O Teatro dos Impostores
Capítulo 5
O Teatro dos Impostores
“sou um impostor, um dia saberão
que simulei tudo o que sempre fui.
sou uma ficção, meu sangue é só linguagem
meu sopro é uma explosão que vem de dentro
em forma de palavra.
quando já não for mais, serei eu mesmo.
enquanto tardo, trapaceio contra o tempo
a máquina que vai me devorando
invento meus adventos e meus ventos
e vou passando como tudo passa
em busca de uma graça que ultrapasse
o círculo da minha circunstância
o espelho que não seja senão o outro
esse que me habita e que me espreita
e, não sendo eu, me acata os meus espantos”
(Geraldo Carneiro – Balada do Impostor)
Harry estava largado sobre sua nova e espaçosa cama, fitando entediado seu novo quarto e o sol que entrava sem cerimônia pela sacada aberta. Um dia alegre no jardim dos Morgan. E um sótão bem bagunçado em sua cabeça.
Ele girou o corpo, procurando enxergar figuras nas nuvens, pelo pedacinho azul de céu que divisava. Desde quando a vida era tão chata? Tinha ouvido horas de sermão de Candice Morgan, ou a versão de sermão que a doce tia Candie conseguia passar. Até a bisa lhe fitara com seus olhos de “O que faremos com você?”, e logo depois tinha dado o golpe de misericórdia, dizendo:
- Compreendo suas diferenças com seu padrinho e nada me dará mais prazer do que te ter aqui pelo tempo que quiser. Mas Harry... eu espero mais de você.
Dito bem daquele jeito, “espero”. Nada de “esperava”. Ela queria mudança e Harry nem tinha precisado perguntar do quê se tratava. O sentido da frase era muito claro, muito amplo, além do quê, ele e a bisa muitas vezes não precisavam de palavras para se entender. Desde os treze, quatorze anos, a velha dança era a mesma. Sirius e Harry tinham alguma desavença mais séria, Harry pedia guarida na Casa Morgan até os ânimos esfriarem. A bisa sempre o acolhia com palavras amáveis e sábias, fazendo o rapaz relevar. Mas o problema é que agora ele não tinha mais treze, quatorze anos, não é?
Harry sabia que morava no coração de Eugênia, e também sabia que nunca, por mais que tivesse anos de prática, poderia enganá-la. A bisa sempre tivera paciência com suas dificuldades e dores mal curadas, sempre fora um porto seguro de afeição irrestrita, mas aparentemente ela já percebera que a maré estava mudando. Que talvez fosse o tempo para certas feridas serem superadas ou colocadas à prova. Eugênia farejara algo novo e, mais do que nunca, esperava que Harry fosse feliz. Ela tinha essa estranha teoria de que a felicidade podia ser alcançada por ele mesmo, desde que se dispusesse a aceitá-la.
Mas as coisas não podiam ser tão simples. Era impossível que a solução para todos os seus problemas fosse o equivalente à um sorriso e “assim ele viveu feliz para sempre”. Balela romântica. Como se ele não tivesse mais com o quê se preocupar além dessa utopia.
OK, mas resmungos à parte, ele ainda tinha educação o suficiente para aceitar quaisquer repreensões que recebesse das mulheres que, junto com Sirius, compreendiam tudo o que ele realmente entendia como família. Sem contar que, quaisquer que fossem os sermões, ele provavelmente merecia. Realmente não era a primeira vez que se refugiava na “garçonière”(1) do pavilhão da piscina e talvez não fosse a última. O arranca-rabo com o padrinho fora bastante desagradável e Harry reconhecia que Sirius tinha suas razões. Ultimamente andava sendo muito difícil controlar seus impulsos auto-destrutivos.
Num prazo de dias tinha se envolvido numa briga de socos. Não se lembrava nem o motivo, mas ficara um olho roxo como recordação. Tinha ficado completamente embriagado numa madrugada, quase batido o carro, e terminado a noite, sem saber como, fazendo uma serenata tragicômica, sob a janela de uma furiosa Hermione. Os vizinhos tinham chamado a polícia. Nem adiantara dizer que era uma homenagem à verdadeira amizade. Mione ainda estava lhe dando uns olhares bem tortos. E para piorar, Cho tinha feito um escândalo quando soube, espalhando uma estória sem pé nem cabeça sobre os dois amigos. Como se ele e Hermione... Harry se arrepiou só de pensar. Era pior até que suspeitar dele e Lizzie. Cho estava surtando e lhe dando uma boa dor de cabeça, o que o fazia se lembrar: tinha realmente terminado com sua suposta namorada, para sempre e sem retorno, aleluia.
Mas mesmo com todos os seus extenuantes esforços, admitia, embora só para si mesmo, que havia se sentido infeliz durante todas as suas aventuras, em todos os momentos em que estivera lúcido ou embriagado. “Laissez les bons temps rouler”(2), “Deixe os bons tempos rolarem”, já não estava funcionando como filosofia de vida.
Se ao menos soubesse como agir... Se conseguisse pedir um norte, falar a respeito com alguém...
Ele se odiava quando começava a fraquejar desta forma. Tinha escolhido o tipo de vida que queria, há anos. Porque agora essa sensação de desajuste?
Por este motivo, quando Sirius veio tomar suas merecidas satisfações sobre o comportamento do afilhado, Harry optara pelo caminho mais fácil. Discussão, negativas, troca de palavras irritadas com o único propósito de apenas piorar a sua situação. Catalisar o desastre. E ele conseguiu. De comum acordo, Harry agora era novamente um morador provisório na Casa Morgan. “Até as coisas se acalmarem.”
Mas e quando é que as coisas se acalmavam para ele?
“... espero mais de você.” A voz de Eugênia cristalizara em sua mente. O que a bisa queria? Seu sangue?
O repentino barulho de risadas o fez torcer os lábios involuntariamente. Nada como um motivo para mudar o rumo dos pensamentos. Logo abaixo, junto à piscina, Hermione e Elizabeth, tomavam banho de sol em biquínis que estavam apenas toleravelmente dentro dos limites da lei. Ron e Draco tinham feito sua primeira visita, desde sua “mudança”, um amigável jogo de cartas, nas quais Harry era exímio. E Draco também tivera sérios problemas para ir embora. Tinha ficado abobalhado, fitando Lizzie em seu esfuziante duas peças amarelo. Considerando a distração do primo e que o forte de Ronald fosse o xadrez, fora pateticamente fácil ganhar todas as partidas.
- Nada disso, Malfoy. Rua. – no momento de ir embora, Harry tinha adivinhado a expressão voraz do primo e o arrastado até o portão. – Sei muito bem o que está se passando por essa sua cabeça e não, isso não vai acontecer.
- Se você sabe, porque não está enchendo o Ron? – Draco respondera, relutante em deixar a visão de Lizzie para trás.
O ruivo mal piscou ao tomar a palavra.
- Provavelmente porque eu não acho o incesto tão interessante quanto você.
Malfoy arqueou uma esperta sobrancelha.
- Mione não é sua parente, sabichão.
Ron, até então ligeiramente divertido, teve uma atitude parecida com a de Harry. “Ele e Hermione?!”
- Isso... é doentio. – fez uma careta. – O que deu em você? Mione é nossa irmãzinha.
Malfoy escapou do braço de Harry e espiou rapidamente pelas costas. Se focou mais uma vez em Lizzie e depois relanceou os olhos rapidamente sobre Hermione.
- Irmãzinha bem desenvolvida... Hei! - ele levou dois petelecos ao mesmo tempo.
E agora, sem os primos, Harry se via na triste perspectiva de passar o resto da tarde mofando no quarto, tendo como única companhia as duas vozes animadas das garotas, logo abaixo da sua sacada.
- Olha só, estive lendo sobre os malefícios do sol sobre a saúde. – a voz de Mione chegou clara até ele.
- Você, lendo um livro? - a voz meio sonolenta de Liz, retrucou manhosa - Que novidade. Não leu nada sobre final de férias, não? Relaxa, Mione...
- Eu te juro, mais um pouco deste calor e vou pegar uma insolação.
- Há, há, há. – Lizzie mofou. – Com seu bloqueador sessenta o risco é bem reduzido. Aproveita a vida, garota. Semana que vem as aulas começam e vamos ter que acumular os deveres com o empolgante desafio de ambientar a ruiva na escola. Trabalho, trabalho, trabalho.
Do seu quarto, Harry ergueu a cabeça tão depressa que escutou um estalo. “Ruiva?”
- É verdade. – a risada cristalina de Hermione badalou nos ouvidos do rapaz. – Quero só ver como ela vai se virar no meio dessa sua família de malucos. Ainda mais sendo uma menina tão séria...
O comentário fez Elizabeth soltar uma risada pelo nariz.
- Séria? Hum, sei... Mi, você não está se confundindo com ela não?
- Ah, sim, agora eu sou ruiva, me chamo Virgínia e vou morar bem aqui, na Casa Morgan.
Se Harry ainda tivesse alguma dúvida, esta teria evaporado num espasmo de genuíno susto. Virgínia em Nova Orleans? De verdade? E o mais grave, Virgínia morando ali? Há poucos metros de distância? Ele teve que usar todo o bom senso para se impedir de descer correndo até as garotas e as sacudir para que explicassem aquilo direitinho.
Tinha observado o sobe e desce de Candice durante todo o verão, em constantes vôos à Nova York. Sendo que até mesmo a bisa tinha ido numa das vezes. Mas como ele não dava a mínima para o assunto... bom, só uma curiosidade comum, como qualquer um teria, tinha segurado a língua firmemente na boca, não perguntando nada. Mesmo com os boatos sobre uma possível vinda da garota para a cidade, Harry continuou descrente e tranqüilo. Seria impossível. A neurótica da mãe dela jamais permitiria o contato da filhinha imaculada com os parentes pecadores do Sul. E assim era melhor para todo mundo.
Ele só não contava com este desfecho. O destino gostava muito de Harry. Tanto que costumava, constantemente, pregar brincadeirinhas hilárias de humor negro.
Devia ter algo errado, não tinha escutado aquilo...
- Em que ano ela vai ficar? – Mione perguntou de sua cadeira, bem segura debaixo de uma sombra escura como a noite. “Raios solares eram nocivos”.
- No segundo, no mesmo que eu. Tomara que a gente faça muitas matérias juntas. Vai ser uma delícia ter ela na turma. Uma bruxinha de verdade.
Hermione se limitou a assentir. Achava que o espetáculo já estava de bom tamanho. Lançando um olhar significativo sobre os óculos, as duas levantaram-se como que num ato combinado.
- Acha que ele escutou? – Mione estava bem junto à Lizzie, movendo a boca quase que sem som.
- Aposto que se lambuzou com cada palavra. Como uma mosca no melado.
Dito isto, as duas tiraram os óculos escuros num ato conjunto e idêntico, e com um ligeiro curvar de lábios, comemoraram silenciosamente sua esperteza e superioridade intelectual. “Garotos...”
Andando até a borda da piscina, elas mergulharam juntas. Duas sereias contentes consigo mesmas. Afinal, eram férias, elas mereciam e estava quente como o inferno.
Ou estaria, assim que Virgínia chegasse.
Do seu quarto, Harry, como por simbiose, tinha um pensamento muito semelhante.
XXXXXXX
Quando ela chegou a Nova Orleans, quando escutou seus passos sobre o piso do aeroporto, quando sentiu o perfume da sua terra, ela percebeu que todas as coisas fora de prumo em sua vida, automaticamente se acertaram. A pecinha de quebra-cabeças que ela fora, deslocada e longe do seu jogo, encontrara seu lugar junto à suas irmãs. Já não haviam duas Ginny Morgan lutando por espaço. A paisagem estava completa. Virgínia estava inteira novamente. Estava em casa.
Tinha demorado longos dias até perceber que a bisa conseguira, que abrira uma brecha na resistência de Molly. Estaria vivendo com os Morgan durante aquele ano, talvez durante todo o ano, exultava. E nestas últimas semanas, a relação entre mãe e filha nunca fora tão próxima.
- Aprenda uma coisa, Ginny: Vovó sempre vence.
Tinha sido a frase entre alegre e resignada que Candice soltara no vôo, a caminho de Nova Orleans. A tia tinha ido especialmente para buscá-la, ainda que um pouco antes da data em que Molly e Michael viajariam para Londres. Mas tudo certo, ela tinha que chegar à tempo para as aulas.
“Uma escola mista! Ah, meu Deus...” Ginny tinha passado os últimos dias quase saltitando. Teria um semestre como adaptação à vida na Louisiana, um semestre criteriosamente avaliado, e caso não se saísse bem, ou se houvesse qualquer problema, Molly deixara claro que sua liberdade estaria revogada. Claro que a mãe não dissera exatamente estas palavras, mas no final das contas era isso. Era bom não sair da linha, nem um pouquinho. Nada de coisas estranhas (Molly não falava a palavra feitiçaria), nada de árvores altas sendo escaladas com propósitos libidinosos. Ginny riu consigo mesma, não sobre a feitiçaria, mas pensando que os atos libidinosos propriamente ditos poderiam muito bem ser realizados no chão, ao pé da árvore.
A chegada ao Garden District, às ruas lindas e antiquadas, quase trouxe lágrimas a seus olhos, assim como a recepção calorosa de Eugênia, vários primos e agregados, bem no portão da frente. As flores pareciam mais bonitas, o dia mais ensolarado, como se estivessem em festa por lhe receber. Ela gostaria de poder abocanhar aquele lugar e o mastigar lentamente. E agora ela podia.
Foi abraçada, amassada, chacoalhada e não parou de rir por um segundo sequer. Deixou-se arrastar docilmente para a sala principal, soltando informações desconexas enquanto seus olhos escrutinavam rapidamente ao redor. Tudo como se recordava e ainda mais colorido. Exceto... No mar de vozes e corpos jovens em que se via metida, faltava uma certa presença. “Onde estava ele?”
Parou de respirar quando viu o objeto de sua procura, abrindo caminho entre amigos e primos, parando para conversar de vez em quando.
Sentiu as pernas tremerem, a garganta secar. Engraçado, nos seus devaneios sobre ele isto não acontecia. Depois de flutuar com mil fantasias oníricas, ela tinha se esquecido de que eram praticamente dois estranhos. O Harry que estava ali, embora ainda mais lindo do que se lembrava, era o real. E ao contrário de diminuir sua importância, isto apenas o tornou mais valioso para ela. Ele, que tinha essa energia vibrante, como tudo o que via a seu redor. Ele, que fazia tão parte daquela cidade que se tornava sua extensão. Tão valioso que, mesmo com sua presença marcante, era contraditoriamente quase irreal.
Harry já estava bem perto e deu uma gargalhada, sobre algo que Ron dissera. O som de sua risada alarmou a ruiva completamente. “O que estava pensando? Não estava preparada para vê-lo tão de perto...” Podia ter se convencido que não faria diferença, que não se importava, mas emoções ensaiadas só funcionavam na imaginação. E enquanto não sabia onde enfiar as mãos, para onde olhar ou o que dizer, ele finalmente parou na sua frente.
Oferecendo apenas um frio aceno de cabeça, ele voltou toda sua atenção para Mione, ao lado dela.
- Estou indo com o Ron para o French Quarter. Vem com a gente?
- Ah... French Quarter? – Hermione parecia ainda mais embaraçada do que a ruiva. – Não seria melhor a gente ficar por aqui?
- Aqui? – Harry franziu as sobrancelhas. – Mas não tem nada pra fazer aqui.
- Harry... a sua prima acabou de chegar... – Mione queria chutar as canelas do amigo, mas parou de falar quando percebeu que seu comentário só acrescentara um rubor violento no rosto da garota.
- Ela não se importa, não é? – ele mal relanceou os olhos sobre a ruiva, que se sentiu incapaz de falar ou realizar qualquer movimento. Nem mesmo um gesto de cabeça.
Mas ele já tinha voltado a atenção para a amiga.
- Se mudar de idéia, sabe onde estamos. – e deu as costas, se afastando sem problema.
Assim, apenas isso. Uma olhadinha insignificante. Uma indiferença mortal. Não faria diferença se ela fosse uma tela de natureza morta, pendurada na parede. Virgínia sentiu-se como uma criança que, na manhã de Natal, se levantasse saltitante só para descobrir que não ganhara presente algum.
- Você me dá licença um minutinho? – Hermione tocou seu ombro de leve, a deixando sozinha com Elizabeth, que fazia uma força danada para não encará-la.
Mas não faria diferença, por algum tempo Ginny não daria notícia de nada. Estava atônita consigo mesma. Não devia ter se importado. Não devia ter ficado machucada. Não fazia sentido. Tinha sido só um beijo, não é? Só um momento esquecido. Uma coisa boba que não tinha alterado a vida de ninguém. Talvez só a dela...
“Mas que droga! Porque esse aperto na garganta?” Estava tudo bem. De verdade. Tinha conseguido seu sonho, estava em Nova Orleans, no seio de sua família. Devia estar pulando de alegria.
Ela respirou fundo e sorriu corajosamente. E embora ninguém parecesse ter percebido seus sentimentos, exceto Lizzie e Hermione, naturalmente, sua alegria pareceu falsa até a si mesma. Se dar conta disso foi o suficiente para alterar de vez as suas emoções, a deixando totalmente enfurecida. De algum modo, Harry tinha roubado seu momento. “Como sempre!” Tal e qual na festa de apresentação à família, há mais de um ano. Tal e qual com o seu primeiro beijo. Não tinha nada que ter sido com ele! Ele não tinha nada que estar interferindo sempre na sua vida. Harry e essa sua presença incômoda e distante. Não podia nem ter dado uma boa olhada nela? Tinha passado horas escolhendo a roupa de viagem e era como se fosse invisível. “Babaca”.
Se ele ia fazer de conta que não tinha acontecido nada, ela também faria. Ginny tentou estar bem superior àquela sensação, mas não pôde ignorar seu senso crítico, que por ser tão miseravelmente aguçado, enfiou a faca ainda mais fundo no coração. O mais provável era que Harry não estivesse fingindo, para o rapaz não devia mesmo ter acontecido grande coisa.
Do lado de fora, uma furiosa Hermione seguia pelo jardim, no encalço do rapaz. Ela sabia que não devia ter interferido, sabia que essa estória de Lizzie só podia dar em problema. Harry não faria bem à Ginny, como não costumava fazer bem à garota nenhuma. Principalmente às que se importavam com ele.
- Potter!
Acompanhado por Ron, Harry se voltou com as sobrancelhas erguidas.
- Hermione.
- Você é um otário!
- Sou, é? – ele se limitou a cruzar os braços sobre o peito. – Por quê?
- Ah, não sei... – ela fingiu refletir – Mas se você pensar sobre o assunto, tenho certeza que vai descobrir algum motivo. Afinal, são tantos... – e como sua frustração fosse grande demais e não pudesse ser desafogada como queria, ela também se voltou para o ruivo. – E você também, Ronald. É um otário maior ainda.
- Eu?! – ele olhou de Mione para Harry, atordoado. – O que foi que eu fiz?
- Fazer? Você nunca faz nada! – ela deu as costas com violência e andou com passos duros, de volta para a casa. – Nada e nada e nada!
Ronald deixou as costas da amiga e se voltou lentamente para Harry.
- Agora, o que foi que você fez dessa vez? – mas ele não esperava uma resposta realmente. Não quando Harry se mostrava tão inalcançável.
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Nos próximos dias, Virgínia não teve muitas oportunidades de se esbarrar em Harry, o que era muito estranho considerando que agora moravam na mesma casa e que, teoricamente, deveriam ao menos comparecer às mesmas refeições. Mas não era o que acontecia. Ginny poderia ter se encontrado com Harry mais facilmente em pleno Central Park, no coração de Nova York, do que na própria Casa Morgan. Estava tudo bem, ela se convencia, mesmo porque não tinha tempo para introspecções desagradáveis. Agora se via tão envolvida por Lizzie e Mione, e sua tutelagem a respeito da cidade e conhecidos, que não tinha um minuto para se sentir sozinha.
Maquiagem, jeito de se vestir, a linguagem do “gueto” estudantil. Era impressionante a quantidade de informações que uma adolescente precisava para sobreviver socialmente. Porém, embora elas lhe dissessem que estava perfeita, foi com um bolo no estômago que se preparou para o primeiro dia de aula. E se não gostassem dela? E se fosse a pária novamente?
- Ponha um feitiço de catapora neles.
A insinuação de Lizzie, na noite anterior, não tinha sido de muita ajuda, e para piorar sua ansiedade, tia Candie tinha feito uma terrível, apavorante, horrorosa sugestão, bem no final do apressado café da manhã.
- Você pode ir para a escola com o Harry, querida? É que o Samuel vai levar o carro para revisão e, de qualquer modo, ele me lembrou de que agora que o Harry está aqui, vocês podem começar a ir juntos.
Samuel Lonigan era o motorista e marido de Sarah Mae, e tinha feito o favor de colocar Ginny naquela situação. Ela olhou atônita para Harry. Sim, o bastardo tinha resolvido comparecer logo àquele café da manhã. O universo realmente conspirava... para lhe arrasar.
- Ah, não precisa, tia Candie, Lizzie disse que podíamos ir com o motorista da prima Elza.
- E a prima Elza perguntou se o Harry não podia levar Elizabeth, agora que está morando tão perto.
Ao relancear a vista novamente para o primo, a ruiva notou que este parecia levemente divertido com sua saia justa, esperando que nova desculpa ela ia arrumar. Hum, nenhuma. Seria muito ridículo recusar a carona por que... bem, por que ele era um otário que não ligava pra ela.
- Tudo bem, tia Candie. – sua voz saiu baixinha e deprimida, e ela pensou ver um sorrisinho debochado no rosto de Harry.
E agora se via ao lado do rapaz, as mãos rígidas sobre o colo, muda como uma porta. Ao mudar de marcha, a mão dele esbarrou na sua perna, fazendo a garota se juntar bem perto da porta. E ela sabia que aquele cretino continuava sorrindo.
Quando pararam na porta de Lizzie, Ginny puxou a mochila do chão e, com velocidade, se mudou para o assento traseiro. A prima não pareceu contente com o arranjo, mas cumprimentou os dois animadamente, como se nada tivesse acontecido.
Durante o trajeto, escutando o incessante tagarelar de Elizabeth, Ginny descobriu que a idéia que tinha se mostrado sua salvação, agora não parecia muito boa. Ficar ao lado de alguém e se concentrar apenas na paisagem à frente, até que era fácil, bastava deletar o perfume, os movimentos. Mas ficar no banco traseiro, com olhos verdes te comendo sempre que o motorista olha para trás... é um bocado mais difícil de ser ignorado. Ela abriu a mochila, observou as capas dos livros, revisou o estojo, se certificou de que não tinha esquecido nada, conferiu os botões do uniforme, e os olhos ainda estavam ali, vigilantes pelo espelho. Bastava levantar os seus e seriam atraídos feito um ímã.
Não que nos últimos dias nada viesse acontecendo. Para ser sincera, nas poucas vezes em que se viam, ela tinha a impressão de ser discretamente observada por Harry, mas sempre que procurava conferir, ele se mostrava tão distante como sempre. Ela só recebia atenção direta quando estava numa posição em que poderia ser ridicularizada. Como aquela, por exemplo. “Sério... a cabeça dos homens era um território impossível de decifrar”. Mas logo Harry foi esquecido como por encanto. Tinham chegado.
A escola se mostrou superior a todas as suas expectativas, tanto em estrutura física quanto em termos pessoais. Era gigantesca, outra construção secular com janelas imensas e cheias de sol. No pátio interno, jardins se derramavam por todas as partes, um gramado brilhante sem fim e bancos sob toda a espécie de árvores. As pessoas eram sorridentes e o ambiente festivo, como se voltar às aulas fosse apenas outra diversão. Alunos andavam de mãos dadas. Nossa! Tinha se esquecido disso. Numa escola mista era esperado que os estudantes namorassem. Estava até vendo um beijo de língua, bem no corredor onde ficava seu armário, e Lizzie ficou dizendo o tempo todo para ela fechar a boca.
Na hora do intervalo já tinha feito um monte de novos conhecidos, tendo se sentado para almoçar com Liz e sua turma. Acenou para Ron e Hermione, que pararam para perguntar como estava se saindo. Mione se encontraria com as amigas depois do almoço, já que o fazia todos os dias com a turma de seu ano, que incluía Ron, Draco, Zabini e Harry. Nem precisava dizer que era a mesa dos “populares”. Ficava todo mundo rodeando, observando como se alguns deles fossem superstars ou astros do esporte.
Mais tarde, estando as três amigas sentadas num banco sossegado, Mione revirou os olhos ao ouvir as impressões de Ginny.
- É o que me faltava. Eles ficam babando naquela mesa estúpida só por um motivo: dinheiro. É a mesa de maior renda per capta da escola, o que não me inclui. – disse com uma nota de orgulho. Hermione gostava de saber que conseguira bolsa integral de estudos por ser simplesmente a aluna mais inteligente por ali.
- Não é bem assim. – Liz advertiu. – Além de serem veteranos, cada um ali tem o seu atrativo, tirando a vaca da Cho Chang, claro. – ela bateu a mão na testa teatralmente, dando um largo sorriso a seguir. – Me esqueci, ela não senta mais com eles depois que levou um pé na bunda. Agora ela fica com a Gabrielle Delacour, na mesa das vagabundas e líderes de torcida, o que na verdade quer dizer a mesma coisa.
- Certo. – Mione assentiu para evitar o assunto “Chang, a vadia nojenta”, o tópico predileto de escárnio de Elizabeth. – Mas tem pessoas legais também.
- Onde, com a Chang? – Lizzie arregalou os olhos exageradamente. – Só falta você me dizer que o “rodo” que elas já passaram na sua mesa é uma coisa natural. Sério, é enojante...
Mas Mione não comprou a estratégia. Não ia desperdiçar seu intervalo falando das “nojentinhas” do colégio.
- Não estou falando delas. Tem pessoas legais conosco. Gente legal como o Zabini, a Hanna Abott, o Ron...
- Claro, o Ron... – Liz escarneceu, não perdendo a chance de implicar.
- É isso mesmo, o Ron. Pode mandar me prender, mas ele é bacana. Se eu não puder dizer isso, o que mais posso fazer?
- Muitas coisas. Não se esqueça de que ele está solteiro.
Virgínia se lembrou de ver Keisha numa mesa por perto, sozinha entre as amigas. Sorriu contente para Mione, recebendo de volta um olhar desanimado.
- Solteiro... Ele podia até estar desesperado. Que diferença isso faz? – a garota falou num tom abatido. – Ele não me enxerga de outro modo, só como a amiga. Nem sabe que eu sou mulher.
- Então... deixe ele descobrir. – a ruiva deu a sugestão.
- Posso perguntar como?
Mas foi Lizzie quem fez um gesto de impaciência com a mão. Odiava quando Hermione bancava a burra.
- Ah, será que não te aconteceu nada de interessante neste ano? – escarneceu - Tipo, três meses daquele curso em Paris versus amassos com um europeu gostoso?
- Eu não vou contar sobre isso! Ia ser apelação demais e ele nem mesmo ia ligar.
- Você nunca vai saber se não tentar. – Ginny, que já tinha escutado sobre a viagem da amiga, se viu concordando com Lizzie. – É a sua chance.
- Isso mesmo. – Liz reafirmou. – E como as solteirices do Ronald não costumam durar muito, é hora de aproveitar a oportunidade. Chega de livros, Mi. É hora de ação, hora de usar o europeu gostoso. Olha só, todo mundo sabe que um garoto sempre presta mais atenção em você quando tem outro na jogada.
XXX
Ela não podia acreditar que estava fazendo isso. Era golpe baixo demais. Hermione estava em sua hora de estudo, curvada sobre a mesa da biblioteca e bem do seu lado direito, Ron se entediava com o dever de literatura.
- Shakespeare! O que esse professor tem na cabeça, que fica mandando a gente ler um cara que já virou grama há séculos? Cadê os Comics do X-Men, pelo amor de Deus? É cultura pop!
Mione deixou o queixo cair e quase perdeu a pouca coragem para começar a sua “estratégia oftalmológica”: Como fazer um ruivo te enxergar. Ela, que amava escritores, que adorava livros, que tinha as bibliotecas do mundo como santuários... O que podia querer com Ronald Weasley Morgan? Ás vezes ele podia ser um legume ambulante. “Se é um legume, melhor temperar bastante, até ter sabor”, ela se deu conta do pensamento, com um arrepio de horror. É, o pior é que ela gostava mesmo daquele... Ogro ruivo.
Fazendo força para esquecer o que tinha escutado, Mione puxou uma carta do meio de seu caderno e, contrariamente a sua filosofia, começou a ler bem ali, deixando os livros jogados de lado. Por longos minutos achou que não estava adiantando, então pôs um sorriso sonhador no rosto, só pra dar mais veracidade. Bingo!
- Isso aí é uma carta? – ele a olhou desconfiado.
- Arrã. – “ótimo, mantenha a cabeça fria”.
- Quem é que nos dias de hoje escreve uma carta? - Ronald riu, gozador.
- Pessoas com alguma sensibilidade. – ela não conseguiu deixar barato. – Também, cartas românticas perdem todo o encanto se mandadas por computador.
O ruivo pareceu se engasgar com alguma coisa. Bem do jeitinho que ela queria.
- Carta romântica? – ele fitou o papel de um jeito fortuito. – Você recebeu uma carta romântica?
Mione se limitou a balançar a cabeça, só o cantinho dos olhos avaliando as reações de seu avermelhado amigo.
- Uma carta romântica... – ele parecia incapaz de compreender.
- Você já disse isso. – ela mordeu o canto da boca. “Nada de risadas, é uma carta de amor”.
- De quem? – Ron não controlou a curiosidade. – Você não sai com ninguém...
Bem, aquilo tinha sido realmente sem tato. A cara dele.
- Não saio, é? – Mione deu um olharzinho maligno. – Talvez. Pelo menos não com alguém desta escola.
Ron espichou o pescoço inutilmente, sem conseguir ler palavra alguma. Ela continuava toda satisfeita, babando em cima daquele pedaço de papel. Mas Mione não namorava, ele pensou. Ela saía com Harry e ele, e os três conversavam e riam, e ela ralhava com eles, e eles namoravam... e ela não. Era inocente sobre este tipo de coisa, e como ele era o seu... ãh, protetor, tinha que zelar pela garota. O que o levava à conjectura: Quem era o idiota, dando em cima da sua quase irmãzinha?
- Quem é o cara? – disse, abandonando a cuidadosa intenção de ser diplomático.
- Ah, papai, é só um rapaz. – ela dobrou o papel cuidadosamente, guardando a carta que era mesmo original e que realmente dizia palavras românticas. - Não precisa se preocupar que sou muito ajuizada.
- Há, há, há. Muito engraçado.
- Sério, meu juízo é algo espantoso – ela estava se divertindo mais do que poderia imaginar. “Tinha que ter feito isso antes!” – Nós nem avançamos muito nas bases.
- Bases? – ele arregalou os olhos. - Que estória é essa, Granger? O que você deixou esse cara fazer com você?
- Ah, você sabe... coisas. – falou distraidamente. - Mas não quero ferir sua sensibilidade. Porque você é um rapaz muito sensível e delicado. – sorriu meigamente. - Então vamos fingir que durante os três meses que passei na França, Victor e eu apenas ficamos de mãos dadas.
- Você andou de agarramento com um francês?
- Não.
Ele franziu a testa.
- Não andou?
- Você está bem repetitivo hoje.
- Hermione! – ele se alterou, mas ela nem se importou, estava satisfeita demais para se incomodar com a reação machista.
- Não andei com nenhum francês, se é o que quer saber. – deu um tempinho só para dramatizar a informação. - Victor é búlgaro.
- Búlgaro? Você ficou com um búlgaro? – a expressão do rapaz foi se alterando até chegar à gostosas risadas.
- Fiquei sim. – ela fez que não ligava. – Algum problema?
- Não, nenhum. – Ron engolia o riso, tentando sem muito sucesso, manter um tom baixo. – É o tipo certo pra você. Muito europeu, todo frio e sisudo, como são as pessoas desses países gelados. – ele já enxugava lágrimas de hilaridade enquanto pensava num cara branquelo, sem graça e com calças na altura da cintura, se curvando pomposamente para beijar a mão de Hermione.
- Ah... europeu frio, é? – ela fez uma cara maliciosa. – Se é o que você diz...
Novamente ele ficou atento, ainda sorrindo, mas atento.
- O que quer dizer?
- Bem, nada. Mas quem diria...
- O quê?
- Que um lugar de clima tão frio, tão sisudo, gerasse pessoas tão... tão calorosas.
Ele parou de rir no ato e Mione achou que se permanecesse mais um segundo ao lado dele, teria uma séria crise de risos.
- Bom, Ronald, se você me dá licença... – se levantou dignamente - Tenho que responder à carta do Victor. Em privacidade, é claro.
Podia até não dar resultado, mas foi muito gostoso ser olhada como uma garota.
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Era engraçado como eles moravam na mesma casa, perambulavam pelo mesmo jardim, visitavam o mesmo velho carvalho e se encontravam somente nos momentos de ir e voltar da escola, nas caronas usualmente silenciosas.
Não é que ela tivesse se acostumado com a presença dele, ainda sentia o coração disparar quando estavam próximos e precisava fazer uma força danada para não olhar na sua direção, principalmente quando estavam sozinhos dentro do carro. Era impressionante o número de desculpas que Lizzie inventava para não ir com eles à escola. Como se alguns minutos a sós pudesse alterar qualquer coisa. Bem, mas mesmo sem se acostumar de todo, Ginny tinha que admitir que não ficava mais tão assustada quando estavam perto. Era quase como se as coisas não pudessem lhe oferecer mais sustos.
Andava coletando informações sobre o rapaz, mesmo sem se dispor a isto. O fato de terem o mesmo círculo de amizades, a mesma escola e tudo isso, fazia com que a garota enxergasse um lado de Harry que jamais suspeitaria existir. E com a família então, este lado era assombroso.
Por exemplo, ele ralhava com Lizzie sempre que ela aprontava alguma coisa mais anormal, como aquela vez da saia muito curta, ou do chiclete nos cabelos loiros de uma cheerleader(3). Mas ele também a protegia das antipáticas garotas que pegavam no seu pé. Nada surpreendente que a maior parte dessas garotas sentasse na mesma mesa e tivesse por líderes Cho Chang e a tal Gabrielle Delacour (sem uma boa mecha dos cabelos).
Harry também vivia ao lado de Hermione, e embora ela o colocasse no mesmo patamar que todos os outros garotos: um bastardo idiota, ele era a única pessoa do sexo masculino que sabia de seu amor inconfessado por Ronald W. Morgan, mesmo sendo amicíssimo do mesmo. Se isso não fosse confiança, Ginny mudava o seu nome.
E o jeito que ele tinha de tratar a bisa Eugênia e tia Candie... Era todo atencioso, até cavalheiresco, adorando jogar cartas com a bisa enquanto podia estar fazendo qualquer outra coisa, como correr atrás de algum rabo de saia. Aliás, rabos de saia se atropelavam ao redor do rapaz, mas até aquele dia, ela nunca o vira com alguém.
Os primos tinham falado alguma coisa sobre Oak’s Heaven e ela tinha dito que estava maluquinha para conhecer a fazenda. Podia jurar que nesta hora ele abrira a boca para dizer alguma coisa. Um convite? Mas logo se afastou. Ela tentava se acostumar com este jeito estranho dele, tentava enxergá-lo como um rapaz qualquer, mas isso parecia estar acima das suas forças. “Quem diabos era Harry P. Morgan?”
Sua oportunidade de conhecê-lo melhor chegou numa tarde, no final da aula de biologia, matéria que os dois faziam juntos (4). O sinal tocou e enquanto a maioria dos estudantes se atirava para fora, querendo aproveitar o restante do dia ensolarado, ela se reteve com calma, observando que ele não parecia ter pressa. “E se ela tentasse apenas conversar?”
- Hum, seu padrinho esteve lá em casa ontem. – ela chamava a Casa Morgan de lar desde o primeiro dia.
Harry a olhou um pouco surpreso. Não devia estar esperando uma conversa.
- Eu sei. – não tinha pretendido ser lacônico, mas era uma coisa fácil de acontecer.
- Ele é muito simpático, sabe. – Ginny ajeitou os cadernos numa pilha perfeitamente simétrica. - Tia Candie devia namorar com ele.
O olhar de interrogação que ele lhe deu a fez continuar:
- Quer dizer, eu sei que eles namoraram no passado, e tudo isso, mas ele parece ainda gostar dela. Pelo jeito que a olha e tudo.
Harry abriu a boca mas mudou de idéia, encolhendo apenas um ombro como sinal de que tinha escutado.
Mas Ginny estava disposta a acabar com aquela palhaçada. Eles moravam, bem dizer, juntos e nem conversavam. “Que coisa idiota”.
- Não ia ser legal? Os dois juntos de novo?
Ele passou a mão pelos cabelos pretos, não vendo outra saída a não ser conversar com ela.
- As coisas não são tão simples. Nunca são.
- Ah, talvez sejam sim. Também acho que ela gosta dele, senão não o tratava com tanta distância. – sem atinar bem o motivo, ela se viu enrubescendo um pouco. – Quer dizer – emendou, - não é típico dela agir com frieza. Se fosse típico não era problema, sabe.
- O que você realmente sabe sobre o relacionamento dos dois? – ele tinha se encostado na mesa de tubos de ensaio e microscópios e parecia um pouco menos gelado.
Ginny sabia que Harry tinha apenas duas formas de tratá-la, com sarcasmo ou frieza. Aquela frase era um passo gigantesco em seu relacionamento. “Relacionamento? Ha, ha”.
- Só sei que foram namorados e que ele morou um tempo no mesmo apartamento que você está agora.
- E aposto como não sabe nada sobre o motivo deles terem se afastado.
Ginny balançou a cabeça negativamente. Isso, Lizzie não tinha sabido lhe dizer.
- Foi quando os nossos pais morreram. O Sirius entrou em parafuso.
Ela ficou um pouco chocada com a forma dele falar sobre a morte de seus pais, como se não fosse nada. Todas as coisas tristes pareciam ser nada na boca dele.
- Mas... eles continuaram juntos... – Ginny agiu como se achasse o jeito dele normal. Não queria perder aquela oportunidade com assuntos mais pesados, e algo lhe dizia que tal coisa faria Harry se fechar como um caramujo. – Eles continuaram namorando, não é?
- Depois de uns anos confusos, o Sirius finalmente aprontou uma das grandes. – Harry não respondeu, se limitando a continuar mecanicamente. - Mei Ling Chang.
- Chang?
- A própria. Mãe da Cho. Entre as idas e vindas com tia Candie, Mei Ling apareceu grávida. Imagine a confusão. Eu tinha uns doze anos quando eles se casaram.
- Então... Sirius teve um filho?
- Ah, não. Mei Ling perdeu a criança no quinto mês de gestação.
- Ah, que horror... – Ginny se apiedou prontamente.
- Exatamente. Que horror. E Sirius sentiu mais piedade do que qualquer um. Veja só, ele não gostava da mulher, mas acabou ficando com ela por pena. Por três anos, pelo menos. Muito tempo pra consertar as coisas. E depois da separação... já era tarde. Tia Candie já tinha esquecido o Sirius.
- Eu não sabia disso. Deve ter sido sofrido demais para eles. – mas ela ainda achava que Candie não esquecera.
Harry encolheu os ombros, como que concordando.
- Uma barra. Eu costumava me preocupar com eles. Acho que faço isso até hoje. Você vê, eles não precisavam ser tão sozinhos.
“Tal como você?” Ela pensou, mas optou por continuar com um tema de conversa que teria ao menos uma chance de continuar civilizado.
- Isso é muito legal da sua parte.
- O que é legal? – ele juntou as sobrancelhas, não “pegando”.
- O quanto você se preocupa com a tia Candie, com o seu padrinho, com a família também. Você é uma pessoa boa.
- Não tem nada a ver. – ele se esquivou rispidamente, como se tivesse levado um tapa. – Se importar com as pessoas que cuidaram de você não te torna bom. É só egoísmo.
- Pois eu discordo. Precisa gostar muito dos outros pra querer o seu bem. Do jeito que você faz.
Ele pareceu bem contrariado.
- Daqui a pouco vai querer me canonizar. Me diz uma coisa, quando foi que você decidiu que eu era um cara legal? Quando eu te disse bom dia, hoje de manhã?
Ginny franziu a testa muito de leve. Era como se ele quisesse que ela o detestasse ou coisa assim.
- Não sei por que acha tão horrível. Eu só acho que é sim, um cara legal.
- E você não me conhece. Não tem nem idéia de quem eu sou.
- Bom, isso não é bem por culpa minha, não é? Se você deixasse...
- Ah não... agora vai dar uma de condescendente? – Deus sabia, ele tinha tentado ficar impassível, mas a garota conseguia irritá-lo quase tão facilmente quanto acender aquela faísca perigosa e sem precedentes, que ordenava tanto ranger os dentes quanto tocar, provar, sentir. E ele que estava se saindo tão bem com sua frieza... - Tire a venda dos olhos, Ginny, não tem nenhum príncipe num cavalo branco na sua frente.
Ela riu, tentando tapear o nervosismo:
- Com certeza não, embora se você se esforçasse até podia enganar. Mas ainda assim... é um garoto mais legal do que gostaria de ser ou aparentar. Dá pra ver pelo seu jeito com a Mione, o modo como protege a Lizzie. Você não me engana, Harry.
Ele abriu a boca com a audácia.
- Eu realmente gostaria de saber de qual manicômio saiu, Prewett. É só a falta dos remédios ou você é mesmo uma aberração?
Ele tocou num ponto sensível. Isso tinha sido muito, muito grosseiro. Ela só tinha tentado uma trégua e tudo o que ele sabia era atacar. Bom, se ela ainda tinha memória, era um jogo para dois.
- O nome não é Prewett, é Morgan. – ela falou com ênfase, um sorrisinho ácido aparecendo no rosto. – E pode me chamar de maluca, mas está tudo aí dentro. Acha que a “aberração” aqui, não pode ver? Pode se roer com isso, mas no fundo, e eu nem sei como, você é um garoto carinhoso.
Harry fez uma careta exasperada, como se ela lhe tivesse lançado o pior dos insultos.
- Carinhoso... E de onde você tirou essa droga? – ela não diria... não teria coragem.
Ginny colocou as mãos na cintura e respirou fundo, com decisão.
- Do beijo que você me deu há um ano.
Harry voltou a entreabrir a boca. Ela fez. Ela teve coragem de ignorar o tabu e tocar naquele assunto.
Ao ver que o único modo de alcançá-lo era o deixando chocado, ela resolveu chutar o balde e continuar:
– Se naquele dia você não foi carinhoso, terno, meigo... – Ginny viu com satisfação o rosto dele se abismar ainda mais. – ninguém mais foi.
- Pois eu te digo. – Harry balançou a cabeça devagarinho, voltando a ser ele mesmo. – Aquilo foi uma prévia de algo que poderia ser bem mais. Algo bem menos... gentil.
Ela mal notou a sutil mudança na postura dele, mas tinha definitivamente algo de... bem, ameaçador no rapaz. A forma dele estreitar os olhos e descruzar os braços devagar, sugeria energia se concentrando para alguma ação. Ação. Potter. Ah, isso não era nada bom para sua segurança. Onde tinha calculado errado? Como tinha deixando a conversa tomar aquele rumo? Foi com muita dificuldade que ela não tirou as próprias mãos da cintura e não deu uns bons e seguros passos para trás.
- Sabe de uma coisa? – ele falou se aproximando de mansinho. – Algumas vezes eu me esqueço que você é uma garota.
- Você esquece... – ela falou incerta.
- Arrã. Um lapso. Deve ser porque é o ser mais irritante que eu já conheci na vida. – ele chegava mais perto. - E meninas irritantes, sabichonas e que, principalmente, falam o que não devem, não costumam entender as coisas com simples palavras.
- Bom, não sou exatamente burra. – ela tentou controlar um início de pânico, nada condizente com sua postura ainda desafiadora. - Você pode me dizer.
- Naah... acho que não. Chega de palavras.
- Potter... você está se aproximando. – a voz dela saiu mais trêmula do que tinha esperado.
- O nome é Morgan. E sim, eu acho que estou. – se ele ainda tinha dúvidas, elas desapareceram naquele instante. De repente tinha descoberto um jeito fantástico de apaziguar seus sentimentos conflitantes. – Veja bem, se aproximar faz parte do que eu quero te mostrar.
“Eu não tenho medo. Não tenho, não tenho, não tenho.” Ela pensava ferozmente, mas havia ordens tão contraditórias vindas do seu cérebro, que seus pés optaram pelo que pareceu mais sensato: se afastar, depressa. Enquanto andava de costas e ele não interrompia as passadas, ela sentiu-se exatamente como o animal perseguido nas savanas. Não tinha a menor chance.
- Vai a algum lugar, Ginny? – a voz dele saiu divertidamente calma.
- Pára com isso.
- Com o quê? Não devia estar tão assustada. Afinal, sou só um cara... carinhoso, terno, meigo...
Ela se virou com rapidez, conseguindo tocar a maçaneta da porta, mas sendo puxada antes que seus dedos a rodeassem.
Suas costas bateram na porta ao mesmo tempo em que o corpo de Harry destruída toda a mínima distância e a mínima sanidade que existia. Estavam juntos, respirando juntos, confundidos, e os olhos dele lembravam estrelas. Com um último gesto, ele desceu a cabeça, e os lábios se colaram duramente aos dela. A experiência de Ginny podia não ser ampla, mas aquele beijo tinha jeito de fome. E bem... não era nada meigo.
Não, seu coração martelando alucinado, as pernas sem força, os braços dele a enlaçando pela cintura, suas próprias mãos indo parar, não sabia como, em volta do pescoço dele, uma boca que se apoderava da sua daquela maneira... Não. Nem um pouco meigo. E ainda assim... “Ah, Deus...”
Enquanto invadia aquela boca maravilhosa com sua língua, Harry sentiu que seu cérebro resgatava imediatamente o sabor de Ginny Morgan. Resgatava, reconhecia e se afogava. Teve que admitir, com relutância, que estivera esperando por isso desde o instante em que ficaram a sós naquela sala. Mentira. Tinha esperado desde que ela pusera os pés novamente em Nova Orleans. E tinha estado tão furioso com o fato, que só conseguia tratá-la com a máxima frieza e desdém. Era isso ou atacá-la.
E agora estava feito. Estavam grudados, acabando com o jejum de longos meses. Finalmente se devorando vivos. Sabia que seria forte, mas não tinha esperado uma reação tão violenta de seus sentidos, muito menos a resposta apaixonada da garota nos seus braços. Ginny tinha cheiro de flores, um gosto único, mel ardido, impossível de ser definido corretamente, e ela o recebia em seus braços macios, de bom grado. Aumentou a intensidade dos beijos e ela respondeu prontamente. Derrotado, Harry descobriu que tinha pretendido lhe dar uma lição, mas o feitiço tinha virado inteiro contra o feiticeiro, que agora se via completamente seduzido.
Era agora que ele tinha planejado dizer algo como: “Não está mais me achando tão meigo, não é?” Mas... maldição... Estava tremendo, suas sinapses em pane e seu coração ribombando dolorosamente dentro do peito. Ele queria aquela garota.
Seus braços a apertaram melhor contra si, uma das mãos se enroscando nos cabelos vermelhos e perfumados, prendendo-se firmemente na nuca da garota. Quando sentiu os dedos finos acariciando seus cabelos negros, mas com uma delicadeza inimaginável, soltou um rosnado baixo, ansioso, e a girou até colocá-la sobre uma das carteiras vazias. Afastou os joelhos de Ginny e se colou a ela sofregamente. Agora estava melhor. Muito, muito melhor.
Ginny era toda emoção, toda anseios. Sonhar com ele por meses não a tinha preparado para aquilo, para esta falta de ar, essa vontade de pele, de carinho, de sentir o coração dele contra o seu. E os beijos... Era como se nunca tivesse beijado um garoto, e ao mesmo tempo, como se os dois já tivessem nascido fazendo isso. Era arrebatador estar nos braços dele. Arrebatador estar perdida e ser encontrada, e se perder novamente com ele. Como tinha demorado... Como tinha esperado... Ginny sorriu dentro do beijo, o gosto dele se moldava ao seu, como uma chave que abrisse várias portas, várias sensações. Queria ficar assim para sempre.
Tinha tudo para ser como na primeira vez, perfeito. Mas, estranho... tinha algo destoando. A mudança de atitude de Harry, de beijos cheios de paixão à quase violentos, somado ao modo como ele agora estava se empurrando contra ela, fez Ginny começar a se esquivar, incomodada. Os beijos tinham mudado, os carinhos mudado. Não era assim que tinha imaginado.
Harry subia a mão por sua cintura, caminhando por cima da blusa, tateando com excessiva intimidade. Ginny não era tão inocente a ponto de não perceber o modo como ele estava se comportando, então começou a empurrá-lo, a princípio com cuidado, mas quando ele tocou um dos seus seios, ela o afastou usando toda sua força.
- Pára!!! – com custo ela o afastou e pulou de cima da mesa. – O quê... você está pensando? – no seu desconcerto ela ajeitava as roupas sobre o corpo e abraçava os ombros protetoramente.
- O que... Você não queria? – ele estava ofegante, sem entender o que estava acontecendo, só querendo saber dela junto a ele de novo. Quando tentou se aproximar novamente, sentindo falta do seu calor, se surpreendeu com o sobressalto da garota e sua expressão magoada.
- Se eu... se eu queria?! – Ginny estava tão estupefata, tão atordoada, que não conseguiu dizer nada que confrontasse aquela pergunta imbecil. Parecia que ia chorar. – Droga... – gemeu - Mas que droga...
Ela o tirou de seu caminho com um empurrão e com passos rápidos chegou até a porta, se precipitando pelo corredor vazio da escola como se estivesse protegendo a vida. Preferia morrer a chorar na frente daquele idiota.
Não tinha dado uma dúzia de passos quando um estalo de compreensão a fez parar de chofre. Uma fúria sem precedentes a tomou dos pés à cabeça. Estava fugindo com vergonha? Deixando até o seu material para trás como se fosse uma criminosa ou tivesse culpa de alguma coisa? Quem? Quem ele achava que era?
Harry ainda não havia se recuperado do assalto a seus hormônios quando, às suas costas, ouviu o estrondo da porta se fechando e, mais confuso do que em toda sua vida, assistiu sua adorável prima ruiva avançar até o furar com o dedo.
- Quem?! – ela o cutucou impiedosamente no peito. – Quem você pensa que é?! Quem você pensa que EU SOU?!
Mais vermelha que uma papoula, ela parecia um anjo vingador, soltando toda a ira dos deuses sobre ele. Longe de ter medo, mas se afastando um passo pelo inusitado da cena, Harry confrontou o impossível. Não bastando o fora, estava levando uma senhora lavada daquela menininha.
- Acho que não estou entendendo. – lastimável, pensou, mas ele não encontrava nada melhor para dizer. Em sua experiência com garotas, não raro bem mais velhas do que ele, Harry nunca encontrara nenhum tipo de resistência a sério, muito pelo contrário. Para ele não tinha nada demais no que tinha acabado de acontecer. Exceto por esta... sensaçãozinha apagada, mas insistente, de que talvez tivesse ido longe demais.
- Pois eu acho que está entendendo, sim! – Ginny colocou as mãos nos quadris e empinou o nariz. – Você deve estar acostumado a tratar todo mundo sem um pingo de consideração, a se aproveitar de toda e qualquer oportunidade pra se comportar como... como um cafajeste!
- O quê?!! – ele finalmente estalou. – Você me beijou também! Não forcei ninguém à nada!
- Seu... – a raiva tirava até sua voz. – Seu retardado! Como pode ser tão... tão... Arrgh!!! Eu beijei, sim, mas me enganei de pessoa. Achei que você era o mesmo que me beijou debaixo do carvalho.
Ele balançou a cabeça como se não entendesse as implicações daquela revelação.
- O que tem uma coisa a ver com a outra? – perguntou meio exasperado.
- Nada, obviamente. Você é tão cego que não enxergaria mesmo que eu desenhasse.
- Pois tente. – surpreso com a própria curiosidade, ele insistiu. - Explique.
E mais uma vez, a raiva ganhou da prudência e Ginny se desafogou:
- Muito bem. Aquilo, naquele dia... foi especial. – as palavras saíram arrancadas, e no calor do momento ela acabou dizendo o que, de outra forma, jamais revelaria. - Pelo menos para um de nós dois.
Ele sentiu o peito inchar, uma sensação quente e boa, como se sentisse triunfo por alguma coisa, mas não soubesse exatamente o quê. Tentando conter um sorriso que seria totalmente fora de hora e com certeza mal interpretado, uma tênue luzinha faiscou em sua cabeça, e Harry tentou consertar as coisas do jeito que sabia.
- Ah... Ginny... beijos... também são mais do que aquilo, daquele dia. Costumam até envolver outras partes do corpo. – falou cuidadoso, com um genuíno receio sobre o quanto ela sabia sobre coisas como amassos.
- Ah, mesmo? – ela falou com ironia. – Pois deixa eu te explicar, no dia em que beijar uma garota que signifique uma vírgula pra você, não vai se portar como um maníaco. Vai começar até a entender que não precisa se atirar em cima dela sem... sem a menor noção de respeito. Vai saber esperar, porque... – ela engoliu um soluço - porque o que estiverem fazendo vai ser o suficiente pra você.
Harry fitou, entre estupidificado e fascinado, a ruiva à sua frente. Ela tinha os olhos brilhantes de lágrimas de fúria, e tentava controlar, sem muito sucesso, um denunciante tremor no queixo. E tinha coragem. Tanta coragem e respeito por si mesma que ele sentiu algo próximo à vergonha. “Ele era um idiota?” Pergunta retórica. “Ele era um idiota.”
- Ginny...
- Eu ainda não terminei. – a voz saiu um pouco rouca, mas firme. – Pensando melhor, não acho realmente que você vai descobrir nada disso, sobre sentimentos.
- E porque não? – perguntou devagar, sabendo que era o que ela esperava.
- Você nunca vai gostar de alguém. Não tem essa capacidade. E, em todo caso, essa sua adorada amargura já preenche todo espaço disso aí que você chama de coração. Alimente-a direitinho, Harry. É tudo o que você tem.
E com o olhar altivo de uma princesa decepcionada, Virgínia segurou seus cadernos e lhe deu as costas, batendo a porta com força ao sair.
Harry permaneceu por um longo tempo apenas fitando a porta, com a boca entreaberta. Esperava apreender tudo o que tinha acabado de se passar, e talvez esperasse mesmo ver a prima de volta com mais duas ou três coisinhas agradáveis para lhe dizer.
Mas ela não voltou. Não voltou e ele sentiu-se algo decepcionado.
“Adorada amargura? Tudo o que eu tenho?” Ele levou a mão até o coração e a retirou de supetão, ao ver o que fazia.
- Ah, meu Deus. – falou com seus botões. – O que está acontecendo?
Como as coisas tinham chegado àquele ponto? Recapitulando, tinham se beijado... Não, ele a tinha beijado até que correspondesse. Estava sendo bom... Droga, estava sendo incrível. Então... tinha deixado as coisas saírem do controle.
Mas o que era o controle? Qual era o limite correto? Nunca tinha passado por aquilo. Na terceira série, tinha sido agarrado debaixo da escadaria da escola por uma menina mais velha, que quase o sufocou antes de soltá-lo. Aquele tinha sido o seu primeiro beijo. E desde então este tipo de episódio se tornou normal, mesmo que com o passar dos anos fosse ele quem tomasse a iniciativa. E até o dia de hoje, coisas assim pareciam muito bem.
Agora, com seus dezessete anos feitos, com uma garota em seus braços que, na falta de definição melhor, ferrava seu cérebro tal a gama explosiva de sensações, ele se deparava com a grande descoberta do século: a espera, o respeito, garotas que pareciam querer ser tocadas por pétalas de flores e não por mãos ansiosas.
Virgínia estava fazendo coisas estranhas com seu corpo, e muito pior, com sua mente. Aquela ruivinha estava virando seu mundo pelo avesso, esperando dele uma postura nobre, como se Harry fosse algum cavalheiro de outro século ou um príncipe encantado. Ao relancear os olhos rapidamente pelo reflexo espelhado da janela, ele quase sorriu de pura confusão. Um sapo. Era como devia estar parecendo. Mesmo porque, era como estava se sentindo. Um grande sapo amargurado.
“Quem beijaria o sapo e tiraria o feitiço?”.
E com este pensamento, contra qualquer bom senso ou lógica, Harry começou a rir. Rir confusamente de si mesmo. Era uma droga viver numa eterna peça de teatro. Uma droga atuar dia após dia como um impostor dos próprios sentimentos.
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Notas informativas:
1 – Garçonière: termo francês, significa algo como um apartamento de solteiro.
2 – Laissez les bons temps rouler: do francês: “Deixe os bons tempos rolarem”, é uma frase relacionada ao carnaval de Nova Orleans, seu lema.
3 - Cheerleader: do inglês: Líder de torcida. As dos pom-pons, vcs já sabem.
4 – Nos EUA alunos de ano diferente podem chegar a cursar matérias na mesma sala. Isso devido a seu desempenho e às matérias que puxaram para o ano.
E sobre os erros do bom português, pelo menos nos diálogos alguns são propositais. É uma questão de preferir fazer uma conversa mais parecida com a que se ouve. Já outros possíveis erros... sorry. ;-)
N/A: Este capítulo é dedicado a todas as pessoas que com seus comentários, me fizeram entender que esta fic não é importante apenas para mim mesma. Como não encontro um meio mais adequado de expressar minha gratidão, fica apenas o meu sincero obrigada. Obrigada por compreenderem, esperarem e estarem ai.
Sobre o capítulo:
1 – Sobre o título, foi um misto de lembrança do “Teatro dos Vampiros” e sobre pessoas escondendo suas emoções. Se analisarem bem, há mais de um impostor dos sentimentos nesta estória.
2 - Certa vez, uma garota que tinha um monte de amigos, incluindo muitos do sexo masculino, começou um namorico com um deles. Foi uma reviravolta em sua vida. De repente os amigos começaram a lhe olhar de um modo todo diferente, embora ela não atinasse o porquê. Uma amiga mais velha e mais sabida deu a dica: “Eles descobriram que você é mulher”. Foi assim que defini o que Ron sente à respeito de Hermione. Ela não tem sexo, é simplesmente a garota que sempre esteve ali. E não é que ele seja burro. É que o Ron... é só um garoto. Rsrsrsrs. Não fiquem ofendidos, rapazes. Fiquem espertos! XD E à propósito, a garota era eu.
Agradecimentos especiais:
Livinha: Então, só um pouquinho sobre Candie e Sirius. Mas comigo é assim, as coisas vão aparecendo meio devagar. Brigada por tudo, querida, inclusive pelo aluguel de sempre. Rsrsrsrsrs :-*
Remaria: Vindo de você, mana, a “inveja” é o maior dos elogios. E digo isso sabendo que vc se refere à admiração que temos umas pelas outras. Fique sabendo que estou adorando cada vez mais o seu modo de contar sobre Harry e Ginny. Você é muito boa em momentos românticos. Estou com inveja! XD Obrigada pelo coment carinhoso. Beijos.
Miaka: Como você disse, Cho é ruim, mas não tão ruim. Na verdade ninguém é. ^^ Quanto ao relacionamento de Molly com a filha, é complexo e sufocante também, mas acredito que a maioria das mães tem um pouco destas características. Querem proteger a todo custo e acabam tirando um pouco do ar. E sobre os amassos... estou fazendo, mesmo com o Harry penando. Hihi. Beijão.
Lis.Strange: Personagem original enche-lingüiça? Ahuahuahuahuahaua! Já é difícil escrever sobre os principais, agora imagina colocar mais um monte sem motivo? Deus me livre! E sobre a esmeralda Mayfair, ela me serviu de inspiração, mas não vou me apoderar tanto assim da estória da Anne Rice. As coisas vão ser um tanto diferentes, mas aguarde a resposta para suas dúvidas. XD Beijo enorme, maninha.
Sil17: Ai, que bom que vc gostou do momento Harry. Que bom, que bom, que bom! Foi a parte que eu mais gostei de fazer, incluindo o jogo de palavras. E estou encantada sobre o que disse a respeito da Lizzie. Obrigada mesmo. Eu também conheço o livro do Neruda, é uma fonte de inspiração. Mas agora, querida, me deixe dizer que estou sentindo falta demais das tuas estórias. Vc não calcula o quão Escritora é. Com E maiúsculo. E ler o que escreve é ter um pedacinho de você. Um beijo imenso e volta logo pra gente. :-)
Hannah Burnett: Que bom que gostou do momento Draco e Lizzie. Neste cap. eles estão meio sumidinhos, mas irão voltar, não se preocupe. Beijo grande e aproveite a leitura da tia Anne. XD
JulyBlack: Sobre a demora deste... lamento de verdade, mas sei que vc entende. E estou muito feliz de ter gostado. Beijão, amiga.
Diana: Claro que pode me chamar de Geo, querida! ^^ Eu não conheço os poemas do Ferreira Goulart mas fiquei MUITO curiosa. Adorei TUDO o que vc disse, principalmente sobre a Gi descobrir sobre a diferença entre um beijo com sentimento e outro sem. Obrigada de verdade, e pode deixar reviews gigantes, pq eu adoro saber o que pensam. Beijo, beijo, beijo.
Lilly: \o\ |o| /o/ * Geo dançando feliz. Ah, que bom que gostou tanto assim. Amei quando disse que Eugênia “só podia ser Morgan!”. É incrível quando os personagens parecem criar vida, e vc me passou exatamente esta sensação. Obrigada, querida. :-*
Michelle Granger: Só pra não perder o hábito: Eu te AMOOO!!! Obrigada por tudo irmãzinha, inclusive pela sua amizade. Aguardando o retorno das suas fics ansiosamente. Mil beijos. PS: Cadê minhas arts “roubadas”? Ahuahuahua!
Sally Owens: Quando li o seu review me dei conta pela primeira vez do que estava fazendo. Eu não sou especialista em adolescentes, mas com certeza já fui uma. E uma um tanto complicada, devo dizer (novidade, adolescentes complicados. Hihi). Estive todo este tempo transcrevendo, sem me dar conta, coisas que me aconteceram durante este período, coisas que senti ou apenas vi. Da mini adulta precoce à adolescente quase tardia. Foi isso, sim. Mas se é verdade que a gente escreve melhor sobre aquilo que conhece, então estou em terreno fértil. Amo você. Obrigada pelo seu brilhantismo, pelas ofertas de apoio, pela ajuda que oferece só em conversar ou só da gente ler suas fics. Obrigada por sua amizade. E o poema... É tudo o que o meu casal central sente... Ou sentirá. :-*
Patilion: Obrigada, querida, e não se preocupe por comentários pequenos, o importante é o que disse. Um beijão.
Cellzinha: Oi, linda, que feliz eu fiquei de gostar da arquitetura de Nova Orleans. É tudo! Eu me rôo de vontade de conhecer pessoalmente. Quem sabe, qualquer hora? ^^ E obrigada por me favoritar. Bjosss
Morgana Black: Morg aqui estou, atrasada, mas viva e contente. Tomara que goste deste cap também. Juro que tem horas que parece que a gente perdeu o jeito, de tanta demora em escrever. Obrigada pelo apoio, querida. Bjux
Gina W. Potter: Coisa mais boa ver que continua comigo, querida. Mesmo com tanta demora. E os poemas são assim mesmo, né? Como se fossem ditos só pra gente, bem no pé da orelha. Obrigada pelas palavras de suporte, foram muito importantes pra mim. Beijo enorme.
Amanda Regina Magatti: Pois é, Harry e Ginny não apenas na mesma cidade como praticamente debaixo do mesmo teto. Ai, ai, ai. Rsrsrsrsrsrsrs. Tomara que a demora tenha valido a pena. Bjão.
MárciaM: Que coisa... fiquei feliz à beça da fic ter tido uma reação assim em você. Principalmente a parte da conversa entre Eugênia/Molly/Ginny. Nossa, foi muito difícil fazer e ainda acho que podia ter ficado melhor, mas só de saber que te encheu os olhos d’água... \o/ Um beijo imenso, poderosa. Obrigada pelo seu carinho.
Priscila Louredo: Priiiiiiii!!! Desculpa, desculpa, desculpa! Esquecer da família é pecado! Irmã, adoro sua companhia, sua escrita e seu amor pelos ruivos. Pode deixar que tenho uma cena romântica na cabeça e vou dedicá-la todinha a você (adivinha com quem? Hihi). Beijo, beijo, beijo.
Leo Potter: Obrigada, querido, a princesa agradece. Rsrsrsrsrsrs Bjo.
XXX: “Ahh! Eu adoro a sua fic =D Não demore para postar,hein? Parabéns ! Beijos :*”. A você que me deixou este coment, o FeB engoliu seu nome. Ah, que pena! Mas muito obrigada pelo review carinhoso e desculpe a demora. Beijãozão.
Paula Nscimento Chamorro: Paulinha!!! Putz!!! Como é que eu posso responder satisfatoriamente todo o seu apoio, todos os seus elogios? Sua delicadeza e atenção me comoveram demais, querida. Era só ficar desanimada que parecia mágica, lá vinha um recadinho super alto astral. Desculpe a demora e a aparente falta de atenção (não esqueci de vc por um dia, viu?), o problema foi mesmo tempo. Quanto ao André Vianco, já baixei os livros mas só tive tempo de ler umas poucas págs do primeiro. E já está sendo um baita elogio saber que me comparou a ele. XD Obrigada por tudo mesmo. 112233445566778899 beijos. (Te add no meu msn, Deu certo?)
Paty Black: Ah, mana... adorei de paixão quando comparou a Eugênia ao Dumbledore. Ahuahuahuahua! E não é que é verdade? Ela é minha versão feminina pro bruxão. E pode deixar, amassos não faltarão. XD Te adoro. :-*
Julynha Black: É, a Gi perdeu o níver do Harry mais uma vez, mas não se preocupe, tem muita estória pra estes dois. E muita estória de Lizzie e Mione também. Rsrsrsrs
Milinha Potter: É mesmo, querida? Esteve tentando não ler? Hum, vc só esqueceu de dizer o motivo e fiquei me roendo de curiosidade. Mas estou contentíssima que tenha lido e gostado (Geo com um sorrizão no rosto). Bjosss.
Gê Black: Heim?! *_* Querida seu elogio me deixou vermelhinha que nem tomate. Muito, muito obrigada por ele, mas a verdade é que me baseei em duas ótimas escritoras (Tia Jô e Anne Rice) e suas estórias maravilhosas. É claro que dei minha visão para a estória, mas me apoiar em tão boa companhia já foi meio caminho andado. Sobre Candie/Sirius, se vc ler a N/A do cap 4 vai notar que não coloquei nada sobre os dois pq o encaixe não ia ficar natural. Mas neste já expliquei um pouquinho. XD Um beijo enorme e obrigada novamente, é uma delícia saber que está gostando tanto assim.
Ana Karynne: Tia Arroz. Rsrsrsrsrs! Querida, infelizmente eu nunca consegui Taltos em e-book, tive que comprar. Caso tivesse, teria te enviado por e-mail, sem problema. Mas tenho Merrick. Se vc quiser é só dizer. Estou muito contente de vc estar gostando dos mistérios, mas não haverá bem um Lasher, apenas... outra coisa. Hihi. Não vou dizer mais pq estraga a surpresa. Peguei o “A Hora das Bruxas” como referência, mas a estória não será igual. Brigada pela companhia, e um beijão.
Sônia Sag: Ahuahuahuahuahua! Se o problema é seca, então a coisa vai ser brava, pq não vou abrir mão dos amassos. Mas acho que vc não ia gostar se eu parasse, né? Hihihi. Amiga, brigada pela compreensão e pela força. E se eu precisar de ajuda não vou gritar, vou me esgoelar! XD Beijo imeeeeeeeenso.
Dani Will: Viu querida? Depois do seu recado, postei rapidinho. XD Um beijo e obrigada pelo apoio.
Roberta Villar: Ah, Roberta, eu sei como é chato estar lendo uma coisa e ter que parar por falta de att. Fico super ansiosa quando leio os recados de vcs. Vou fazer uma força danada pra postar o próximo com menos demora, mas espero que compreenda que meu compromisso maior vai ser sempre com a qualidade. ^^ Um beijão é obrigada pelo carinho.
Isa Kolyniak: Que legal! Então está gostando desta UA e revendo os seus conceitos? Fico rindo de orelha a orelha. E muito obrigada pelo elogio. Espero que continue gostando. Beijos mil.
Monalisa Mayfair: Mona!!! Eu adoro a Mona! Junto com a Merrick é minha personagem favorita. Mas em certos aspectos acho a Mona ainda melhor. Tomara que goste dessa visão que é mais Anne Rice que tia Jô. Um beijão.
Endereços (p/ o pessoal do Fanfiction, é só acessar meu profile):
Meu Multiply: http://georgearod.multiply.com/
Meu Orkut fictual: http://www.orkut.com/Profile.aspx?uid=1077191759613765194
E gente, dêem uma passadinha na fic comunitária “Conquistando o seu Amor”. Nós, “As Escritoras”, estamos nos divertindo e dando um duro danado pra fazer. As sete bruxinhas vão adorar a visita. XD
Beijos e beijos,
da amiga Geo.
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