Quase Como Sempre




Depois que saiu da sala da professora McGonagall, Harry precisou correr para não chegar atrasado na aula de Adivinhação. Desde o sexto ano que as turmas de Adivinhação estavam divididas entre Trelawney e Firenze, o que, a princípio, não fora do agrado de Sibila. Mas ela fora obrigada a se conformar, é claro. Esse ano a Grifinória ficara com Firenze novamente, o que não era nem bom nem ruim. Adivinhação era a matéria mais chata e idiota de todas, na opinião da maior parte dos alunos, e o fato de o professor ser um centauro não alterava muito esse conceito.

Harry não conseguiu prestar atenção em absolutamente nada do que se passou na aula, sentindo o aletômetro pesar no bolso da sua calça. McGonagall dissera a Harry que mantivesse o objeto seguro, e que cuidasse para que ninguém soubesse que estava com ele, mas o garoto mal podia esperar para contar aos amigos.

Quando a sineta anunciando o final da última aula finalmente soou, Harry mal pode acreditar. Levantou-se apressado, e quando a massa de alunos se dirigia para o salão principal, cutucou os amigos e fez sinal para que o seguissem. A Mulher Gorda olhou com desconfiança para o trio quando eles passaram por ela, mas eles ignoraram seus resmungos irritados.

O salão comunal, conforme o previsto, estava praticamente vazio. Havia alguns garotos do segundo ano brincando com creme de canário, mas Rony e Mione trataram de se livrar deles ameaçando descontar pontos caso eles não descessem imediatamente para jantar.

Então os três se sentaram nas suas poltronas preferidas, perto da lareira, e Harry pôde finalmente contar aos amigos o que sua língua andava formigando para falar o dia inteiro. Ele observou a expressão de excitação no rosto de Hermione quando mencionou o aletômetro, sentindo uma mordida de satisfação.

- Posso vê-lo? - ela perguntou, visivelmente louca de curiosidade. Harry tirou o objeto do bolso e estendeu para Hermione com todo o cuidado. Rony observava com a testa enrugada. A garota passou a mão delicadamente pelo vidro do aletômetro, manuseando-o com bastante admiração.

- McGonagall explicou como funciona - Harry disse, os olhos também fixos no aletômetro. - Mas eu não entendi muito bem. É bastante confuso, o negócio...

- Harry, isso é fantástico! - Hermione disse com os olhos brilhando. - O aletômetro é muito raro, e são poucas as pessoas que conseguem adquirir a habilidade de lê-lo.

- É, McGonagall falou isso também - Harry disse displicente.

- Já pensou se você aprender a usá-lo, Harry? - disse Rony animado. - Poderíamos descobrir uma porção de coisas sobre o Malfoy! Seria legal conhecer alguns podres no passado dele de que ele se envergonha...

- Rony - Hermione olhou feio para o garoto. - O aletômetro não deve ser usado para esse tipo de besteira.

- Não é besteira! - protestou Rony, indignado.

- O aletômetro poderia ser usado para ajudar a Ordem - Harry ponderou. - Poderíamos descobrir tudo sobre os planos de Voldemort.

- Então por quê nenhum auror aprendeu a usá-lo? - indagou Rony com uma careta.

- Não é óbvio? - disse Mione. - É necessário muito tempo de estudo dedicado e treinamento para que alguém aprenda a ler com precisão o aletômetro. Os membros da Ordem estão sempre muito ocupados para isso.

- Você tem razão como sempre, Mione - Harry disse com um suspiro. - É uma pena. O aletômetro poderia ser realmente muito útil para os interesses da Ordem.

- Sim, é claro - disse Mione, com o olhar distante. Então voltou-se para Harry. - E o que foi que você disse sobre a Ordem não ser mais segura?

- Ah - Harry falou. - Eles estão achando que há um traidor na Ordem. Por isso decidiram entregar o aletômetro para mim. Mas McGonagall não quis me dar muitos detalhes sobre isso, como sempre.

- Um traidor? - Rony repetiu, incrédulo. - Não é possível...

- É claro que é - Hermione discordou. - A Ordem já foi traída no passado, e não é tão impossível assim que a coisa se repita agora. Além disso, deve haver algum motivo muito forte para eles estarem desconfiados disso. Algum tipo de informação confidencial deve ter vazado... Ou algo assim.

- Mas quem pode ser o traidor? - perguntou Rony, inconformado. - A gente conhece boa parte do pessoal da Ordem, e todos são legais. Quer dizer, tem o Snape. Eu nunca confiei nele, de todo modo.

- Dumbledore confia muito no Snape - censurou Mione. - Pare com essa mania de colocar a culpa de tudo o que acontece de ruim nele, Rony!

O garoto fechou a cara, mal humorado.

- Quem mais poderia ser, então? - indagou Harry.

- Eu não sei. Mas nos dias de hoje, não se deve colocar a mão no fogo por ninguém.

Os três se entreolharam.

***

As primeiras semanas de aula correram naturalmente. O ritmo do sétimo ano não era muito diferente do sexto. Havia algumas aulas que Harry fazia separado dos amigos, assim como certas aulas Rony e Mione faziam e ele não. Como ambicionava seguir a carreira de auror, o garoto precisava cursar muitas matérias além das básicas. Ele era obrigado a assistir as aulas de Estudo dos Trouxas, que para ele era ridiculamente fácil. Também tinha aulas extras de Defesa Contra as Artes das Trevas, Transfiguração e Poções nos finais de semana, o que era bastante cansativo.

Harry não sabia qual carreira Hermione estava tentando seguir, mas o fato é que ela assistia a praticamente todas as aulas com ele. Rony levava do seu jeito de sempre, procurando cursar o mínimo de matérias possíveis e deixando para decidir o que faria da vida no final do ano. Mione, é claro, achava isso um absurdo, e a maior parte dos desentendimentos do casal era por esse motivo.

Harry se perguntava o que raios Hermione estava fazendo com Rony, se ele era o completo oposto dela. Mas guardava esses questionamentos para si mesmo, evitando se intrometer.

Mione ficara incrivelmente interessada no aletômetro desde o primeiro momento, de modo que vivia pedindo-o emprestado a Harry. O garoto não se opunha, afinal o objeto não lhe tinha qualquer utilidade. Ele não tinha tempo para tentar aprender a lê-lo e, apesar de saber da importância que aquilo poderia ter para a Ordem, não estava muito interessado nisso. Ele justificava seu desinteresse intimamente pensando que, se seu pai jamais conseguira ler o aletômetro, ele também não conseguiria.

Além disso, havia outra coisa que tomava praticamente todo o tempo livre do garoto. Desde o sexto ano que ele era o capitão do time de quadribol da Grifinória, e estava dando um duro danado para colocar o time em forma para disputar o campeonato intercasas. No ano anterior eles não chegaram sequer a disputar as finais, perdendo um jogo duro contra o time de Malfoy nas preliminares. Sonserina e Corvinal disputaram o primeiro lugar, que foi conquistado pelo time de Cho Chang. Harry sentiu-se completamente frustrado e inútil, perdendo daquela maneira em seu primeiro ano como capitão. Mas ele também não podia fazer milagre, pois o time que tinha em mãos não chegava nem perto da antiga formação da Grifinória, na época em que Olívio Wood era capitão.

Gina era sua melhor artilheira, e Rony realmente deslanchara como goleiro no quinto ano. Harry achava que se não fosse por eles, o time da Grifinória seria um fracasso ainda maior. E, é claro, muita coisa dependia de sua capacidade como apanhador. E nisso Harry estava confiante, pois pelo que sabia não havia nenhum outro apanhador do nível dele esse ano. Cho Chang não estava mais em Hogwarts, o que era um alívio. Ela era realmente boa. Quanto a Malfoy, não havia muito com o que se preocupar. Ele era um desastre como apanhador. O perigo maior da Sonserina era a brutalidade dos batedores e, é claro, as trapaças.

Com toda essa pressão sob suas costas, Harry não ficou nada satisfeito com o resultado dos seus primeiros testes. Fora mal em quase todas as matérias, com exceção de Defesa Contra as Artes das Trevas (em que era o melhor aluno), Estudo dos Trouxas e Feitiços. Poções, é claro, fora sua pior prova. Era bastante estressante o sistema de avaliação, naquele ano. Eles tinham provas todo sábado à noite, o que era absurdamente cansativo. Harry sempre saia da sala com a sensação de que seu cérebro fora completamente consumido.

Hermione, no entanto, conseguira a proeza de se sair muito bem na maioria das provas, e ainda tinha tempo para ficar na biblioteca lendo. As notas de Rony foram melhores que as de Harry, pois ele tinha bem menos matérias para estudar e namorava a garota mais estudiosa de Hogwarts. É claro que Harry não pôde evitar sentir uma pontada de despeito com relação a isso.

Foi nesse clima de agonia e pressão que Outubro começou, e Harry se surpreendeu com a velocidade com que o tempo estava passando. Ele conseguiu levantar um pouco as suas notas, e a terceira semana do mês terminou razoavelmente bem, com Rony agarrando uma bola particularmente difícil de Gina no treino da noite de sexta, e Harry sentindo que aquele era o ano de recuperar a sua dignidade como capitão e levar a Taça de Quadribol para a Grifinória outra vez, como nos velhos tempos.

***

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.