Como Romeu e Julieta
Hogsmeade estava aparentemente calma. Apenas algumas pessoas circulavam nas ruas em direção aos bares bruxos, assim como Gina. Depois que Voldemort fora morto, tudo naturalmente voltara ao normal.
Gina entrou no Três Vassouras dando graças a Merlin por ter mandando um bilhete a seu pai avisando que iria demorar mais para chegar e agradecendo também por ter levado alguns galeões. Sua barriga estava roncando de fome devido à tarde inteira de trabalho que ela passara no Ministério. Mas o principal sentimento de Gina era curiosidade. O que será que Harry queria com ela? Ok, ela sabia que ele só iria consolá-la e falar que ele e a Cho Chang estão se casando porque se gostam e blá blá blá... Mas a idéia de rever Harry agradava Gina. Estava ansiosa. E seu coração bateu mais rápido quando Harry Potter entrou pela porta do Três Vassouras e sorriu para ela, puxando uma cadeira e sentando-se em sua mesa.
- Oi Gina! Desculpe a... eh... demora.
- Bom, você não demorou, eu é que cheguei cedo.
- Ah, isso explica, porque aparatei aqui exatamente às 20:00, que é a hora que você sai do Ministério, não é?
- É... acho que saí um pouco mais cedo hoje.
- Bom, vamos pedir alguma coisa, suponho que esteja com fome.
- Ah, estou – e fez sinal para Madame Rosmerta. Pediu pudim de carne, batata assada e um copo de suco de abóbora. Quando Harry terminou de fazer seu pedido, ela não se pode mais conter e perguntou:
- Harry... a Cho sabe que você está aqui?
- Sabe. Falei com ela.
- Aposto que ela não gostou nada...
- É, não posso dizer que tenha gostado – ele disse, lançando um olhar de “fazer o quê” - Mas era preciso.
- Ah... bem... espero não ter causado problemas.
- Olha, Gina... eu vi o Rony ontem e ele me contou que...
- É, eu li na carta. O Rony poderia aprender a guardar informações. – ela bufou.
- Mas eu fiquei preocupado.
- É a sua cara. – ela sorriu. Ele corou levemente.
- Ah... bem... eu queria confirmar se você vai no casamento. Sabe, é importante que esteja presente. É uma das melhores amizades que fiz em Hogwarts. Talvez não seja o que você gostaria que fosse, mas é muito importante para mim.
- Eu sei Harry... eu acho que vou.
- Acha?
- Está bem, eu irei.
- Que bom – ele sorriu. Ela suspirou. Então, madame Rosmerta chegou com os pedidos, eles agradeceram e começaram a comer.
- Mas me fale de você. Rony disse que ficou sabendo que você foi àquela festa dos Rowinn...
- Ah, fui – ela bufou de novo. Acabara de se lembrar da festa, e conseqüentemente de Draco Malfoy.
- Eu estranhei. Quer dizer, não é muito comum ver bruxos legais indo a estas festas...
- Eu sei. Eu fui porque... bom... por causa de alguém.
Ele parou de comer e a olhou intrigado. Logo depois abriu um sorriso.
- Então você está com alguém?
- Ah... – ela não sabia responder. Para Malfoy ela estava.
- Você não sabe.
- É, mais ou menos...
- Já aconteceu comigo – ele riu – Me lembro do meu quinto ano, quando saí com a Cho... – ele parou. Falar de Cho realmente não era uma boa idéia, principalmente porque um ano depois ele namorara Gina...
- Ora, continue. Pra quê ficar fingindo...
- Ah, bem... É.
- Somos amigos agora. Aliás, continuamos amigos, não é? – ela falou, levando uma garfada de pudim de carne à boca e engolindo.
- Você não sabe o quanto me deixa feliz ver você assim – realmente, ele parecia aliviado. – Mas com quem é que você está... bem... saindo?
Gina hesitou. Uma coisa é falar o nome de um garoto que você está saindo, outra coisa completamente diferente é contar que você beijou um mais que inimigo.
- É... o... bem...
- Não precisa ficar nervosa. Somos amigos, lembra? Se você quiser, eu não conto pro Ron...
- Pelo amor de Merlin, não conte!
Ele pareceu surpreso.
- Mas quem pode ser que nem ele pode saber? Quer dizer, tudo bem que ele é um irmão ciumento, mas vai aprovar saber que você está apaixonada de novo.
- Não conte a ele nada disso, Harry!
- Tudo bem... – ele franziu a testa. – Mas... quem é?
Gina ficou pensativa. Contar ou não contar? Oh céus, como era duro guardar aquilo só para ela. Por fim, decidiu contar. Harry era um amigo, e ela tinha certeza que ele não sairia espalhando a notícia.
- Ta, mas me promete que não vai gritar e vai me ouvir...
- Eu, gritar? Mas por quê? Gina, então eu o conheço?
- Sim...
- Então me fala. Quem é?
- Dr...c..M..oy
- Ahn? Não entendi – ele franziu a testa e levou a garrafa de cerveja amanteigada à boca.
- Malfoy – ela sussurrou.
Harry então engasgou. Começou a tossir fortemente e Gina achou que ele poderia perder a voz de tão fortes que eram as tosses.
- Harry!
- Você... cof, cof... disse... cof! – ele parou e pingarreou. – Malfoy? DRACO MALFOY?
- Não grita! – ela sussurrou, porque nesse instante muitos olharam à mesa deles.
- Você disse Malfoy, Gina! Draco Malfoy, é ele mesmo? – ele parecia indignado.
- Não, Lúcio Malfoy! – ela ironizou, impaciente. – Claro que é o Draco...
- “O Draco” – ele repetiu, incrédulo. Parecia incapaz de acreditar no que tinha ouvido. – Já estão nessa intimidade toda? Pelas barbas de Merlin Gina, você já pensou no que seu pai diri...
- Você disse que não contaria para ninguém! – ela disse, chocada.
- Ok, ok, eu não vou contar! Mas é estranho!
- Eu sei Harry, se põe no meu lugar! Mas deixa eu te contar a história completa...
Ela então contou sobre os bilhetes, as revelações de Draco sobre Hogwarts, o emprego, o baile... Quando terminou, ele parecia não acreditar.
- ...e foi assim. Ele ficou insistindo que estamos namorando.
- Mas e você?
- Ah, eu sei lá, Harry. Eu me odeio por isso, mas ele... – Gina pareceu buscar as palavras. – Mexe comigo.
- Se você dissesse que estaria namorando com o Olho-Tonto seria menos surpresa.
- Eu sei. Mas e agora, o que eu faço?
Harry pareceu pensar. Bebeu um gole de cerveja amanteigada e disse:
- Se fosse qualquer um que não fosse o Malfoy, por mais que eu não fosse com a cara, eu te aconselharia a investir e até convidaria para serem padrinhos do meu casamento. Você está gostando um pouco dele, não está?
- É, acho que sim...
- Então. Eu teria ficado muito feliz com a informação, porque eu quero o seu bem. Mas é de Draco Malfoy que estamos falando.
- Sei lá, eu pensei que ele poderia ter mudado. Lembra do seu último ano em Hogwarts?
- Lembro...
- E ele provou que não era... bem... um assassino. – ela pareceu constrangida ao lembrar desse capítulo. A morte de Dumbledore ainda era uma triste lembrança.
- É verdade. – ele disse tristemente.
- Agora você imagine a minha situação. Será que eu devo investir?
- Como eu te disse, eu daria todo meu apoio se fosse qualquer outro. Mas... Malfoy!
- É, eu sei que ele é um idiota e tudo mais, só que ele diz que está apaix...
- E é a pura verdade, Virginia – uma voz arrastada surgiu atrás de Gina e ela percebeu o por quê de Harry ter dito o “Malfoy”. Ela se virou e deu de cara com um Draco com a cara maliciosa de sempre.
- Ah, não! O quê você está fazendo aqui, Malfoy?! - ela disse.
- Boa noite, Virginia – ele puxou uma cadeira e se sentou à mesa deles – Vejo que está compartilhando nossas aventuras amorosas com o Potter – ele completou, lançando um olhar de puro desprezo para Harry.
- Escuta aqui Malfoy... – Harry já tinha uma expressão de raiva no rosto.
- Me poupe, cicatriz – ele disse com ar de pouco caso, sem olhar para Harry. – Virginia, muito me decepciona encontrar a minha namorada aqui com essa companhia. Sabe, por um instante achei que você não viria, mas acho que estava enganado. Aliás, também combinamos que nosso namoro era secreto.
- Mas que DIABOS! Eu já lhe disse que nós não estamos namorando!
- Olha Gina, pelo menos você não está gostando tanto dele! – disse Harry, que não pode esconder o satisfação por ver Gina tratando Draco daquela maneira.
- Ela está, Potter! – Draco agora o olhou nos olhos com mais desprezo.
- Não estou!
- Olha, não são o que seus beijos me dissem...
Gina corou de leve. Olhou para Harry, este parecia muito constrangido.
- Sinceramente Gina, não consigo te imaginar beijando ele.
- Então eu te faço imaginar, Potter. Primeiro eu seguro a nuca dela com as mãos e as subo até as raízes do cabelo, então ela retribui o beijo e...
- Malfoy, QUER CALAR A BOCA? – Gina gritou. De novo vários bruxos olharam para a mesa deles, fazendo Gina corar de novo. – Por que você não vai pro diabo e me deixa conversar com o Harry?
- Sem chances, Virginia.
- E PÁRA de me chamar de Virginia!
Draco suspirou, parecendo entediado. Olhou para os pratos de Harry depois para o de Gina.
- Sabe, não sei como você consegue comer aqui. A comida é horrível. Eu já comi em casa antes de vir para cá, mas se você quiser eu te levo num lugar bem melhor. Claro que tinha que ser idéia do Potter marcar aqui e...
- Fica quieto! Nós vamos terminar essa conversa você queira ou não! – ela olhou para Harry. – Harry, ignore-o.
Harry levou uma garfada de comida à boca e depois de engolir fez uma cara constrangida, mas não podia esconder o ódio que sempre sentira por Draco Malfoy.
- Certo...
- Onde estávamos? Ah é... eu falava... dele. – ela olhou de esguelha para Malfoy, arrependida de ter lembrado do assunto.
- Interessante, estou pronto para ouvir os elogios. – disse Malfoy abrindo um sorriso malicioso.
- Não vamos falar de você com você aqui do lado!
- O que me deixa muito feliz, Virginia. Estavam falando bem e agora tem vergonha de admitir. – ele abriu ainda mais o sorriso.
- Malfoy, se eu fosse você eu dava o fora daqui. – disse Harry.
- Cicatriz, se eu fosse você eu me tocaria que estaria atrapalhando dois namorados.
- Cala-a-boca-Draco-Malfoy! – disse Gina impaciente, levando o copo de suco de abóbora agora vazio à mesa, batendo-o com força. – Você quer saber o que nós estávamos conversando? Pois bem! Eu estava me decidindo se iria investir nesse nosso “casinho” que você insiste em chamar de namoro! Mas obrigada por aparecer aqui e me fazer decidir que tudo o que mais quero é ver você ir para o diabo que o carregue!
- Virginia, eu...
- Harry, muito obrigada pela companhia. Mas eu preciso realmente ir. Vou sim no seu casamento, e te desejo toda a felicidade do mundo. Mande um beijo para a Cho. – ela disse apressadamente, tirando uns galeões do bolso e colocando sobre a mesa. – Pague a minha parte, isso deve dar.
- Imagina Gina, eu ia...
- Eu insisto! Boa noite Harry. Vai um dia desses lá em casa, aí poderemos conversar sem ninguém atrapalhar.
Gina saiu do Três Vassouras pisando firme. Draco correu atrás dela.
- Espera, Virginia. Me espera, caramba! – ele a puxou pelo braço, fazendo-a virar os calcanhares.
- Me solta, Malfoy! Vai pro inferno!
- Escuta aqui! Eu não fiz nada de mais, ta legal? Nem xinguei o Potter nem nada...
- Você atrapalhou a minha conversa com o Harry, mas parece que é muito pouco para você.
- Ta legal, eu fiquei com ciúmes. Satisfeita?
- Ora, faz me rir! Harry está de casamento marcado e nós não...
- Grande coisa! Você sempre gostou do Potter que eu sei! Eu não quero dividir minha namorada com o idiota do cicatriz, Virginia, como é que você queria que...
- Pára de chamar o Harry de cicatriz! Pára de me chamar de namorada! E PÁRA DE ME CHAMAR DE VIRGINIA!
- Custa acreditar em mim?
- Olha – ela se virou completamente para ele – Considerando que você sempre foi o mais idiota de Hogwarts, sempre falou mal da minha família, quase matou Dumbledore, teve um pai Comensal da Morte, praticamente se tornou um Comensal da Morte... Sim, custa acreditar em alguma palavra que sai da sua boca.
O rosto de Draco não possuía nenhum sorriso agora. Sua boca se contraía como se ele guardasse palavras agitadas dentro. Seus olhos eram mais cinzas do que nunca. Gina respirava alto e rápido e olhava com raiva nos olhos de Draco.
- Achei que já tivéssemos discutido isso o suficiente. Será que você reparou que eu nunca falei mal de você? Eu posso ter insultado o seu irmão, posso ter xingado seus pais, mas foi para seu irmão! Eu era um adolescente, Virginia! Seu irmão também! Quanto à Dumbledore – ele olhou para o lado; a lembrança ainda o perturbava – eu não o matei, como você sabe. Se meu pai foi comensal o problema é dele, você não vai namorá-lo. E quanto à mim – ele olhou de volta para os olhos de Gina – se quer saber, não me tornei um comensal. E pro inferno essa história de comensal, o idiota do Potter derrotou o Lorde das Trevas!
Gina perdera as palavras. Era verdade... Mas por quê era tão difícil simplesmente dizer “Eu acredito em você, vamos ficar juntos”...? Ali estava toda a chance dela de ser feliz de novo, voltar a sorrir. O problema com emprego não era mais problema, só faltava o problema amor. E a solução estava diante dela. Draco Malfoy era uma solução. De fato só ele havia mexido com ela depois de tanto tempo. Ela não podia gostar dele... mas porque os beijos dele eram tão perfeitos? Por quê ela se arrepiava sempre que lembrava dos olhos brilhando à luz do luar aquela noite no baile? E falando nesses olhos... podia não ser a mesma lua daquela noite, mas estavam brilhando de novo no escuro... Olhando para ela... Aqueles lindos olhos cinzentos agora pareciam tão... solitários. “Por quê não?” – ela pensou.
- Ah... eu sei lá, Malfoy... Sei lá... – sua voz saiu baixa.
- Me deixa te mostrar que eu não sou o Malfoy que você conhece.
- Você já imaginou o impacto que isso causaria nos outros? – ela deu um meio sorriso, aparentemente um meio sorriso triste.
- Como eu já lhe disse – sua voz também saia baixa – Namoraremos escondidos.
- Até quando, Malfoy? E se não durar?
- Que seja eterno enquanto dure. Por Merlin, Virginia. Que se danem o que vão pensar. Só eu e você importamos...
- Era sua opinião sobre Romeu e Julieta também, não era? Eu me lembro.
- Sim. E pelo jeito eles conseguiram ser bem felizes enquanto durou. Só que eles eram trouxas, viviam há séculos atrás, quase nem podiam se encontrar... E quanto a nós, nos encontramos agora todos os dias. Vamos, Virginia, não há o que temer...
- É... eu acho que não... – ela olhou nos olhos deles. Estavam cada vez mais pertos... Conseguiu sentir seus lábios encostarem nos seus. E ela tentou abandonar qualquer sentimento de culpa que passasse pela sua cabeça. “Julieta não demonstrou culpa nenhuma quando se apaixonou por Romeu. E não precisava... era por Romeu que ela estava apaixonada...” – pensou Gina. E pela primeira vez, quem terminou o beijo não foi ela... foi Draco.
- Então agora posso dizer que somos namorados? – ele parecia satisfeito. E feliz.
- Dizer para quem?
- Bom... Para mim mesmo sempre que acordar. Sabe, motivação para agüentar o dia...
Gina sorriu.
- Eu é que preciso de uma motivação para agüentar o dia... Você não sabe como é duro saber que vou chegar ao trabalho e te encontrar lá...
- Então agora você tem uma boa motivação. Ótima, eu diria...
- Convencido!
Outro beijo. E Gina, de repente, se sentia completa. Poderiam haver intrigas, poderiam haver problemas. Mas e daí? O mundo agora era mais bonito porque Draco Malfoy estava nele. E daí que o passado os condenava? Passado é passado. Quem sabe curariam a rivalidade das famílias com o amor... Como Romeu e Julieta. “Mas com um final feliz...” – ela se apressou em pensar. Mas também, para que pensar no final? Para que pensar no futuro? Ela sentia que o presente era o que realmente importava. E era verdade.
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N/A: Demorei? Não né :D
Bom, aí está o 10º capítulo, espero que gostem. Mandem reviews que o próximo vem mais rápido!
Bjos!
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