Simples Assim



Capítulo Quarenta e Um
Simples Assim



Minha mão agarrou aquele lençol que cobria a metade do seu peito. Tinha dormido confortavelmente em seus braços. Sentia-me tão segura, nunca tinha me sentido assim. Ele ainda dormia tranqüilamente com seu rosto virado para o outro lado. Flashes da noite passada invadiram minha cabeça como um filme sem censura. Acabou aquela timidez boba que sempre tive em relação a Harry, acabou tudo isso. Ficamos conversando até as três da manhã, juntos, abraçados. Cada assunto bobo...

Éramos dois bobos. Dois bobos apaixonados, loucos, inconseqüentes. Eu não consegui arrancar de sua boca um 'te amo', eu sei que é difícil, mas também sei que Harry sente algo por mim, não é possível que depois de tudo que aconteceu até aqui ele não tenha mudado seus sentimentos perante mim.

OK, se ficar pensando nisso, irá se deprimir. Olhei no relógio quando deu as doze badaladas do meio dia. Chamei por Harry lentamente, dando-lhe beijos na trave da sua boca num sorriso maroto nos lábios. Ajeitei o lençol em cima de nós e deitei minha cabeça em seu peito. Bocejou alto, caçou seus óculos em cima da cabeceira da cama e o os colocou.

- Bom dia, dorminhoco. – Disse com um sorriso maroto.

- Bom dia... – Soltou coçando os olhos com a mão que estava livre. - Tô morto, você me dá muito trabalho... – Disse fazendo eu corar levemente, me abraçou e beijou o topo da minha cabeça.

Uns segundos sem se falar, apenas olhando as peças do quarto e procurando o nada.

- Tá acordada a muito tempo?

- Não, acordei agora a pouco.

Mais silêncio.

- Como será hoje?

- Um dia normal, por que?

- Um dia normal? Tem certeza? – Voltei a olhá-lo. Sentei na cama ajeitando o lençol em cima de mim, segurando com uma das mãos. – Eu acho melhor a gente não-

- Olha, Mi, eu acho que a gente pode conviver com isso. - Voltei a olhá-lo, cheio de dúvidas. - Eu gosto de você, Mione, você deve saber disso. - Sentou-se ao meu lado e acariciou meu rosto. - É, eu tô cansado da palhaçada que a Gina está fazendo comigo,- - Abri um leve sorriso. - Vamos deixar acontecer o que tiver pra acontecer, Ok? Não vamos trocar as mãos pelas pernas.

- Concordo, mas eu acho que antes de a gente querer qualquer coisa, termina com ela. - Encarou os lenções. - Não quero me sentir uma vadia, ou alguma coisa do gênero. - Soltou um gemido e meneou com a cabeça.

- Você não é nada disso, Mione, mesmo não querendo admitir, a Gina que é a 'vadia' da história.

- Olha só, Senhor Potter, admitindo isso? - Brinquei e ele riu.

- Cansei de ser idiota. - Deu um sorriso maroto e levantou-se da cama enrolado em um dos lençóis. - Eu vou tomar um banho. - Foi até a porta. - Quer vir comigo? - Disse sarcasticamente.

- Estou bem aqui, pode ir.

- Você que sabe, não sabe o que está perdendo... - Eu ri e ele se foi.

Minha cabeça foi de encontro ao travesseiro e logo meus olhos se fecharam. Meus lábios estavam entreabertos, um pouco inchados e rosados, podia sentir pelo fogo que ali parecia estar. Respirei profundamente. Meu cabelo estava terrível, dava para perceber. Abri a cabeceira da cama e peguei um pequeno espelho com um cabo avantajado. Meus olhos estavam fundos e a maquiagem estava um pouco borrada.

Meu cabelo um pouco armado e desarrumado, minha boca estava realmente rosada e o resto do meu rosto pálido, mas um pálido sem vida que me deixou com uma aparência de uma boneca. Mas eu enxergava uma imagem de uma mulher, finalmente de uma mulher. Afinal, o que eu tinha me tornado?

Ele tinha namorada, ou melhor, ainda tem até a segunda ordem. Eu também tenho um namorado, mesmo que não dê muito interesse. Tinha um outro que dizia que me amava e eu ainda correspondia mas tinha medo, medo de alguém souber e pensar que eu pirei mesmo, que eu estava sem alguns parafusos. Tinha amigas que me ajudam mas sabem ser falsas quando é necessário – ou não. Nutri inimigos que só eu sei como é difícil você acordar e pensar: Hoje, vou esperar para ela dar um passo errado e eu tornar isso uma bola de neve que rolará para cavar sua própria sepultura. É involuntário, quando eu me pego pensando, já pensei.

Sentei-me na cama e comecei a me vestir. Peça por peça. Parei em frente ao espelho. Arrumei a alça da minha blusa e fechei o zíper da minha calça. Minhas mãos estacam tremendo de frio, meus dedos dos pés se encolhiam esperando uma meia mas estava um pouco desanimada para continuar a me vestir. Harry entrou no quarto com uma toalha no ombro e outra enrolada na cintura. Prendi meu cabelo e peguei uma jaqueta, estava tão comum, tão normal que era outra imagem refletida no espelho. Esperei Harry se trocar, estava sentada na cama olhando fixamente para a janela, vendo a neve cair. Senti ele se sentar na cama, sentou-se de costas para mim, quando vejo, estava com uma mão em meu rosto, o acariciando tão levemente que acabei fechando os olhos.

Segurei nas suas mãos e as beijei. Torceu sua posição e acabou deitando sua cabeça no meu colo. Me perdi naquele cabelo molhado e rebelde. Conversávamos sobre o tempo, sobre Ron, sobre qualquer coisa, como eu tinha lhe pedido antes de tudo isso acontecer. Tenho que aproveitar até quando durar.

Porque quando sair daqui, a magia acaba e meus sonhos voltam a se tornar pesadelos.

***


- CHEGAMOS! – Ouvimos de lá de baixo.

Tonks se jogou numa das poltronas da sala e fechou os olhos colocando as mãos no rosto.

- Sabe o que é ficar ouvindo aquela gente chata até agora?! – Perguntou fracamente mas muito aborrecida.

- Ficou porque quis. – Disse Lupin tirando sua gravata. Sentei-me no braço da sua poltrona e peguei nas suas mãos para acalmá-la.

- Moody tem sorte! É preferível ficar no hospital a ir naquele inferno!

- Não deve ter sido tão ruim assim. – Soltou Harry cruzando os braços na nossa frente.

- Imagina, Harry! Foi maravilhoso! – Sorriu falsamente com sua ironia. – Nunca mais... – Deitou a cabeça na minha perna.

- Harry, venha me ajudar com isso aqui! – Chamou Lupin de dentro da cozinha.

O moreno saiu num salto sorrindo para nós. A bruxa levantou a cabeça da minha perna no mesmo momento e pediu que eu sentasse no seu lugar quando se levantou. Ajoelhou-se a minha frente com os olhos brilhando, a maquiagem tinha feito um grande estrago no seu rosto. Precisava de um banho.

- Então? – Abri um leve sorriso.

- Então, o quê? – Deu tapa nas minhas pernas. – Tonks! – Adverti. – Tá, tá bom! – Sorriu largamente. - Foi maravilhoso... – Soltei rindo. Ela saiu de onde estava e me deu um forte abraço me chamando de bebê e de filha que nunca teve. – Eu tenho quase a sua idade, sua doida! – Me soltei.

- Depois você me conta os detalhes, eu tenho que tomar um banho. – Voltou a ficar em pé com dificuldade e resmungando do salto, subiu as escadas.

- Sonhe com os detalhes. – Disse ao pé da escada.

- Ai de você se não me contar... – Terminou de subir as escadas e sumiu no breu que fazia lá em cima. Harry voltou da cozinha ofegante, parou ao meu lado da escada e respirou fundo.

- Pra que Lupin te alugou? – Cruzei os braços e olhei para a porta da cozinha que estava fechada.

- Tonks pegou algumas frutas tropicais. Pra falar a verdade, trouxe umas cinco caixas. – Ri. Senti sua mão pegar uma mecha que estava caída sobre meu rosto e colocá-la atrás da minha orelha. – Você é linda.

- Pára, Harry... – Disse ainda rindo, ficando envergonhada.

- Estou falando sério. – Ficou a minha frente na escada, apoiado no corrimão. – Sempre te achei umas das garotas mais bonitas que conheci.

- Harry, está me deixando sem graça. – Coloquei uma das mãos no rosto tentando esconder minha timidez.

- Esse é meu objetivo. - Disse perto do meu ouvido.

- Seu doido! E se alguém nos ver? - Perguntei o afastando rapidamente e subindo as escadas.

- Ah, vá, Hermione! Eu sei que você e a Tonks tão de complô! - Disse subindo atrás de mim.

- Complô?! Lógico que não, Harry! - Disfarcei ao máximo.

- Tudo bem, eu irei fingir que acredito.

- É o melhor que faz. - Entramos no quarto.

Eu sentei na cama e a Harry fechou a porta. Ligou o rádio velho e tentou sintonizar numa rádio, qualquer um que não desse para ouvir os chiados. Virou-se para mim e pegou minha mão me erguendo. Colocou a outra em volta da minha cintura e colou nossos corpos. Eu ria, ele fazia cara de sedutor.

- Vamos dançar!

- Ah, não, Harry! Eu sou péssima! - Disse tentando me soltar.

- Eu estava lembrando do começo desse ano, quando você me levou para seu quarto e me tirou para dançar.

- Oh, meu Deus! Aquele dia não! - Disse ainda rindo tentando me soltar.


Entrelacei meus braços em seu pescoço, ficando na ponta de um pé. Ele parecia que não sabia onde colocar as mãos, então optou pelas minhas costas.

- Você tem que começar a sair comigo, Harry, vou levá-lo nos lugares mais legais que você possa imaginar!- Gritei. Depois do que aconteceu, saia quase todo o final de semana, sextas feiras e até no meio da semana com algumas amigas do bairro.

- Ah, quanta honra!- Brincou.

- Estou falando sério! Sair à noite, voltar apenas de madrugada, muitas vezes nem voltar para casa!- Ele arregalou aqueles dois olhos verdes.

- Você mudou mesmo!

- Não se surpreenda com tão pouco, você não viu nada...- Sussurrei com dois dedos de distância de sua boca.

- Parece que não...- Não consegui ouvir direito naquele momento, coloquei as duas mãos na sua nuca, entre seus cabelos. Começamos a dar alguns passos para trás.- Sabe, Gina não irá gostar disso.- Serrei as sobrancelhas.

- O que ela tem a ver com isso?- Perguntei quase roçando seus lábios nos seus.

- Ela é minha namorada.- Fiquei muda, comecei a me afastar lentamente, enrosquei meus pés no fio do telefone e fui ao chão, e ele nem para me segurar.



- Vamos dizer que eu melhorei um pouquinho. - Sussurrou no meu ouvindo enquanto me conduzia.

- Hm, quanta honra. - Coloquei as duas mãos em volta de seu pescoço e encarei seus olhos. - Não terá nenhuma revelação bombástica, não é mesmo? - Negou. - Ótimo! - Colei meus lábios no seu e deixei a música nos levar.

***


Aquela claridade estava para matar qualquer um. Passei uma das mãos no rosto e levantei a cabeça do ombro de Harry.

Já tinha se passado três dias.

Sim, os três dias mais felizes da minha vida. Harry me tratava como uma princesa, dizia coisas bonitas, dizia que quando saísse de lá, iria conversar com a Gina, ia colocar tudo em pratos limpos, mas não prometeu se iria ou não ficar comigo, mas era claro que sim. Ele não terminaria com a namorada para ficar sozinho no final das contas. Tentei me levantar dos braços dele mas Harry me segurava, fingia estar dormindo.

- Me solta, eu quero tomar um banho porque daqui a pouco o Ron vai chegar. - Disse bocejando.

- Ah, fica mais um pouquinho, vai... - Voltou a me deitar na cama e conseguiu ficar em cima de mim.

- Está sendo os meus melhores dias. - Sorriu.

- Os meus também. - Deu um beijinho na ponta do meu nariz e começou a me fazer cócegas.

- Harry, Hermione! Gente, che- - Alguém adentrou o quarto, minha reação foi de sair daquela cama o mais rápido possível mas não deu tempo. - O que está acontecendo aqui? - Perguntou ficando da cor das suas orelhas. Harry saiu de cima de mim, pegou seus óculos e saltou da cama.

- Ron, não é isso que você está pensando... – Comecei a dizer. Ele ficou mudo, encarando o chão e depois a gente. – Rony, fala comigo! – Também tinha me levantado.

- Eu- – Disse engolindo toda aquela raiva, piscou algumas vezes e começou a voltar até a porta. – eu não quero saber de nada, tudo bem? Nada. – Saiu do quarto num tiro.

Harry e eu tínhamos trocados olhares preocupados.

- Deixa que eu falo com ele. – Harry saiu como o amigo, chamando pelo seu nome.

Ajeitei a alça da minha blusa em cima do meu ombro direito e sentei nos pés da cama, colocando as duas mãos no rosto.

***


Fechei o zíper da minha jaqueta podendo ouvir alguns gritos de algum quarto. Tonks entrou no quarto dando duas batidas na porta.

- O que deu neles? – Perguntou apontando para fora.

- Adivinha?! – Ironizei sem paciência. Contornei meu olho quase o ferindo. – Ron me viu dormindo com o Harry e está tirando as piores conclusões! – Suspirei.

- Lógico que ia tirar as piores conclusões! Ele não é burro, ele já tinha notado. – Cruzou os braços e parou atrás de mim naquele espelho. – E agora? O que vocês irão fazer? - Fiquei em silêncio, meus olhos lacrimejaram. Sentei-me na cama trazendo Tonks comigo.

- Eu estava conseguindo me entender com o Harry, Tonks. Finalmente eu estava conseguindo! - Peguei nas suas duas mãos. - Você entende, não é?

- Lógico que sim, vocês estavam super bem esses dias, dava para notar.

- E agora, tudo está acabado. - Levantei-me cruzando os braços e olhando para fora.

- Calma, é o ruivo, ele é seu melhor amigo, Mione, ele é-

- Irmão da Gina, namorada do Harry. - Tonks se calou. - Mesmo que ele ache que a irmã dele é uma vadia, ainda é a irmã dele. Pelos gritos que estão dando, não devem estar se entendendo. Eu- - Senti uma tontura e Tonks me ajudou para que eu não caisse no chão.

- Você tomou seus remédios? – Perguntou Tonks me escorando até a cama.

- Ando esquecendo... – Massageei as têmporas com os olhos fechados.

- Não quero ver você doente.

- Está falando como minha mãe, não tente imitá-la. – Soltei grosseiramente. – Me desculpe... – Tonks se ergueu e suspirou vencida.

- Faça como você quiser. – Saiu do quarto, não estava com raiva, só um pouco aborrecida e chateada. Estava querendo apenas meu bem e eu sempre com as sete pedras na mão.

Não sei o que acontecia comigo quando me sentia na defensiva, quando me sentia um pouco pressionada por todos. Eu pareço incorporar outra pessoa, a resposta vem automaticamente a minha boca, pronta e explosiva. Quantas vezes já tive as brigas mais inúteis com as meninas?! Difícil para parar e contar. Sempre tinha uma desculpa como: é, estou estressada com tudo isso que está acontecendo, ou, mau humor matinal, acordei do lado errado da cama.

Eram compreensivas. Mas eu sei que não posso sair retrucando tudo que me falam. Prometo reduzir isso a zero, tenho que ser mais calma.

Terapeutas dizem que é a pressão, tudo culpa da pressão, exclusivamente e incondicionalmente culpa da pressão. Quando você passa por uma experiência totalmente traumática – como eu – você procura não deixar se abalar de novo então, solta essas barbaridades sem pensar. Salve os terapeutas.

Desci as escadas sem nenhum sinal de Ron, Harry ou Tonks. Mais uma vez, sozinha naquela casa sombria. Lupin deveria estar no escritório, trancafiado fazendo anotações e relatórios. Sentei-me de novo naquele encosto da janela, na mesma almofada roxa rala.

Esperava a briga estourar. Esse silêncio me deixava ainda mais apreensiva. Todos se calaram, nada mais aconteceu. Lupin passou por lá e nem deve ter me visto, estava preocupado com várias coisas melhores do que a vida social de três adolescentes.

Fiquei ali tempo suficiente. Como não vi mais ninguém, subi as escadas a procura de alguém. Ao entrar no quarto, Harry escondeu algo de mim no mesmo momento. Estava com a cabeça tão avoada que nem quis questioná-lo, enfiou uma coisa no bolso e tentou disfarçar procurando algo em seu malão. Estava com uma expressão estranha, seu peito subia e descia constantes vezes.

- E o Ron? – Foi a única coisa que perguntei, a única coisa que queria saber. Não me respondeu, e com razão, creio eu.

- Hermione, me deixa um pouco sozinho. - Fiquei muda.

- Esse problemas temos que resolver os dois juntos, Harry.

- Eu sei disso. - Virou-se para mim e depois foi até a porta a abrindo. - Se me der licença... - Me tratou de um jeito muito estranho, muito diferente de antes.

Eu respeitei sua vontade, passei para fora e logo ele fechou a porta atrás de mim. Eu devia ter questionado, eu devia ter feito alguma coisa! Vi um vulto indo de um quarto para o outro e logo deduzi que seria Ron. Chamei pelo seu nome eo segui. Ron estava descendo as escadas, indo até seu quarto lá em baixo.

- Olha, Hermione, eu não estou com cabeça para nada, Ok?! - Disse rudemente entrando em seu quarto.

- E você acha que eu estou?! Você acha que eu estou como, Ron? Rindo à toa?! - O ruivo pegou sua coruja, lhe deu uma carta e a liberou. - Pra quem é essa carta?

- Relaxa, Hermione, não é para minha querida irmã. Eu não irei fazer a sua caveira para ela, mesmo que eu não precise.

- Eu sei que você está confuso, que você está tentando olhar os dois lados, Harry e eu somos seus melhores amigos e nós-

- Não precisa se explicar, Harry me contou tudo. - Arregalei os dois olhos.

- Tudo? - Balbuciei.

- Tudo, Hermione, tudo que aconteceu. Ele só não contou os detalhes porque eu não deixei.

Pois é, eu definitivamente não posso confiar no Harry.


 Rihanna - Take A Bow




How about a round of applause
Que tal uma salva de aplausos

A standing ovation
Uma ovação de pé



- Eu sei o que está sentindo, Ron.

- Ah, sabe? Sabe como é se sentir traído pelos seus melhores amigos?! GINA É MINHA IRMÃ, HERMIONE! HARRY É MEU MELHOR AMIGO! EU SEI QUE ELA NÃO PRESTA MAS ELA NÃO MERECE ISSO! VOCÊS SÃO MELHORES AMIGOS!

Eu fiquei muda, olhando os próprios dedos.

- Eu já estava desconfiando! Eu já sabia! Era muito bom pra vocês! Eu viajo, Tonks e Lupin viajam... Vocês só estavam procurando a oportunidade.

- Não é verdade, Ron! O que aconteceu foi inconseqüente! A gente não estava planejando isso!

- Ah, claro...! Eu irei fingir que é verdade, Hermione, Ok?! - Bufou. - O Harry me traiu, Hermione, me traiu! Eramos melhores amigos! - Meus olhos voltaram crescer.

- Eram?

- Depois do que aconteceu, eu não vou poder olhar para ele do mesmo jeito, Hermione, isso é fato.

Meu Deus, o que eu fiz?!

- Isso seria de mais pra ele, Ron, não faça isso! Não deixe isso cobrir a amizade de vocês! Pense bem no que você está fazendo! - Meus olhos se enxeram de lágrimas.

- Não sei porque está se preocupando, Hermione, você não tem nada a ver com isso.

Bom, eu só sei que pior do que está não dá pra ficar.

- Fui eu que seduzi o Harry, Ron. - O ruivo ergueu a cabeça lentamente e depois de encarou longamente.

- ... Como disse?

- Isso mesmo que você escutou, eu seduzi o Harry. - Deu uma risada estranha, ainda irritado.

- Por favor, Hermione! Menos, Ok? - Riu mais um pouco. - Essa é a pior desculpa que você poderia dar nesse momento.

- Mas eu estou falando a verdade, Ron! Eu seduzi o Harry pra transar comigo! Eu queria que minha primeira vez fosse com ele, eu não estava mais agüentando!

Quanta bobagem...

- Hermione, é melhor você ficar quieta, Ok?

- Tudo bem, Ron, se você não quiser acreditar, problema teu! Eu só vou te dizer uma coisa: - -Cheguei a encarar seus olhos de perto. - O Harry é o melhor amigo que você pode sonhar a ter, não deixe qualquer vagabunda como eu estragar, Ok?

Deixei as lágrimas escorrerem. Ron estava estático. Você tem noção do que você disse, garota?! Você se rebaixou! Você se humilhou...

Dei as costas e sai daquele quarto batendo a porta com a maior força possível. Perto da escada, Harry estava com os braços cruzados numa expressão séria e preocupada.

- Você ouviu tudo, não é? - Perguntei com um degrau de diferença dele. - Está satisfeito? - Deixava as lágrimas caírem, caírem sem nenhum pudor.

- A gente precisa conversar.

- Sério?! Eu acho que não, Harry. - Subi as escadas mas ele me impediu. - Me solta!


You look so dumb right now
Você parece tão bobo agora

Standing outside my house
Parado do lado de fora da minha casa

Trying to apologize
Tentando se desculpar

You're so ugly when you cry
Você fica tão feio quando chora

Please, just cut it out
Por favor, pare com isso


Subiu as escadas me levando junto. Entrou no quarto comigo e fechou a porta atrás de mim.

- Será que você precisava contar tudo ao Ron?! - Quase gritei jpa com as lágrimas contidas. Agora, a tristeza deu lugar a raiva.

- O Ron só está estressado agora, depois ele melhora, você não precisava dizer aquelas coisas à ele.

- Ah, não?! Mas no fundo não é isso que você acha de mim, Harry? - Aproximei dele erguendo uma sobrancelha. - Uma vagabunda?

- Eu nunca disse isso, Hermione, eu nunca pensei isso! - Disse visivelmente estressado.

Suspirei, dei as costas para ele e encarei todo aquele quarto. Aquelas imagens deviam ser apagadas do meu cérebro.

- Foi um erro. Foi um grande erro! – Cruzei os braços e andei pelo quarto.

- Um grande erro? – Quebrou um silêncio de meio minuto. - Eu não achei que foi um grande erro.

- Ah, não? Me esqueci, para vocês, 'homens', a primeira vez não precisa ser perfeita! – Pude ver pelo reflexo do espelho que seus olhos cresceram para cima de mim. – Sabe que sempre tem outra pra compensar, não é? Não precisa ser com a deusa que sempre sonhou, dane-se, não é assim?! – Coloquei uma mão na boca e solucei mais.

- Primeira- - Engoliu. – vez? Você era-

- Era, Harry. Dane-se agora, não é? Já está tudo feito! – Me virei deixando as lágrimas escorrerem livremente. – E eu sei que quando sairmos daqui, ou muda tudo, ou muda nada. – Estava certa.

Se Ron contar, nem eu, nem Harry teremos mais namorados, seremos alvo de muitas piadinhas e o ódio crescerá a ponto de fazerem loucuras. Se Ron não contar, nada mudará. Cada um para um lado, com sua vida. O que eu devo fazer?

- O que você prefere? - Eu dei uma risada gostosa.

- Não deixe nas minhas mãos. – Enxuguei o rosto. – Você não irá ficar comigo mesmo, eu sei como é! Você quer a sua antiga Hermione e isso eu não posso te dar.

Doía dizer cada palavra.

- Posso te dar um belo corpo, uma mente de fácil manipulação e um coração um pouco besta. – De boba, ri. - O que mais me assusta em tudo isso é que- - Ri colocando as duas mãos no rosto. – eu não me sinto culpada nenhum momento...

- Não? – Estava aborrecido e muito sério, me encarando com frieza.

- Não. Você é o cara que eu sonhei mesmo! – Ri mais uma vez. – Você era o cara que eu sempre sonhei que fosse minha primeira vez mesmo que fosse esse pós fracasso que está sendo. Aquilo que eu disse no quarto, para o Ron, tem suas verdades. – Ainda me olhava daquele modo. – Ficamos assim? Você continua com a Gina, eu continuo com o McLaggen. O que eu tenho a perder, agora?!


Don't tell me you're sorry cuz you're not
Não me diga que está arrependido, porque não está

Baby when I know you're only sorry you got caught
Baby, quando eu sei que você só está arrependido porque foi descoberto

But you put on quite a show
Mas você dá mesmo um show

You really had me going
Você realmente tinha me enganado

But now it's time to go
Mas agora é hora de ir

Curtain's finally closing
A cortina está finalmente fechando

That was quite a show
Aquilo foi um belo show

Very entertaining
Muito divertido

But it's over now
Mas acabou agora

Go on and take a bow
Continue e curve-se em agradecimento



Harry respirou fundo e encarou o chão enfiando as duas mãos no bolso da calça jeans. Como estava se sentindo? Queria saber, era uma dúvida que me deixava perturbada.

- Pra você parece que só será uma noite e mais nada. – Abri um sorriso maroto enganchando meus dedos nos bolsos de trás da minha calça.

- E não será? – Negou com a cabeça tirando meu sorriso. – Lógico que será! Temos vidas totalmente diferentes! Mundos que não se comparam! – Aproximou-se lentamente de mim. Meu coração deu um pulo assim como Bichento em cima da cama, descendo para o chão.

- Essa noite eu tive certeza- – Ergueu sua mão até meu rosto e o alisou, lentamente. Por impulso, meus olhos se fecharam. Não acredito que ele irá dizer isso, não. Esperei durante tanto tempo!

É como um sonho se realizando, como se eu acabasse de sair do meu inferno astral e encontrasse a paz, a bonança. Era como uma mágica sem fim. Meu coração se acalmou e minha mente procurou ficar em ordem. O momento tão desejado na minha vida tinha chegado. Pare de ficar fantasiando de mais, Hermione, e ouça o que ele tem a dizer antes que...

- De que- - Continuou com os leves toques, pegou em uma das minhas mãos e entrelaçou seus dedos nos meus. – a falta que você me fez só aumentou ainda mais- - Ah, me segurem. – nossa amizade.

Minha vida acabou de mudar totalmente com uma merda de uma frase que preferia não ter ouvido. Ele não disse isso. Amizade. Ele me considera depois de tudo isso que passamos, depois de eu me declarar para ele, uma amiga. Uma boa amiga.

- Isso que aconteceu foi uma-


Grab your clothes and get gone
Pegue suas roupas e caia fora

You better hurry up, before the sprinklers come on
Melhor você se apressar, antes que os borrifadores funcionem

Talkin' about, girl, I love you, you're the one
Falando sobre, garota, eu te amo, você é a única

This just looks like a re-run
Isto mais parece uma reprise

Please, what else is on
Por Favor, o que mais está passando?



- Não termina. – Deixei uma lágrima escorrer abrindo os olhos. – Nunca tive uma decepção que me magoasse tanto... – Comecei a chorar novamente, mas agora era de dor, era uma dor profunda. – eu não posso acreditar... DEPOIS DE TUDO ISSO, EU SOU APENAS SUA AMIGA?! – Me olhou como se não se arrependesse do que estava acontecendo.

- Não é o melhor momento para ficarmos juntos, Hermione.

- NÃO?! ENTÃO, TUDO QUE ACONTECEU, ESQUECE, ESQUECE QUE UM DIA VOCÊ NUNCA MAIS VAI LEMBRAR! SEREI APENAS MAIS UMA ENTRE TANTAS QUE JÁ PASSOU PELA SUA MÃO, HARRY POTTER! – O empurrei e fui até a porta.

- Eu ainda não acabei de falar. – Pegou com brutalidade no meu braço. Assustou-me e me deixou na defensiva de novo, se controle, por favor.

- Mas eu não quero te ouvir. – Soltei em desprezo, olhando aqueles olhos verdes, desejando todo o mal. – Não quero saber das suas histórias, me solta.

- Não posso ficar com você, Hermione, eu- - Me soltou lentamente e me olhou com tristeza. – eu não posso.

- Por que você não pode? Um motivo maior chamado Gina te impede? E daí? Seu amiguinho não vai estragar com sua vida mesmo?!

- Não posso te contar, Hermione! Não insista! – Gritou.

- Não pode? Ah, é assim: eu tenho segredos, você também tem segredos! Então, vamos ficar enganando um ao outro até quando um se cansar! – Ironizei deixando as lágrimas soltas, percorrendo meu rosto e indo parar no chão.

- Hermione, me entenda...

- Me entenda você! – Abri os braços. – Acorda, Harry! Não dá pra continuar assim!

- Eu não quero continuar nada. – Me interrompeu grosseiramente. A voz começou a não sair e o meu coração a não querer bater novamente. – Nada, se for preciso isso para você se afastar de mim... – Ofeguei em lágrimas. Harry engoliu e mirou seu olhar em outro canto. Mergulhei minha mente no mais profundo desgosto. – Um dia, você vai entender. – Soltou friamente.


Don't tell me you're sorry cuz you're not
Não me diga que está arrependido, porque não está

Baby when I know you're only sorry you got caught
Baby, quando eu sei que você só está arrependido porque foi descoberto

But you put on quite a show
Mas você dá mesmo um show

You really had me going
Você realmente tinha me enganado

But now it's time to go
Mas agora é hora de ir

Curtain's finally closing
A cortina está finalmente fechando

That was quite a show
Aquilo foi um belo show

Very entertaining
Muito divertido

But it's over now
Mas acabou agora

Go on and take a bow
Continue e curve-se em agradecimento



Meu olhar subiu até ele e depois saiu do quarto levando meu corpo. Necessitava sair dali, não conseguia mais ficar naquele quarto, me sentia totalmente sufocada. Desci as escadas ainda chorando muito, esbarrei em Tonks que pediu que eu parasse e se acalmasse, mas não a escutei. Passei e fui até uma das salas que ficavam lá em baixo. Era terrível a sensação de ser uma ignorante, uma burra.

Não. Se decepcionar uma vez, a gente aprende, mas duas e com a mesma pessoa é masoquismo. Eu não dou uma dentro, não é possível. Não é possível, não é possível. Tanta coisa que acontece comigo que não duvido de mais nada. É tão-

Não tem palavras pra descrever tal sofrimento. Joguei-me no chão, em cima de um tapete sujo. Era uma pequena sala onde ficavam alguns brasões e a prataria. Coloquei as duas mãos no peito e me pus chorar novamente. Parecia uma criança que perdeu seu doce. Sou uma criança que ainda não amadureci e aprendi tudo que a vida lhe ensinou. Sou uma idiota!


And the award for the best lie goes to you
E o prêmio para melhor mentira vai para você

For make it me believe that you could be
Por me fazer acreditar que você poderia

Faithful to me
Ser fiel a mim

And here you speech out
E aqui você faz um discurso

How about a round of applause
Que tal uma salva de palmas?

A standing ovation
Uma ovação de pé



***


- Você não pode ir assim! – Pediu pela terceira vez, Tonks. Estava enfiando todas as minhas coisas dentro do meu malão. Estava abatida, fraca e com orelhas terríveis. – Hermione, me escuta. – Pegou no meu braço.

- Não vou ficar aqui. – Me soltei e fui até a outra cama terminar de pegar minhas coisas. – Vou ficar na minha casa e- - Suspirei e fechei o malão com força. – depois eu volto para Hogwarts. São só dois dias mesmo...

- Harry deve ter uma boa explicação para tudo isso! – Tentou me impedir.

- Não, ele não tem. – Fui concisa. – Não pode me contar, força maior. – Engoli o choro que voltava a me atormentar.

- Você não vai embora, eu não irei deixar. – Se pôs a minha frente, já estava arrastando meu malão e Bichento já estava na sua gaiola.

- Tonks, sai da minha frente. – Pedi com calma.

- Não! Você está de cabeça quente e pode fazer uma besteira!

- Tonks, estou avisando mais uma vez: sai da minha frente. – Dei ênfase a condição para que logo obedecesse.

- Hermione, eu posso ser engraçada, despojada, mas agora estou falando sério: você fica. – Estava mesmo num semblante sério e de pessoa adulta onde adota poucas vezes.

- Sai, antes que eu faça isso por você. – Já ia colocando a mão dentro do sobretudo para sacar minha varinha mais uma mão pousou em cima do ombro de Tonks.

- Deixa ela ir. – Indagou Harry fazendo uma força memorável para tirar Tonks do meu caminho.


But you put on quite a show
Mas você dá mesmo um show

You really had me going
Você realmente tinha me enganado

But now it's time to go
Mas agora é hora de ir

Curtain's finally closing
A cortina está finalmente fechando

That was quite a show
Aquilo foi um belo show

Very entertaining
Muito divertido

But it's over now
Mas acabou agora

Go on and take a bow
Continue e curve-se em agradecimento

But it's over now
Mas acabou agora



A mulher me olhava com um olhar tão preocupado que até me comoveu. Harry não me olhava, assim como eu não olhava para ele. Deixei uma lágrima cair e comecei a pegar o caminho para fora da casa. Meu malão fez um barulho que estarreceu os ouvidos de Lupin que surgiu para ver o que estava acontecendo.

- Aonde você vai? – Perguntou tirando seus óculos de leitura.

- Para casa. – Soltei um pouco vitoriosa. – Eu embarco no dia para Hogwarts, não se preocupem. – Fui até a porta até ouvir meu nome novamente, Tonks que descia as escadas atropelando Harry.

- Você tem que abrir pelo menos. – Jogou um olhar significativo sobre mim.

Mais alguns minutos, só alguns minutos.

***


- Pronto. – Guardei minha varinha. Tonks pegou o colar de dentro da caixinha e o olhou fixamente até Lupin tirar de seu poder. – O que irão fazer com isso? – Lupin guardou numa caixinha especial, longe dos olhares dos outros.

- Iremos investigar. – Respondeu. Estava um pouco mais aliviada.

- Vou levar a caixa. – A peguei e joguei dentro da minha mochila que levava num dos ombros.

- Hermione, você deveria ficar.

- Você pede porque não foi para você que ele falou tudo aquilo. – Me senti ainda mais triste e magoada. As palavras de Harry entravam na minha cabeça numa repetição tão profunda que me deixava ainda mais atordoada. – Obrigada pelos dias... Foram ótimos. – Peguei meu malão e sai da sala, não esperei mais ninguém e sai da casa. Mas, para minha infelicidade, mais uma vez me chamam. Era Ron, surgiu de dentro da casa com as orelhas vermelhas e tremendo de frio.

- Você não pode ir, eu- - Gaguejou. – eu não vou falar nada para a Gina, eu disse aquilo pro Harry porque eu- - Seus olhos começaram a se banhar de lágrimas como os meus. – estava de cabeça quente! Não sou a favor do que vocês fizeram mas-

- Fico um pouco mais feliz, mas, Ron, esquece. Harry me disse coisas que não desejaria nem para meu inimigo... – Dei as costas e desci os degraus.

- Eu não te acho uma vagabunda, Hermione, eu te acho uma pessoa determinada que corre atrás dos seus sonhos! - Acho que foi a melhor coisa que o Ron me disse em sete anos de amizade. - Fica, Hermione. – Pediu mais uma vez. Parei, respirei fundo, pensei, pensei.

Pensei tanto que me imaginei num sanatório com tantos problemas. Continuei andando. Estava chorando, chorando até de mais. Andei pelo meio da rua, andei sem um rumo certo.

Maldito sapato que estava acabando com meus pés. Louca eu de estar de salto alto nesse frio e no meio da rua. Sabia onde estava, era só pegar um ônibus trouxa e já estaria em casa. Depende, se eu quisesse ir para a casa da minha tia, só aparatando para chegar antes de anoitecer, irei para minha casa.

Ainda tinha as chaves, não me desfiz delas por nada. Primeira vez que entraria lá depois de tanto tempo, depois de mais de um ano. Não tive coragem de pisar naqueles carpetes, não tive coragem de olhar os porta retratos e os móveis.

***


Andei apenas mais três casas. Nada tinha mudado. Era quase quatro horas da tarde quando finalmente avistei minha casa. Que aperto dava aqui dentro. Poderia estar ficando a pessoa mais emocional do mundo mais pelo simples fato de vez as flores da mamãe secas e cobertas por uma fina camada de gelo, deixei as lágrimas cair. Ela gostava tanto, era praticamente uma amante da flora. A grama estava mais alta do que a neve, papai ia odiar. A casa estava realmente com aspecto de fechada. Peguei o caminho para subir aqueles degraus e adentrar no sofrimento mais um pouco.

As chaves rodaram e a porta se abriu. O mesmo rangido, mas não tinha o mesmo cheiro. Botei meu malão para dentro e deixei Bichento livre. Tirei as luvas e os sapatos, o jogando num canto. Abracei os próprios braços. Havia poucos móveis, apenas sofás e as estantes vazias. Não tinha mais luz elétrica e nem água, eu me virava. A sala de jantar estava apenas com o grande lustre central os armários. A mesa fazia uma falta sem tamanho, passava horas estudado ali. A sala de estar estava com os sofás cobertos por um lençol, a sombra de onde ficava a televisão e o carpete enrolado num canto.

A cozinha – a casa para minha mãe – só com os armários e a geladeira, nem o fogão ficou. Subi as escadas em passos lentos, não tinha mais aquele tapete com as pregas que sempre soltavam. O corredor dos quartos estava o mais escuro. Primeiro o de hospedes que não tinha nada, depois o meu que também estava vazio. Depois o escritório do meu pai, estava apenas com as estantes dos livros e a mesa que ele sentada coberta por um pano. Parei em frente o quarto deles, encostei a maçaneta e fechei os olhos.

Não. Ainda não. Voltei para baixo. Sinceramente, não dava para ficar ali. Não tinha nada, nem uma cama! Mas onde irei ficar? Não volto para a Ordem. Para ir para o Caldeirão Furado, compensa mais ir para a casa da minha tia. Sentei no chão e coloquei minhas sandálias. Chamei por Bichento que não veio. Foi atrás dele por toda a casa, chamando pelo seu nome. Ao entrar na cozinha, lá estava ele arranhando a porta para o jardim.

- Seu gato safado... – Soltei o pegando no colo. Ergui a pequena cortina que tinha na porta e vi que o jardim estava o mesmo só que coberto por neve. Abri um leve sorriso e voltei para a entrada, enfiei o gato na gaiola e peguei minha varinha. – Vamos lá, Hermione, você já tem dezessete anos e foi muito bem nos testes de aparatação! Então, você é capaz de ir até a casa da sua tia. – Fechei os olhos e engoli seco, abri um deles e dei uma última olhada na casa. Não consegui, senti pena de deixá-la assim. Abri os dois e me sentei no malão. Mais alguns minutos, isso não irá matar ninguém.

***


- Tia? Tá em casa? – Entrei a chamando. Até que aparatei com sucesso, só sai um pouco do curso parando a dois quarteirões mas estou bem. – Tia? – Estava quentinho lá dentro, meus pés pediam trégua. Tirei minha sandália e corri até a cozinha, podia estar lá ou no quarto, duas opções. – TIA? – Chamei mais uma vez.

- QUARTO! – Ouvi de lá de cima. Abri um leve sorriso e subi as escadas correndo. Quase arrombei sua porta num sorriso de orelha a orelha que se transformou num grito quando a vi com uma mascará facial verde.

- Não me assusta! – Levei a mão ao peito. Ela me deu um abraço tento um ataque de histeria, pegou no meu rosto e me deu um beijo na testa.

- Como está minha sobrinha? – Estava emocionada.

- Bem... – Soltei mentindo de todas as formas possíveis.

***


- Por isso que você veio para cá? – Perguntou lavando seu rosto. Estava sentada na sua cama vendo algumas revistas que também se encontravam lá. – E você falou tudo isso pra ele?

- Ele não devia- - Não contei absolutamente TUDO a ela, certas coisas são bem pessoais. – Olha, não sei como vou fazer para esquecê-lo... – Olhei para os dedos e deixei as lágrimas rolarem.

- E não pode esquecê-lo! Ele disse que não pode ficar com você agora, mas não disse daqui a um tempo. – Apareceu no quarto secando o rosto com uma toalha macia. – Ele deve estar confuso.

- Confuso? – Ergui uma das minhas sobrancelhas como se fosse o obvio. – Harry não está confuso, ele foi bem exato quando disse que não queria mais NADA comigo.

- Entendo... – Sentou-se ao meu lado. – Mas não fique sofrendo por ele, OK? Você tem a sua vida e ele também tem a dele, dê tempo-

- Ao tempo. – Completei a frase rindo junto com minha tia, agora, minha família.

- Não sabe o guarda roupa que comprei pra você! – A olhei confusa novamente.

- Pra que eu vou querer um guarda roupa novo? – Levantou-se e me levou até meu quarto que estava como eu o deixei.

- Vamos, abra. – Parou em frente do novíssimo guarda roupa. Uma relíquia velha que não sabia de onde tinha saído. – Vamos! – Rolei os olhos e o abri. Tinha roupas que nunca tinha visto na minha vida, tinha as mais lindas roupas, coisas que eu nunca imaginei. – Como eu não sabia o que te dar de aniversario de dezessete anos, comprei um guarda roupa novo! – Peguei as peças, uma mais linda do que a outra, não me canso de falar. Meus olhos cresceram para cada vestido, blusa, jaqueta, calça, bolsa. Era perfeito.

- Ah, meu Deus! Tia, é maravilhoso! – Pulei em seu pescoço. – Muito obrigada! – Levei as duas mãos ao rosto novamente olhando para toda aquela maravilha.

- Quero que volte ainda melhor para sua escola, querida. – Abri um sorriso malicioso pegando um vestido curto tom vinho, coloquei na minha frente e me olhei no espelho.

- Pode deixar, tia. Irei ficar ainda melhor.


 Carlo Dallanese feat Fabio Castro - Monday



Com essa promessa a minha tia e a mim mesma, irei levando esse resto de ano que ainda tenho na escola de magia e bruxaria de Hogwarts. As coisas serão completamente diferentes.

Esse meio ao que se passou, conseguiu prova uma Hogwarts diferente, com novos desafios, com novas histórias, novas coisas a serem descobertas. Vi que estudos são apenas um dos tanto ingredientes que completam aquele ciclo. Mudei a minha visão de viver, comecei a enxergar as coisas com mais clareza. Vi que o certo pode ser o difícil e que o errado por ser o cômodo. Provei do meu próprio veneno, testei para ver até onde minha fúria ia. Testei até aonde a paciência das pessoas chegaria.

Nós vivemos sem ter a certeza do dia de amanhã, vivemos com a espectativa que nossos planos dêem certo, que nossos sonhos se realizem, que nossos amores sejam correspondidos, quando isso não acontece, nos vimos acuados num canto e só pensamos o quanto fomos ignorantes para deixarmos chegar a essa situação.

Eu sei que essa noite é o começo para uma nova história. A dor de tentar esquecer do passado. O alívio de ainda ter muito tempo para desfrutar a vida. A certeza que lutarei o máximo apenas para ser feliz, aqueles que se incomodam, me deixe apenas viver.

Ida Scott Taylor escreveu uma vez, "Nunca olhe pra trás e lamente o passado, por não existir mais. E não se aflija porque o futuro ainda está por vir. Viva o presente, e o torne tão bonito que valerá a pena ser relembrado."


Por mais que eu fique aqui dizendo coisas bonitas e profundas, a única coisa que eu quero que vocês saibam, é que eu Cansei de Ser a Mesma.


Continua.



- VALEEEU GALERA ;D
Até a Segunda Temporada !

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