Fina Linha Entre Amor e Ódio



CAPÍTULO XIII. FINA LINHA ENTRE AMOR E ÓDIO

A mulher que ele mais queria no mundo estava simplesmente lhe pedindo um beijo... como reagir à isso?

Sem conseguir projetar qualquer reação de imediato, a tensão tomou conta daquele quarto. De repente, aquele lugar frio se tornou mais quente que o inferno.

Os corpos semi-abraçados ligavam-se por uma eletricidade que parecia não querer que eles se separassem nunca mais.

Os doces lábios, tão próximos dos dele, imploravam pelo encontro... um convite que, para o seu contragosto, Snape se obrigou a recusar:

- Não. Você não está em condições...

Amélia bufou, inclinando-se um pouco mais para perto dele.

- Se você não me beijar, eu vou beijar você. E considerando que o seu autocontrole seja o mesmo de alguns anos atrás...

Sentindo que a tentação estava preste a tomar conta do seu corpo, ele tentou se afastar... Mas o seu olhar, que se prendia nos olhos de Amélia, deixavam claro que a separação dos corpos era a última coisa que ele queria.

E Amélia não estava embriagada... ainda conseguia muito bem ler o desejo nos olhos dele.

Firme, ela o segurou pelo braço, impedindo-o de se afastar.

A outra mão foi carinhosa para o rosto dele, delineando cada contorno.

Com a voz roucamente provocante, ela disse.

- A sua pele está diferente.

Ele suspirou. Aquele mero toque era capaz de reacender um desejo que há muito ele tentava suprimir. Mantendo a sanidade, segurou a mão dela, afastando-a do seu rosto.

- Amélia... – ele disse num tom que oscilava entre suplicante e intimidante.

Mas ela o ignorou... Enquanto Severo afastava o seu braço, ela esticou o seu corpo até que os seus lábios alcançassem o pescoço dele... beijando, lambendo, mordiscando... Sem sequer perceber, ele arqueou o rosto para trás, de modo a dar mais espaço para que ela continuasse com as carícias. Com um movimento rápido, ela ajoelhou-se por cima dele. Passando a língua pela sua garganta ao mesmo tempo em que se movia discretamente para baixo e sentia a ereção dele em seu sexo, Amélia pôde sentir a vibração das cordas vocais dele, num mais que contido gemido de prazer.

Ainda sem que ele percebesse, as mãos que tentavam afastá-la dele, agora, pousavam carinhosamente em sua cintura, apertando-a todas as vezes que Amélia o mordia.

Lentamente, a mão que tocava o rosto de Severo foi deslizando para baixo. Alguns botões da camisa foram abertos enquanto ela explorava o seu peito... E, ela sorriu satisfeita quando o viu olhá-la quase em desespero quando os seus dedos ágeis chegaram ao cós da calça...

Em mais um arroubo de sanidade, Snape tentou se afastar.

Amélia, dessa vez, o segurou pelo rosto, forçando-o a olhá-la.

- E agora, você quer me beijar?

Ele pareceu considerar a pergunta que ela fizera por um segundo...

E, no segundo seguinte ele já a atacara como um animal.

Snape se jogou por cima dela, beijando-a faminto, de forma quase dolorosa. E Amélia nada pôde fazer, se não correspondê-lo com semelhante fúria e intensidade.

O beijo...

Mesmo que temperado com saudade, o beijo ainda era exatamente como ela se lembrava... o mesmo sabor, a mesma paixão... Quase como se o tempo não tivesse passado.

E de repente, eles descobriram que, juntos, sentiam como se o tempo não tivesse passado... Como se eles nunca tivessem se separado, e como se nada de mal pudesse atingi-los.

Quando ela deu por si, já estava deitada por baixo de Severo.

O seu vestido já estava subido, deixando as suas coxas desnudas. Severo já beijava o seu colo, amassando os seus seios entre os dedos.

Era um erro, sem dúvidas... Mas como resistir a ele?

Os sussurros e o rangido da velha cama foram as únicas coisas a serem ouvidas quando ela se virou, novamente ajoelhando-se por cima dele e terminando de despir o vestido.

Snape simplesmente não conseguia tirar os olhos da visão da mulher que amava trajando apenas lingeries.

Quase sem fôlego e usando o resto de decência e controle que ainda tinha, ele se obrigou a perguntar.

- Você não vai se arrepender?

- Ah, meu amor, eu já estou arrependida!

E, mais uma vez, o beijou.

XxXxXxX

A manhã logo chegou.

Os dois amantes, ainda despidos, dormiam abraçados, quando o barulho de tiros disparados por armas trouxas os despertou.

Snape sentou-se alerta, enquanto Amélia apenas abriu preguiçosamente os olhos e sussurrou:

- O que foi isso?

Ele voltou a se deitar.

- É um lugar perigoso, este. Provavelmente um assalto.

Amélia suspirou, aconchegando-se nos braços dele.

E eles desfrutaram de um breve momento de paz, onde sentiam que no mundo só existiam eles dois...

E essa paz acabou assim que Amélia percebera o que tinha feito: ela tinha acabado de selar o amor que sentia por ele. De agora em diante, tudo seria cada vez mais desesperador. E se ele morresse? E se acontecesse o previsto por Brian?

E, se existia uma coisa da qual Amélia tinha certeza era de que ela, naquele momento, ainda conseguia viver sem Snape... Mas não conseguiria jamais viver sem Edward e Phillipe.

Levantou-se bruscamente, vestindo-se em ritmo frenético.

Se ela terminasse tudo agora, talvez, ainda tivesse tempo de arrancar do coração o que estava sentindo e apenas viver...

Ela ficaria na Inglaterra até o ano letivo terminar... e, então, voltaria para Nova York com as crianças e seguiria a sua vida sem Severo. E sem riscos.

Sim, estava decidido.

Nada mais podia acontecer entre eles.

Calçando os sapatos, Amélia disse, em voz baixa.

- Foi um erro, o que fizemos.

Ele se sentou, aproximando-se um pouco dela.

- Um erro? – Snape repetiu. Quase podia se ouvir o tom dolorido das duas palavras.

Ela mordeu o lábio...

Como explicar? Depois de tantos anos perdidos, como dizer a ele para se manter afastado? A única solução era a mentira... E a única arma que ela dispunha era o seu casamento falso... a única coisa que faria com que ele não fosse atrás dela.

- Sim, um erro. Você sabe que eu sou casada. Severo, eu amo o meu marido como jamais amei qualquer outro homem. O que inclui você.

- E porque você quis tanto? No caso de você não se lembrar, eu não estuprei você.

- Eu disse que tinha brigado com Brian. Estava triste, só isso... E por isso não me arrependo. Mas eu o amo, e não vou deixá-lo por nada nem ninguém. Nem traí-lo.

- Muito bem.

Ela já estava se levantando, quando foi impedida pela mão forte que a segurou pelo braço e a trouxe para perto dele... Pelos lábios que beijavam o seu ombro... Pela outra mão ágil já se encontrava na coxa dela, subindo o vestido.

Foi necessário sangue frio para interrompê-lo.

Com um fio de voz, ela suplicou:

- Deixe-me ir.

Ele bufou e a soltou. Ela não quis olhar para trás quando saiu do quarto.

Não quis ver a frustração nos olhos dele e nem revelar as lágrimas que começavam a brotar nos seus olhos.

XxXxXxX

O resto do fim de semana ela passou num pequeno hotel em Londres. Não estava disposta a voltar para Hogwarts e ter que enfrentar os vários estudantes, ou mesmo os seus filhos, que tanto se assemelhavam com o pai biológico.

Amélia sentia uma coisa que há muito tinha esquecido: depressão.

A tristeza profunda que parecia querer corroer o seu ser.

Se ela soubesse o que o resto do ano de 1998 lhe reservava... Aquela tristeza não seria nada, comparada a tudo que ela teria que enfrentar naquele ano que mal começara.

Na segunda-feira, ela retornou para a escola.

Perdeu o café da manhã e se atrasou para a sua primeira aula.

Quando entrou na turma do sexto ano de sonserinos e grifinórios, Amélia já sentiu que o dia seria longo.

Ainda não queria falar com ninguém, o que incluía alunos... O seu humor estava digno de... Snape.

E isso se transparecia pela expressão dela, já que todos os alunos se calaram assim que ela entrou na sala de Defesa Contra as
Artes das Trevas.

- Abram o livro no capítulo 12. Quero que vocês leiam e faça um resumo. E, sim, a nota será dada pela quantidade do que vocês escreverem!

No fundo da sala, uma menina de olhos azuis levantou o braço.

- O que é, senhorita Grey?

A garota que fazia questão de abusar da paciência de Amélia em todas as aulas sorriu satisfeita quando viu o rosto furioso da professora se voltar para ela.

- Sinceramente, os seus métodos avaliativos são terríveis!

Amélia estreitou os olhos, tendo que respirar fundo para não gritar com a menina.

- Quem é a professora?

- A senhora é.

- Logo sou eu quem decide os métodos avaliativos. Hogwarts tem um péssimo histórico de professores de Defesa, por que eu deveria ser diferente? Só isso?

- Não. Nós não vamos falar sobre a guerra hoje?

- Não! A menos que a senhorita tenha algum questionamento, é claro.

Ela mordeu o lábio, nervosa.

- Er... na verdade, eu tenho. Espero que me perdoe, mas eu vi que o seu nome é Amélia B. L. McRough. E, eu estava pesquisando sobre a primeira guerra de Você-Sabe-Quem e vi que uma espécie de... auror chamada Amélia B. Lair impediu a morte de dez aurores...

Amélia bufou.

- Se você quer saber se eu sou a vaca que furou os métodos do bom-velhinho-Dumbledore, levando assassinato e tortura para dentro do Ministério durante a minha gestão, era só perguntar! Sim, eu sou Amélia Beatrice Lair... McRough.

- E é verdade que você salvou dez aurores? Que você escapou duas vezes de Você-Sabe-Quem?

Ela suspirou, buscando paciência.

- Sim, é verdade.

Do outro lado da sala, ouviu-se um pequeno suspiro.

- Legal!

Ela virou-se para um menino de cabelos negros e olhos acinzentados.

- Legal? Você acha legal, senhor Heamway?

Em passos largos, caminhou para onde o menino estava, aproximando o seu rosto do dele, com uma expressão de dor e ódio.

- Eu vou te dizer o é legal! É legal quando você recebe a cabeça dos seus pais como aviso! É legal ter que decidir por sua própria morte, para salvar dez pessoas das quais você não conhecia ou não gostava, e que, aliás, só foram capturadas por não ouvirem você! É muito legal desistir da sua vida por pessoas que você acha que não merece viver! Sim... porque o meu feito heróico de devolver dez pessoas ao seu lar não foi produzido num campo de batalha... eu me entreguei ao Lorde das Trevas como troca por eles! Eu me conduzi à morte! Isso é muito legal, não?

“Mas legal ainda é quando o lorde decide que você vai ter que pedir para morrer! E você começa a ser torturada dia após dia, por pessoas de quem você gosta, por uma pessoa que talvez você ame! E é ele quem te leva para casa e te cura, só para que, no outro dia, você possa ser torturada de novo! Muito legal! Sabe o que acontece quando você começa a ser muito torturado? Você enlouquece! Você não sabe mais o que é tempo e espaço, e um minuto se transforma numa hora! Você não sabe mais viver e começa a virar uma massa mole... seus pensamentos começam a ser desconexos. Você não raciocina! E fugir? Nem pensar! Você não tem mais como, pois como bolar um plano de fuga? Legal, não?

“E, finalmente, o desespero! Quando você vê, já está com uma faca na mão, cortando seus pulsos e querendo que tudo aquilo acabe. O seu sangue é gostoso quando bate na sua boca... Tem gosto de morte. E, então a euforia se apossa de você por causa da perda de sangue e os seus delírios e loucuras se tornam ainda maiores! Muito legal!”

E, finalmente, Amélia mostrou as marcas em alto relevo de um corte preciso e reto que tinha em cada um dos pulsos.

O pobre menino, ela finalmente viu, tinha um dos semblantes mais assustados que ela já vira em toda a sua vida.

E toda a classe a olhava com um misto de admiração e horror.

Respirando fundo para buscar controle, ela disse.

- Isso é a guerra. É isso que acontece. Pensem bem antes de entrar para ela. Saiam.

Ela finalizou, com um nó na garganta por, mais uma vez, ter entrado naquele submundo.

XxXxXxX

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