam-se a lhe fazer perguntas nestas ocasiões, e o faziam com cuidado.

- Senhor, devo trazer-lhe Molnia? – Questionou Bram.

- É hora de partir? – Atalhou Ian, já gesticulando para os mais próximos para que se mexessem.

- Sim, é hora. Cuidem para que possamos nos pôr na estrada o mais rápido possível. Quero vencer algumas boas léguas antes de pararmos para descansar. – Godric respondeu, sem diminuir o ritmo das passadas.

Enquanto Bram corria para o cercado dos animais e Ian se punha a gritar ordens, causando grande movimentação de homens e cavalos ao redor, Godric adiantou-se para a tenda que usara para descansar na noite anterior. Lá, armou-se e vestiu a ampla capa vermelha escura e o elmo. Por fim, escondeu sua varinha às costas, sob a capa, e saiu sem mais demoras.

Ian o esperava do lado de fora, já segurando sua montaria pelas rédeas.

- Milord, para onde daqui?

- Para Moray. Vamos ver se conseguimos evitar um mal maior, por lá.

- O rei irá também?

- Não. O rei e o barão Renfrew voltarão à Edimburgo, para proteger o trono. Cadogan irá para as fronteiras ao sul aonde nossos adversários também foram vistos. – A voz profunda soava repleta de exasperação.

O astuto soldado ergueu as sobrancelhas.

- Ele vai dividir a força? Quando enfrentaremos um inimigo com dez mil homens e que some no ar? Não admira milord estar furioso...

Godric voltou-se para o homem que era seu braço direito, e o estudou com o olhar atento.

- Como sabes disto tudo?

Ian sacudiu os ombros, sorrindo de canto.

- Milord pediu para que ficássemos atentos ao que se comentava no acampamento. Foi um dos guardas pessoais do príncipe Douglas que me contou, após alguns goles daquele vinho que os tais elfos fazem...

Godric meneou a cabeça.

- Típico. Mas o fato de que iremos nos dividir não é o principal motivo de minha impaciência, Huntley. Embora seja com certeza uma tolice medonha.

- Milord?

- Logo saberás. – Cortou Godric, apanhando as rédeas de seu cavalo que Bram acabava de lhe entregar e montando-o.

Não demorou e suas bandeiras estavam enfileiradas. Arqueiros, lanceiros e espadachins em seus lugares, apenas aguardando a ordem do comandante. Godric olhou ao redor, parecendo a cada momento mais irritado.

- Senhor, estamos esperando alguém? – questionou Bram, sem entender a demora na partida, assim como os outros.

Godric olhou para o caminho que levava ao centro do acampamento e um brilho metálico em meio à semi-escuridão indicou a chegada de uma luxuosa carruagem.

- Não estamos mais, Bram.

O cortejo formado pela carruagem cercada da guarda real passou pelas fileiras e parou junto a Molnia. A cortina de veludo que escondia o interior abriu-se estreitamente e o queixo fraco de Douglas surgiu.

- Já podemos ir, Gryffindor. Ainda bem que esperou por nós.

- E fiz isto por cortesia a seu tio. Mas, daqui vamos para batalha e, a não ser que essa carruagem tenha asas para poder acompanhar nosso ritmo, sugiro que escolha um dos cavalos e o monte.

Douglas murchou os lábios sobre os dentes, olhando com desdém para Molnia.

- Eu não vou atravessar o país sacudindo em um animal e engolindo poeira. Eu sou um prínc...

- Então, nos vemos quando chegar lá. – Incitando Molnia, e sem dar ouvidos às reclamações de Douglas, adiantou-se até o capitão da guarda real. – Nosso destino é Moray, ao leste. Leve-o para lá.

O homem assentiu, mal disfarçando seu aborrecimento. Godric ergueu a mão, chamando seus homens, e toda a tropa partiu em galope rápido, deixando a carruagem dourada rapidamente para trás.

- Senhor, por que este... este... Está vindo conosco? – questionou Ian injuriado, quando já tinham se distanciado bons metros do príncipe e diminuíram um pouco o passo para atravessar a área das sentinelas.

- O rei quer que seu sobrinho aprenda estratégias de guerra, diretamente do campo de batalha. – Respondeu a voz retumbante, claramente contrafeita. - Ele entende que lutarmos juntos fará com que eu e Douglas nos entendamos melhor.

- Besteira – resumiu Ian.

- Talvez o rei queira que o sobrinho aprenda a se comportar como um homem, e não um pavão.

O comentário feito na maneira seca e breve de Bram causou risadas nos que ouviram, e foi nesse espírito que eles atiçaram os cavalos, disparando pela noite como sombras.




Por duas noites e um dia eles viajaram, permitindo-se apenas breves intervalos para descanso de homens e animais. Por várias vezes durante esta cavalgada, Godric sentiu a estranha opressão, que o assaltara noites atrás, cada vez mais intensa e perturbadora.

Quando a claridade do segundo dia já tingia o céu, eles chegaram às planícies verdes dos arredores de Moray, na região de Grampian. Ali, bem antes de avistarem os portões da cidade, Godric ordenou mais uma parada. Saíram da estrada e ocultaram-se sob os altos cedros e bétulas que circundavam o rio estreito que margeava a cidade e corria em direção à Floresta de Celidon, algumas léguas adiante.

Não baixaram suas armas ou levantaram acampamento, permanecendo silenciosos e atentos a qualquer indício de presença hostil, aguardando a volta dos batedores enviados à cidade para averiguar a situação.

Observando as expressões dos dois homens quando eles retornaram não muito depois, a sensação ruim de Godric tornou-se certeza.

- E então? – Interpelou ao primeiro batedor que se aproximou dele. Edo MacNamara era um soldado experiente, que já vira muitas barbaridades na vida, pai de um dos aprendizes da escola. Godric o conhecia e à sua bravura muito bem, o que tornava o transtorno em seu olhar muito mais preocupante.

- A vila... parece vazia, os orientais não estão mais lá...

Hesitou, e nesse tempo seu companheiro juntou-se a eles, tão lívido quanto Edo.

- Diga, homem! – Incitou Godric – O que mais viram? O que acontece lá?

- Milord... É melhor ver por si mesmo. – Afirmou MacNamara, recebendo a imediata concordância do outro batedor.

Sem esperar mais, Godric montou em Molnia e partiu a toda, sabendo que seus homens o seguiriam.

Moray era pouco mais que um vilarejo, em tamanho. Porém, seus limites eram guardados por uma alta muralha circular, que tinha como única entrada um grande portão duplo. Foi por ali que Godric passou, em passo mais lento, e teve a primeira visão da tragédia.

O que seriam casas, estábulos, cercas ou qualquer outra construção erguida do chão, eram agora apenas estruturas carbonizadas que ainda fumegavam, em meio a montes de cinzas e entulhos. Cavalos, cães, porcos e outros animais jaziam espalhados pelo terreno, a fumaça que subia de suas carcaças espalhando um cheiro fétido e doce pelo ar. Os únicos sons que se ouvia eram os cascos de Molnia batendo nas pedras do chão e o estalar das brasas que ainda queimavam. Dos habitantes não havia sinal a vista, estivessem eles vivos ou mortos. O mistério perdurou até que ele chegasse ao círculo central da vila.

Acompanhando toda a circunferência de terra batida, do centro às extremidades, mais de uma centena de palanques haviam sido fincados no chão, ligados uns aos outros no alto por vigas grossas. Em cada viga da teia de madeira, pendurados a ferro pelos pulsos alto o suficiente para que não pudessem apoiar os pés no chão, estavam cada homem e mulher de Moray. Imóveis. Mortos.

Em pé, a beira daquela arena de martírio, Godric Gryffindor ficou em silêncio por longos momentos. Assimilando o amargo daquela cena revoltante, seu coração e mente enchendo-se gradualmente de tristeza e fúria.

- Gárgulas do inferno!

A voz abismada de Ian o fez perceber que ficara ali tempo suficiente para que alguns dos homens se aproximassem, e os outros eram visíveis percorrendo as ruas do vilarejo. Tinham o olhar tão desgostoso quanto o seu. Edo parou ao seu lado.

- Covardes! O que estas pessoas podem ter feito? Cidadãos comuns... Não há soldados entre eles, pelo que se vê.

- Vamos tirá-los de lá. – Trovejou Godric, colocando-se a soltar a vítima mais próxima. Em silêncio respeitoso, seus soldados o imitaram.

Um a um os mortos foram sendo soltos das vigas e levados à rua lateral, onde os homens os depositavam com cuidado em espaços limpos, longe dos destroços fumegantes. Godric acabara de ordenar a escavação de túmulos, para dar àquela gente um descanso digno, quando gritos cortaram o silêncio sepulcral que dominava a praça.

- LORD GRYFFINDOR! LORD GRYFFINDOR! ACHEI UM VIVO!

Em largas passadas, Godric chegou até eles. Ajoelhando-se diante do rapazola magro que um dos arqueiros amparava, pousou a mão esquerda em sua testa machucada. Com a mão direita sacou a varinha e encostou-a na altura do coração do jovem, murmurando algumas palavras. Ian e Bram fizeram os outros afastarem-se, abrindo espaço.

O garoto debateu-se debilmente, arquejou e piscou. Então, fixou os olhos escuros e febris em Godric. Tentou falar, mas de sua garganta ressequida não saiu som algum, a não ser um lamento rascante.

- Água! – Ordenou Godric, e rapidamente Bram se aproximou com uma bolsa de couro cheia. Aos poucos, despejou o líquido entre os lábios feridos pelos punhos dos estrangeiros e pelo calor do fogo. O menino engoliu sofregamente, engasgando.

- Calma! Agora ficarás bem! – Disse Ian, tentando aquietá-lo.

- O Leão... – Balbuciou o garoto roucamente. - Gryffindor...

- Sou eu. – Resumiu sombriamente Godric, antecipando o que estava por vir. O rosto do rapaz se contorceu de dor e ressentimento.

- Estrangeiro... presente... Leão... – Puxou o ar com força, e seus olhos giraram para cima enquanto ele perdia os sentidos novamente.

Godric levantou-se, erguendo o ferido do chão.

- Bram, leve-o e cuide dele como puder. – Comandou, endereçando um olhar significativo ao escudeiro. Bram assentiu, pegando-lhe o garoto dos braços. – Volte assim que possível.

O highlander girou sobre os pés e partiu rapidamente, sumindo entre os homens. Estes voltaram ao trabalho de soltar os corpos da mórbida teia, sem dar mostras de estranhar as ordens que seu comandante dera a Bram. Apenas Ian permaneceu por perto.

- Milord... O realmente se passou aqui?

Godric desembainhou a espada, e a girou ao lado do corpo antes de fazer em pedaços uma das malditas vigas, agora vazia, com dois golpes da lâmina afiada. Enquanto caminhava ao palanque seguinte, respondeu com voz tão fria quanto o vento que passou subitamente a castigar a vila.

- Ao que parece, – novo golpe furioso - Almançor sabe que eu estava a caminho. – Atrás deles uma das casas incineradas, que ainda se sustentava parcialmente nas bases, veio de vez ao chão. Sem fazer caso, Godric continuou a despedaçar a madeira. – E esta foi sua idéia de um presente de boas vindas.

Ian Huntley olhou de seu comandante para os corpos que ainda estavam pendurados no lado oposto e, de novo, para Godric. Já vira aquele olhar em Lord Gryffindor antes. Sabia o que significava. Por essa razão, foi quase com ansiedade pela revanche que perguntou.

- E o que vai fazer, Milord?

Godric parou, escorando a espada contra o chão, e alisou a curta barba avermelhada. Enquanto seus olhos passeavam pela devastação ao redor, respondeu no mesmo tom perigoso.

- Encontrá-lo... E agradecer o presente.







N/B Morgana: Em primeiro lugar, PARABÉNS NIKA!!!! Muitas, muitas, MUITAS felicidades! Te desejo tudo de bom. Não. O melhor, sempre. Te adoro, moça! =D
Agora sobre o capítulo: Não vou “babar” muito no texto agora, porque ainda farei o meu comentário gigantesco, mas quero dar os parabéns à Sô pelo brilhantismo em lidar com épocas, personagens e situações tão distantes da nossa realidade e, ao mesmo tempo, nos transportar com a magia das suas palavras para lá. Magistral, mestra, como sempre. Agora aguardamos ansiosamente a segunda parte do capítulo. =) (Shibata no caboclo!!!)

N/B Sally: Só tem um jeito de fazer isso e é sem piedade. Quero vingança, Anam. Quero que esse invasor pague por isso. Monstruoso! Maldito! Covarde! Eu mal posso esperar o próximo capítulo. Quero que o Godric não tenha nenhum misericórdia desse... desse... biltre, vilão, arrrrrrr... que raiva!!!! E o início? Amei a Rowena fazendo o salazar de bobo. Humpf... metido! Penso o que, hein? Sônia está maravilho. Excepcional, eu diria. Fiquei sem fala. E esse é o meu presente de aniversário??? WOW!!!!! Feliz, feliz, feliz!!! Muito obrigada, Anam!! Isso é mais que um presente, é um prêmio. Que os deuses te abençoem e ao teu talento. Te adoro!


N/A: Este capítulo é meu presente para minha Anam/beta/irmã SALLY OWENS!!! Anam,... - FELICIDADES!FELICIDADES!FELICIDADES!FELICIDADES!FELICIDADES! FELICIDADES!FELICIDADES!FELICIDADES!FELICIDADES!FELICIDADES! FELICIDADES!FELICIDADES!FELICIDADES!FELICIDADES!FELICIDADES! FELICIDADES!FELICIDADES!FELICIDADES!FELICIDADES!FELICIDADES! FELICIDADES!FELICIDADES!FELICIDADES!FELICIDADES!FELICIDADES! FELICIDADES!FELICIDADES!FELICIDADES!FELICIDADES!FELICIDADES! FELICIDADES!FELICIDADES!FELICIDADES!FELICIDADES!FELICIDADES! FELICIDADES!FELICIDADES!FELICIDADES!FELICIDADES!FELICIDADES! FELICIDADES!FELICIDADES!FELICIDADES!FELICIDADES!FELICIDADES! FELICIDADES!FELICIDADES!FELICIDADES!FELICIDADES!FELICIDADES! FELICIDADES!FELICIDADES!FELICIDADES!FELICIDADES!FELICIDADES! FELICIDADES!FELICIDADES!FELICIDADES!FELICIDADES!FELICIDADES! FELICIDADES!FELICIDADES!FELICIDADES!FELICIDADES!FELICIDADES! FELICIDADES!FELICIDADES!FELICIDADES!FELICIDADES!FELICIDADES! – Tudo de bom para você, sempre!!!! Beijão de níver!!!!=D – Beijo mais que grande grandão também para minha Imensurável Borboleta Beta, Morgana Black. Obrigada a vocês, meninas, pelo apoio e carinho irrestritos com que me presenteiam!!!! – Fã clube do GG, banqueteiem-se!!! ;D Beijos a todos! Fiquem bem! Até o próximo capítulo!


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