CAPÍTULO 1




1



“Eu procuro um amor
que ainda não encontrei
diferente de todos que amei

Nos seus olhos quero descobrir
uma razão para viver
e as feridas dessa vida
eu quero esquecer”
(Barão vermelho – Segredos)


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Vocês não acham terrivelmente estranha a capacidade que temos em nos apaixonar? Sim, terrivelmente era exatamente o que eu queria dizer. Terrivelmente estranha essa capacidade que temos em nos apaixonar por qualquer um. Afinal, tudo o que eu queria era poder escolher.
Mas como não podemos, isso faz com que se apaixonar se torne terrivelmente estranho. Vocês devem estar me achando uma maluca, mas acho que não comecei do início. Meio redundante? É, eu sei! Eu sou uma grande redundância.

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Eu já estava atrasada quinze minutos e estava saindo agora do banho. É realmente muito inconveniente dar de cara com um rosto na sua lareira quando se está enrolada numa toalha e com uma touca na cabeça. Principalmente se esse rosto que apareceu na lareira for do seu chefe.

-Gina, você tem noção que está atrasada 15 minutos?

Toma, Gina! É isso que dá ter o presidente da empresa como chefe. Ele acha que manda em tudo. Aquele filhinho de papai... Acha até que pode se comunicar comigo pela lareira sem me perguntar antes se tem permissão.

-Eu... já tô chegando! Eu coloco uma roupa e aparato em 10 minutos.
-Ai de você se chegar aqui com alguma roupa amassada ou que não esteja profissionalmente apresentável. Esse é seu segundo atraso na semana. E hoje ainda é quarta feira. Ah, depois eu descubro se já está na casa das centenas em seus atrasos mensais. O que ainda está fazendo aí parada?
-Desculpa. – disse correndo.

É lógico que eu tive que tropeçar em algo, ou pelo menos me machucar num caminho de menos de 2 metros. É, meu apartamento só tem uns 4 metros quadrados. E nesses dois metros que percorri, eu bati meu dedinho do pé na quina da parede, então fiquei pulando de um pé só enquanto tentava ver o estrago. Minha toalha caiu e o vizinho tarado pode me ver de relance, até eu correr mancando para o quarto, onde as cortinas estavam felizmente fechadas.
Abri o armário, vesti minha calça preta e não achei nenhuma blusa limpa no meu monte de roupas para trabalhar.
Saí correndo do quarto de sutiã e agora o velho está com um binóculo na janela. Ótimo! Ah, dane-se eu tô de sutiã.
Nada no cesto de roupa para passar!
Passei pela sala correndo para olhar na varanda.
Nada no varal tampouco!!
Voltei correndo para o quarto e calcei logo os sapatos. Isso ta doendo pra valer! E também fui pegar minha bolsa, que não estava onde deveria.
Voltei apressada para a sala e percebi que o vizinho tarado agora estava com uma luneta. Olhei em volta e embaixo das almofadas. Afastei o sofá, mas só tinha lá atrás um vidro vazio de molho para panqueca, um nuque e uma pena. Entrei na cozinha pisando nas pontas dos pés para não sujar meu único sapato engraxado. Ah, o que é aquilo marrom em cima da mesa? Dentro da travessa de mingau de aveia. Minha bolsa? Maravilhosamente ótimo!!!
Certo, eu ainda to de sutiã? Pense, pense!
Como não pensei nisso antes? Passei derrapando no tapete no meio do corredor e entrei no quarto puxando a primeira gaveta do guarda roupa. Achei uma blusa no meio das minhas calcinhas. Está um pouco amarrotada, mas depois eu me entendo com o senhor Buckman.
Meu cabelo!!!
Voltei para a sala atrás da escova. Olhei de relance para a janela do vizinho tarado e não posso acreditar! Agora ele está com uma luneta ainda maior. O que ele pretende ver? No mínimo através da renda do meu sutiã.
Ei, eu sou uma bruxa. Qual é mesmo o feitiço para arrumar cabelo?
Ah, que se dane, passei os dedos entre os cabelos, vesti a blusa e aparatei na frente do prédio.

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Agora vocês devem estar pensando, onde esta doida deve trabalhar?
Bom, esta louca, trabalha na TeenMagic. Sim, uma revista adolescente para bruxas.
Oh, que empolgante, você é repórter?
Ah, não, sinto muito decepcioná-lo, mas eu sou simplesmente a assistente do presidente da empresa.
Vocês já notaram que na verdade é a secretária que faz todo o trabalho do chefe? O senhor Buckman simplesmente não entende nada de adolescentes. Ele nem ao menos tem filhos. E me perguntem por que ele está na presidência.
Vamos fingir que você está interessado, sim? Bom, aquele cara de bunda de macaco esta lá simplesmente por que a revista é do papaizinho dele. Ele só assina os papéis e fiscaliza os funcionários. E todos os outros afazeres dele como presidente? Adivinhem quem faz?
O saguão não é nada muito grandioso. Tem algumas lareiras para funcionários que prefiram Flu. Uma parede é um completo mural de recados, bem descontraída, meio jovem mesmo. E a cor predominante é lilás. E como um abre parênteses aqui, o senhor Buckman queria mudar para azul marinho (vê se pode!), mas acho que o senhor Buckman pai teve de vir aqui pessoalmente para dar um jeito no “Júnior”.
Viro a cabeça assustada quando ouço dizerem em algum lugar do saguão “corte de funcionários”. Como assim? Passo pelo grupinho da área de Moda e posso ouvir a Paris (ou seria a Angel? Juro que todas essas ex modelos são bem iguais.) dizer com a sua voz grossa “...parece que venderam mesmo algumas ações...”
“Será que vão mudar o presidente?” ouço uma garota gordinha, que acho que é da parte de aconselhamento pessoal perguntar para um cara, assim que chego aos pés da escada.
Ah meu Merlin!
Ah MEU MERLIN!
O que está acontecendo afinal? Acho que vou dar uma passadinha no andar da Lolita. Isso se eu conseguir me mover entre todo esse pessoal que está fofocando na escada. Eu juro que estou totalmente perdida.
Ei! É impressão minha ou a revista está um caos completo? O que a Meg do RH está fazendo nesse andar? Por que as pessoas não estão em suas devidas salas? E cadê a Lolita? Ela não deveria estar no seu cubículo? Cutuco Dale, vizinho de mesa de Lolita, e ele se vira sobre a cadeira. Está numa posição totalmente estranha, meio sentado sobre os pés.

-Então, Dale, você viu a Lolita?
-Não... – diz distraído – Ei, Gina! Tem algo pingando da sua bolsa.
-Ah, é mingau de aveia – digo casualmente, por que estou bem mais interessada num bando de borboletas de papel que passam apressadas raspando minha cabeça.
-Hum, Dale – digo me virando novamente pra ele – por um acaso está acontecendo algo diferente?
-Diferente? É, é verdade. Eu não tinha notado. Acho que finalmente deram uma boa encerada no chão.
Vocês já ouviram falar em Luna Lovegood, editora chefe do Pasquim? Dale deve ser parente, por que ele é igualmente avoado.
-Hum, é deve ser... – digo voltando a subir para o último pavimento.

Ah, um detalhe. Todo o escritório da TeenMagic é revestido de carpete! Esse Dale é fora do normal.
É impressão minha ou esses memorandos estão me seguindo?
Ah, finalmente o último lance de escadas! Ainda bem que são apenas quatro andares.
Merlin! O que é isso? O que está acontecendo hoje?
Minha mesa está soterrada de borboletinhas de papel. Totalmente soterrada. Deve ter borboleta de papel para cada funcionário disso aqui. Abro uma aleatoriamente que diz:

É verdade sobre o Peter Buckman? Ele cai fora mesmo?

Eu não sei!
Como eu poderia saber? Será que esse pessoal todo não entende que eu estou aqui apenas para fazer o trabalho pesado? Eu não sei de tudo o que acontece na empresa! Foi a mesma coisa quando lançaram o boato de que o senhor Buckman pai (o fundador da empresa, não o almofadinha) estava saindo com a Paris, do departamento de moda. É verdade que o Sr. Buckman pai tem uma grande queda por modelos, mas como eu poderia saber? O cara nem aparece aqui, só de vez em quando para dar umas broncas no filho, que já deve ter o que? Uns 32 anos? Por aí...
Bato na porta da sala do Sr. Buckman, o filho, e ele não responde. Bato três vezes seguidas mas ainda não há resposta. Abro a porta com cuidado para não fazer barulho. Digamos que eu já o tenha flagrado em momentos... íntimos. Então agora eu fico sempre meio receosa de entrar sem permissão. Mas vai que o cara tenha passado mal e vomitado e depois se afogado no próprio vômito? Ou tenha se entalado com algum osso de galinha (por que ele faz todas as refeições do dia nessa sala dele). Talvez seja por que a sala dele tenha tudo o que ele precisa.
Tudo mesmo, desde revistas de sacanagem (que eu derrubei sem querer quando fui pegar um arquivo em sua mesa e ele disse que estava avaliando para a editora) até um elfo doméstico perfeitamente treinado.
Bom, mas o que eu encontrei não foi nada constrangedor. Nada constrangedor para mim, quero dizer. Por que se me encontrassem no estado em que o senhor Buckman estava, aí sim eu ficaria envergonhada.
Ele estava com a barba por fazer, a gravata frouxa, a camisa e o cabelo desalinhados e com uma cara de bêbado. Nada daquele almofadinha filhinho de papai. E quando eu me aproximei comprovei que não era só a cara, mas ele estava de fato bêbado. Mas há meia hora atrás ele parecia quase normal!
Por que, vamos falara verdade, ele não é normal.

-Gina? – perguntou ele – É você?
-O que você acha? – perguntei ácida, aproveitando que ele não se lembraria disso amanhã. – E o senhor sabe por que isso está uma bagunça hoje?
-Bagunça? – falou com a língua enrolada – É, minha cabeça esta uma bagunça. Será que você pode pegar um copo de água para mim, por favor?

Será que ele só é educado quando está bêbado? Nossa convivência seria bem mais agradável se ele soubesse da existência de um “obrigado” ou “por favor”.

-Claro! – disse indo para a copa. É, a sala dele tem uma copa.
-Sabe Gina, minha vida está uma bagunça, como você disse. Uma completa, uma completa... – diz balançando a cabeça – Eu não entendo esses adolescentes de merda! Esses... revoltadinhos que sempre acham que tem a razão! – reclamou cuspindo um pouco de saliva nos papéis de mesa. – Eu odeio adolescentes. Não sei por que... e é claro que os índices de venda da empresa iam cair. Eu falei que não entendia disso! E agora a culpa é minha? – achei um copo de wisky de fogo com um gelo minúsculo boiando, que joguei ralo abaixo. – Ah, não é minha culpa mesmo. Eles venderam ações, sabe? E agora meu pai não tem mais a maior parcela da empresa. Mas, mas, eu nem queria mesmo trabalhar aqui. – disse choroso.
Ah meu Deus! O que você está fazendo, seu...
Ele simplesmente me abraçou pela cintura chorando, quando eu fui pegar o copo vazio em sua mesa.
Ah, nem consigo prestar atenção no que esse verme está me dizendo. E se alguém entrar? Esse povo sempre acha que a secretária é que...

-Eu vou sentir sua falta, Gina. – disse ele assim que um infeliz abriu a porta.

Será que ninguém aqui tem educação?
Eu juro que se pudéssemos lançar magia sem uma varinha eu já teria cometido um duplo homicídio.
Ele olhou do senhor Buckman todo desarrumado para mim, com meu chefe, o próprio Sr. Buckman, grudado na minha cintura. Ah, eu tenho certeza de que estou completamente vermelha e com uma cara de culpada. E que espécie de frase foi aquela? “Eu vou sentir sua falta, Gina”.
Argh!

-Desculpem, eu... – disse batendo com força a porta.

Estou ferrada!

-Me larga! – disse o soltando da minha cintura.

Aquele era o Alex. Aquele... Aquele colunista fofoqueiro! Legal! Agora todos do prédio já devem estar sabendo que eu tenho um caso com meu chefe. E só tem uma coisinha pior que isso. É que eu simplesmente não tenho um caso com meu chefe!
Será que esse povo não percebe que ele definitivamente nunca que faria o meu tipo? Quer dizer, não é nada pessoal, mas olha para aquela carequinha no topo da cabeça dele.

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-Fala a verdade, você estava transando com o Sr. Buckman ou tentando esfaqueá-lo? Não sei em qual versão acreditar. – disse Lolita sentando na beirada da minha mesa umas duas horas depois.
-Bom dia para você também, Lolita! – disse fechando com força a porta de um armário.
-Eu não lhe desejei bom dia por que eu sei o quão irônico isso iria soar.
-É, você tem razão, este definitivamente não é um bom dia. Mas eu não quero falar com você sobre o meu caso com o senhor Buckman. Na verdade eu queria saber o que está acontecendo.
-Hum, o Dale me falou que uma ruiva estava me procurando. Como ele pode ser tão distraído? Aí quando eu falei, “Por um acaso essa ruiva era a Gina?” aí ele disse, depois de coçar o queixo, “Ah! Sim, é sim!”.
-Para de falar no quanto o Dale é estranho por que disso eu já sei. Me diz o que está acontecendo. Por que isso aqui tá a maior bagunça? – perguntei batendo com um barulho metálico a minha terceira gaveta.
-Você não lê jornal?
-Se esqueceu que eu acordo atrasada nove vezes por semana?
-Bom, parece que venderam algumas ações da empresa e agora a maioria não é mais do Sr. Buckman.
-Ah, então ele estava falando a verdade. Sabe, eu entrei no escritório dele mas ele estava tão bêbado que achei que estivesse delirando...
-Aí ele te agarrou e você se aproveitou. Sinto muito lhe dizer, mas você se atrasou um pouquinho, para variar. Nós vamos mudar de chefe agora, então você nem terá privilégios de amante do chefe.
-Será que vai ser mais um filhinho de papai? – disse a ignorando
-Não sei, mas que ele pelo menos seja bonitinho... – disse Lolita sorrindo maliciosa.
-Ei, sua egoísta, você já tem namorado!
-Ah, Gina, pode ficar com o Guy. – disse fazendo um gesto de desinteresse com a mão - Você vai comer aqui no refeitório mesmo?
-Acho que sim. Foi um sacrifício para eu subir esses quatro andares, não quero descer de novo. Fora que agora a fofoca da vez deve ser sobre meu caso com o Sr. Buckman.
-Eu queria mesmo que você fosse comigo na Cantina Mexicana da Dona Mercedes, mas eu não vou mentir. Você é o assunto do momento. Aí, você não vivia reclamando que era sem graça, que ninguém notava você? Pois é...
-Você sabe muito bem que não era bem isso que eu estava querendo! – disse fechando a cara.
-Tudo bem Gina, eu almoço com você nesse refeitório horrível. Era isso que você queria? Que além de você mesma, eu também me arriscasse a ter uma intoxicação alimentar?
-Deixa de ser exagerada, Lola!
-Exagerada, eu? Claro, sou eu que tenho mais de 1,70 de altura e cabelo vermelho.
-Você sabe muito bem que sou traumatizada com a minha altura.
-Para com isso agora mesmo, Gina. É você quem sabe muito bem que é linda e fica aí de humildade só para ouvir elogios.
-Puif! Ok, agora, o Sr. Buckman pediu para eu falar com ele antes de almoçar. Você já está pronta para almoçar?
-Bom, minha boca está aqui.
-E o meu mau humor também. – disse com um olhar debochado – Me espera aqui, Lola? Eu vou ver rapidinho o que aquele tarado quer.

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-Então ele vai redigir um memorando oficial para anunciar a própria demissão? – disse Lola alto demais, logo depois enfiando um pedaço de cenoura na boca.
-Será que você não sabe falar baixo? Se ele quisesse que soubessem por meio do boca a boca chamaria o Alex. Aquele fofoqueiro de uma figa! – falei espetando o frango com o garfo. Lolita olhou espantada por um momento e depois começou a rir.
-Vocês Weasley são todos uns esquentadinhos...
-Mas... – disse com a idéia clareando na minha cabeça. Claro!
-Eu não gosto desse seu brilho no olhar, Gina!
-Eu... Eu poderia processar o Sr. Buckman por assédio sexual!
-Ah, Gina, tenha dó! Pelo que me disse, aquele homem não poderia estar num estado pior. Você não tem piedade dele, não? Ele perdeu o emprego!
-Mas... – eu disse com a voz fraca. A idéia me parecendo de repente ridícula.
-Será que já não fez alarde demais para uma besteirinha dessas? Amanhã o pessoal já esqueceu! O assunto do dia vai ser O Novo Chefão! Ui!
-Dona Lola, Dona Lola... Se o Guy te pega!
-Será que você não sabe brincar de vez em quando não? Leva tudo ao pé da letra... – disse num falso e mal fingimento de ofensa.
-Desculpa, Lola! – falei estendendo minha mão entre o saleiro e fazendo carinho na dela.
-Você convence qualquer um com esses seus olhões!
-Você sabe muito bem que eu sou complexada com os meus olhos grandes!
-Ah não... Será que tem algo em você que você goste?

Fiquei pensando por um bom tempo enquanto mastigava o pudim que mais parecia borracha. É, eu não gosto dos meus olhos grandes, nem da minha altura. Meus cabelos são muito chamativos. E só para não sair da rotina, tem esses quilos a mais que eu realmente gostaria de perder... Ah, eu também não gosto nada das minhas canelas. Elas são finas demais.

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Hoje o meu dia foi um pesadelo. É, um pesadelo! Eu não pensei que ainda lembrassem do meu affair com o Sr. Buckman (que só por um acaso, nunca existiu), mas quando eu finalmente tive que encarar aquelas pessoas medonhas e más no saguão (e também na escada) e vi que todo mundo parou de conversar para me ver sair do prédio eu pensei em me demitir.
Eu não quero aparecer lá de novo! Será que amanhã vai ser a mesma coisa? “E por que não seria?” diz uma voz chata na minha cabeça.
Ai, eu preciso de um banho. E aí talvez eu estoure pipocas e fique por horas acariciando o Christopher Anthony John até dormirmos.








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