Insígnia Mortal
~>Insígnia mortal<~
Harry Potter e seus fiéis companheiros chegaram ao pequeno e distante povoado de Godric’s Hallow por volta das seis horas da manhã. A primeira impressão que tiveram era de que estavam em um lugar bastante calmo e rural. Durante a viagem noturna em cima de suas vassouras a paisagem lá embaixo foi mudando lentamente de prédios e carros para campos abertos e extensas plantações. Os aventureiros desmontaram de seus transportes pouco antes de chegarem ao povoado propriamente dito, em meio a um descampado – não poderiam de forma alguma descer de vassoura em meio a uma vila trouxa!
Caminharam então por uma longa estradinha de terra que cruzava em certo ponto com uma grande avenida asfaltada. Havia ali uma placa que dizia: “Bem Vindo ao Povoado de Godric’s Hallow”, e que apontava para a continuação da estradinha. Harry estava bastante exausto por ter passado a noite em claro e também bastante confuso e atordoado com tudo o quê acontecera, mas não pôde deixar de se alegrar com a visão do lugar onde seus pais tinham vivido junto a ele durante um curto espaço de tempo. Rony e Hermione terminavam de contar a Tonks e Lupin sobre sua conversa com Snape e sobre a chegada abrupta de Belatriz Lestrange à casa do mesmo quando perceberam que Harry havia ficado para trás.
-Harry! – chamou Mione. – Venha! Não vai querer ficar aí olhando para essa placa o dia todo – completou sorrindo.
-Ah, claro! Estou indo. Só estava pensando... – respondeu Harry.
-E eu posso saber sobre o quê você estava pensando, mocinho? – dessa vez foi Tonks quem perguntou.
-Nada importante. Só estava imaginando como meus pais devem ter sido felizes aqui... Como tudo poderia ter sido diferente, se Tom Riddle nunca tivesse nascido!
-É Harry, eles realmente foram muito felizes aqui! Eu visitava muito você e seus pais. Sirius estava sempre por aqui também. Éramos todos bastante felizes antes de Voldemort. E seremos felizes novamente... Depois de Voldemort – disse Lupin.
-Seremos sim! – completou Harry com um brilho de aço nos olhos.
Continuaram caminhando, conversando e observando tudo ao seu redor: várias casinhas de aspecto aconchegante estendiam-se de ambos os lados da estrada de terra, assim como em várias ruas laterais. Havia alguns estabelecimentos comerciais espalhados aqui e ali: uma padaria, um mercadinho, uma lanchonete (Great Joe), uma pensão (Vellma’s) e alguns outros que não estavam à vista ou encontravam-se fechados. Havia também uma pequena praça bem no centro de Godric’s Hallow: árvores, bancos, um playground, luzes (bem ao estilo londrino, com seus belos lampiões a gás) e pássaros compunham aquele simples e aconchegante cenário. Tudo naquele povoado conotava serenidade, paz e felicidade – apenas encontrada nas coisas simples. Harry sentiu-se mal ao imaginar como teria sido para os pacatos habitantes daquele lugar presenciar ao assassinato brutal de seus pais...
-Bom, acho que podemos nos instalar aqui – sugeriu Lupin parando em frente à pensão chamada Vellma’s – Assim podemos descansar um pouco e descobrir algumas coisas úteis, se é que me entendem...
-Por mim acho ótimo! Estou moído, cara. Preciso urgentemente de uma boa comida e uma excelente noite, quer dizer, manhã de sono! – falou Rony.
-Também aprovo, mas se o Harry tiver outros planos eu vou com ele – comentou Mione.
-Tô contigo, amiga! – brincou Tonks.
-E você, Harry? O que acha? – indagou Lupin.
-Ah! Claro, é.
-Alôôô?! Acho que tem alguém no mundo da Lua! – sorriu Hermione.
-Desculpem. Só estava meio distraído, observando... Tudo é muito bonito. Eu teria amado morar aqui! – disse Harry. – E quanto a ficarmos na pensão, eu acho uma ótima idéia. Precisamos mesmo de descanso. Foi uma longa noite e tenho certeza de que não será a última.
-É isso aí, Capitão! – zombou Rony.
O grupo entrou na pensão ainda rindo da brincadeira do ruivo. Lupin foi até o balcão que havia no pequeno e bem cuidado hall enquanto os demais se acomodavam no bonito sofá púrpura que havia a um canto. A moça que deveria atendê-los encontrava-se de costas e agachada, aparentemente recolhendo algo no chão. Lupin apertou a campainha em cima do balcão – fez isso mais para ver a serventia do objeto do que para chamar a atenção da jovem mulher – fazendo com que ela se levantasse e ficasse de frente para ele... Tal foi sua surpresa ao ver o rosto dela que a sua primeira reação foi gritar:
-Rosmerta!
A mulher ficou assustada com o inesperado grito do homem, mas logo lhe deu um sorriso, acostumada com o engano tão comum.
-Na verdade eu sou a irmã dela! – explicou ainda sorrindo enquanto o restante do grupo dirigia-se ao balcão, interessado. – Vellma, muito prazer! Sejam bem vindos à minha humilde pensão!
-Ahhh, desculpe-me o equívoco, Vellma! O prazer é todo meu. Conheço muito bem a sua irmã. E se me permite o comentário: você é tão bonita quanto ela! – exclamou Lupin sob um olhar de censura de Tonks.
-Obrigada pelo elogio – agradeceu corando. - Creio que vão querer alugar alguns quartos, não? Parecem cansados.
-Sim, estamos. Fizemos uma longa viagem até aqui. Acho que três quartos serão suficientes. Uma suíte, para mim e Tonks. Um quarto duplo para os garotos e um para Hermione.
-Perfeitamente, senhor. Aqui estão suas chaves. Não se preocupem com o pagamento, depois cuidamos disso. O café da manhã é servido às sete, o almoço sai às onze e o jantar às seis. Espero que tenham uma estadia agradável!
-Obrigado, Vellma! Agora me responda só mais uma coisa... Você é bruxa? – indagou Lupin, constrangido.
-Oh, claro que sim! Mas prefiro morar aqui, longe da agitação do mundo mágico! Acho que não nasci para isso, afinal.
-E há quanto tempo mora aqui?
-Quase dezoito anos. Por quê?
-Então você viu quando o ataque aos Potter aconteceu? – dessa vez foi Tonks quem perguntou.
-Sim-sim. Coisa feia... Uma tragédia sem precedentes. Eu conhecia os Potter e fiquei muito chocada com a morte deles... Lembro bem de Hagrid chegando e entrando na casa ainda em chamas... Depois ele saiu chorando com Harry nos braços e o jovem Sirius emprestou-lhe sua motocicleta voadora para que ele pudesse levar o bebê até Londres.
-Sabe onde fica a casa de meus pais?! – indagou Harry, sobressaltando Vellma que não reparara em sua presença até o momento.
-Harry Potter?!
-Sim, senhora. Sou eu mesmo.
-Mas você é a cara de Tiago! Só que tem os olhos de...
-Minha mãe! É o que todos dizem.
-E como não... Como não... Ah sim, me perdoe, ainda não respondi sua pergunta. Claro que sei onde fica a casa de seus pais. Na verdade qualquer um poderia ter-lhe dado a informação. A casa é bem conhecida por aqui...
-E por que seria?
-Dizem que é mal-assombrada. Eu particularmente não acredito nisto, embora já tenha ouvido ruídos vindos de lá. Mas foi só uma vez... Há uns dois anos, para ser mais exata.
-O ano em que Voldemort voltou! – constatou Hermione espantada.
-É claro! Faz todo sentido! – exclamou Harry.
-Do que você está falando? – quis saber Rony.
-Depois Rony... Dona Vellma, poderia nos levar até lá ainda hoje à noite, quando estivermos descansados?
-Claro, mas não acho que vá encontrar nada lá... Só sobraram ruínas.
-Ainda assim quero ir. Preciso ir!
-Sendo assim, tudo bem.
-Obrigado e até a noite – despediu-se Harry dirigindo-se às escadas. Rony e Hermione seguindo-o de perto.
-Harry! Pode parar e nos contar o que pretende fazer que não possa esperar até amanhã? – perguntou Hermione exasperada.
-Shh, aqui não. Espere até chegarmos ao quarto...
-O.k, Harry.
-Garotos, estamos indo para o nosso quarto – disse Lupin apontando para ele e Tonks. - Mais tarde você nos conta o que está planejando, Harry! Bom sono para vocês.
-Bom sono para vocês também – disse Harry. Virou-se então para Ron e Mione. – E vocês parem de resmungar e venham comigo para o quarto.
Os três garotos saíram correndo até o final do corredor e pararam em frente à porta de número 29. Harry encaixou a chave na fechadura, girou e entrou seguido de perto por Rony e Hermione.
-Agora será que você pode nos contar o que se passa nessa cabecinha dura? – indagou Rony sentando-se ao lado de Harry na cama. Hermione sentou na cama de frente para eles e esperou.
-Sim. Mas antes eu quero que Hermione “imperturbe” o quarto.
-Ah, claro, Harry! – disse Mione dirigindo-se até a porta com a varinha em riste e lançando um feitiço silencioso. – Prontinho, nem mesmo as orelhas extensíveis de Fred e Jorge poderiam competir com meu feitiço!
-Sei que não, Mione!
-Harry... – começou Rony.
-Ah, desculpa. Tudo bem, eu vou falar... Mas primeiro me respondam uma coisa. Vocês não acham muito estranho que Vellma tenha ouvido barulhos na casa de meus pais justamente no ano em que Voldemort voltou?
-Sim, Harry. Mas não consigo ver nenhuma conexão útil com o que viemos procurar – falou Rony.
-Não?! Pensei que anos de convivência com Hermione tivessem lhe ensinado alguma coisa, Ron. E você Mione? Tem alguma idéia de onde estou querendo chegar?
-Acho que sim. Você quer dizer que Voldemort veio aqui pouco depois de recuperar os poderes e escondeu nas ruínas da casa de seus pais um...
-HORCRUX! Foi exatamente o que eu pensei. Seria um local perfeito: o lugar onde ele quase morreu. Entendem? Voldemort tem certa preferência por lugares onde realizou algum ato marcante para esconder seus “tesouros” e acho que o fato de quase ter batido as botas é bastante marcante!
-Faz sentido...
-É claro que faz!
-Então como você pretende entrar lá? Porque com certeza a casa deve estar repleta de feitiços protetores e tudo mais – argumentou Mione.
-Eu sei. Mas não acho que tenhamos problemas para entrar na casa. Pensa comigo: garotos adoram casas ditas “mal-assombradas”; vários meninos do povoado já devem ter tentado entrar lá; não seria muito estranho se fossem simplesmente impedidos de passar? Como se houvesse um muro invisível ao redor do terreno?
-Tem razão, Harry. Voldemort não seria tão burro. Ai Rony, poupe-me! Já deveria ter se acostumado com esse nome.
-Por isso eu acho que todos os nossos problemas estarão dentro da casa. E muito bem escondidos, por sinal – continuou Harry.
-Você acha que pode existir algum tipo de passagem secreta nas ruínas? – quis saber Rony.
-É uma possibilidade.
-Acho que teremos mais uma longa noite... – disse Hermione monotonamente.
-Bastante longa... – sentenciou Harry.
Depois disso Hermione foi para seu quarto descansar, deixando para trás as mentes agitadas de Harry e Rony. Mas depois de algum tempo eles também cederam aos encantos deste companheiro maravilhoso: o sono!
Às seis em ponto Harry, Rony, Hermione, Lupin e Tonks encontravam-se no aconchegante restaurante da pensão, sentados em uma grande mesa redonda e comendo um delicioso jantar especialmente preparado por Madame Vellma.
-Concordo com o Rony. Acho que deve haver algum tipo de passagem secreta na casa – disse Lupin depois de ouvir a idéia de Harry.
-De minha parte eu só espero que não seja uma passagem sedenta de sangue como a que Harry e Dumby tiveram de enfrentar na caverna – disse Tonks deixando um silêncio pesado pairando sobre a mesa.
-Ou algo que exija Magia Antiga para ser aberto – comentou Hermione após algum tempo.
-De onde você tirou essa idéia? – perguntou Harry.
-Desculpa, Harry. Eu não resisti e peguei o livro de Dumbledore para ler.
-Tudo bem, Mione. Você é melhor em ler livros do que todos nós juntos! Mas que história é essa de Magia Antiga?
-É a magia que era usada na Idade Média. Esse tipo de magia é muito poderoso e não é realizado com uma varinha. Só os bruxos mais sábios conseguem realizá-la. E para piorar, os feitiços são ditos em línguas bruxas já mortas, o que exige um curso avançado de Runas Antigas.
-Dumbledore! Dumbledore usou esse tipo de Magia na caverna, mas não funcionou.
-Melhor assim, talvez Voldemort siga um padrão para proteger seus Horcruxes e não tenha enfeitiçado nenhum com esse tipo de magia... Ou não. Só podemos supor.
-Mas se precisarmos, você pode fazer Mione. Você estuda Runas Antigas.
-Receio que as coisas não sejam tão simples quanto você pensa, Harry. Runas é apenas um dos pré-requisitos para esse tipo de feitiço. Eu não conseguiria realizá-los com uma varinha...
-Espera um momento... Eu já fiz feitiços sem a minha varinha. Naquela vez em que fui atacado por dementadores em Alfeneiros... Ah, e também quando eu era criança fiz isso várias vezes. Lembra quando transformei minha Tia num balão?
-Sim lembro. Mas creio que você continue sem entender. Esse tipo de feitiço do qual você fala é muito falho. Acontece apenas em momentos de grande tensão emocional e é bastante comum em crianças e jovens bruxos que ainda não aprenderam a controlar seus poderes totalmente.
-Ah, tá. Então quer dizer que voltamos à estaca zero?
-Hum-hum – sentenciou Hermione.
-Calma Harry. Se precisarmos usar esse tipo de Magia nós vamos usá-la. Custe o que custar.
-Harry...
-O quê, Mione?
-Tem mais uma coisa... Dumbledore escreveu no livro alguns princípios básicos que se deve dominar para vencer Voldemort...
-E quais seriam? – indagou excitado.
-Oclumência, Legilimência, Aparatação, feitiços não-verbais e as Maldições Imperdoáveis.
-O quê?
-É isso mesmo que você ouviu. E esses são apenas os pontos principais. Acho melhor você começar a se esforçar mais para aprender Oclumência, Harry.
-Eu sei, Mione. Bom pelo menos eu já domino a Aparatação e sei um pouco de feitiços não-verbais...
-Mas não se alegre por isso, Harry. Ainda falta o pior: as Maldições, Legilimência e Oclumência – falou Lupin.
-Tem razão. Mas eu prometo que vou me esforçar mais daqui para frente.
Madame Vellma viu que tinham acabado de comer e dirigiu-se à mesa na qual estavam sentados.
-Bom, se já terminaram acho melhor partirmos agora. Todos os outros hospedes já se recolheram e a maioria dos habitantes do povoado já deve estar acomodada em suas casas.
-Por mim tudo bem – disse Lupin.
-Então vamos! Só vou até o quarto pegar minha capa – disse Harry correndo em direção às escadas.
Em dois minutos ele estava de volta, vermelho e suado.
-Agora sim podemos ir!
E saíram em direção à noite. Vellma caminhando um pouco à frente, indicando-lhes o caminho, Rony e Hermione um pouco atrás, Harry em algum lugar entre os dois – estava oculto sob sua capa de invisibilidade –, Tonks e Lupin fechando o cortejo. Vellma tinha razão ao dizer que a maioria das pessoas deveria estar em casa, pois durante toda a caminhada só encontraram uma velha senhora sentada em uma cadeira de balanço em frente a uma construção decadente. A senhora sorriu quando eles passaram, eles retribuíram.
Caminharam durante mais ou menos quinze minutos, até o final do povoado. Ali encontraram uma pequena elevação que ficava de frente para a estradinha. Lá em cima puderam avistar o que sobrara da antiga casa dos Potter. Subiram o morro durante mais cinco minutos e chegaram ao que um dia deveria ter sido a sebe da casa.
Por um momento ninguém conseguiu se mexer. A sebe ao redor da casa estava torta e em várias partes destruída, permitindo assim a entrada de qualquer pessoa. A casa em si não passava de um emaranhado confuso de entulhos e destroços que se sustentava em pé pela mesma força sobrenatural que fazia a Toca permanecer erguida. Onde deveria haver uma porta, havia um buraco negro e disforme. Onde deveria haver janelas, havia toras caídas de madeira. Onde deveria haver um teto, havia uma confusão de madeira, concreto e vidro que ameaçava desabar a qualquer momento...
-Harry eu... Eu sinto muito – Hermione conseguiu dizer após algum tempo.
-Não sinta, Hermione. Essa casa ainda está viva. Posso sentir. E tenha certeza de que vou reconstruí-la quando essa tempestade passar – disse Harry enquanto despia sua capa.
Após esse comentário todos pareceram sair de seu torpor inicial.
-Bom pessoal, estão entregues. Desculpem-me, mas não quero entrar aí – disse Vellma.
-Não será preciso, Vellma. Você já fez muito nos trazendo até aqui, obrigado. Daqui para frente pode deixar que nós cuidemos de tudo – falou Harry.
-Sendo assim... Voltarei agora mesmo para minha pensão. Devo esperá-los apenas pela manhã?
-Provavelmente.
-O.k, então. Estarei esperando-os com um café da manhã bem reforçado.
-Mais uma vez obrigado, Vellma.
Harry acompanhou com o olhar a mulher descer a encosta e voltou-se para seus amigos.
-Vamos entrar então!
O grupo entrou sem que nada acontecesse... O pior viria depois. Tudo estava escuro e não havia eletricidade. Todos acenderam suas varinhas. A luz iluminou um longo corredor ladeado de portas por ambos os lados. No final do corredor havia uma porta preta maior que as outras. Harry viu que havia candelabros pendurados nas paredes e começou a acendê-los, no que foi ajudado por Tonks e Lupin.
-Acho melhor nos dividirmos, cada um procura numa porta algum local provável para um Horcrux. Se alguém estiver em perigo grita – disse Harry.
-Tudo bem – disseram todos.
Harry dirigiu-se instintivamente à porta preta maior. Caminhou resoluto até o final do corredor, girou a maçaneta de ouro maciço da porta e tentou entrar... Mas a porta não cedeu...
-Alorromora! – ordenou apontando sua varinha para a fechadura.
Nada aconteceu.
-Revele seu segredo!
Nada novamente.
“Uma chave. Preciso de uma chave.” Pensou.
Lembrou então de uma cena comum em filmes e se abaixou, ficando de joelhos. Havia um tapete bastante puído diante do portal. Harry levantou-o, passou sua mão por baixo e... Eureka! Uma chave de ouro! Como a fechadura!
Harry levantou-se, inseriu a chave no portal e girou... Clique! Funcionou! Empurrou a porta e entrou em um cômodo baixo (talvez por que o teto estivesse cedendo) e escuro.
-Lumus!
O chão estava coberto pelo que parecia uma camada secular de poeira e o teto estava rachado em vários lugares. Havia uma cama bem em frente à porta, ainda com os lençóis. Ao lado havia um criado mudo. E era só.
Harry aproximou-se da cama e se deitou... Grande foi sua surpresa quando percebeu que por baixo dos lençóis havia não um colchão, mas o que parecia ser pedra bruta.
Levantou-se de um salto e puxou as cobertas da cama. Estava certo. Ali estava algo que parecia muito mais com uma mesa de pedra do que com uma cama. Harry aproximou-se e viu que no centro da “mesa” havia algumas palavras escritas em uma língua que não conhecia. Pareciam arabescos ou... Ou Runas! É claro!
Harry virou-se rapidamente e ordenou com a varinha em riste: - Expecto Patronum – um veado de prata surgiu galopando. Harry ordenou: - Traga os outros até aqui, rápido.
O patrono saiu galopando em direção ao corredor e em alguns segundos todo o grupo estava no quarto onde Harry se encontrava.
-Hermione vem aqui. Olha isso! – disse ele apontando para a mesa de pedra com suas inscrições enigmáticas. – O quê você acha?
-São Runas, Harry – falou sorrindo. –Ah, mas essas são do século VII... – disse desanimada - ainda não terminei de estudá-las. Droga!
-Mas você pode pelo menos captar a mensagem geral, não pode?
-Posso, mas...
-Mas o quê, Mione?
-Harry, qualquer erro aqui pode ser fatal. Estamos falando de Lord Voldemort.
-Hermione me escuta! Você passou anos de sua vida com o seu lindo nariz enfiado em milhares de livros! Se existe uma hora apropriada para utilizar seus conhecimentos, essa hora é agora!
-Tá certo. O.k – disse Mione aflita. – Agora eu preciso de pena e papel!
Tonks conjurou uma pena e um pergaminho com sua varinha e entregou-os a Hermione que se ajoelhou ao lado da mesa de pedra e começou a fazer anotações rapidamente. Sua língua entre os lábios.
Os outros se aproximaram para observarem aflitos enquanto a amiga trabalhava. Todos mantinham silêncio, ninguém queria desconcentrar Hermione. Lá fora nada se ouvia a não ser a cantoria incessante dos grilos. Havia uma sensação ruim pairando no ar como uma nuvem arroxeada num belo dia de Sol...
Depois do que pareceu uma eternidade, Hermione levantou-se e olhou para os outros. Seus olhos estavam marejados e suas mãos tremiam descontroladamente. Seu rosto contorcendo-se numa expressão que seria quase cômica, não fosse o momento.
-E então, Mione? Conseguiu decifrar as Runas? – indagou Rony, impaciente.
-An-ham – disse confirmando com a cabeça.
-E...
-Eu... Eu não consigo. Lê você – falou passando o pergaminho para Harry que leu em voz alta.
Quem mortal deseja-me tornar
Com a morte terá de pagar
Aquele que em sua busca fraquejar
Nada irá lograr
Você terá sua chance de me enfrentar
Mas antes,
Um ente querido terá de matar
Depois disso Hermione perdeu todo o controle e caiu no choro. Tonks aproximou-se dela e embalou-a em um forte abraço. Harry estava em estado de choque...
-Eu não entendo. O qu...
-NÃO ENTENDE?! – gritou Hermione. - Aquele sujo! Aquele PUTO! Ele não tem um pingo de princípios! Como pôde? ACORDA Harry. Você tem que matar um de nós!
-NÃO!!! - gritou Harry. Sua cabeça girou... Sentia-se tonto, mas não caiu. Não dessa vez... Se era morte que o Puto queria era morte que o Puto iria ter. – E como eu devo fazer isso Mione?
Hermione apenas apontou para o criado-mudo. Harry aproximou-se e viu que ali havia um pequeno punhal de prata. Prata de lei mesmo! Com aquele brilho branco-acinzentado. Pegou o punhal e viu que seu cabo era incrustado de pequenos espinhos que lhe feriram as mãos ao primeiro toque. Gemeu baixinho quando o sangue começou a escorrer pelo seu punho.
-Harry... – começou Lupin.
-Não! Não fale nada – disse passando direto pelo ex-professor.
Harry foi até o Altar de Sacrifício – pois era isso o que a “mesa” era – e se deitou. Estendeu o punhal acima de seu corpo com a lâmina virada para seu coração e já ia baixá-la quando...
-Expelliarmus – gritou Rony fazendo o punhal sair voando das mãos de Harry. – Pare seu idiota! O que pensa que está fazendo? Não é a você mesmo que precisa matar. Precisa matar a um de nós!
-Posso muito bem me matar e então um de vocês pega o Horcrux!
-Rony está certo. Apenas quem matar poderá pegar o Horcrux... Se você se matar, o sacrifício terá sido em vão! – explicou Mione com a voz entrecortada por soluços.
-Eu vou – disse Rony com a voz fraca.
-NÃO!!! - gritou Hermione.
-Eu preciso...
-Não. Não precisa, Ron – disse Lupin. – Eu vou.
-NÃO!!! - foi a vez de Tonks protestar.
-Eu vou sim, Tonks! – disse com a voz firme.
-Por favor, não me deixe! – suplicou Tonks soltando Hermione e agarrando-se a Lupin.
-Tonks. Olhe para mim – falou levantando o queixo de sua amada com os dedos. – Desde que essa guerra começou sabemos que eu poderia morrer a qualquer momento... Qualquer um de nós está sujeito a isso. Você sabe tão bem quanto eu que Harry precisa de seus amigos para continuar na batalha... Se alguém tem de morrer, esse alguém sou eu...
-Não. Eu posso morrer no seu lugar – falou entre soluços que sacudiam todo seu corpo.
-Não pode e sabe disso. Você é uma Black! Um ritual assim nunca aceitaria seu sangue. Nunca. Quer você queira ou não, você vem de uma família com tradição nas Artes das Trevas... Voldemort teria o cuidado de repudiar o sangue de um Black que tentasse derrotá-lo.
-Por favor... – implorou novamente.
-Eu te amo, Ninfadora Tonks. E vou te amar onde quer que eu esteja. Prometo!
-Também te amo... – disse Tonks tocando-lhe os lábios com um beijo forte e caloroso. Tão forte que se tornava quase palpável. Era a despedida de uma mulher que tinha a consciência de que nunca mais veria seu homem enquanto viva.
Lupin foi até o Altar e deitou-se de costas. Harry aproximou-se dele... Hermione chorava a um canto, sentada no chão frio. Tonks permaneceu de pé, embora, assim como a casa, ameaçasse desabar a qualquer hora. Rony observava petrificado... O próprio tempo parecia esperar... A cantoria dos grilos temporariamente interrompida...
Harry levantou o punhal acima de sua cabeça, sua mão tremia loucamente...
-Lupin... – tentou falar, mas não conseguiu. A voz embargada pelo choro que fluía dolorosamente. Cada lágrima parecia sangue escorrendo de um ferimento aberto...
-Não precisa dizer nada, Harry. Apenas faça o que precisa fazer.
Harry tentou controlar sua tremedeira e segurou o punhal com mais firmeza.
-Juro solenemente que não pretendo fazer nada de bom – foi o que conseguiu dizer antes de baixar o punhal com toda a força que pôde.
E apesar de tudo Lupin sorriu. E foi assim que morreu o último dos Marotos. Sorrindo...
-Malfeito feito... – sussurrou antes que tivesse a vida arrebatada de seu corpo.
E se foi... Para sempre.
-AHHHHHHHHHHHHHHHHH!!! - Harry gritou tão alto que sentiu suas cordas vocais estalarem e o sangue escorrer por sua língua.
Aquele líquido vermelho e vital fluindo obscenamente do corpo de Lupin que aos poucos ia perdendo a cor e a vida...
Todos choravam. Ninguém falava. Harry encostou a cabeça no peito morto do Lobisomem e deixou suas emoções saírem livremente.
KA-BUM!
O teto do corredor havia cedido. Do outro lado da porta do quarto podiam ver os jardins mal-cuidados da casa. Harry conteve um grito quando seu cérebro assimilou o que seus olhos viram: centenas de dementadores circulavam os destroços da casa de seus pais, e no comando vinha o mais terrível dos lobisomens: Lobo Grayback. E pior... Estava transformado, mesmo não sendo Lua Cheia!
Harry fez o corpo de Lupin rolar para o chão e viu que onde antes havia inscrições, no Altar, agora havia uma pequena pedra solta. Harry puxou a pedra e viu o que tinha dentro do espaço vazio que se formara: uma taça.
“A Taça de Helga Huffle Puffe!” gritou por dentro.
Pegou a taça, colocou-a no bolso do Jeans, vestiu sua capa de invisibilidade e começou a agir...
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