Sobre Ele...



Os alunos do primeiro ano da Lufa-Lufa já estavam acostumados a saírem do caminho dos colegas da casa da serpente, e aquele Sonserino do quinto ano em especial dava medo. Naquele dia, no entanto ninguém se atreveria a ficar no caminho de Severo Snape, e se alguém tivesse tentado ele teria passado por cima sem nem perceber, tal era o ódio que sentia.

Severo Snape era um adolescente de dezesseis anos, alto, magro e pálido como se vivesse sempre na escuridão. Não era nada popular mesmo entre os colegas de sua casa. Quando entrou em Hogwarts já trazia a fama de ser vidrado e de entender muito sobre artes das trevas. Snape nunca se importou com isto, era filho único, estava acostumado a solidão e vivia bem assim.

Naquele momento ele estava cego de ódio. Entrou como um hipogrifo descontrolado em seu salão comunal, mas o estrondo das conversas e dos risos o irritaram ainda mais. Ele girou em seus calcanhares e saiu. Andou pelas masmorras, entrou em uma sala de aula que não era utilizada, trancou e imperturbou a porta, alcançou uma cadeira e a lançou contra a parede.

Normalmente Snape era um rapaz controlado, não era dado a acessos de fúria, mas naquele momento ele queria matar aqueles marotos, todos os quatro! Os covardes só o atacavam em duplas ou trios.

Ele olhou para uma outra cadeira, visualizou o rosto de James Potter e lançou um feitiço não verbal que destruiu o móvel. Fez o mesmo com uma mesa, agora imaginando o rosto de Sírius Black.

Severo estava ofegante, sentia o suor correr por seu rosto, finalmente sentou-se no chão empoeirado. Ele sentia ódio de Potter e Black por tê-lo atacado, de Pettigrew por estar de cobertura e platéia e de Lupin por acobertar seus amigos. Mas o pior era a raiva que sentia de si e o arrependimento.

“Como pude? Como pude falar daquela forma com Ela?”. Logo ele que sempre foi racional e calculista. Mas hoje, aquela humilhação e na frente Dela o fez perder todo o controle.

Severo escondeu o rosto nas mãos “Droga!” – pensou – “Porque eles tinham que me atacar na frente dela”. Então quando ela se aproximou para defendê-lo ele sentiu-se ainda mais humilhado e então agiu sem pensar. Logo ele! Perdeu o controle e a agrediu, a chamou se sangue-ruim.

--Maldição! – falou alto, deu um soco na parede ao seu lado.

Respirou fundo, jogou a cabeça para traz fechando os olhos. Lembrando-se da primeira vez que a viu


*********************** Início do Flashback *******************************


Era primeiro de setembro de 1970, Severo Snape tinha então pouco mais de 11 anos. Ele desceu do trem um pouco assustado. Não! Na verdade estava muito ansioso. Aquilo era a realização de um grande sonho. Ele estava em Hogwarts!

O Sr. Prince nunca foi um extremista em relação a purificação da raça bruxa ou radical em relação a mestiços, nascidos trouxas e trouxas. Porém quando sua única filha, prometida a Órion Black, ficou grávida de um trouxa, ele quase enlouqueceu. Como forma de represaria a atitude de Eillen, seu avô tentou fingir que ele não existia, porém muito cedo Severo mostrou sinais de que seria um bruxo. Quando o menino estava com seus cinco anos o avô desistiu de ignorá-lo e a partir dos sete, Severo passou a acompanhá-lo a reuniões e jantares em casas de outros bruxos. Pouco antes do início daquele ano em Hogwarts o Sr. Prince pensou que talvez pudesse concertar o deslize de Eillen, casando Severo com uma bruxa sangue-puro. Ele convenceu o neto a aceitar um contrato de noivado. O garoto havia concordado apenas para fazer um agrado ao avô, mas aos onze anos ele não entendia a importância que aquilo teria em sua vida.

Ao embarcar no expresso de Hogwarts Severo já conhecia as irmãs Black – que já cursavam a escola – o primo destas, Sírius – de quem não gostava – o melhor amigo de Black, James Potter – que era talvez mais insuportável que o próprio Black. Conhecia também Rabastan Lestrange e seu irmão mais velho Rodolfo – que este ano seria monitor da Sonserina. Havia ainda Lucius Malfoy – dois anos mais velho que ele – Emma Rosier, Úrsula e Frank Longbotton. Mesmo conhecendo alguns de seus futuros colegas o garoto era reservado e desceu do trem sozinho e quieto.

Quando sentou naquele barquinho instável, naquela noite quase sem estrelas ele a notou lá. Ela parecia menor e mais frágil que os outros, também parecia mais assustada que todos eles. Sem entender porque ele sentiu vontade de protegê-la. Um sentimento estranho, ele nunca havia se preocupado com ninguém exceto seu avô e sua mãe, o que haveria nela? Ele a observou por segundos: a garota tinha longos cabelos cor-de-fogo que caiam como cascatas até o meio de suas costas, a leve brisa do fim de verão davam a eles um movimento harmônico. E os olhos?!! Eram de um verde tão brilhante! Parecia que ela tinha duas esmeraldas em lugar das íris. Ela era encantadora!!

Instintivamente sentou-se ao lado dela e teve a impressão de que ela tremia um pouco. Perguntou-lhe em uma voz baixa, pouco mais que um sussurro.

-- Como é o seu nome?

Ela sobressaltou-se, não imaginava que alguém fosse falar com ela, mas respondeu e Severo impressionou-se de como a voz dela estava firme.

-- Lily. Lily Evans.

Ela o olhou nos olhos e ele percebeu surpreso que não havia nenhum traço de medo naquele olhar. A menina não estava assustada, como ele havia pensado inicialmente, estava impressionada, talvez surpresa, mas não com medo.

-- E você, como se chama? – ela lhe deu um sorriso.

“Como o sorriso dela era lindo!” – pensou antes que pudesse se controlar.

Severo não estava acostumado a sorrir e em geral as outras crianças que conhecia não sorriam com tanta facilidade, principalmente para um desconhecido. Mesmo assim, mesmo que tentasse evitar não conseguiria, então lhe devolveu um sorriso tímido.

--Severo Snape.

Nesses poucos minutos o barco se encheu e partiu. Ele viu os olhos dela brilharem, quando vislumbrou o castelo. Seu coração acelerou e ele sentiu-se feliz simplesmente por ela estar ali.

-- A descrição no livro Hogwarts, uma história já é incrível, mas isto está muito além de qualquer coisa que eu pudesse imaginar!

Severo não pode deixar de sorrir ao ver a admiração da garota, porém isto o inquietou. Em geral as crianças do mundo mágico conheciam Hogwarts, por foto, ou de longe quando vinham a Hogsmead, ou ainda como ele e alguns de seus colegas que vieram em uma excursão durante as férias de verão. Isto só poderia significar uma coisa e ele perguntou assim que desembarcaram

-- Os seus pais,.... hum...., são bruxos? – a mente dele ainda tentava achar uma saída, criar uma esperança. Ela poderia ser de algum lugar distante ou ser mestiça.

Ela apenas sorriu inocente e disse com tranqüilidade.

-- Não! Eles são como vocês dizem, trouxas. – Ela não percebeu, mas o garoto ficou ainda mais pálido. Lily seguiu os outros colegas do primeiro ano e Snape ficou para trás.

Como era possível?! Ele que nunca havia sequer tido um segundo olhar para qualquer garota. Sempre achou que garotas eram cheias de não me toques e frescuras, bibelôs frágeis que só serviam para decorar o ambiente. Logo ele! Havia ficado tão enfeitiçado por aquela menina. Sim! Alguma coisa naqueles olhos verdes e naquele sorriso inocente o enfeitiçou. Não existia outra descrição. Ele não entendia muito bem o que era aquilo, mas alguma coisa lhe dizia que era perigoso e que o melhor era se afastar dela rápido.

Foi com grande alivio que viu o chapéu seletor colocar Lily Evans na Grifinória. E com alegria e orgulho que ouviu o chapéu mandá-lo para Sonserina no instante que encostou em sua cabeça.

Naquela noite ele deitou-se tranqüilo em sua cama de dossel e cortinas verdes. Ele era um Sonserino, ela uma Grifinória e nascida trouxa. Ele estaria seguro. Aos onze anos não entendia do que deveria estar a salvo, mas achou que tal distância seria suficiente.

Ele não fazia idéia de como estava enganado.


************************** Fim do Flashback **************************


Quase cinco anos depois daquele dia Severo Snape via o quanto estava enganado. Ele só tinha onze anos, mas aqueles olhos verdes e aquele sorriso inocente conquistaram seu coração.

Nesses cinco anos muita coisa aconteceu: Severo viu seu avô morrer e lhe pedir em seu leito de morte que resgatasse a honra da família Prince casando-se com a moça que estava prometida a ele. Pouco mais de um ano após, seu pai saiu de casa. O rapaz achou que isto seria bom para a sua mãe, já que Tobias Snape sempre fora um homem rude e grosseiro. Mas sua mãe amava aquele homem – Severo sorriu com desdém....

Amor! Um sentimento que todos achavam lindo e nobre. O que o amor havia feito com sua mãe?! Ela poderia ter se casado com um sangue-puro, seria a Sra. Black! Mas ela se apaixonou pelo indigno trouxa que era seu pai. O homem não fugiu quando descobriu que a garota estava grávida – apesar de Severo achar que ele havia ficado apavorado com a idéia do pai de Eillen ser um Bruxo – mas será que a amava? Ele nunca teve esta resposta.

Depois que seu pai se foi ela definhou. Um dia foram avisados que Tobias havia sido encontrado morto em uma casinha em um lugarzinho horrível chamado Rua da Fiação. Pouco tempo depois Eillen também morreu. Provavelmente de tristeza ou de amor, como Severo se obrigava a pensar.

Ele já havia decidido, nunca iria amar, isto era para fracos. Iria se casar apenas para reerguer o nome da família. Mas seu coração o havia traído e ele já amava Lily, a amava desde os onze anos, desde a primeira vez que a vira sentada encolhida naquele barco, desde a primeira vez que se perdeu naqueles olhos cor de esmeraldas. Parecia que o universo conspirava para que ele não a esquecesse.

Novamente se perdeu em pensamentos.


************************** Inicio do Flashback ****************************


Severo tinha pouco mais de quinze anos quando Cygnus Black veio procurá-lo, sua mãe havia falecido há pouco tempo e ele havia sido emancipado. O Sr. Black veio saber se o rapaz estava ciente do acordo de noivado firmado entre ele e seu avô e se estava disposto a cumpri-lo. Ele já tinha consciência de que estava apaixonado por Lily, mas precisava esmagar esse sentimento! E também havia prometido ao avô.

Severo viveu em conflito: poderia se casar por convenção, mas....e se não a esquecesse? Poderia ter uma amante. Ele não era inocente de achar que todos aqueles homens que se casavam apenas para manter a nobreza de suas famílias eram fiéis. Mas ele acreditava que Lily nunca aceitaria ser a outra, e ele não queria amantes ele queria Lily Evans!

Nesses momentos ele se irritava e dizia para si que não a queria. Ele havia prometido ao seu avô! E ela era Grifinória e nascida trouxa! Que diabos ele queria? Terminar como a mãe? Novamente ele desanimava. Ela não era como seu pai. Lily era bruxa, e era maravilhosa, perfeita....

Para sua sorte, suas dúvidas o torturaram por pouco tempo. Assim que retornou a Hogwarts, Andrômeda o abordou muito nervosa. Ele ficou surpreso, porém não deixou de notar a presença de Black, Potter e Lupin nas sombras. A moça lhe contou que já estava namorando escondido um ex-colega nascido trouxa quando soube do compromisso. Ele avaliou a situação: Não queria se casar com ela, mas ainda havia a promessa a seu avô. Por outro lado não era nada inteligente casar-se com uma mulher que havia lhe dito com todas as letras que tinha outro, era pedir para ser corno. Andrômeda disse que assumiria toda a responsabilidade pelo fim do noivado, mas pediu para que eles fingissem que aceitavam até que ela se formasse. Ele concordou.

Ele havia prometido ao avô que se casaria com a moça que estava prometida a ele. Ela é que não queria se casar! Portanto, Severo estava “livre” da promessa. Parecia que o universo conspirava! Nada mais o impedia de amar Lily Evans.


***************************** Fim do Flashback **************************


Severo sabia que o amor que sentia por Lily o enfraquecia, o deixava vulnerável. Depois de tudo que aqueles Grifinórios fizeram a ele, o sentimento que mais o atormentava era o arrependimento por tê-la insultado. Ele encostou sua cabeça na parede fria e fitou o teto: não sabia o que fazer, não sabia como agir. Estava perdido!!

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